Onde estávamos quando tudo aconteceu?
19 de Setembro de 2018, 18:15Confesso minha enorme dificuldade para escrever algo nesse momento que faça sentido, diante desse triste cenário nacional que vivemos. Cada dia que passa ficamos mais revoltados com o golpe, com a politicalha profissional, com a mídia partidária e tendenciosa, com o partidarismo da Justiça e pelo fato de saber que parte da população está à venda por qualquer vantagem. Além disso, estamos diante das eleições mais ideologizadas da história. De um lado a direita golpista e o fascismo e do outro um projeto de retomada do país.
Porém, para não dizer que não falei das flores, vamos ao que interessa.
Inicio o post buscando o que a história tem a dizer do dia 11 de setembro. Além do atentado sangrento ocorrido nos EUA em 2001, que vitimou quase três mil pessoas e que ainda hoje continua nebuloso para se desvendar o que de fato ocorreu, pois esconde verdades que não foram contadas, particularmente quero chamar a atenção para dois outros fatos ocorridos nesta data.
Em 1973 o Presidente Salvador Allende é assassinado pelo exército chileno em seu local de trabalho e o episódio dava início a uma ditadura militar das mais sangrentas, que matou mais de 3 mil pessoas, prendeu mais de 80 mil e torturou mais de 30 mil. Tudo isso ocorreu pelas mãos do General Pinochet que em tese era seu aliado e seguindo as orientações do império deu o golpe fatal, assim como o ocorrido no Brasil da atualidade onde o Temerário trai a Presidenta Dilma e encabeça mais um golpe no país, que infelizmente está se tornando especialista em golpes, onde a própria República foi um deles.
O outro fato relevante e lamentável ocorreu aqui no Brasil. A substituição forçada do Ex-Presidente Lula por Haddad no processo eleitoral, impedido pela justiça partidária de concorrer às eleições, em desacordo até mesmo com a decisão da ONU, foi uma cena dolorosa e lastimável e que ficará na história do país para sempre, como o dia em que a jovem democracia brasileira foi mais uma vez violada e dessa vez manchando o nome do país perante aos organismos internacionais. Tudo isso para beneficiar o deus mercado.
É evidente que Lula está preso sem provas, apenas para que não venha ganhar as eleições, assim como Dilma foi deposta para que os agentes do sistema fizesse a varredura nos direitos civis e constitucionais, além do prejuízo maior que foi o ferimento de morte nos direitos trabalhistas e sindicais. Por outro lado, se Lula conseguir transferir seus votos para Haddad, elegerá seu representante mesmo estando preso de forma inusitada e mostrará ao mundo seu carisma e sua liderança mundial consolidada.
Com tudo isso acontecendo e eu muito longe de ficar dando milho aos pombos, como na música de Zé Geraldo, me sinto na necessidade de ao escrever, mesclar a dura realidade com o subjetivo em busca de fortalecimento, como algo que leve a quem lê a possibilidade de reflexão sobre a nossa existência e o papel que pudemos realizar enquanto vida em busca de nossas missões.
Ao ler dois belos textos sobre a meia idade, onde nela estou, tanto sobre suas consequências, como principalmente a beleza que é envelhecer, cheguei à conclusão do quanto perdemos na atualidade e do tamanho do enfrentamento que nos espera para os próximos anos. O Brasil da atualidade está envelhecendo, porém enxergando essa população como uma despesa civil.
Segundo o IBGE desde 2012 a população acima de 60 anos cresceu 19%. Essa população que em 2012 era de 25,4 milhões, hoje é de 30,2 milhões, sendo 56% de mulheres e 44% de homens. A previsão é que em 2060, 1 a cada 4 brasileiros(as) terá mais de 65 anos.
Portanto, ou se arruma um meio de exterminar essa população mais cedo, como por exemplo, com as doenças advindas dos agrotóxicos, com o fim do SUS ou ainda com a liberação das armas como o candidato fascista e seu vice defendem, ou se criam condições dessa população viver e bem.
Sinto que o momento é grave e não nos permite filosofar e sim agir para que as vidas de homens e mulheres que as perderam no passado lutando por democracia, justiça e liberdade sejam respeitadas e para que não nos envergonhemos quando nossas crias forem relatar para seus filhos e suas filhas que história de vida deixamos como herança.
