Falar de conhecimento é trivial, mas falar de Sabedoria é fundamental.
Imagino que para descrever com precisão o que é Sabedoria, seria necessária quem sabe uma poesia, tamanha é a sensibilidade envolvida, ou evocar os filósofos para que nos ajudasse a entender sua dimensão, porém como não sou poeta, faço aqui uma breve saudação: “Querida Sabedoria tu és o mantra sagrado para a nossa forma de ser. Andaste por minha cabeça, caminhaste comigo pelas veredas do conhecimento, mas foi o encontro de quem sou com a missão que carrego no peito que me fez te observar com outros olhos e me aproximar de ti. Seja Bem Vinda!”.
Para os antigos gregos Atena era a deusa da Sabedoria e das artes, concebida da união de Zeus e da deusa Métis, também chamada pelos romanos de Minerva, pelo voto de desempate que deu quando julgou Orestes juntamente com o povo de Atenas. Uma deusa guerreira protetora de seus heróis escolhidos e também de sua cidade Atenas. Atena foi a deusa da Sabedoria, da prudência, da capacidade de reflexão e do poder mental, além de ser amante da beleza e da perfeição. Uma divindade completa.
Como falar de Sabedoria nos dias de hoje? Como se tornar sábio em plena era do conhecimento? Qual a contribuição do conhecimento para a Sabedoria e que caminho seguir para o seu encontro?
Quero crer que nos dias atuais, um caminho para a Sabedoria seria agregar uma junção de elementos que vão além dos conhecimentos adquiridos nos bancos escolares ou acadêmicos, aliando experiência de vida, militância por uma causa, sensibilidade humana e bom senso, onde um ato de sabedoria seria aprender com os erros. Como resultado, quem sabe se teria a saída do individual para o coletivo e principalmente saber ponderar os conflitos gerais com os conflitos pessoais.
Ao me referir à Sabedoria através de um monte, quero chegar com isso à discussão de que metaforicamente falando, podemos afirmar que no decorrer de nossas vidas temos muitos montes a escalar, muitos deles advindos das nossas próprias escolhas. O que são de fato esses montes? São todas as dificuldades, obstáculos, desamores e falta de crença em nossa capacidade de enfrentamento e busca de soluções. Uma longa caminhada cheia de contradições, provocadas pelo fato de não agirmos com sabedoria na maioria das vezes.
Por outro lado, há um ditado da sabedoria popular que diz: “Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”. Uma incômoda verdade para o bem, mas um tremendo alívio para as coisas do mal que de vez enquanto aparecem em nossos caminhos. Algo que se encarnou no imaginário popular e de uma verdade quase que absoluta.
A parte boa de uma escalada é que provavelmente se encontre no caminho o inesperado, onde tudo parece ser a primeira vez. Com isso, virão às novas escolhas e oportunidades para se chegar ao topo mais uma vez. Talvez essas caminhadas nos façam ricos em conhecimentos, mas se não tivermos Sabedoria suficiente para entender os porquês de estarmos lá, a vida vai e nos coloca novamente diante de novas encruzilhadas e novos montes teremos que escalar até que aprendamos.
Referindo-me aos letrados num país de desiguais, onde o sistema seleciona os melhores pela meritocracia, porém com oportunidades diferentes, a grande pergunta é: o que será que todos esses anos de estudo e títulos contribuíram para a sabedoria de cada um e de cada uma de nós? A resposta a essa pergunta pode nos levar a uma melhor compreensão da diferença entre conhecimento e sabedoria e como e onde aplicá-los.
Conheço muitas pessoas que flutuam no saber com todo conhecimento que possuem, mas em termos de Sabedoria são verdadeiros elefantes andando sobre taças de cristais. Creio que tal fenômeno ocorra pelo fato da Sabedoria ser o ponto de equilíbrio da sensibilidade humana. Uma espécie de amadurecimento da alma, independente da idade. Tem pessoas que logo amadurecem, enquanto outras morrem sem saber do que se trata.
Sempre quando escrevo busco referências, tantos nos clássicos, como nos grandes nomes que deixaram suas histórias como contribuição. Trago dessa vez duas frases sobre Sabedoria, a partir de dois contextos diferentes:
A primeira da poetisa e contista brasileira Cora Coralina, considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras, que lançou seu primeiro livro em junho de 1965 (Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais), com quase 76 anos de idade: “O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A Sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes”.
A segunda de Lao-Tsé, que de acordo com a tradição, viveu no século VI A.C. numa época conhecida como Cem Escolas de Pensamento. “Conhecer os outros é inteligência, conhecer-se a si próprio é verdadeira sabedoria. Controlar os outros é força, controlar-se a si próprio é verdadeiro poder”.
Dizem que a Sabedoria mora logo ali por trás daquele monte e repousa calmamente em águas cristalinas para saciar a sede de quem conseguir chegar até lá.
Bem que a Sabedoria poderia dar em árvores. Eu mesmo ia ter várias plantadas no quintal da minha vida. Vamos à caminhada?
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social