Ir para o conteúdo

Toni Cordeiro

Tela cheia

Blog

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.

Por entre as frestas da mata se vê um belo amanhã...

19 de Julho de 2018, 17:13, por Gestão Pública Social

A escolha por essa temática nasceu ao lembrar que nasci num sítio, na cidade de Belo Jardim – PE, circundado por mata fechada e a possibilidade de usar essa imagem como uma metáfora para nosso dia a dia. Algo que transitasse por algumas contradições e o que não faltam são contradições a serem observadas, tanto nossas como de pessoas que conhecemos. Quem não conhece uma criatura que mudou de lado ou de opção ao primeiro lampejo?


Caminhar em mata fechada sem conhecer o caminho é o mesmo que entrar num rio sem saber nadar. Por outro lado, quem vive a vida ao deus-dará, qualquer destino serve ou estará entregue ao acaso.


Lembrando que a mística: destino-acaso não se define por si só, pois o acaso pode ser o atrevimento de um momento que queria ser destino.


A partir desse contexto me deparo com as primeiras dúvidas: Será que todo ser humano tem dois “eus” dentro de si? Duas personalidades? Duas formas de ser? Dois estilos de sentimentos, algo próximo da dualidade do bem e do mal?


A impressão que se dá é a de que de fato somos luz e sombra ao mesmo tempo, como sugere a Psicologia Analítica de Jung. Um lado se esconde para que o outro aflore. Fenômenos esses que ocorrem todos os dias com milhares de pessoas e nem mesmo elas se atem às mudanças de comportamento e provavelmente afetam quem vive ao lado. Isso pode gerar um estado depressivo, onde alegrias e tristezas se misturam, assim como sofrimento e felicidade faz parte dessa caminhada. O grande desafio que se forma é a busca do conhecimento interior e como dominar cada um desses sentimentos.


Ao buscar ajuda nos clássicos sobre essa dualidade, Chegamos a várias compreensões. Segundo Rousseau o ser humano nasce bom e é a sociedade que o vicia. Daí nasce à discussão de que o ser humano é produto do meio.


Por outro lado, no Estado da Natureza, Thomas Hobbes afirma que os homens (usarei por conta própria a mudança de homem para os seres humanos) podem todas as coisas e para tanto utilizam todos os meios para atingi-las. Afirma ainda que os “seres humanos” são maus por natureza (o homem é o lobo do próprio homem), pois possuem um poder de violência ilimitado.


Hobbes afirma ainda que no uso de suas faculdades naturais, para conquista e manutenção do bem conquistado, os “seres humanos” usam da razão, da paixão, da experiência e da força física se necessário for, mas também os descarta quando não mais se interessam. Talvez isso explique o drama, por exemplo, de quem ama ou se apaixona e não é correspondido. Um drama desnecessário, pois não há a menor razão de se gostar de alguém que não corresponde à outra pessoa, porém isso acaba sendo importante para o crescimento dos seres humanos. O sofrimento também gera crescimento.


Já Santo Agostinho afirma que, sendo o homem imagem e semelhança do Criador, ele é essencialmente bom e capaz de amar. O livre arbítrio, aliado às escolhas levam os seres humanos a amar, mas também a odiar, da forma particular de cada um e de cada uma. A contraposição ao ódio vem da máxima religiosa de que devemos amar ao próximo como a nós mesmo. Máxima essa totalmente desvirtuada nos dias de hoje por muita gente.



Para fechar a questão de forma particular para esse post, Nietzsche afirma que o conceito de bom ou de mau na esfera moral não possui sentido em si mesmo, de modo que nada, em sua essência, é objetivamente bom e tampouco mau. Creio que a partir dessa visão, vêm as crenças, valores e atitudes. Imagino ainda que dê para encaixar nesse contexto o fato de que não existe verdade absoluta e sim a verdade particular de cada um e de cada uma e suas consequências, como por exemplo, a lei do retorno.


Ao descobrirmos que possuímos duas pessoalidades, como agir com cada uma delas? Por onde anda meu outro eu? Esse caminho pode nos dar respostas do porque que algumas pessoas mudam da água para o vinho sem nenhuma explicação? Enquanto o lado do bem conserva o do mal destrói.


