Olhar a vida pela janela de um hospital nos faz entender o quanto vale a vida
20 de Maio de 2015, 15:35Faz algum tempo que não escrevo no meu blog e isso está ocorrendo devido a estar com o meu pai num hospital em São Paulo, depois de passar por outro em Diadema, que o convênio nos transferiu, quase que na marra. Situação constrangedora que será denunciada à ANS, tão logo tenha condições.
Nunca tinha ficado por tanto tempo num hospital como agora e muito menos meu pai tinha passado por uma via sacra como essa. Trata-se de um novo aprendizado. Aprender como conviver com problemas que não podem passar por cirurgias e continuam lá.
Em um hospital normalmente são dias agitados com alguns casos de emergência total, alguns descasos, alguns “coxinhas” de jalecos com narizes empinados, mas também com muitos profissionais dedicados. O maior problema vivenciado é que os planos de saúde só enxergam os números e não as pessoas. Vendem milhares de planos quando não tem capacidade de cuidar nem da metade. Ou ainda fazem um monte de exames somente para cobrarem de outros planos, dos órgãos públicos e o pior do SUS. Aquele mesmo que eles falam mal todos os dias nos instrumentos do PIG.
Ainda bem que existe o SUS, que o PSDB e seus aliados golpistas querem acabar, simplesmente porque odeiam pobres e seus compromissos são com os donos dos Planos de Saúde e não com a população. Quem banca os remédios de alto custo? Quem banca as cirurgias complexas mesmo nos hospitais particulares e tantos outros procedimentos? O Sistema Único de Saúde banca tudo isso e todos os procedimentos dos hospitais públicos. Claro que tem que melhorar, mas se não existisse aconteceria com os EUA que os pobres lá ficam à míngua.
Além da maldade dos Planos de Saúde, as pessoas doentes ficam expostas e nas mãos, em muitos casos, tanto na rede pública como na privada, de pessoas que odeiam o Brasil, que odeiam o governo e também o que fazem como profissão, expondo suas maldades, principalmente no relacionamento com os pacientes, porém o que salva é que também ficam nas mãos de muitos e muitas que se dedicam com amor e exclusividade para salvar vidas e mantê-los com qualidade.
Diante de situações como essas sabe o que pesa mais? É o nível de carência, tanto dos pacientes, como também dos acompanhantes, que ficam torcendo para que seus entes queridos não tomem medicação errada, trocada ou sem necessidade, além do stress quando da piora do paciente.
Termino esperançoso que saiamos o mais breve possível e bem dessa situação, com uma bela citação de Santo Agostinho:
“A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las”.
Antonio Lopes Cordeiro
Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com
O sonho da direita de acabar com o PT e o sangue dos professores do Paraná
2 de Maio de 2015, 11:28
As cenas do campo de batalha dos covardes policiais armados contra uma legião de professores e professoras desarmados do Paraná, que lutam contra a delapidação de seus direitos, só nos faz lembrar o quanto custou à conquista da liberdade e da democracia e o falso discurso da direita reacionária e a mídia golpista, de que acabando com o PT o paraíso é logo ali.
A cena foi comandada por um governador tucano desqualificado e por infelizes policiais que agiram piores que seus cães. Marcharam de encontro aos professores com a clara decisão de abatê-los se necessário fosse para que não se aproximassem do local onde falsos democráticos deputados votavam o fim de seus direitos. Uma cena bizarra típica de quem foi é conivente com a barbárie. Típica de quem foi e é conivente com a tortura e morte de combatentes que lutam pelos seus direitos, exatamente como foi na época da ditadura, onde pelo falso argumento de lutar contra o comunismo, que 99% da população não sabe e segundo eles não pode saber o que é, senão se apaixonam pela causa.
A pergunta é: o que tem a ver essa cena de horror com o sonho deles de acabar com o PT? Simples de responder: o fim do PT e dos partidos mais consequentes, além das instituições que ainda sonham para mudar a sociedade, os deixaria à vontade para impor suas condições, onde um pobre não pode nem sonhar e muito menos ser um empreendedor, pois o modelo de desenvolvimento que criaram não é para qualquer um segundo eles, apenas para os afortunados e para aqueles que as divindades escolheram para serem prósperos e logicamente políticos de carreira. Um trabalhador? Nem pensar. Uma mulher como Dilma? Tem que ser atormentada e provar todos os dias que não é ladrona.
Lembro-me como se fosse hoje daquele comício ocorrido à noite em São Bernardo Campo na Praça do Rudge Ramos em 1982, na reta final das eleições para governador daquele ano. Milhares de pessoas presentes e Lula inspirado. Eis que de repente surge na escuridão do céu um helicóptero sobrevoando o comício e joga milhares de panfletos.
