Fonte: Blog do Saraiva
De onde vem esse ódio ao PT, à Presidenta Dilma e ao Ex-Presidente Lula? O que ele tem a ver com o ódio de um setor branco escondido nas máscaras racistas da Ku klux Kan aos negros americanos?
Para um melhor entendimento é necessária uma pequena volta ao tempo para chegarmos à conclusão que não se trata de algo novo e sim um comportamento ligado à luta de classes e a insatisfação dos moradores da Casa Grande em relação às Senzalas que ousaram comer, trocar de carro, morar em casa própria, etc. Trata-se de uma insatisfação tornada pública de quem até hoje nunca aceitou a Lei Áurea e não suporta ver os filhos e filhas das empregadas estudando com bolsas numa universidade, inclusive pública.
Não quero aqui fazer defesa pura simples, seja de quem for, pois quem estiver errado e usou seu cargo ou influência para se apropriar do que não lhe pertencia tem que pagar e muito caro, porém é necessário fazer uma leitura correta do momento e avaliar as diversas conjunturas, para não se correr o risco de achar que tudo está perdido, ou ainda que o ódio ao PT, à Dilma e ao Lula vem da maioria da população, quando na verdade não chega a dez por cento. A imprensa golpista é quem potencializa e transforma em senso comum.
Aliás, sou do tempo em que qualquer reunião que se prezava começava com uma avaliação de conjuntura local, nacional e até mesmo internacional, feita por várias pessoas, inclusive das comunidades, que através de muita leitura e sabedoria se tornavam especialistas no assunto e de tudo se discutia.
Sou do tempo das reuniões quase secretas, do medo dos traidores que transitavam ao nosso lado se fingindo de amigos e principalmente da emoção que era ver os trabalhadores descerem a Via Anchieta e a Associação Novo Horizonte descer o morro rumo ao Paço Municipal de São Bernardo do Campo.
Sou do tempo em que havia uma grande causa para se lutar e não há duvidas que esse foi o principal elemento motivador, que conseguiu unir os movimentos sociais, o movimento trabalhista, os setores progressistas da igreja católica e a intelectualidade da época que lutavam contra a opressão da ditadura militar, para a criação do Partido dos Trabalhadores. O PT nasceu como uma forte esperança de liberdade e de continuidade da luta rumo a uma nação livre e democrática, onde a população pudesse fazer suas próprias escolhas.
As greves de 1979 a 1980, comandadas principalmente por Lula, a principal liderança nacional do movimento sindical e os movimentos sociais organizados, davam o tom de como seriam as pautas políticas futuras, assim como o grau de enfrentamento que teriam pela frente. O grande lema era: usar os espaços de governo e do legislativo para avançar em direção à construção de uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e todas.
Lembro-me bem de como foi a eleição de 1982. Um ódio mortal contra o operário, que segundo a elite e a nação alienada, inventou a greve, como se tivesse sido pela primeira vez que os trabalhadores cruzaram os braços contra os problemas patronais. Achavam inadmissível um partido de trabalhadores e ainda mais um operário semianalfabeto a se candidatar a um cargo de alto comando. Contra isso valia tudo, desde inventar que o mesmo era um traidor, pois tinha uma mansão no Murumbi e dizia que morava em São Bernardo do Campo, até dizer que ele queria que a sua mulher na época abortasse a filha.
O mesmo ódio de classe que vemos hoje, formado pelo pensamento conservador e em grande parte importado de outros países, como os EUA, que financiaram junto com os empresários brasileiros o golpe militar de 1964, caminhou ao longo do tempo, sem que os menos avisados ou ainda os alienados do PIG notassem que estavam sendo usados a serviço de um sistema que não deu certo no planeta. Foi muito difícil fazer a campanha de 82, assim com as demais, principalmente a de 1989 para Presidente, que a Globo financiou e fez campanha o tempo todo para seu candidato Collor de Mello.
O mesmo Collor que tinha a tarefa de implantar o neoliberalismo no Brasil, a partir da reunião Consenso de Washington e ao capitular foi cassado por decisão do Congresso, porém com o apoio da elite brasileira, do empresariado e também dos setores reacionários que se sentiram traídos. Essa história continua com a eleição de FHC, que de forma primorosa, privatizou todo patrimônio nacional e implantou o neoliberalismo encurtando o tamanho do Estado brasileiro e maximizando o poder do mercado, que passa a ser o grande protagonista econômico e freando qualquer avanço social.
Uma pergunta que se responde dentro do contexto do post: O que justifica o empresariado brasileiro pagar de forma diferente, em média de trinta por cento, homens de mulheres, brancos de negros e não deficientes de pessoas com deficiência? O que é isso senão o ódio de classe ou a pura discriminação?
A cultura da Casa Grande, aliada ao capitalismo selvagem, torna-se uma mistura perfeita que cultua o ódio contra qualquer pessoa ou segmento da sociedade que ousar enfrenta-los e para isso não há regras e sim desvios de conduta vendidos a um alto custo como verdade absoluta.
No processo de alimentação desse ódio, além do ódio ao PT, disseminado nos editoriais dos instrumentos do PIG, todos os dias também se descaracterizam a importância da democracia, dos organismos sociais, sindicatos e outros organismos corporativos, a não ser o tal do terceiro setor, uma ferramenta neoliberal criada com o principal objetivo de substituir o Estado (ora privatizado) em suas funções sociais, passado como a salvação para o Estado, que segundo eles está falido.
Assim como o lema na implantação do neoliberalismo, conforme relata Paulo Nogueira Batista em seu livro O Consenso de Washington, era que o que é estatal não presta e bom mesmo é o privado, hoje se tenta passar a mesma mensagem contra o PT e outros organismos representativos. Bom mesmo é o partido PSDB e seus aliados que inventaram o estado desenvolvimentista e a privatização e o que não presta é o PT, que segundo eles inventou a corrupção. Esse argumento está tirando alguns elementos do PT, que na verdade nunca honraram suas cores e muito menos suas bandeiras de luta.
Precisamos ter muita calma nessa hora, onde a imparcialidade da justiça e a paixão da imprensa pela causa de seus patrões indicam o caminho do caos. Precisamos acreditar que a luta continua e dar meia volta no que chamam de poder e recomeçar o processo de sedução pela população séria, que há muito esta abandonada.
Há de se entender que o ódio de classe não tem fronteiras, ocorre em qualquer lugar do planeta onde os herdeiros do topo da pirâmide se sentirem contrariados. Isso mostra, além do tempo perdido, uma grande contradição da classe trabalhadora, que imaginou ter chegado ao poder e ao invés de continuar unida e lutando pela manutenção de suas conquistas, como na década de oitenta, se dividiu e passou a provar da maçã envenenada.
O ódio ao PT, Lula e Dilma, nasceu do mesmo ninho que a serpente um dia, botou seu primeiro ovo e como não foi dizimado, outros ovos foram botados gerando crias e hoje ameaçam devorar a alma das pessoas de bem.
É necessária uma reação urgente, a partir de algumas mudanças de comportamento e eixos programáticos, porém, só uma ampla aliança com a população séria poderá salvar o que resta de dignidade e os sonhos de milhares de brasileiros e brasileiros que acreditaram um dia que tinham chegado ao paraíso, através de seus representantes.
A caminhada rumo à Terra Prometida mal começou.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@ig.com.br
Pesquisador em Gestão Pública e Social
toni.cordeiro@ig.com.br