Viver para um militante político é agir de acordo com as reviravoltas da vida e entender que é a linha da vida que define quem é cada um e cada uma de nós. Como na metáfora das pipas, a vida pode significar o desafio permanente de por uma pipa no ar. Entendendo a pipa nesse caso como o ato da defesa intransigente da cidadania, da democracia e da liberdade, além do combate permanente aos inimigos da população necessitada e de quem transforma a pobreza e a miséria numa indústria de votos.
Uma das coisas mais importantes que aprendi na vida é que quem é forjado na luta vive do calor de cada momento, do clima político-organizacional e de observar as ondas que ocorrem com o pulsar da sociedade.
Na prática, se eu tivesse nascido para viver atoa, ou tivesse vindo ao mundo a passeio, por certo teria que nascer novamente para refazer minha trajetória de vida, mas felizmente eu vim ao mundo a trabalho e para uma missão, que há tempo eu a descobri.
Buscar a paz pessoalmente significa entre outras coisas se enxergar com a missão cumprida. Vamos à luta!
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social
Por trás dos escombros um novo amanhã...
29 de Agosto de 2018, 14:22Cinco anos se passaram, completados no último dia 23. Chegamos a mais de 20 países, com mais de 130 mil acessos, sem propagandas. Eu e colaborador@s produzimos 343 posts, com assuntos variados e em muitos casos chegamos aos corações de quem leu. Estou muito grato a quem se dedicou a ler, colaborar, divulgar e integrar seguindo o Blog. O que ontem era apenas uma gostosa brincadeira, ou um passa tempo, hoje virou coisa séria.
Por falar em coisa séria, a coisa anda muito séria no país do golpe e em pleno desmonte de sua dignidade mundial. O Brasil que havia conquistado sua independência financeira, com o pagamento ao FMI e com a criação do Fundo Soberano, voltou novamente ao posto de país servil ao império e em traição à sua soberania nacional. Hoje voltou a parecer com um puxadinho dos EUA.
Por certo sobrará muito pouco a administrar se alguém contrário ao golpe for eleito(a), a não ser que chame um Plebiscito Nacional para revogação de toda bandalheira aprovada até então. Porém, há de ficar claro, que só a luta concreta das organizações trabalhistas sérias, junto com as organizações populares poderá fazer o enfrentamento necessário ao golpe ou ao que sobrar dele e a resistência frente ao descalabro que o país se encontra.
Podemos nos perguntar que luta é essa, que se luta até por quem não quer mudar? Respondo-te que é uma luta sem tréguas para a missão prosperar. Uma luta que responda do porque de se nascer e uma causa que explique a razão de se viver.
Dá para falar em sonhos, em meio a essa tempestade liberal? Qual a nossa responsabilidade diante da atual conjuntura? Que tipo de ação fizemos ou faremos para contribuir para uma nova sociedade? Que sociedade queremos?
Grande parte da população transita no vácuo do tempo meio que sem rumo e um tanto inerte. Estamos em pleno caos. Deslizando por precipícios e diante deles qualquer sinal de terra firme se torna um porto seguro. Existe um abismo entre o mundo imaginário formatado pelos golpistas, voltado apenas para um pequeno setor da sociedade e o mundo real onde a maioria da população foi sumariamente excluída e suprimida de seus direitos. O que fazer?
Quem já se deparou com uma tempestade sabe que depois que ela passa restam poucas coisas em seus devidos lugares, além do rastro de destruição deixado por esse fenômeno natural. Na vida política não é diferente. Uma cidade, um estado ou um país, se mal administrado ou se administrado para servir apenas a um grupo privilegiado, deixa também um rastro de destruição que poderá levar décadas para se consertar e tem coisas que mesmo um século depois continuam iguais e sem perspectivas, como é o caso dos direitos trabalhistas, que após a tal reforma golpista voltou às reivindicações de 1917.
Ai vem às eleições e é bom não esquecer que de nada vale achar que votou bem para presidente e governador e esquecer que quem faz as leis são os deputados estaduais, federais e senadores e senadoras e escolher mal. Os cargos legislativos são de extrema importância. É só lembrar como foi a aprovação do golpe contra a Presidenta Dilma.