A partir dessa conversa, o que fica latente a meu ver é a necessidade permanente do autoconhecimento, que pode levar uma vida toda e que mesmo que uma pessoa venha a se descobrir, se torna impossível um autoconhecimento pleno, pois somos momentos, lutamos pelo previsível, buscamos coisas simples e nos decepcionamos quando nos deparamos com o imponderável. Ninguém se conhece totalmente, apenas o que é aparente o resto é ilusão.


Por entre as frestas da mata se vê um belo amanhã. Isso vale para os dias complicados que vivemos hoje, onde o ódio tenta competir com o amor e se tornar o senso comum, porém serve mesmo é para acreditamos que por trás de cada arvoredo existe uma bela paisagem para ser assistida, mas também para ser vivida. Basta acreditamos e servir à causa que pode mudar o mundo.


Algo me parece real. Quando tudo que nos rodeia começar a parecer tangível, principalmente pelos nossos desencontros, por certo o amor continuará sendo uma coisa finda, usando um trecho da belíssima poesia “Memórias” de Carlos Drummond de Andrade. A partir dessa compreensão, é visível que o ato de amar perpassa religiões, credos e ideologias e sua materialização faz com que a solidariedade seja um caminho seguro em busca de nossas essências.


Enquanto há vida existirá um amanhã, que podemos imaginá-lo como uma chuva de verão com cheiro de terra molhada, como gotas de orvalho com cheiro de mato verde e como luz ao sair da escuridão, pois virá recheado de esperança.


Na visão da minha existência, ontem plantei um pé de esperança e bebi na fonte cristalina daquele riacho e estou certo de que amanhã estarei nas ruas com o povo de bem comemorando a retomada da luz que está em trevas.


Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social




Imagem: http://frestapoetica.blogspot.com/


Não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe...

5 de Julho de 2018, 13:43, por Gestão Pública Social
Minha mãe, sempre se referindo a uma situação de tristeza vivida, mas também de olho nas alegrias aparentemente duradouras, repete um Provérbio Português que diz: “Não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe”. Frases gêmeas que compõem uma dualidade mantida pela mente humana e que carrega várias verdades, se alternando ao longo do tempo nos dois universos contidos em cada ser humano.


Algo que abriga, ora tristezas e ora alegrias, que podem voltar a serem tristezas, para em seguida voltar a serem alegrias. Isso vale para várias situações da vida cotidiana de quem trata com as relações humanas e de quem as vivem com intensidade.


Certa vez conversando com uma terapeuta ela me disse: “Engana-se quem acha que uma determinada situação está totalmente consumada, apenas por uma decisão unilateral, quando envolvida por duas ou mais pessoas, porque no meio de tantas certezas há sempre o imponderável”. Algo muito profundo.


Segundo ela, uma coisa é quando estamos em pleno delírio por uma situação qualquer achando que o mundo gira apenas em torno de nossa órbita, mesmo se sabendo que existem outros atores no enredo, tentando passar a ideia de que vivemos em outra dimensão e ignorando por completo o mundo real. A outra é perceber que ao passar do tempo chegará o dia do encontro noturno com o travesseiro, onde nossos pensamentos em viagem permanente acabarão nos cobrando passo a passo os detalhes inacabados, as mágoas que provocamos em outras pessoas, os desamores e todos os resquícios de fraquezas humanas que nos acometem diariamente. O que entendi da nossa conversa foi que um dia a fatura chega e de alguma forma iremos pagar.


Traduzindo, ela se referia ao preço que a vida cobra pelas situações mal resolvidas, pelos sofrimentos que por ignorância plena, provoca-se a alguém, pelo uso que se faz de determinadas pessoas em troca de várias formas de prazer, pelas mentiras ditas durante a convivência e tantas outras. Em resumo, só outra expressão popular para explicar: “Aqui se faz, aqui se paga”. Esse pensamento pode estar ligado a um processo de vingança pessoal que nasce dos desabafos, a um conselho de boas práticas humanas, mas também à Lei do Retorno, que em regras gerais nos remete ao Provérbio do título do post.


