Tenho comentado nas aulas de Gestão Pública que ministro pela Fundação Perseu Abramo, que o poder tem códigos e que a maioria dos políticos não quer que a população os decifrem. Que códigos são esses? Porque os políticos de carreira não querem revelar os segredos? Onde estão guardados estes segredos?
Para começar a tentar responder essas perguntas, se faz necessária uma viagem no tempo em busca de respostas para a frase: “Política não se discute”. Uma mentira que repetida por anos virou verdade na cabeça de muita gente. Porque não se discute? O que querem com essa afirmação? Qual o medo em se discutir?
Imaginamos que essa esdruxula afirmação seja o centro de codificação do poder no Brasil e também pode ser a porta de entrada para se desvendar o mistério. Nega-se a participação, através da negação da discussão e isso confunde de tal forma, que o melhor para muita gente é nem entrar na discussão, pois em regras gerais, só discute o que se tem conhecimento. Ninguém se arrisca em entrar numa discussão sem saber absolutamente nada do assunto principal.
A intenção é a seguinte: Fazer o povo pensar, que um assunto tão complexo na visão popular como é a política, só pode ser discutido e aplicado, por profissionais ou iluminados, que nasceram para serem políticos de carreira, assim como também nasceram para adivinhar o que o povo necessita como se fosse um dom divino e que de divino não existe nada.
Além disso, vale se perguntar, o porquê da omissão de se aprender política nas escolas. Imaginamos também que deva ser pelo mesmo motivo. Criar seres que pensam desde cedo se transforma num grande risco para quem quer se perpetuar na política. Com certeza iriam ter grandes concorrentes.
Vale ressaltar, que na época sombria dos militares, trocaram o livro OSPB (Organização Social e Política Brasileira) pelo livro de EMC (Educação Moral e Cívica). Uma troca que distanciava a discussão crítica, principalmente sobre a época e cultuava o medo como elemento principal de desmotivação. Matavam lá fora em nome da ordem e tentavam fazer lavagem cerebral nas crianças nas salas de aula. O mesmo procedimento ocorreu com o Método Paulo Freire de Alfabetização, que foi abruptamente substituído pelo ridículo Mobral.
Essa situação de negação da boa política, vem se agravando ao longo do tempo. Os partidos que nasceram com uma visão de esquerda, muitos deles se venderam ao sistema, como é o caso nos dias de hoje do PSB (Partido Socialista Brasileiro), que de socialista só sobrou o nome e tem uma candidata que remete seu Plano de Governo, ao que tem de mais atrasado e podre na política brasileira, ou ainda centra seu principal projeto na volta ao neoliberalismo, através de parceiros neo-intelectuais, como é o caso de André Lara Resende, que foi o mentor intelectual, entre outros casos, do confisco da poupança no governo Collor de Mello.
Porém, o pior cenário fica por conta da velha mídia, aquela mesma que pertence a apenas seis famílias abastadas. O PIG – Partido da Imprensa Golpista, como é conhecida, lutou e luta bravamente para desconstruir todos os avanços que Lula e Dilma construíram e continuam lutando, agora para eleger, tanto faz Aécio como Marina, pois ambos defendem os interesses de seus proprietários e colaboradores. Na verdade o PIG se comporta como o quarto poder e caso não se tomem os cuidados necessários, tomará de assalto o país na calada da noite.
Essa postura da velha mídia ampliou e amplia significativamente as possibilidades de eleição dos políticos de carreira, que querem a população distante das decisões e com o principal argumento de que se todos roubam não há o que se fazer, portanto, vota-se em qualquer um para se justificar o ato de votar. Esse é um dos fatos que fortalece o desinteresse da população com relação à política e os políticos e abre espaços para os oportunistas de plantão, como os Tiriricas da vida.
Os códigos do poder estão escritos em línguas que só um pequeno grupo entende e longe da compreensão popular. É essa a principal razão que faz com que a maioria dos políticos eleitos, além da Presidência da República, hoje comandada por alguém que defende a participação social, esconda informações preciosas pelo simples fato de buscarem a permanência em seus cargos, com a visão de terem nascido para Salvadores da Pátria. O importante é entender o seguinte: com essa forma de conduzir a política, não há necessidade de preocupação por parte da população em discuti-la, pois sempre haverá um político de carreira para fazer o que tem que ser feito em nome do povo.
O processo é tão louco, que enquanto eles atuam em nome da população, essa por sua vez tem mais tempo para passear no universo de sua existência.
Conheço muita gente que veio ao mundo a passeio, como dizia Carlito Maia, em detrimento de tantas outras que vieram ao mundo a trabalho. Para quem veio ao mundo a passeio a vida simplesmente passa e para quem veio ao mundo a trabalho, cada minuto da vida é aproveitado como se fosse o último.
Não sei como você se enxerga. Como membro do primeiro grupo ou do segundo? Qual a importância disso, se mal temos controle do próximo passo, mas jamais do nosso futuro? O que dizer então das pessoas que vivem da vida dos outros? Imagino que para essas a vida já acabou só elas que não descobriram.
Seja qual for o grupo que você faça parte, saiba apenas que se você não disser claramente o que pensa, ou ainda das suas reais necessidades, alguém muito mal intencionado lhe venderá como “garrafinha” e ainda usará o dinheiro em benefício próprio.
Se eu fosse você matava isso no ninho e simplesmente exigia seu direito de participar da política, que pode muito nem começar na entidade do seu bairro e a partir disso nunca mais ninguém ia pensar ou agir em seu nome.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Pesquisador em Gestão Pública e Social
Coordenador do Programa de Capacitação Continuada em Gestão Pública
Fundação Perseu Abramo
toni.cordeiro@ig.com.br
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