O país está carrancudo com cara de poucos amigos, com um desemprego de 27 milhões, o retorno da miséria e a volta ao Mapa da Fome da ONU. Há um peso enorme de responsabilidade e esperança nas próximas eleições, que sem dúvidas serão das mais importantes para o momento que o país atravessa. Uma eleição sem brilho, pois o líder em todas as pesquisas se encontra preso sem provas, mas comandando o espetáculo de dentro da cadeia. Lula é a grande novidade do século XX e principalmente do século XXI.
Estamos viajando por cenários conhecidos de outros tempos sombrios. Algo inquietante age de dentro para fora tentando com seu disfarce ficar invisível e transmitir medo em quem se aproxima. Por trás dos escombros emergem grotescas criaturas neoliberais para devorar a democracia. Porém do outro lado da cortina existe um mundo a se reinventar e mesmo com o medo a vida passa, as pessoas se renovam e novas vidas nos promete um futuro melhor.
Como militante de uma causa, sei que é possível mudar esse jogo, principalmente porque milhares de pessoas ainda acreditam na sociedade prometida, porém com a grande tarefa de construí-la a várias mãos.
Particularmente não gosto de dias nublados, tampouco carrancudos como já revelei, embora saiba que a partir dele poderá vir uma chuva branda tão bem vinda, mas também uma tempestade daquelas que ninguém se prepara. Gosto mesmo é de dias de sol e uma chuva leve que possa molhar o chão sem destruí-lo, que nos encha de esperança e quem sabe nos brinde com um arco-íris como moldura do que ainda virá. Uma nova sociedade justa fraterna e igual para todos e todas poderá ser a moldura que guardará o resultado de todas as lutas contra as injustiças e por liberdade de todos os tempos.
Ontem me deparei com o que sobrou da última festa na casa grande. Comemos as sobras, bebemos os restos e vimos os semblantes sorridentes de quem nos explorou. Hoje acordei com uma vontade imensa de ultrapassar a barreira do tempo, juntar o maior número de pessoas revoltadas e tomar o que é nosso por direito, solapado ao cair da tarde. Mal sabem eles que construiremos à força se necessário for um novo amanhã.
Um novo dia nasce quando sol vem nos brindar. Um novo momento nasce quando decidimos mudar. Uma missão ao nascer nos remete a caminhar. E uma nova sociedade só quando decidirmos lutar.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social
A importância de ser ter uma causa para se viver
13 de Agosto de 2018, 0:11Inicio essa conversa chamando a atenção para a importância de se descobrir a missão de cada um de nós com o ato de viver. Chamo isso de causa. Algo que se adota como principio de vida e que se torna regra básica de convivência, sonhos, lutas, derrotas e conquistas. Algo que começa de forma individual pela escolha, mas que ao longo do tempo vai se encontrando com outros seres humanos que também seguem na mesma direção e aí vira uma causa coletiva.
O bom de ter uma causa é saber, que cada vez que o trem da historia faz uma curva, viramos sempre juntos com todos e todas que também as tem.
Que cenário surreal é esse que vivemos na atualidade? De um lado uma trupe de devoradores de almas, de sonhos e de esperança do povo, amigados com o capitalismo selvagem; do outro uma nação anestesiada, com uma parte dela de caso com um grande pato amarelo; e à margem do retrocesso milhares de sonhadores e de sonhadoras buscando ganhar a atenção do maior número de pessoas possíveis para a caminhada em busca da sociedade desejada. Uma sociedade justa, fraterna e igual para todos e para todas. Essa é a meta.
Vivemos uma verdadeira confusão ideológica. O que já era complicado agora complicou de vez. A centro-esquerda flertando com a direita, a direita namorando com a extrema direita e a extrema direita aliada ao fascismo e como resultado de tudo isso uma conjuntura incerta e com prejuízos incalculáveis para diversos setores, principalmente para a classe trabalhadora.
Apresentando-se como se fosse a luz do fim do túnel, aí vem às eleições mais atípicas da história do país, com vários interesses em jogo. A direita defendendo manter a estrutura do golpe e o avanço no desmonte do Estado de Bem Estar Social, seguindo as regras do Consenso de Washington; a extrema direita criando a impressão de um poder nacionalista e fascista a la Trump e a esquerda, ou o que sobrou dela, junto com os movimentos sociais e trabalhistas, lutando para resgatar os direitos destruídos pela política do pato amarelo empresarial e seus aliados internacionais, que rasgou a Constituição e a CLT e ampliou privilégios para apenas um pequeno setor da sociedade, sendo necessário para isso um Plebiscito Nacional que anule as medidas autoritárias tomadas até o momento pelo governo golpista e seus aliados.
