O que aprender com 2018...
29 de Dezembro de 2018, 1:12Adeus ano velho! Feliz Ano Novo!?
Com essas frases a maioria das pessoas comemora a virada do ano. Culpam o ano que está terminando pelos fracassos pessoais e fazem jura de amor ao ano que se inicia, porém sem o cuidado suficiente para se avaliar qual foi o papel de cada um e de cada uma na história do ano que se finda e qual será o papel a desempenhar no ano novo. É como se tudo estivesse no automático.
Do ponto de vista político-econômico-social o ano de 2018 não deixará saudades, muito ao contrário e com muito pouco a se comemorar, a não ser o fato de estarmos vivos e contando a nossa versão da história. Isso nos remete à esperança de continuarmos firmes na luta pela sobrevivência e na resistência a todas as formas de agressão aos direitos conquistados de milhares de pessoas ao longo de suas existências e a tantos absurdos defendidos pelo presidente eleito e sua equipe de trabalho. Algo que beira ao surreal.
Um ano para ser esquecido, ou melhor, um ano para se aprender com ele. Quem sabe o ano de 2018 deva ter começado em 1989, com o Consenso de Washington, que visava à implantação do neoliberalismo na American Latina e no Caribe, processo interrompido por Lula e Dilma e retomado por Temer, ou em 2012 com o Plano Atlanta que visava e visa uma intervenção neoliberal na América Latina e que resultou no impeachment de Lugo e de Dilma, além da eleição vitoriosa de algumas figuras de direita e de ultra direita, como é o caso do eleito no Brasil, ou ainda que esse ano deva ter iniciado suas atividades em 2013, com aquelas manifestações que resultaram no ódio implacável à democracia e a tudo que é social, além do PT e seus dirigentes e que perdura até os dias de hoje.
Em regras gerais, um ano em que a Casa-Grande termina em festa por tudo que conquistou e a Senzala Brasil não consegue dormir, pois está cercada pelos abutres do sistema que disputam com velhas hienas do poder as sobras do sinistro banquete eleitoral.
Por outro lado existe um provérbio português que diz: “Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”. Essa farra fascista um dia acaba e enquanto isso não ocorrer, vamos caminhando de mãos dadas rumo ao que acreditamos e enfrentando o que tivemos que enfrentar.
O governo que se inicia tem como princípios o ódio, o preconceito, a intolerância e a violência. Isso fere os preceitos democráticos e transforma em inimigos quem luta por direitos, por liberdade e pela democracia direta. A principal proposta do novo governo é agir para sequestrar da democracia a soberania popular.
O que mais impressiona e assusta é o fato do novo presidente ter sido eleito falando o que realmente pensa o que nos dá a entender que seus seguidores e uma grande parte de eleitores e eleitoras pensam exatamente como ele e transferem a materialização de seus pensamentos a uma espécie de justiceiro nacional de plantão. Algo tão sinistro que só de pensar dói na alma, pois é a sorte e a vida de milhares de pessoas que estará em jogo.
Quem em sã consciência apoia alguém que enaltece a tortura, que defende tomar as terras dos índios e quilombolas, que defende a ideia que armando a população ela estará segura, que defende uma escola que não pode pensar e tantas outras ideias fascistas e consegue dormir em paz? Quem concorda e apoia coisas absurdas como essas, além de pensar como o Tal, jamais entenderá o que pensamos e defendemos. Estamos em lados opostos.
Caso o tal capitão eleito execute um terço das maldades e aberrações que vociferou na campanha, além do extermínio humano, o prejuízo ao processo democrático e a todas as conquistas obtidas com muita luta ao longo de um século será devastador e levará décadas para se recompor.
Para ilustrar as aberrações do eleito, trazer alguém de Israel para importar um modelo de um plano de dessalinização, tendo a Embrapa desenvolvido essa técnica há anos e implantado em vários estados, só pode ser uma piada de mau gosto ou alguém que considera o povo brasileiro burro e mal informado. A escolha de Israel tem outra conotação de ordem fundamentalista-política-ideológica.
O ano de 2018 nos fez aprendermos algumas coisas. Uma delas é que a luta pela soberania popular há de ser contínua, outra que nunca chegamos ao poder com os governos e sim a apenas uma instância de poder, pois como bem dizia Marx, no capitalismo quem determina é o econômico e a coisa mais importante de todas, que quem dorme com os dois olhos fechados diante do sistema não consegue enxergar suas engrenagens se recomporem e avançar. Quem não entendeu, que tal assistir Matrix?
O que esperar de 2019 com esse cenário descrito? Contarmos com a saúde física e mental, além de nossa disposição para enfrentarmos o que for necessário. Além disso, contarmos também com os sonhos e a utopia que nos permite sempre acreditar ser possível a construção de uma sociedade justa, fraterna e igualitária para todos e todas.
Que o ano que se aproxima nos encha de esperanças e que renove nossas forças para caminharmos de mãos dadas rumo ao futuro.
Um Feliz 2019 para todos os sonhadores e para todas as sonhadoras que sonham com um mundo melhor.