Ao longo de minha existência, já vi muita gente rir de situações onde eram senhores ou senhoras da razão e terminarem em choro porque o mundo deu várias voltas, enquanto elas continuavam presas aos seus mundos imaginários. Por outro lado também vi pessoas chorarem por achar que não havia mais solução ao que as faziam sofrer e de repente numa dessas viradas que a vida dá saírem sorrindo, pois descobriram que não passara de mais uma peça passageira pregada por suas próprias vidas e por suas escolhas.


Aprofundando essa dualidade, há evidências de que quando o ser humano está em êxtase, seja por qual motivo for, nem que seja por pouco tempo, nega o mundo real e cria um mundo particular, voltado exclusivamente para o prazer daquele momento, em várias situações puramente ilusório. Por outro lado, quando se está em tristeza profunda o mundo parece cair aos ombros de quem triste está, como se fosse acabar em instantes e a impressão que dá é que não haverá solução para o que provocou esse estado de espírito.


No caso das tristezas, dos desencontros e da falta de crença pela busca de soluções definitivas aos problemas vividos, a mente cria um mundo imaginário para que se suportem as diversas circunstâncias vividas no mundo real. Quais os cuidados? Daí vem às drogas, as bebidas, as paixões momentâneas sem lastro, os vícios de toda ordem e todas as buscas que visam maquiar os problemas reais. Nesses momentos, ainda há até quem desdenhem das fraquezas humanas, nem sabem que a vida dá e a vida leva.


Com base nessa viagem ao centro de nossas existências, pergunta-se: O bem é passível de sofrimento, além de ter duração limitada como o próprio mal?


Segundo Walter Barbosa, membro da Sociedade Teosófica, limitada e imediatista é nossa visão do bem, pois não vai além da perspectiva do prazer. Ainda segundo ele, por isso limitada é também nossa visão nos diversos setores da vida, seja como amantes, educadores, religiosos ou profissionais.


Completando sua linha de pensamento, Walter diz: “Só o que é humano se sujeita ao vai-e-vem da polaridade, tendo por isso começo e fim. Assim o oposto ao ódio é o amor limitado pela perspectiva do prazer, do apego, cuja inclinação é instintiva, dando base à continuidade do ego. Avessa à razão, tal perspectiva alimenta comportamentos obsessivos, cegos e autodestrutivos como a paixão e o vício”. Segundo ele só o amor dura para sempre.


Talvez o tempo, que é senhor da razão, possa nos explicar porque mesmo o bem, que deveria ser um sentimento de entendimento e importância universais, varia tanto, mesmo para aquelas pessoas consideradas acima de qualquer suspeita e no mesmo campo do bem e do mal, como evitar que o mal que sempre nos persegue perdure por tempo suficiente em cada de e cada de nós, a ponto de destruir parte importante de nossas vidas?


Como a vida é bela e sabemos que nada é definitivo, nem mesmo nossa própria existência, bom é saber que sempre haverá um novo dia, uma nova noite e um novo amanhã, enquanto vida tiver, onde podemos encurtar a distância entre o que somos e o que de fato queremos ser e mesmo que o amanhã seja o fim, terão as nossas histórias de vida, que por certo alguém dará continuidade e tomara que tenham orgulho delas.


Termino essa reflexão com uma frase de Friedrich Nietzsche: “Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal”.


Antonio Lopes Cordeiro
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social




Por onde andam nossos sonhos?

2 de Julho de 2018, 20:00, por Gestão Pública Social

Resultado de imagem para sonhos
Ando com pouca inspiração nos últimos tempos e lembrando-me disso recorri a algo que considero ser um verdadeiro sonho. Trata-se de UBUNTU. Uma linda filosofia e uma ética africana, que entre outros ensinamentos nos trás: “Sou o que sou porque somos todos nós. Sou afetado quando um semelhante meu também é afetado”. Algo tão nobre que ao mesmo tempo em que é comunidade, também é bem-comum. UBUNTU é amor em ação e principalmente à superação das diferenças a partir da solidariedade coletiva.


Ao me referir aos sonhos acordados, pergunto: Você acredita sinceramente na realização de seus sonhos, ou pelo menos em parte deles? O que faz para torna-los viáveis e facilitar para que ocorram? Já se sentiu enganado com os resultados de algum sonho? Já se frustou em não realizá-los?