Esses são apenas alguns dos grandes interesses e desafios em jogo. Caso a composição dos setores progressistas perca as eleições, significa voltar o país ao cenário de mais de cem anos atrás. Algo em torno de 1917, quando da primeira greve geral. As reivindicações são as mesmas.
Um processo eleitoral deturpado e violado, onde o favorito ao cargo de Presidente da República se encontra preso para não ser vitorioso, a partir de um processo de condenação contestado por juristas de várias partes do mundo. Além disso, com algo até então inédito, que é o surgimento de forma clara e organizada da extrema direita fascista, que prega o rompimento democrático e a volta da ditadura militar. Um cenário de trevas.
Em tempos eleitorais, de politicalha, de golpe e de negação da boa política, o que sobra mesmo para a população eleitoral é o envolvimento emocional por seus candidatos e candidatas, sem o menor critério político e muito menos ideológico. Há uma perigosa paixão que se apodera das mentes e corações de quem se comporta como massa de manobra e se deixa levar em troca de pequenos favores. Normalmente votam nas pessoas e não em seus projetos ou a quem eles e elas representam.
Diante desse confuso cenário, como definir uma causa que resulte na forma de pensar e agir? O que tem a ver a causa com a política tradicional?
A escolha de uma causa se dá através de um processo de conscientização, que poderá ocorrer a partir da militância, formação política e participação efetiva em movimentos organizados. Não se escolhe uma causa do nada e sim a partir da identidade com o lado que se escolheu para caminhar na vida.
No meu particular entendimento, a política tradicional se tornou o ópio da humanidade, pois alimenta a ilusão, permite a corrupção, com a máxima “rouba, mas faz” e tudo vira troca de pequenos favores e privilégios, além de servir de manutenção para os cargos presentes e futuros. O mais trágico é ver algumas pessoas transformarem os cargos públicos em profissão vitalícia.
A partir desse cenário, podemos definir duas formas de fazer política. Enquanto a velha forma desencanta, pois foca em projetos pessoais e eleitoreiros, a luta concreta por uma causa encanta quem a entende, pois se trata de um projeto coletivo de transformação. Uma disputa, a outra conquista. Uma vive de interesses, a outra vive de sonhar por uma nova sociedade. Uma se esconde por trás da alienação e a outra desmistifica os códigos do poder dando voz à população através da conscientização e da formação. Uma vive a caçar eleitores e a outra investe na sociedade organizada em busca e novas lideranças. Uma alimenta o sistema e a outra alimenta quem sonha por justiça, liberdade e oportunidades para todos e todas.
Caminho pelas trilhas da subversão, de acordo com quem quer comandar o país de cima para baixo, na medida em que trabalho com formação e levo às pessoas a possibilidade de entenderem o universo por onde andam.
Prefiro continuar sonhando um sonho coletivo, mesmo que eu o imagine em muitas vezes utópico ou longe da realidade, pois isso difere do ato de fantasiar individualmente pregando que o mundo vai mudar a partir do próprio umbigo.
Porém, o que seria nós seres humanos se não houvesse a utopia que nos joga na luta e nos remete ao imponderável, como se a vitória já tivesse chegado.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública Social
Enquanto houver estrelas é sinal que o céu continua azul
2 de Agosto de 2018, 12:45
Por saber onde quero ir escolhi uma estrela para seguir e acompanhado vamos virando estrelas também. Que céu pode resistir a uma constelação?
Antonio Lopes Cordeiro
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
Um céu azul é um convite para apreciarmos as estrelas e desfrutarmos de um dia de sol. Algo que nos vai aproximando do infinito. Suspeito que sejamos filhos do sol e nascemos das estrelas, por isso essa relação tão próxima.
Diante de nossos dilemas e desafios, um céu azul nos convida sempre a refletir sobre o futuro, sobre que história de vida deixar e que causa estamos dispostos a defender, onde o infinito seja o limite entre nossas vontades e a capacidade que temos de chegar até o final.
Perdemos muito tempo em busca de respostas para os problemas que surgem no nosso dia a dia e quase sempre as respostas estão dentro de nós, porém para descobri-las, precisamos antes de tudo, saber onde queremos chegar.
