Quando tomamos a decisão de iniciar a segunda fase do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública e Social da Fundação Perseu Abramo, que fazemos com os gestores nas cidades que o PT governa, é vice ou faz parte da gestão pela cidade de Rondolândia/MT, tinha na verdade alguns significados, porém eu nem imaginava que o significado mais interessante ainda estava por vir.
Escolhemos essa cidade, primeiro porque em Mato Grosso tinha sido realizado o primeiro Curso de Gestão Pública com prefeituras (Plano de Governo e Ações para Governar) e lá me chamou a atenção a disposição da Prefeita Bett Sabah, que trouxe sua equipe para o curso, com uma distância de mais de 1100 km e participou ativamente.
É importante ressaltar que estamos falando de um município com 3726 habitantes, com a economia predominante rural, com algumas aldeias indígenas e com um histórico de violência política e pela disputa de terras, que atingiu o Padre Ezequiel a 25 anos, o sertanista, indigenista e ex-presidente da FUNAI Apoena Meireles em 2004 e recentemente na antevéspera da última eleição para prefeito, o presidente do PT local foi achado morto. Em segundo por ser uma mulher que ganhou as eleições violentas com dois partidos sem dinheiro contra 11 com todos os recursos disponíveis e também por ser um município pequeno no limite de dois Estados: Mato Grosso e Rondônia.
Foi lá também que resolvemos lançar o segundo Curso de Gestão Pública da Fundação: Empreendedorismo Social e Economia Solidária, com o principal propósito de trabalhar o social como resgate da cidadania e um processo de inclusão, se diferenciando do tal terceiro setor, que mostra o social como uma benevolência e também trabalhar o empreendedorismo sob a ótica do coletivo e não como um talento individual. Para isso a equipe de comunicação da Fundação Perseu Abramo, representada pela jornalista Fernanda Estima e pelo bravo companheiro Serginho, fotógrafo, cinegrafista e que traz como trauma a violência da polícia do Governador Alckmin nas manifestações de junho último, quando perdeu uma das vistas com as balas de borracha, me acompanhou com o objetivo de elaborar um documentário sobre o trabalho. Apenas para registro, vale lembrar que esse triste fato ocorrido com o Serginho, que está nas mãos da justiça, não interrompeu sua carreira e sim lhe deu mais motivação para a vida e para o trabalho.
O cenário descrito até aqui já propõe que a ida para Rondolândia não foi atoa. Tinha algo de especial, do começo ao fim.
Resolvemos dividir o tempo de três dias em duas etapas. A primeira com o Curso Plano de Governo e Ações para Governar, onde mesmo aqueles gestores que fizeram o primeiro em Cuiabá, participaram novamente e sentiram que o curso vai se refazendo, se atualizando com a conjuntura e com as questões políticas e culturais por onde passa e a segunda etapa do trabalho foi dedicada ao lançamento do Curso de Empreendedorismo Social e Economia Solidária.
Todas as pessoas que já fizeram teatro como eu sabem que o lançamento de uma peça dá um frio na barriga ao iniciar, um caminho desconhecido por não sabermos a reação da plateia e também uma enorme satisfação se a peça atingiu plenamente seus objetivos.
Como uma boa parte da plateia era composta por indígenas da Aldeia Apoena Meireles da etnia Suruí, inclusive com a presença de uma das lideranças Naray e em alguns momentos pelo Cacique Itabira Narai, fiquei procurando linguagens e metáforas, além de vídeos, que facilitasse a compreensão, pois mesmo eles falando português, necessitavam de cuidados quanto ao entendimento de alguns conceitos novos. Essa estratégia me levou a fazer uma pequena mudança de conteúdo no curso, introduzindo algo a partir do diálogo com os participantes. O curso transcorreu de forma leve e participativa e com muito interesse dos participantes. Percebia que pouco a pouco a plateia ia se envolvendo, não só no conteúdo, mas principalmente no clima organizacional.
A surpresa veio no encerramento do curso, pois enquanto o povo branco tinha uma enorme dificuldade de revelar e ajustar seus valores, o povo da aldeia estava totalmente preparado, no que se refere a organização, ajuda mútua, solidariedade e compromisso com o trabalho. Esses elementos se materializaram, não só no depoimento das participantes indígenas, ou ainda nas avaliações por escrito, mas sobretudo nas tarefas de trabalho em grupo, onde formatamos a Estrutura de um Plano de Negócios Solidários. Estava claro que o que eles necessitavam era apenas de conhecimentos técnicos e não de resgate de valores e princípios, pois já dispunham, inclusive para socializar.
Que venham mais desafios como esse, capaz de quebrar estruturas, derrubar muros e consolidar ainda mais o modo petista de governar.
Que venha mais governos como o da Prefeita Bett Sabah, que governa com a população carente e não apenas do gabinete, que governa nas conexões Mato Grosso - Brasília e principalmente governa com o Partido dos Trabalhadores.
Quero terminar esse post afirmando sem medo de errar, que foi um dos momentos em que mais aprendi, em todas as áreas, muito mais do que ensinei.
A experiência do povo Suruí ficará na minha história, na história da Fundação Perseu Abramo e na historia do Partido dos Trabalhadores, pois a comunidade, não só apoia a Prefeita Beth Sabah, em todas as suas ações, como agora estão se filiando ao partido, numa clara demonstração de que a luta continua e juntos.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública e SocialFundação Perseu Abramo
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