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Toni Cordeiro

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3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.

O que você entende por Empreendedorismo Social?

10 de Fevereiro de 2014, 10:35, por Antonio Lopes Cordeiro - 0sem comentários ainda

Empreendedorismo Social representa na atualidade um termo com alguns significados, onde cada um deles se situa num contexto ideológico.  


O livro do Carlos Montaño: “Terceiro Setor e Questão Social”, resultado de sua tese de doutorado, mostra claramente a procedência do termo terceiro setor, ao qual o autor afirma ser de denominação ideológica, cunhado lá nos EUA e importado para o Brasil e outros países da América Latina e Caribe, a partir do desmonte do Estado no processo de privatização.


Segundo seu estudo, o termo nasce na efervescência da implantação do neoliberalismo na América Latina e no Caribe, onde a partir da falência do Estado-Providência, como grande pressuposto da redução do Estado e reafirmando a tese do Estado Mínimo, necessita das ONGs – Organizações não Governamentais para assumir as funções sociais do Estado.


Carlos Montaño cita ainda a fragilidade e contradição das ONGs, não aquelas surgidas a partir dos movimentos sociais, mas as criadas para assumir essa nova tarefa, pois apesar de se caracterizarem como entidades não governamentais, é justamente o Estado “falido” que mantém essas instituições com dinheiro público.


A partir do surgimento de milhares dessas ONGs no Brasil, também surge um novo mercado para esses novos profissionais da miséria. De um lado pessoas bem preparadas para captar recursos, seja público ou privado e em nome da benevolência, suprir as deficiências sociais do Estado e de outro lado os voluntários se dedicando a ajudar pessoas. Uma combinação perfeita se tudo isso não estivesse a serviço do desmonte do Estado enquanto provedor de seus problemas e não estive dando suporte ao neoliberalismo, como afirmou Paulo Nogueira Batista em seu livro “O Consenso de Washington”.


É dentro desse contexto que o termo Empreendedorismo Social se encontra. Para os adeptos do chamado terceiro setor, o empreendedor social é aquele profissional que se especializou e descobriu uma nova forma de ganhar dinheiro a partir dessas ONGs, onde de um lado capta recursos para aplicar no universo da pobreza e por outro até presta serviços na formação de cooperativas e associações compostas pela população em vulnerabilidade social. Já para os militantes políticos, o Empreendedorismo Social representa o investimento na população pobre no sentido de libertá-las das amarras da exclusão social e econômica. Nesse contexto está contida a capacitação e a formação tecnopolítca, capazes de formar cooperativas, associações ou mesmo grupos associativos com autonomia de seus participantes e dentro da lógica dos negócios solidários, onde o mais importante é a organização coletiva.


O grande debate que se estabelece nessa discussão é a de que o neoliberalismo ao encurtar o tamanho do Estado, com sua tese do Estado Mínimo, transfere ao mercado a mediação dos interesses da população, principalmente a mais necessitada e é aí que entra o chamado terceiro setor, como uma privatização das funções sociais do Estado. Assim, fica a demonstração clara de que quanto mais um Estado forte num país capitalista, menos poder de mercado e quanto mais fraco esse Estado for, mais necessidade da criação de novos organismos que supra essa necessidade.


Como afirma Montaño, a justificativa para tudo isso vem da satanização de tudo que é estatal e, portanto tem que ser privatizado para o “deus” mercado. “Por outro lado, sataniza-se o Estado-providência como “burocrático”, “paternalista” e em “crise de governança”; como se os gastos com o processo burocrático (dos quais o capital sempre se beneficiou e comandou) fosse só negativo (pense-se na garantia dos processos de licitação, concursos públicos etc.), como se fosse “paternalista” a assistência ao necessitado e a garantia de direitos sociais, mas sem considerar o constante socorro e financiamento ao capital como paternalista”.


É impensável para quem defende uma sociedade livre e soberana, se submeter à industrialização da miséria. Esse debate estará todos os dias nas próximas eleições, onde os defensores do neoliberalismo dirão que o Governo Federal gasta muito com o social, por exemplo, deixando o mercado desprovido e os representantes da população pobre dirão que foram esses investimentos nas causas sociais que salvaram o Brasil dessa crise mundial.

Foi com o propósito de trazer o Empreendedorismo Social como elemento de organização solidaria e de uma prática coletiva, que criamos pela Fundação Perseu Abramo o Curso Empreendedorismo Social e Economia Solidária e sentimos seus efeitos na prática ao aplicar o curso para gestores e para integrantes de uma Aldeia indígena na cidade de Rondolândia/MT.


A resposta foi imediata, principalmente por parte dos membros da aldeia, que nos mostraram um alto grau de organização, ajuda mútua e solidariedade, uns com os outros. Uma clara demonstração de que não necessitaria de uma ONG mantida com recursos públicos para assessorá-los e sim da prefeitura participando junto e abrindo espaços para seu desenvolvimento.

 

Sou adepto da ideia que grande parte da população é empreendedora, faltando apenas oportunidade, investimentos públicos e criação de novos espaços.

 

Antonio Lopes  Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública e Social
Fundação Perseu Abramo



Uma lição de sabedoria

10 de Fevereiro de 2014, 10:29, por Antonio Lopes Cordeiro - 0sem comentários ainda

Quando tomamos a decisão de iniciar a segunda fase do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública e Social da Fundação Perseu Abramo, que fazemos com os gestores nas cidades que o PT governa, é vice ou faz parte da gestão pela cidade de Rondolândia/MT, tinha na verdade alguns significados, porém eu nem imaginava que o significado mais interessante ainda estava por vir.


