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Toni Cordeiro

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O Brasil de hoje não promete um amanhã

15 de Novembro de 2016, 13:57 , por Gestão Pública Social - | No one following this article yet.
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Cadê os figurantes do carnaval do golpe, fantasiados de verde e amarelo destilando ódio contra o PT, Lula e Dilma? Por onde andam? Ao certo devem estar enrustidos se divertindo ao lerem nos blogs sociais, pois seus jornalecos e revistecos omitem e suas rádios e TVs golpistas escondem que o país está sendo desmontado pouco a pouco para os pobres e arquitetado para os ricos, seus apoiadores e apoiadoras e seus bajuladores e bajuladoras.

 

 
Aquele país alegre de todos e todas está sendo visto como um ser privado de vontade própria. Exatamente como parte da definição do que é zumbi. Resultado da vampiragem que assola o país. Gota a gota vão sugando o sangue da classe trabalhadora e das pessoas com menor poder aquisitivo. São anos de luta sendo levados numa enxurrada de retrocesso e sacanagem.

 

 
Para quem viveu o terror do golpe militar, viu de perto algumas pessoas simplesmente desaparecerem para nunca mais voltar e a democracia brasileira tão jovem, trazer de volta a ilusão de que o amanhã iria compensar tamanha dor, não consegue acreditar que aquele frio que invadia a alma e nos colocava de prontidão permanente esteja de volta. A senzala e os porões da tortura estão sendo trazidos de volta do além pelos agentes da casa grande e suas bestas-feras armadas que agem a mando de seus senhores feudais.

 

 
Golpe é golpe! Não dá para simplificar e muito menos dizer que foi por falta de aviso. Foi denunciado passo a passo. Aquela votação dos deputados e deputadas ficará na história como um dos dias mais tristes do país. A trupe de salteadores que invadiu o governo sem permissão, apagou da historia a parte boa de 2016, pois a esperança, o voto de mais de 64 milhões de eleitores e eleitoras e as conquistas de anos de luta foram e estão sendo destruídos.

 

 
Resta apenas um raio de luz enfrentando a escuridão e um flash desafiando os porões das trevas, materializado nos filhos e filhas de pessoas simples que lutam por nossos direitos. Mesmo que não entendam a complexidade ideológica do que está em jogo, a juventude sente que sem luta não haverá futuro. São dignos e dignas de aplausos, pois lutam por vezes sós.

 

 
É importante não esquecer que a democracia tem várias facetas. Enquanto a participativa caminha a passos lentos pelas alienações da vida, a falsa democracia representativa, pois não tem lastro, se alvoroça elegendo representantes deles mesmo. Essa modalidade de democracia está desenganada de vida e cumpre seus últimos suspiros. Quem sabe quando morrer de vez, rumo à ditadura, parte do povo acorde e dê vida à democracia direta, a democracia participativa e aí seus representantes serão verdadeiros.

 

 
Sergio Porto, mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta disse certa vez: “A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento”.

 

 
Ao ler isso, várias perguntas me vêm à cabeça: Como em pleno 2016 os brasileiros e as brasileiras admitem uma situação como essa? Por onde anda aquela consciência política dos atores da década de 80? Quanto tempo será necessário para organizar um amplo levante popular? Cadê aquele Brasil que estava sendo construído a várias mãos? O que será do amanhã?

 

 
Como a maioria dessas perguntas permanece sem resposta, ficam apenas algumas inquietações a serem resolvidas: ou tudo que ocorreu nos últimos anos não passou de mera ilusão de ótica democrática ou os agentes da mudança não empoderaram ninguém. Ou uma enorme traição foi desenvolvida passo a passo ou o jogo do poder não permitiu a politização das conquistas. Se de fato foi isso que ocorreu não sobrou ninguém que se beneficiou com todos os programas dos governos Lula e Dilma, além das politicas sociais e econômicas, que fizesse a defesa das conquistas. Apenas a militância e a juventude continuam a desafiar os poderosos e a sonhar que um dia a aurora do amanhã invada essa enorme escuridão.

 

 
Sou daqueles que acha que se não aprendermos com os erros, eles voltarão em proporção maior a ponto de nada mais poder ser feito. A verdade revelou que as serpentes nos rodeiam vindas de todas as direções e que na menor distração seremos picados por elas e aí lá se foi o amanhã.

 

 
Como militante de uma causa, tenho convicção do que ainda virá. O vampiro não é o ser ideal para a casa grande. É apenas um tapa-buraco. Um falastrão que fará todas as maldades em nome da elite devassa. A casa grande quer na verdade seres de bicos e penas para devorar o que restou. Para isso, poderá ressuscitar um tal de FHC. Um sujeito que quebrou o país várias vezes, comprou sua reeleição por 200 mil cada voto e vendeu todo patrimônio nacional, apenas e tão somente para não queimar o filme de seu candidato verdadeiro em 2018. Um tal de comedor de merenda envolvido no trensalão tucano e tantos outros episódios que a imprensa golpista esconde.

 

 
Diante desse cenário de filme de terror, admito que jamais imaginaria que tudo pudesse ocorrer e chegar aonde chegou sem uma forte reação popular, principalmente por parte dos movimentos sociais organizados. Porém, a meu ver, os movimentos se encontram anestesiados. Apáticos e esperando apenas o fim do mundo que se depender dessa bandalheira está próximo.

 

 
Para quem se acostumou a pensar e a tecer reflexões a partir de um cenário democrático, é como se o dia tivesse virado noite. Foi-se a luz, veio à escuridão. Nossa esperança vem do centro da crise, ao surgir essa força jovem que promete muita luta em busca do horizonte perdido. Caminharei com ela custe o que custar para onde for, mesmo que nada de concreto seja conquistado. O que vale mesmo é a certeza de que a luta pela dignidade humana caminha cada vez mais firme. É só olhar o brilho nos olhos de quem está nas ruas lutando que saberão do que estou falando.

 

 
“Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes”, (Paulo Freire)

 

Antonio Lopes Cordeiro (Toni)

 

Pesquisador em Gestão Pública e Social

 

tonicordeiro1608@gmail.com

Fonte: http://gestaopublicasocial.blogspot.com/2016/11/o-brasil-de-hoje-nao-promete-um-amanha.html