Depois de um adeus a 2017, um ano que não deixou saudades, resolvi começar o ano novo falando de algo mais abstrato e brando, visto que minha inquietude dos últimos tempos me deixou um tanto amargo.
Algo que levasse alguém a caminhar diante de suas realidades com esperança, partindo do pressuposto de que os leitores e as leitoras do blog são pessoas sonhadoras, mas de um sonho que não se sonha só e sim com quem tem paixão pela vida, que desafiando a lógica do momento enfrentam um sistema perverso e sonham em construir uma nova sociedade. Uma sociedade justa, inclusiva e igualitária para todos e todas.
Caso fosse um poeta e tivesse habilidade para escrever um verso de amor, queria que ele tivesse tamanha profundidade que fizesse quem está apaixonado se sentir dentro dele. Ou ainda que quem estivesse sofrendo das causas do amor ou de desamor o usasse para curar um pouco de suas angústias. Algo que fosse ao mesmo tempo luz e alma. Vida e esperança.
Porém, como não poetizo, mas adoro brincar de escrever, vou me arriscar a falar sobre esperança e buscar definições sobre a vida, a partir de alguns autores, desse bem maior que nos é concedido por tempo determinado, que infelizmente para um setor da sociedade vale tão pouco.
Imagino a esperança como um pacto com o futuro, a partir de nossos encontros e desencontros, visando algo melhor ou a busca de soluções para os problemas cotidianos. Esperança a meu ver é vida que se renova. É refúgio para quem se perde de si mesmo e para muitos e muitas acaba se tornando a única alternativa para quem não tem mais ao que recorrer. Uma espécie de busca das últimas forças para sair do casulo que nos metemos de vez enquanto.
Uma coisa é certa, ninguém recorre à esperança do nada e para o nada e sim para se chegar ao ponto que se almeja, muitas vezes forçado pelos vieses da vida.
O teólogo Ricardo Gondin, ao ler para Rubem Alves o texto “Da Esperança”, disse num dos trechos: “Dizem ser verde a cor da esperança. Eis, então, o tom que anima o vencido a continuar resoluto. Só ela ressuscita audácia em corações arruinados. Esperança, ao devolver alegria ao desiludido, lambuzado de cinza, nunca se contenta com uma só tonalidade. Ela é dona de todas as cores, na esperança mora um arco íris”. Lindo, não é mesmo?
Esperança é o que nas entrelinhas da vida, ou ainda no trato com as desigualdades humanas, pode servir de alento para os mais pobres e sofridos ou ainda para as usuras de quem sempre quer mais para acumular. Porém, esperança sempre será vida, talvez por isso o ditado de que é a última que morre.
Noutro trecho Gondin diz: “Esperança se move de frente para trás. Réstias de sua luz veem do futuro, do porvir mais longínquo, para iluminar o presente. Esperança é a força derradeira que anima o velho e o brilho que anima os olhos da mãe quando embala o filho”.
Enfim, esperança, repleta de interpretações, é saber que ainda pode restar alguma água no fundo do poço e é pra lá que nos movemos em tempo de seca.
E a vida que se move a partir da esperança? Parece-me ressurgir com mais vigor e duração, mesmo que o que se esperançava não aconteça, porém só o fato da viagem ao tempo esperançando, faz com que o futuro fique mais próximo. A vida presente e futura, ambas ligadas através do ato de esperançar.
Por outro lado, a vida, que deveria ter uma visão única, principalmente pelo seu valor, se move em definições de acordo com o estado emocional de quem a define. Vou recorrer a alguns autores para expressar essa afirmação.
Calderon de La Barca em seu “Monólogo de Segismundo”, escrito em 1636 no drama “A vida é sonho”, fala que a vida é um frenesi, uma ilusão, uma sombra, uma ficção, ao se referir que o maior bem que possuímos é pequeno.
Fernando Pessoa, por sua vez, valoriza cada momento da vida ao afirmar: “Às vezes ouço passar o vento e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido”. Algo tão poético que acaba expressando a gratidão do bem de viver. Um sincero e verdadeiro agradecimento por ter nascido.
Albert Einstein fala de uma dualidade existente no ato de viver, que expressa exatamente o estado emocional de quem vive a vida: “Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la como se os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre”. Ou seja, uns vivem outros transitam pela vida.
Porém, foi Clarice Lispector, que a meu ver fez a melhor homenagem à vida: “Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”. Um mergulho sem medo de ser feliz em sua existência.
A esperança não se move sozinha, depende principalmente de fé e de sonhos. Não é ilusão e sim uma aposta no futuro. Porém, não existe uma lógica matemática para que o resultado de uma esperança ocorra e sim um sonhar que afaga a mente e refrigera a alma, afirmando em todos os momentos ser possível o que se almeja, desde que se acredite e a sorte dê sua contribuição. Esperança é antes de tudo compromisso com a vida, pois é dela que se nutre o ato de viver.
Que em 2018 possamos esperançar e obter infinitos momentos felizes vivendo a vida.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com
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