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Toni Cordeiro

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Lutar pela liberdade mesmo que por caminhos não conhecidos

3 de Abril de 2016, 23:09 , por Gestão Pública Social - | No one following this article yet.
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Quando ocorreu o fatídico golpe militar de 64 eu tinha apenas nove anos de idade e lembro apenas do som de um tiro de canhão, transmitido pelo rádio. Algo que não sabia explicar, porém a sensação que tinha era de muito medo.


Os anos se passaram e meu primeiro contato com a ditadura veio na militância política, iniciada na minha cidade de Belo Jardim-PE, a partir da intervenção do Padre Reginaldo, que acabou largando a batina e casando com uma colega de trabalho. Reginaldo nos passava que o pior da ditadura são seus instrumentos, como a AI-5, a LSN (Lei de Segurança Nacional), o SNI (Sistema Nacional de Informação), assim como os instrumentos de repressão e que por trás de várias pessoas que se diziam lideranças locais se escondiam os delatores do SNI. Entre eles padres, políticos de toda ordem, lideranças comunitárias infiltradas e outros vermes que serviram à ditadura.


Quando voltamos para São Paulo, a luta foi via CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), já no debate da igreja conservadora versus a Teologia da Libertação, no Teatro Amador através da COTAESP e com o Grupo Móbile de Teatro, nas lutas estudantis, na luta sindical e depois minha filiação no Partido dos Trabalhadores, onde permaneço até hoje.


A partir de então, nunca mais abandonei as lutas concretas por liberdade, justiça e por democracia plena. Entre tantas lutas que participei destaco a luta pelas Diretas Já, com o memorável Comício no Vale do Anhangabaú, o enfrentamento nas lutas estudantis, as memoráveis greves do ABC de 78, 79 e 80 e a caminhada da Igreja Matriz de São Bernardo do Campo ao Estádio da Vila Euclides no dia 1º de maio de 1980. Fazer parte de tudo isso me faz refletir e compreender que com certeza vim ao mundo a trabalho e não para passear pela vida, seja qual for à dimensão que vai alienando as pessoas.


Essa reflexão me leva ao absurdo que estamos vivemos na atualidade. Onde a mídia partidária e golpista se coloca ao lado dos herdeiros dos tempos de trevas para solapar todas as conquistas dos trabalhadores e das pessoas sofridas do país, que a partir dos governos Lula e Dilma conquistaram direitos que nunca tiveram e começam a enxerga que de uma hora para outra poderão perder tudo de uma só vez. Ou seja, ou vão à luta ou voltarão ao passado.


A ditadura representou uma ruptura nos sonhos. Um aborto dos pensamentos de uma vida melhor e principalmente a morte do processo de liberdade e de justiça, onde apenas um grupo e seus colaboradores tinham o que queriam e as demais pessoas lhes serviam. Foram milhares de pessoas que pagaram com a morte, torturas e a completa perseguição contra a liberdade de expressão e de pensamentos e por direitos antes conquistados. Quem defende algo como o que aconteceu no Brasil e em vários países da América Latina, ou vai lucrar com isso, como é o caso dos empresários, que financiaram  tantos golpes na América Latina ou serão delatores permanentes a entregarem quem se colocar contra os privilégios da casa-grande.


Muitos e muitas se venderam e continuam a venda. Um processo de traição que começa às vezes quando um político se torna profissional e seu exercício de servir à população construída numa peça de marketing eleitoral se transforma numa profissão, ou ainda quando alguém que nada tinha descobre como é fácil enganar e usar a população em benefício próprio, como diversos pastores, políticos e muitas pessoas envolvidas com o famigerado terceiro setor, que é instrumento neoliberal de suporte às privatizações das questões sociais do Estado.


A única coisa boa nessa história toda é saber que milhares de pessoas que se achavam distantes de tudo e que não sonhavam mais ou ainda que estavam acomodadas com suas poucas conquistas, estão dando a demonstração de que estão mais vivas do que nunca e não hesitarão em lutar por liberdade e por seus direitos que a turma da casa-grande quer solapar.


Jovens de todas as idades estão se alistando para as lutas e isso é certeza de que águas novas estão brotando e o povo se amando sem parar. Há um fio de esperança nascendo por entre as veredas deixadas pelo PIG e isso nos fortalece e nos faz acreditar que o melhor ainda está por vir, mesmo que seja através de uma luta concreta.


Como dizia Brecht: Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem.”

NÃO HAVERÁ GOLPE. HAVERÁ LUTA!


Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com


Fonte: http://gestaopublicasocial.blogspot.com/2016/04/lutar-pela-liberdade-mesmo-que-por.html