Passado, presente e futuro, que na visão normal de vida estabeleciam uma mudança cíclica na linha do tempo, hoje se confundem com pequenos ciclos, confundindo a mente da maioria do povo brasileiro. Como será o amanhã?
É de assustar, mas o passado em termos de Brasil está há pouco mais de dois anos. Um verdadeiro abismo separa o tempo da esperança de vida melhor, para os dias de hoje, que não se sabe ao certo como será sequer o dia de amanhã.
Um mergulho no interior da Nação revela um mar de incertezas que de uma hora para outra invadiu corações e mentes de seus habitantes, principalmente os de menor poder aquisitivo. O que ontem era certeza, hoje só restou dúvidas.
Vivem-se guerras imaginárias e disputas vãs. O ódio tomou conta de uma grande parte da população, que luta pelo nada e odeia tudo. Não há projeto de mudança no país e muito menos perspectiva. Assiste-se o fim de uma era, com a morte do que se chamava de democracia representativa. A maioria dos políticos eleitos não representa ninguém e tampouco visa uma mudança na sociedade e sim, apenas e tão somente, acochambrar o velho capitalismo selvagem, em troca de privilégios, grana, fama, prestígios e principalmente enriquecimento ilícito.
Infelizmente dois terços dos políticos brasileiros da atualidade são apenas transeuntes da democracia e saqueadores do povo. Foram criados à luz do ódio plantado à política brasileira a mando da Casa Grande contra a Senzala Brasil e no senso comum de que todo político é ladrão. A boa política está na UTI junto com seus seguidores, enquanto a má política caminha a passos largos para tornar o Brasil novamente uma republiqueta dependente dos Estados Unidos e num futuro próximo novamente do FMI. Não foi atoa que o vampiro acabou com o Fundo Soberano criado no governo Lula.
Em apenas dois anos o país emergiu numa de suas piores crises, saindo de seis milhões de desempregados para mais de quinze e com o fim das principais políticas públicas que visavam o empoderamento da população e a melhoria na qualidade de vida de milhares de pessoas. Por certo essas pessoas eram felizes e nem se deram conta, que de uma hora para outra perderam simplesmente tudo. Acreditaram que a meritocracia lhes dera o que sempre sonharam e esqueceram que se tratava de uma conquista, é certo, mas construída por governos populares contra o império econômico que sempre dominou o país.
Pessoalmente tenho medo do escuro. Lembro-me de quando criança morando num sítio, onde a única luz externa era do luar. Brincávamos nas casas com as sombras da luz de um candieiro e depois tínhamos medo na hora de dormir, lembrando-se das figuras que tínhamos projetado nas paredes. Assim está o povo brasileiro. Brincando com a sorte. Esnobaram do que tinham e hoje mal conseguem dormir com medo que o vampiro surja no meio da noite para lhes sugar, gota por gota, o sangue que ainda lhe resta, porém sem nenhuma disposição de lutar pelo que perderam ou virão a perder..
É preciso muito determinação, companheirismo, solidariedade e trabalho em equipe com o foco na causa, para que se possa intervir nesse mar de ilusões que o PIG e a Casa Grande criaram. Só o enfrentamento organizado, com formação política e convicção de classe fará frente ao desmonte que o estado brasileiro passa na atualidade. Não haverá tréguas.
Quando o sol se por, mesmo com a falta de luz, podemos até brincar com o que sonhamos para o amanhã, caso estejamos juntos, porém com o devido cuidado de separarmos os sonhos das fantasias e acreditarmos que a vitória só será possível se tivermos a determinação de construí-la passo a passo.
Lutar por uma causa é antes de tudo andar por entre veredas em busca do sol e de liberdade. É preciso curtir o luar e acreditar no que a minha mãe sempre diz: “Não há bem que sempre dure e mal que nunca se acabe”. Pura sabedoria. Uma frase extraída da vivência sofrida de uma família nordestina perdida em São Paulo e das experiências de seu dia a dia. Algo que a fez suportar muitas vezes a dor, em troca de momentos felizes vindos depois de muita luta.
Como dizia Paulo Freire: “A liberdade, que é uma conquista e não uma doação exige permanente busca. Busca permanente que só existe no ato responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a tem. Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, as pessoas se libertam em comunhão”.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com