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Toni Cordeiro

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Porque a Participação e o Controle Social incomodam muita gente?

18 de Novembro de 2014, 16:52 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
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É de fato necessária à criação de uma Política Nacional de Participação Social, ou os deputados e senadores eleitos representam de fato todos os segmentos da sociedade? O que eles têm medo?  Porque temem que uma Política Nacional possa vir a anular suas atividades? Isso é um fato ou um mito? 

Compreender o que está em jogo, nesse pós-processo eleitoral que culminou com a vitória da Presidenta Dilma, não só é fundamental, como também se tornou uma enorme necessidade, principalmente para entender o que venha a ser o termo Participação Social e qual sua relação ou distanciamento com a Participação Popular.

Quero iniciar afirmando que ambos os termos: social e popular fazem parte do processo de aprofundamento e ampliação da democracia no Brasil, que em regras gerais, representam derivações dos direitos constitucionais de Participação e Controle Social, até hoje não respeitados amplamente pela extrema maioria dos governantes, seja por medo, por falta de conhecimento ou ainda pelo descaso, sem contar que alguns governantes, após a vitória nas urnas, não se sentem mais humanos como nós e sim deuses iluminados e únicos sabedores do destino da humanidade.

Acredito que um dos grandes embates que se deu nesse processo eleitoral, tinha como pano de fundo o modelo de gestão. Não que o modelo desenvolvido pela Presidenta Dilma no seu primeiro mandato tenha sido tão especial assim, pois faltou um plano de comunicação popular e uma política participativa mais determinada, porém, não se pode comparar um modelo neoliberal baseado apenas em “choque de gestão”, com ações planejadas a partir de uma Política Nacional de Participação Social, forjada na base da sociedade.

No discurso “raso” imposto pela velha mídia, que prega o senso comum de que todo político é ladrão, até parece que todos os governos são iguais e, portanto ao elegermos alguém remetemos nosso destino à própria sorte, porém há uma longa distância entre o chamado “choque de gestão”, inventado pelo modo tucano de governar e os governos que se pautam pela relação contínua com os setores organizados da sociedade. Um já traz um modelo pronto, indecifrável aos olhos dos mortais dos humanos e o outro molda a forma de governar de acordo com a conjuntura e o mais importante, com os atores envolvidos. Esse é enredo principal do Planejamento Estratégico Situacional de Carlos Matus.

A Carta ao Cidadão lançada e relançada pela Secretaria de Gestão Pública – SEGEP do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, fez e faz parte da política participativa adotada pelo Governo Federal nos governos de Lula e Dilma, passando pelas mais de 100 Conferências Nacionais, pelo Seminário de Participação Social e principalmente pelas Consociais – Conferências de Participação e de Controle Social, ocorridas em diversos municípios brasileiros.

Segundo a SEGEP, “A implantação da Carta ao Cidadão pelos órgãos e entidades públicas implica em um processo de transformação institucional, sustentado no princípio de que as instituições públicas devem atuar em conformidade com o interesse da sociedade e com os padrões de desempenho por ela estabelecidos”.

Outro importante documento elaborado para o Programa GesPública da Secretaria de Gestão Pública, ligado ao Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão encontra-se disponível para consulta (Veja o link no final da página). Nele podemos conhecer em detalhes os princípios, direitos e instrumentos que garantem o controle e a participação social.

1.    Princípios, direitos e instrumentos que garantem o controle e a participação social.
  •  Direito à Informação: O art. 5º em seu inciso XXXII da Constituição Federal de 88 e Lei de Acesso à Informação – 12.527/11.
  • Poder de Denúncia: § 2° do art. 74 da Constituição.
  • Recursos Jurídicos: Direito de Petição, Direito de Certidão, Ação Popular, Mandado de Segurança Individual, Mandado de Segurança Coletivo, Ação Civil Pública e Mandado de Injunção.

2.   Principais mecanismos de participação social existentes na Administração Federal (que poderiam serem criados na esfera estadual e municipal):
  •  Conselhos de Políticas Públicas
  • Conferências de Políticas Públicas (ordinárias e extraordinárias)
  • Ouvidoria Pública
  • Audiências Públicas
  • Consultas Públicas
  • Grupos de Trabalhos Temáticos
  • Reuniões com Segmentos Organizados e Organizações
  • Mesas de Negociação ou de Diálogo
  • OP e PPA Participativos

Outras formas participativas normalmente praticadas nas gestões democráticas e participarivas:
  • Fóruns Temáticos Permanentes
  • Seminários
  • Encontros
  • Oficinas Diversas

Do ponto de vista de um governo ético, integrado, transparente e participativo, a Participação Social deve ser absorvida como um método de governo, sem medo de ser feliz. A partir desta opção se estabelece o principal diferencial entre um organismo deliberativo e consultivo e assim como no governo federal, vai se mudando o caráter dos Conselhos Gestores, por exemplo, onde praticamente todos são deliberativos. Para esse caso, a principal pergunta que tem que fazer para os gestores é: O objetivo do governo é consultar ou estabelecer um processo de cogestão da política ou de determinada decisão política? Se a intenção for apenas de consultar, então não há espaço de fato para a sociedade se pronunciar e intervir se necessário forem.

Do ponto de vista político, há de fato uma diferença ideológica e ser observada entre os termos Participação Social e Participação Popular, pois o primeiro atua de forma mais ampla e cabe todos os segmentos da sociedade num processo participativo, porém sem um critério ideológico mais definido e a Participação Popular, remete aos setores organizados da sociedade, principalmente aqueles que sempre foram excluídos de todo processo de políticas públicas.

Para encerrar, é nítido e notório que ao se votar contra a proposta de uma Política Nacional de Participação Social, a principal intensão é a de se afastar a população da tomada de decisões, nem ao menos ser consultada quanto mais formular, implantar e fiscalizar as políticas públicas e as ações de governo.

Quanto à representatividade, continua achando uma grande comédia, se não fosse uma grande tragédia. Na boa: a maioria não representa ninguém, apenas eles mesmos. Infelizmente uma grande parte da população povo vota por obrigação, outra por puro interesse e só uma pequena parte por convicção. Esse setor é imediatamente afastado do processo de participação, pois se constitui numa grande ameaça para quem quer fazer do mandato uma fonte para resolver seus problemas pessoais.

O que resta? Apenas a certeza de que a luta continua.

Para Consulta:


2. Carta de Serviços ao Cidadão
 
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ ig.com.br

Fonte: http://gestaopublicasocial.blogspot.com/2014/11/porque-participacao-e-o-controle-social.html