Estive afastado do meu blog por alguns dias, simplesmente degustando o que significou uma incursão pelo Pará em três cursos de gestão pública nas cidades de Cametá, Gurupá e Almeirim e a troca de experiências com os povos da região. Foram mais de 40 horas de barco, lancha e balsa, 8 de ônibus e 4 num pequeno avião, além de taxi, moto táxi e os aviões de carreira. Uma verdadeira e ótima aventura.
Quando os companheiros da APA (Assessoria & Projetos da Amazônia) entraram em contato comigo, em busca de informações sobre como levar uma capacitação de gestão pública para algumas prefeituras do Pará, logo de pronto aceitei, primeiro pela dificuldade que tinha em chegar até essas prefeituras sem ajuda e segundo porque de fato tinha um enorme interesse em fazer um trabalho nesse Estado. Fui informado que o deslocamento era um tanto complicado, mas não imaginava a distância e muito menos o que significava viajar por mais de 20 horas num barco para o deslocamento de uma cidade para outra.
Ao chegar a Belém, tudo estava pronto, desde o roteiro das viagens até os contatos com cada prefeitura. Em cada cidade um povo hospitaleiro nos aguardava.
São cidades simples em busca de desenvolvimento, com problemas de mobilidade urbana e rural, com mais da metade da população cadastrada no Programa Bolsa Família e alguma suspeita de que muitas delas possam ter mentido para o IBGE para não perderem o direito ao Programa, coisa que os gestores estão investigando e agindo. Ao encontrar famílias nessa situação, logo são tiradas do Programa, que é o que todos os gestores deveriam fazer em suas cidades, porém sabemos que muitos deles usam o Programa como moeda de troca de votos.
Quando nos deparamos com gestores tão interessados numa nova forma de governar e comprometidos com as causas humanistas, como foi o caso desses prefeitos e tantos outros que estiveram presentes nos 32 encontros que fizemos em cidades sedes, passamos a entender melhor a carência técnica existente para a maioria dos gestores que estão no comando das prefeituras, assim como da importância das capacitações em busca de um modelo de gestão: ético, integrado, transparente e participativo.
Há pouco menos de dez anos, quando iniciei estudos sobre gestão pública no Brasil, me deparei com a situação de que havia apenas 22 cursos no país e não de Gestão Pública, mas de Políticas Públicas, o que deixa claro de que esse era um campo de trabalho considerado como “terra de ninguém”, onde nem as universidades tinham o menor interesse nesse assunto.
Ainda hoje grande parte dos servidores de carreira é mal remunerada, não existe um plano de carreira e muito menos perspectivas de crescimento. Temos sugerido um Plano de Ação Participativo, onde se construa no processo da gestão uma Reforma Administrativa, capaz de profissionalizar a máquina pública e aumentar a eficiência e eficácia nos serviços oferecidos à população.
Só para ser ter uma ideia da situação, o primeiro curso de Gestão Pública e Social no Brasil foi lançado por nós no UNASP em 2010, a partir da experiência do Grupo Gestor de Integração e Planejamento da Prefeitura de Artur Nogueira, na gestão do Prefeito Marcelo Capelini. Dessa experiência nasceu também o primeiro Laboratório e diversos Cursos de Extensão Universitária na área de Gestão Pública.
O que mais me chamou a atenção foi a determinação dos gestores em busca de uma nova forma de governar, além de procedimentos para a moralização da máquina pública e da própria gestão.
Um dos temas mais discutidos nos cursos foi a possibilidade de formatarmos um Plano Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social, onde fossem respeitadas e potencializadas as áreas de Economia Solidária, a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa e o mercado formal.
Saímos de lá com a possibilidade de criarmos um Núcleo de Desenvolvimento com os três prefeitos, fazermos um Seminário com os demais prefeitos e prefeitas onde o Partido dos Trabalhadores estiver presente, como também uma possível parceria com a Universidade Federal do Pará, para formatação de produtos voltados aos Temas Ambientais. Tudo isso em parceria com a APA – Assessoria & Projetos da Amazônia.
Que o exemplo do Pará possa ser socializado com os demais gestores interessados e comprometidos com uma nova forma de governar.
Tenho plena convicção que aprendemos na mesma proporção que ensinamos e é essa troca que nos faz caminhar.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada
em Gestão Pública da Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro1608@gmail.com
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