Já para os sonhos ao dormir, algumas surpresas: Você prepara sua mente para seus sonhos noturnos? Você sabia ser possível planejar o cenário de um sonho, ou ainda dar sequência ao que sonhou? Você sabia ser possível resolver um problema real dentro de um sonho, ou ainda um estímulo ambiental real intervir num sonho em andamento?


Acredito que sonhar dormindo seja uma expressão do nosso espírito, enquanto sonhar acordado seja a luz que precisamos para viver. Por isso se torna tão importante e necessário simplesmente sonhar. Eis um dos grandes alicerces da humanidade. Segundo Willian Shakespeare nós somos do tecido de que são feitos os sonhos. Um ser sem sonho não vive, apenas vegeta.


Em sua expressão mais ampla, enxergo o sonho como um ato de beleza tão intensa, que basta dizer que são os sonhos quem alimentam nosso gosto pela vida. Sonhar nos faz acreditar que sempre podemos chegar com final feliz.


Segundo o Neurologista Leandro Teles, membro da Academia Brasileira de Neurologia, todos os seres humanos saudáveis sonham por 4 ou 5 vezes por noite, com durações de 5 a 30 minutos cada sonho, porém se não acordarmos logo em seguida, a tendência é o esquecimento total do que foi sonhado.


Ainda segundo Leandro, os sonhos provavelmente apresentem diversas funções. Do ponto de vista cognitivo, imagina-se que ela tenha funções de ajustes importantes no aprendizado. Também segundo Leandro, um exercício mental de criatividade, confrontação de dilemas conscientes e inconscientes.


Todas as considerações de Leandro sobre sonhos estão disponíveis em seu site:   http://www.leandroteles.com.br/blog/2013/09/08/curiosidades-sobre-os-sonhos-o-que-a-ciencia-tem-a-dizer-sobre-isso/


Para quem tem o hábito de sonhar acordado, vale sonhar mesmo que se ache tratar de um sonho impossível de se realizar, porque do ponto de vista racional, nada é impossível. A vida é cheia de imprevistos, mas também de previsibilidade. O importante é sonhar um sonho onde ao se completar continue parecendo que ainda estamos sonhando.


Vivemos num momento tão tenso em nosso país que parece ser proibido sonhar. Uma grande parte da população deixou de sonhar acordada e muitas dessas pessoas ao dormir têm pesadelos. Isso ocorre quando a luta pela sobrevivência é maior do que a manutenção pela vida. Quem tem fome não sonha, apenas luta pelo direito de viver. Aí é que entra em ação quem sonha com uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas. Somos a extensão dos sem sonhos. A utopia necessária para quem já sonhou.


Um dia ouvi numa palestra que os sonhos são diferentes das fantasias, porque com as fantasias não há compromisso algum para que ocorram, fazem parte de nossas viagens mentais, enquanto com os sonhos, parte deles possíveis de ocorrerem, requerem compromissos constantes para que as condições se tornem favoráveis.


Toda vez que sonho seguindo por uma estrada onde não sei exatamente onde irá chegar, lembro imediatamente que ainda bem que a vida não e uma linha reta, assim não corremos o risco de enxergarmos o final. Os altos e baixos, assim como as diversas curvas, as surpresas, além dos montes que temos a escalar, serão sempre novas possibilidades que a vida nos dispõe. É como se um processo de catarse sempre nos tivesse disponível no sentido de purificar nossas almas e nos preparar para as novas etapas da vida que virão.


Quem sabe o resultado de um sonho bem sucedido não pudesse ter esse cenário: “Quando tudo parecia caminhar para um dia nublado, coisa factível em tempos de chuva, eis que surge o sol, com seus raios firmes a nos convidar para uma caminhada pelos roçados da vida. O cheiro do mato, associado ao frescor do vento que bate em nossos rostos, nos faz lembrar que a vida é bela, basta que nos esforcemos minimamente e dê vazão a todas as emoções que ela nos oferece. Mesmo com os contratempos imprevistos, mas lembrando-me que a vida é bela, acabo de perceber que certa angústia que invadia meu ser, está calmamente indo embora junto com os contratempos. O que terá ocorrido”?


Para finalizar uma frase genial de Oscar Wilde: “Um sonhador é aquele que só ao luar descobre o seu caminho e que, como punição, apercebe a aurora antes dos outros”.


Antonio Lopes Cordeiro


Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social