Militância e Causasão duas palavras infelizmente totalmente desconhecidas pelo grande público. Tanto o povão, aquele educado pela vida global, principalmente através das novelas ou mesmo grande parte da juventude atual, agem por impulso ou ainda pela pura emoção, com total desconhecimento do processo histórico, político, econômico e social do País.
O que é ter uma causa? Qual sua importância? Você tem uma causa para lutar?
Vamos começar essa conversa afirmando, que no nosso caso que nos consideramos alinhados a construção de uma sociedade justa, fraterna e igual para todas e todas, que uma causa está intimamente ligada à concepção ideológica de quem a representa. Na verdade em regras gerais, uma causa está ligada à manutenção ou ao enfrentamento ao sistema. No primeiro caso podemos ser cúmplices por ação ou omissão e no segundo somos considerados subversivos e sofremos com a cólera dos “coxinhas”, da direita raivosa e principalmente do PIG – Partido da Imprensa Golpista, que tem seis donos e lado que não é o nosso.
A importância de se ter uma causa, vem primeiro da importância de ser ter um projeto da própria vida e segundo do fato desse projeto ser focado para a solução dos problemas econômicos e sociais, onde o ato de servir seja o principal elemento.
Como todos sabem me tornei em agosto último um sexagenário, aprendendo com o passado, analisando e participando do presente de forma ativa e de olhos bem atentos para o futuro, que será o que a maioria formatar.
Certa vez ouvi numa palestra, que a única coisa que deixamos ao sair dessa vida é uma história de vida. Isso nunca mais me saiu da cabeça e algumas perguntas se tornaram frequentes no meu dia a dia a partir dessa constatação, tais como: Como poderia definir a minha história? Mudaria algo que ocorreu? O que falta para completar? Dá para definir as melhores e as piores ocorrências?
No dia do aniversário, por alguns instantes fiquei pensando como explicar para um(a) jovem que não tem nenhum projeto de vida, o significado de uma data como essa. Meu primeiro ato foi agradecer a Deus pela vida. Agradeci também por tudo que já fiz e principalmente por ter descoberto ao longo desses sessenta anos, o quanto é maravilhoso servir. Servir como um ato espontâneo de puro humanismo, como um valor absoluto e como parte do meu projeto de vida. Ou seja, servir apenas pelo prazer de servir.
O ato de servir é tão forte, que mesmo uma pessoa com atitudes suspeitas contra nós no nosso dia a dia, tremerá na base ao oferecemos ajuda. Provavelmente por um instante ela ficará sem chão, pois jamais imaginará que você à sua frente está lhe oferecendo um ombro amigo ou ainda uma proposta de solução para alguns de seus problemas. Servir e agradecer. Agradecer e servir. Simples assim.
Outra análise ficou por conta da minha vida política e social. Fiquei a pensar que apesar de estar há mais de 30 anos, ou seja, mais da metade da minha vida filiado a um partido, que é amado e odiado na mesma proporção, fui descobrindo aos poucos o quanto é importante ter uma causa que mova nossas vidas. Algo que valha a pena viver. Causa essa, que em sua essência seja muito maior do que o próprio partido onde estamos filiados. Em última análise, faria tudo novamente, apenas com pequenas alterações.
Fico pensando também que a luta pela liberdade e pela igualdade deveria ser o ponto de partida para qualquer manifestação humana, uma vez que a solidariedade deveria ser a maior das ideologias. Que sociedade pode ser reinventada se não tiver o ser humano como centro de todas as ações?
Infelizmente a maioria da população não tem uma causa para lutar e muito menos para viver. Várias razões intencionais afastaram e afastam essas pessoas do ato de pensar e assim também não conseguem nem sonhar por uma vida melhor, logo não tem um projeto de vida definido. Falta-lhes propósito de vida. Agem simplesmente como na música de Zeca Pagodinho: “Deixa a vida me levar, vida leva eu”. Isso faz das pessoas mais frágeis presas fáceis para os oportunistas de plantão, seja na política, nas religiões ou em qualquer situação onde apenas um fala e os demais tem apenas que balançar a cabeça dizendo sim.
Estamos atravessando um período escasso de lideranças. A principal missão de um líder de verdade é investir em seus liderados para que esses venham a lhe substituir no futuro, sem a menor preocupação de barrá-los ou ainda de se mostrar mais inteligente do que eles. Esse aspecto coloca em xeque a representatividade cega, seja em que espaço for, principalmente num processo eleitoral. Só pode ser considerado um representante de verdade, ou ainda um líder, aquele ou aquela que for escolhido de forma consciente e defensor de um projeto construído a várias mãos.
A extrema maioria dos políticos brasileiros quer o povo bem distante de suas decisões e para isso necessitam que a população odeie a política e os políticos, pois como o voto é obrigatório e apostam na ignorância política, pois saberão que daqui a dois ou mesmo quatro anos, muita água passou por debaixo das pontes e a mídia junto com a propaganda trará tudo novamente como se fossem as águas de um grande rio chamado democracia. Apesar de tudo isso, não deixa de ser bela a festa da democracia nas eleições.
A partir desse contexto confuso se faz necessário ajudar as pessoas mais simples a sonhar e fazê-las acreditar, que mais vale um voto consciente, mesmo que seja num candidato que vai perder, do que votar porque o pastor está mandando ou para não perder seu voto, com aquela velha história de que temos que levar vantagem em tudo. É bom que se entenda que em muitos casos, ganhar é perder e perder é ganhar.
Só será possível caminharmos para uma mudança efetiva na sociedade, quando cada brasileiro e cada brasileira tiver uma causa que faça valer sua própria vida.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br
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