Escolhemos essa cidade, primeiro porque em Mato Grosso tinha sido realizado o primeiro Curso de Gestão Pública com prefeituras (Plano de Governo e Ações para Governar) e lá me chamou a atenção a disposição da Prefeita Bett Sabah, que trouxe sua equipe para o curso, com uma distância de mais de 1100 km e participou ativamente. 


É importante ressaltar que estamos falando de um município com 3726 habitantes, com a economia predominante rural, com algumas aldeias indígenas e com um histórico de violência política e pela disputa de terras, que atingiu o Padre Ezequiel a 25 anos, o sertanista, indigenista e ex-presidente da FUNAI Apoena Meireles em 2004 e recentemente na antevéspera da última eleição para prefeito, o presidente do PT local foi achado morto. Em segundo por ser uma mulher que ganhou as eleições violentas com dois partidos sem dinheiro contra 11 com todos os recursos disponíveis e também por ser um município pequeno no limite de dois Estados: Mato Grosso e Rondônia.


Foi lá também que resolvemos lançar o segundo Curso de Gestão Pública da Fundação: Empreendedorismo Social e Economia Solidária, com o principal propósito de trabalhar o social como resgate da cidadania e um processo de inclusão, se diferenciando do tal terceiro setor, que mostra o social como uma benevolência e também trabalhar o empreendedorismo sob a ótica do coletivo e não como um talento individual. Para isso a equipe de comunicação da Fundação Perseu Abramo, representada pela jornalista Fernanda Estima e pelo bravo companheiro Serginho, fotógrafo, cinegrafista e que traz como trauma a violência da polícia do Governador Alckmin nas manifestações de junho último, quando perdeu uma das vistas com as balas de borracha, me acompanhou com o objetivo de elaborar um documentário sobre o trabalho. Apenas para registro, vale lembrar que esse triste fato ocorrido com o Serginho, que está nas mãos da justiça, não interrompeu sua carreira e sim lhe deu mais motivação para a vida e para o trabalho.


O cenário descrito até aqui já propõe que a ida para Rondolândia não foi atoa. Tinha algo de especial, do começo ao fim.


Resolvemos dividir o tempo de três dias em duas etapas. A primeira com o Curso Plano de Governo e Ações para Governar, onde mesmo aqueles gestores que fizeram o primeiro em Cuiabá, participaram novamente e sentiram que o curso vai se refazendo, se atualizando com a conjuntura e com as questões políticas e culturais por onde passa e a segunda etapa do trabalho foi dedicada ao lançamento do Curso de Empreendedorismo Social e Economia Solidária.


Todas as pessoas que já fizeram teatro como eu sabem que o lançamento de uma peça dá um frio na barriga ao iniciar, um caminho desconhecido por não sabermos a reação da plateia e também uma enorme satisfação se a peça atingiu plenamente seus objetivos.


Como uma boa parte da plateia era composta por indígenas da Aldeia Apoena Meireles da etnia Suruí, inclusive com a presença de uma das lideranças Naray e em alguns momentos pelo Cacique Itabira Narai, fiquei procurando linguagens e metáforas, além de vídeos, que facilitasse a compreensão, pois mesmo eles falando português, necessitavam de cuidados quanto ao entendimento de alguns conceitos novos. Essa estratégia me levou a fazer uma pequena mudança de conteúdo no curso, introduzindo algo a partir do diálogo com os participantes. O curso transcorreu de forma leve e participativa e com muito interesse dos participantes. Percebia que pouco a pouco a plateia ia se envolvendo, não só no conteúdo, mas principalmente no clima organizacional.


A surpresa veio no encerramento do curso, pois enquanto o povo branco tinha uma enorme dificuldade de revelar e ajustar seus valores, o povo da aldeia estava totalmente preparado, no que se refere a organização, ajuda mútua, solidariedade e compromisso com o trabalho. Esses elementos se materializaram, não só no depoimento das participantes indígenas, ou ainda nas avaliações por escrito, mas sobretudo nas tarefas de trabalho em grupo, onde formatamos a Estrutura de um Plano de Negócios Solidários. Estava claro que o que eles necessitavam era apenas de conhecimentos técnicos e não de resgate de valores e princípios, pois já dispunham, inclusive para socializar.


Que venham mais desafios como esse, capaz de quebrar estruturas, derrubar muros e consolidar ainda mais o modo petista de governar.


Que venha mais governos como o da Prefeita Bett Sabah, que governa com a população carente e não apenas do gabinete, que governa nas conexões Mato Grosso - Brasília e principalmente governa com o Partido dos Trabalhadores. 


Quero terminar esse post afirmando sem medo de errar, que foi um dos momentos em que mais aprendi, em todas as áreas, muito mais do que ensinei. 


A experiência do povo Suruí ficará na minha história, na história da Fundação Perseu Abramo e na historia do Partido dos Trabalhadores, pois a comunidade, não só apoia a Prefeita Beth Sabah, em todas as suas ações, como agora estão se filiando ao partido, numa clara demonstração de que a luta continua e juntos.

 

 

Antonio Lopes  Cordeiro (Toni)

Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública e Social
Fundação Perseu Abramo