O panfleto trazia uma montagem com Lula debruçado na varanda de uma luxuosa mansão e dizia assim: “Enquanto você está aí o apoiando, ele está no Morumbi rindo da sua cara”. Um golpe baixo para ver se atingia corações e mentes de quem já tinham se decidido em quem votar.
Desde aquela ocasião até os dias de hoje, centenas de episódios como esse inundaram os lares e infestaram as cabeças dos mais fracos e também daqueles que ao não participarem da vida política do país deposita seus sonhos de vida nas mãos de quem nunca se comprometeu com eles.
É importante registrar que situações como essas não são produzidas por acaso ou sem nenhuma intenção. Elas têm endereço certo. Visam intervir no processo democrático eleitoral pela via do fuxico, pela vertente da teoria da conspiração e jogam com a desinformação da população, onde tudo se transforma em ódio, sem ao menos a maioria saber os reais motivos desse ódio de classe. São levados por grupos e pessoas que se beneficiam com toda essa situação, como por exemplo, o pensamento global, que tem dono e partido azul e amarelo no comando. Tudo isso em nome da democracia, mas que democracia?
A grande preocupação é que existe uma perigosa inversão de valores na sociedade nos dias de hoje, onde se prega a ideia de que basta votar em alguém que está representado, quando está claro que a maioria dos eleitos representa a eles próprios ou a seus grupos. Quem duvidar disso é só ver o que aconteceu logo após as eleições com a votação contra a Política Nacional de Participação Social e agora com a votação do projeto de terceirização e precarização da CLT.
Com esse cenário não há dúvidas em afirmar a existência de uma profunda crise da democracia representativa, pois não tem lastro e muito menos vida. Sem essa de super-heróis. Sem essa de salvadores da Pátria. Sem essa de achar que só quem pode ser político são os iluminados e por isso ganham o privilégio de serem eleitos para sempre. Qualquer pessoa a partir de um projeto participativo pode ser um bom político, pois as decisões nascem e crescem a partir do coletivo e não do individual. Para isso, basta apenas que respeitem os fóruns constituídos.
Entendo perfeitamente porque eles consideram a democracia participativa como uma afronta. Como algo subversivo. É que essa é uma forma de dar voz às Senzalas, aos oprimidos, aos menos favorecidos da sociedade e a toda população discriminada. Por outro lado os representantes da Casa Grande, além dos seus pares individualista tem a mídia golpista como sua eterna aliada.
É bem provável que grande parte daqueles professores votou exatamente nesse indivíduo que era governador e foi reeleito, mas também é certo que mesmo esses que votaram e apanharam, terão a oportunidade de aprender que não se vota por marketing e muito menos a partir do que falam jornais, revistas, rádios e canais de tvs, que são de apenas seis famílias abastadas e que tem como certo o fim dos direitos trabalhistas e de liberdade de expressão.
O que fazer para mudar essa situação? Só a organização popular poderá de fato trazer mudanças profundas. Só com a reação da multidão nos seus micros espaços de poder, poderá criar uma situação sustentável. Do contrário continuaremos a ver a mesma direita que apoiou a ditadura, tortura e mortes, discursando sobre a ética, como se nada tivesse com o ocorreu num passado bem próximo, não só no Brasil, mas principalmente na América Latina.
Sobre o PT, no sentido de deixa-los ainda mais indignados, transcrevo abaixo dois trechos do poema de Pedro Tierra explica a essência petista:
“Viemos da margem. Somos a anti-sinfonia que estorna da estreita pauta da melodia. Não cabemos dentro da moldura. Somos dilacerados como todos os filhos da paixão. Briguentos. Desaforados. Unidos. Livres: como meninos de rua.
Quando o inimigo não fustiga inventamos nossas próprias guerras. Desenvolvemos um talento prodigioso para elas. Com nossas mãos, sonhos, desavenças compomos um rosto de peão, uma voz rouca de peão, o desassombro dos peões para oferecer ao país, para disputar o país....”
Quando o inimigo não fustiga inventamos nossas próprias guerras. Desenvolvemos um talento prodigioso para elas. Com nossas mãos, sonhos, desavenças compomos um rosto de peão, uma voz rouca de peão, o desassombro dos peões para oferecer ao país, para disputar o país....”
“Os filhos da margem têm os olhos postos sobre nós. Eles sabem, nós sabemos que a vida não nos concederá outra oportunidade. Hoje, temos uma cara. Uma voz. Bandeiras. Temos sonhos organizados. Queremos um país onde não se matem crianças que escaparam do frio, da fome, da cola de sapateiro. Onde os filhos da margem tenham direito a terra, ao trabalho, ao pão, ao canto, à dança, às histórias que povoam nossa imaginação, às raízes da nossa alegria. Aprendemos que a construção do Brasil não será obra apenas de nossas mãos. Nosso retrato futuro resultará da desencontrada multiplicação dos sonhos que desatamos”.