Antonio Lopes Cordeiro
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
Um encontro marcado com a verdade...
5 de Dezembro de 2018, 23:46Imagem: https://acasadevidro.com/2018/03/14/eu-sou-porque-nos-somos-ubuntu-por-tutu/
O que é a verdade? De qual verdade estamos falando? Existe verdade absoluta para cada situação?
Inicio buscando legitimidade para afirmar que uma das maiores verdades é a de que não existe verdade absoluta para nenhuma situação. O que existe é a verdade de cada um de nós, a partir de um sistema de valores recheado de interpretações, crenças, princípios e posições ideológicas.
Em várias situações do nosso cotidiano, a verdade que defendemos poderá caminhar no sentido oposto ao pensamento e prática de diversas pessoas e diversos setores da sociedade. Algo comum num processo democrático, mas surreal diante do fascismo, que é algo novo para todos nós. Como por numa mesma Cesta as verdades da Casa-Grande e da Senzala? Puro pragmatismo fundado em linhas de pensamentos sobre o ato de viver e nossas escolhas em termos existenciais e de futuro.
Do ponto de vista político não dá para negar o que estamos vivenciando na atualidade e suas diversas verdades. O golpe contra a Presidenta Dilma, a prisão de Lula e o resultado eleitoral das últimas eleições, que estão no mesmo pacote, além de representar a falência total do sistema judiciário brasileiro, que se encontra amordaçado, a velha forma de fazer política com base apenas no econômico e nos acordos por resultados, levarão o país por certo de volta ao século XIX, tamanho é o retrocesso defendido pelo presidente eleito e sua desastrosa equipe neoliberal. Nesse sentido existem pelo menos duas grandes verdades em curso, a partir de janeiro.
A primeira delas a ser defendida pela figura sinistra vitoriosa nas eleições será convencer a classe trabalhadora e demais segmentos pobres que votaram nele, que voltar ao século XIX, em termos de direitos civis, eficiência do Estado e conquistas trabalhistas e sociais será uma grande ideia para que o país volte a crescer economicamente com equidade e se desenvolva com justiça social.
A segunda será o desafio dos campos progressistas e de esquerda, para convencer a população que o caminho neofascista em curso é o mesmo que matou seis milhões de judeus, além de expor o Brasil à submissão americana e ao FMI mais uma vez. Duas verdades de cunho político-ideológico que a população nem imagina existir.
Para entender o que está ocorrendo se faz necessário conhecer minimamente os códigos do poder. Que códigos são esses? É todo ideário que compõe as escolhas para definição de que sociedade temos e que sociedade queremos.
Vale salientar que o que está em jogo no Brasil a pedido do império americano é o domínio da Amazônia, o controle do petróleo e a privatização da água, além da destruição de todo sistema de proteção social e trabalhista.
Voltando ao tema principal do post, a Jornalista Laura Loyo, dentro do conceito de verdade, afirma que há um choque muito forte entre relativismo moral e dogmatismo para o entendimento do que seja a verdade.
Segundo Loyo, o relativismo moral faz com que a verdade seja algo vinculado à moral de determinado grupo. Como se fosse algo particular. Exatamente como as últimas eleições foram decididas. Uma visão moral estreita carregada de fundamentalismo religioso, maquiando e escondendo os verdadeiros problemas político-sociais e trazendo à pauta nacional um falso nacionalismo e falsos valores disfarçados de combate à corrupção.
Já o dogmatismo, que é a verdade em caráter absoluto, traz algo ainda mais complexo. Ao mesmo tempo em que se apresenta como algo indiscutível e indissolúvel, traz inúmeras contradições, como é o caso das religiões e seus dogmas, por exemplo. Para cada uma das variáveis religiosas uma forma de enxergar o mundo e o semelhante e como lidar com o dia a dia de nossos desencontros.
Desmistificar as diversas verdades exige principalmente conhecimento da situação em questão, análise do contexto cultural e no campo da política formação e conscientização, além da clareza para o entendimento de que causa se defende, o porquê dela, com quem se caminha e aonde se quer chegar. Algo que vai compondo a história de quem milita por uma causa e de quem contesta a serviço do império.
Uma coisa é certa. As verdades terão encontro marcado com o futuro, seja pela via da conscientização e participação ou pela via da ignorância política que consiste em só enxergar um lado da história. Bom mesmo é enxergar todos os lados e todas as propostas em curso e escolher por convicção aquela que mais se identifica com sua historia de vida.
Do ponto de vista pessoal, a verdade em que me situo, vem sendo esculpida ao longo da minha existência, através da luta pela utopia de construir uma nova sociedade a várias mãos, junto com quem sonha com o direito de igualdade, de plena liberdade de expressão e de uma nova forma de convivência: Justa, Fraterna e Igual para todos e todas. Isso é o que me move e o que move também milhares de pessoas em várias partes do planeta.
Finalizo com duas frases filosóficas do Ubuntu: “Sou o que sou, porque somos todos nós”. “Sou afetado quando um semelhante meu também é afetado”
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social