Sinto grandes emoções para esse ano. Primeiro pelos diversos momentos de enfrentamento ao golpe em curso que virão e segundo por ser um ano eleitoral.
Imaginando que as eleições são decididas pelo emocional e não pela razão. Em qualquer canto do país haverá alguém para encantar uma parte da população, independente que seja do bem ou do mal. A população inconsciente estará sempre encantada pelo canto da sereia.
Imaginando que as eleições são decididas pelo emocional e não pela razão. Em qualquer canto do país haverá alguém para encantar uma parte da população, independente que seja do bem ou do mal. A população inconsciente estará sempre encantada pelo canto da sereia.
Quem sabe um dia a população vote por convicção, a partir da leitura de um projeto político desenvolvido a várias mãos e por afinidade ideológica. Porém isso ainda é pura utopia. A maioria da população canta a canção de seus opressores e se encanta tentando os imitar.
Mudando de assunto, comecei minhas escritas esse ano por outras veredas, no sentido, não de fugir da causa que sempre defendi, mas tentando buscar inspiração do outro lado da rua. Algo que pudesse informar, mas também que atraísse o leitor e a leitora para os cantos que o texto relata, ou ainda os encantassem levando-os para dentro das histórias. Uma ousadia poética com o objetivo de prender a atenção de quem passar por aqui.
Para esse post resolvi dar um título vago, onde ao mesmo tempo em que canto pode ser um som, também pode ser um lugar qualquer ou específico e o encantar que pode ser algo deslumbrante, também pode ser algo mágico com o intuito de desaparecer.
Nasci numa casinha num pé de serra pelas mãos de uma parteira. Coisa bem comum naqueles tempos e naquelas bandas onde nasci. Cresci com cheiro de mato, brincando no rio e nas horas vagas subindo num pé de pitomba (da família da lichia) como passatempo. Quer coisa melhor?
Descobri com o tempo que devo ser filho do sol, pois apesar de curtir uma chuva fina que caia sobre as árvores, quando criança, o que me alegrava mesmo eram os raios de sol. Raios de luz brilhando nas águas do rio. Réstias que faziam eu e meus primos brincar com as sombras e assim passava o tempo.
O encontro com o contraditório em termos de vida, no papel de migrante nordestino chegado a São Paulo ainda criança e pobre e a reação à violenta discriminação social que sofri me levaram à militância política. Um encontro com a poesia em termos de vida, pois todos e todas eram iguais e sonhavam sonhos coletivos.
Durante muito tempo sonhamos e atuamos por um novo mundo, por justiça social e igualdade de direitos e cantamos as músicas de protesto em vários cantos da cidade. Nessa época, de todos os cantos da América Latina sofrida saiam cantos que nos fazia viver. Verdadeiros saraus recheados de conjuntura.
Aqui no texto, se canto for cantar, me leva a uma canção interpretada por Mercedes Sosa e Beth Carvalho, que começa assim: “Eu só peço a Deus; Que a dor não me seja indiferente; Que a morte não me encontre um dia; Solitário sem ter feito o que eu queria”. Um desafio à própria existência. Um recado para quem tem uma causa para lutar. Mercedes e Beth sempre lutaram por uma causa.
Porém se canto aqui for um lugar, fico imaginando um cantinho além do horizonte. Uma casinha com fogão de lenha onde se possa ver o por do sol e quem sabe um violão afinado para ai canto ser som e lugar ao mesmo tempo.
A vida não devia ser assim? Cheia de histórias para contar. Em sua essência o ser humano é assim. Cada pessoa tem uma história de vida que adoraria contá-la para alguém que a valorizasse, mas em muitas vezes não se encontra ninguém disposto a ouvir. Aí nesse caso encantar é pura vontade de sumir.
Uma das coisas que certamente altera o tom da vida e o comportamento dos seres humanos é o poder, ou o que se chama de poder. Quem não conhece uma pessoa dócil e companheira, que ao simples contato com o que imagina ser poder virou um bicho selvagem ou ainda um ser intocável? Por outro lado, as várias formas de poder, para a população desprovida de conhecimento, acabam se tornando uma bela ilusão. Um canto onde o verdadeiro lobo permanece encantado.
No filme a Guerra do Fogo, quando uma tribo descobriu a magia do fogo, que naquele momento simboliza o poder para quem o tivesse, logo formou um exército em volta da tribo para guardar de outros seres a grande descoberta. Assim nasceu a ideia de polícia para guardar o simbolismo de um grupo em detrimento ao restante da população e repressão aos intrusos do poder.
Voltando ao canto como som, como se esquecer da música de Vandré: “Há soldados armados; Amados ou não; Quase todos perdidos; De armas na mão; Nos quartéis lhes ensinam; Uma antiga lição; De morrer pela pátria; E viver sem razão”. A “Síndrome do Rambo” invadindo as mentes com o poder das armas.
E se encantar aqui no texto for compreendido como uma reação humana que provoque uma sensação de interesse intenso, porque não sentir o que um beija-flor sente quando experimenta o néctar de uma flor, ou ainda quando se depara com um jardim? Agora se encantar for o ébrio provocado por falsas sensações, que dê vontade simplesmente de desaparecer, porque não enfrentar como se fosse a última baralha?
Prefiro a utopia de mudar a sociedade cantando nas passeatas da vida, do que ser um ser imutável e inútil daqueles que esmorecem quando descobrem que nem história deixará. Minha história não se encanta por qualquer canto. Faço história cantando com as pessoas.
Prefiro ainda encantar as pessoas subvertendo a ordem imposta de cima para baixo, afirmando que elas podem mudar suas próprias histórias, do que aceitar um canto qualquer como resultado do meu projeto de vida.
Que cantemos juntos e juntas o hino da vitória, seja em que canto for.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social