Que de cada canto da cidade surjam os personagens que se encontram escondidos. Que de cada canto dessa enorme Senzala que se tornou o Brasil para quem pensa e principalmente para quem tem um sonho de uma vida melhor, surjam os guerreiros para juntos lutarmos pela transformação dessa sociedade.
Viva os trabalhadores de bem!
Viva os professores que tem a coragem de lutar pelos direitos!
Viva àqueles 17 policiais que foram presos por não acatarem o comando dos cães de guarda do governo tucanalha do Paraná.
Que toquem os tambores para anunciar que a luta mal começou.
Reforma Política (Parte 5)
28 de Abril de 2015, 23:16Israel Gonçalves
Enquanto os partidos ficam discutindo a reforma entre si, tentando manter seus privilégios, o governo federal aproveita seu poder de veto para ajeitar seus desejos, mais urgentes, de aumentar sua base dentro do Congresso Nacional, já que de cada dez aliados, três votam contra Dilma, conforme reportagem da Folha de S. Paulo (29/3/15). Nesta perspectiva, o governo federal demonstra sua angústia ao vetar e assim alterar o texto que foi aprovado pelo parlamento que permitiria fusão de novos partidos, após cinco anos de sua criação. Isto porque o governo atua com base no seu momento de crise ao permitir as fusões partidárias de agremiações recém-criadas sem vínculo com a sociedade civil. A medida do governo deveria ser feita para aprimoramento do Estado, ao longo do tempo e do sistema político, não permitindo fusões partidárias de cunho oportunista e deixando mais rígidas as regras para migrações de políticos para outras legendas. Porém, o Executivo nacional atua na contramão destas medidas ao promover a criação do Partido Liberal, que, se criado, fundir-se-á com o PSD, aumentando assim a base governista no Congresso e, consequentemente, reduzindo o número de seus opositores. Em vez de resolver a crise de credibilidade da presidente da República, os "articuladores" do governo utilizam-se da "canetada" para solucionar o problema que foi criado por eles mesmos ao não apoiar para a Presidência da Câmara dos Deputados o atual presidente, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Esta reforma que está em pauta no Congresso também é parcial. Ela é feita para acomodar os grandes partidos, e não para radicalizar a estrutura do sistema político. Talvez, por isso, os parlamentares não queiram tocar nesta reforma, no Poder Judiciário, na sua morosidade e corporativismo, pois mesmo com o Novo Código Civil aprovado, o parlamento poderia atuar para aprimorar a estrutura do judiciário brasileiro. Algumas ideias são criar e aperfeiçoar as Corregedorias do Judiciário, manter conselhos externos para fiscalizar e acompanhar o Poder Judiciário. Outra questão é a redução dos mandatos dos ministros que são escolhidos para o Supremo Tribunal Federal. Atualmente, os ministros podem ficar no cargo até os 70 anos, sendo que, em alguns países, há um período de quatro anos e o servidor público não pode ser reconduzido ao cargo. O que é pior, esses itens não estão em debate no Congresso e nem na sociedade civil.
A atual configuração da reforma mantém a sobreposição do Executivo em relação ao Legislativo e não mexe no Poder Judiciário. Quando há alguma mudança sensata, via parlamento, o Poder Executivo interfere para garantir a chamada governabilidade e, neste caso, não contribui com o fortalecimento do sistema político brasileiro.
Israel Gonçalves é cientista político, professor universitário e autor do livro: O Brasil na missão de paz no Haiti. Editora: Nova Edições Acadêmicas (2014).
E-mail: educa_isra@yahoo.com.br
Reforma Política (Parte 4)
21 de Abril de 2015, 16:32Israel Gonçalves
Está em debate, no Senado Federal brasileiro, a forma de financiamento de campanhas eleitorais. Até o momento, há três possibilidades: a primeira é deixar tudo como está, ou seja, com fundo partidário, com doações de dinheiro de pessoas físicas e/ou empresariais. Atualmente, as empresas podem doar para vários partidos e podem ter contratos firmados com a União. A segunda proposta, encabeçada pelo PMDB, é a do financiamento misto, isto é, continua com o fundo partidário e com doações de pessoas físicas e de empresários, porém, pela via privada, a empresa não poderá doar para mais de um partido político e não poderá ter contratos com o setor público. Já o PT busca o financiamento exclusivamente público das campanhas.
No entanto, há um consenso, a forma que o processo de financiamento de campanha que se apresenta já está saturado. Principalmente em relação às doações do setor privado. As grandes empresas doam para vários partidos milhões de reais e conseguem, assim, eleger seus representantes. Nesta dinâmica, a maior parte dos eleitores está em desvantagem. Do outro lado, o financiamento exclusivamente público não é garantia de aprimoramento do processo eleitoral e não afasta a corrupção. O PT defende que o financiamento público é uma forma mais fácil de controlar o dinheiro destinado aos partidos.
Acredito ser difícil defender a tese de que o financiamento público exclusivo seja o melhor por ser o mais fácil de fiscalizar. Como exemplo, pode-se analisar o fundo partidário que, em 2014, destinou aos partidos políticos R$ 289,6 milhões. Ressalta-se que no dia 17/3, ao aprovar o Orçamento Geral da União, uma emenda aumenta em quase 200% esta verba, ou seja, se sancionado pela presidente Dilma, o valor chegará R$ 867,6 milhões já para este ano.
Todos os 32 partidos que têm registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) recebem 5% do total do fundo. Os outros 95% do fundo são distribuídos de forma proporcional aos partidos, conforme os votos que foram conquistados por estes na última eleição para a Câmara dos Deputados. Fica evidente que uma reforma do financiamento de campanha, utilizando apenas o fundo partidário, prejudicaria os partidos pequenos, pois estes têm uma menor ou nenhuma representação na Câmara.
Caso a reforma do financiamento público exclusivo seja aprovada e se mantenha o valor de R$ 867,6 milhões, e sugerindo uma hipótese que este valor seja então distribuído para todos os partidos, teríamos cerca de R$ 27,11 milhões para cada partido, ou seja, R$ 2,25 milhões ao mês. Fica uma questão: como o cidadão comum fiscaliza esse volume de dinheiro destinado aos 32 partidos? Desta forma, a proposta de financiamento público exclusivo de campanha torna-se inviável.
Israel Gonçalves é cientista político, professor universitário e autor do livro: O Brasil na missão de paz no Haiti. Editora: Nova Edições Acadêmicas (2014).
E-mail: educa_isra@yahoo.com.br
Reforma Política (Parte 3)
14 de Abril de 2015, 23:35Israel Gonçalves
A população nota o Congresso Nacional fazer um debate raso sobre a reforma política. No entanto, qualquer reforma sem referendo ou via plebiscito deixará as possíveis mudanças sem conexão com a sociedade civil. Na verdade, os partidos estão brigando entre si para demonstrar poder, mas isso não significa que as suas propostas têm representatividade no meio social. Uma mudança que ainda nenhum um partido defendeu, pelo menos publicamente, foi o fim do voto obrigatório. Há certo medo de alguns partidos de que haja uma abstenção geral da sociedade no dia do pleito. Para o cidadão que não quiser ir votar, deve-se conceder este direito. Estamos ou não em uma democracia, cujos princípios são as liberdades civis e as políticas?
Outra questão que não está em debate é o fim das eleições para o Senado. Não estou defendendo o fim desta instituição, o problema é que esta representa o Estado e seu governo. Na atual situação, podemos eleger um senador, que é oposição ao governo, e este em vez de propor projetos para o Estado que representa irá buscar desqualificar o governo do seu estado. Enfim, na atual conjuntura, muitas vezes elegemos senadores para ficarem se digladiando no Senado enquanto o Estado fica sem verbas, sem projetos e sem representação de fato na esfera nacional. Quem deve escolher os senadores para o Congresso é o governo eleito para organizar o Estado, tal sistema pode ser comparado, com algumas ressalvas, com o Bundesrat, na Alemanha. Caso essa medida fosse realizada, muito dinheiro público e privado seria economizado e os estados seriam mais robustos, e claro, menos "caixas 2" aconteceriam.
O governo presidencial da Venezuela é de seis anos. A constituição do nosso vizinho autoriza a partir do meio do mandato presidencial a população ir às urnas para referendar, ou não, a continuação do mandato governamental. Tal dispositivo é muito enriquecedor para o sistema democrático. No parlamento brasileiro, não foi proposto, pelo menos não foi divulgado pela grande mídia, nenhuma questão desse tipo para o mandato presidencial no Brasil. Com um dispositivo desses, poderíamos evitar impeachment, entre outros constrangimentos.
A reforma que estão querendo propor no Congresso poderá mudar o sistema eleitoral, mas mudará pouco a política no geral. As propostas feitas e as configurações nos levam a perceber que é apenas uma reforma eleitoral, isto é, mudará apenas a forma de como o candidato entrará no serviço público e mexendo assim pouco na cultura política brasileira.
CIENTISTA POLÍTICO
educa_isra@yahoo.com.br