Numa dessas caminhadas, me pus a observar duas pipas que voavam juntas, desafiando a natureza e driblando o vento para permanecerem no ar. Uma ao lado da outra e senti além da saudade do meu tempo de criança, o quanto existe de mistério e liberdade na simbologia de empinar uma pipa. Algo que exige atenção, controle, cuidados e principalmente conhecimento com a direção do vento. Mesmo de forma imperceptível se cria uma estratégia para que o resultado seja no mínimo o esperado. Assim deveriam ser todas as nossas ações. Um plano, um projeto, um planejamento e uma estratégia.
Vale salientar nessa conversa duas situações. A primeira de que mesmo nessa brincadeira de soltar pipas, existem disputas pelo espaço no horizonte e até certa dose de maldade ao cortar a pipa de outra pessoa, às vezes só por prazer e a segunda, como fui lembrado por uma pessoa próxima, que as pipas precisam de vento para subir e não de ventania que as façam perder o controle. Assim também são as nossas vidas. Precisamos de motivação que nos movam e não de turbulências que nos tirem do controle.
Só é pipa quando se sabe que do outro lado existe uma forte linha que dá sustentação aos sonhos, que voam livres pelas mentes e corações de quem brinca livremente ao sabor do vento. Algo que pode ser apenas um passa tempo delicioso, mas também algo mais duradouro que fique para sempre em nossas mentes. Depende muito do que se busca com essa brincadeira de pipar. Pipar, seja qual for à intensidade, é algo que nunca se esquece.
Escrevo como se estivesse pipando e como resposta ao que escrevo, tive uma observação bem diferente das que normalmente recebo, dessa vez de uma leitora terapeuta, que me disse que meus textos são previsíveis, que por eles observa meus pensamentos e que eu tentasse ser mau em alguns deles, pois não é feio ser fora do ecologicamente correto. Nunca tinha pensado nisso, visto que escrevo para quem lê e busco contextualizar pensamentos e observações, buscando sempre a identidade do publico leitor.
Fiquei pensando o que deveria ser fora do ecologicamente correto? Que lado ruim eu deveria revelar, se nem ao menos conheço os vários eu(s) que habita em mim? O que de fato ela quis abordar com essa análise? Bom, no mínimo ela conseguiu me chamar à atenção para suas observações.
Não sei escrever se não for com o coração e isso é se deixar levar sem a preocupação de buscar enquadramento seja qual for, para o conteúdo proposto; enquanto que escrever com os olhos de quem lê se torna um desafio constante, tanto para prender a atenção, como principalmente para atrair o público para caminhar e sonhar junto com quem escreve. Uma identidade que vai se fortalecendo através da empatia e uma conquista literária de cada vez através da possibilidade de interação,.
Voltando ao tema do post, em tempos de ódio e desamor precisamos de um céu azul para voltar a sonhar e buscarmos afinidade com o maior número de pessoas possíveis no sentido de uma nova sociedade. Uma sociedade onde o senso de justiça seja o imperativo à ausência de igualdade e de oportunidades.
Suspeito que não há mais tempo. O tempo de tomar uma decisão, se não foi ontem é hoje, pois amanhã poderá ser tarde demais.
Existe uma linha ideológica que divide quem sonha só e quem sonha acompanhado com todos os loucos e loucas que expõem suas vidas em busca de mudanças profundas na sociedade pelo respeito à cidadania e a dignidade de viver. Um sonho coletivo onde caibam todas as pessoas excluídas e as façam sonhar novamente. É nesse ponto que se estabelece a causa, além da escolha de que lado optar para caminhar e com quem.
Que a empatia seja o elemento principal de encontro do que queremos para o futuro, assim como a catarse esteja sempre presente para expelir de nós todas as energias negativas que nos fazem recuar da necessidade de lutar.
Somos mensageiros do futuro e responsáveis para anunciar que o céu continua azul para quem escolheu dividir sonhos e somar energias em busca de um novo amanhã.
Caso o céu escureça e o sol tarde a chegar, que o brilho que vem da luta por justiça e liberdade seja o condutor para os caminhos rumo ao futuro.
Quero a causa que se funde como projeto de vida. Quero o lado da história com a multidão desvalida. Quero o hoje e o amanhã e os sonhos que virão. Quero junto com esse povo lutar por uma nova nação.
Antonio Lopes Cordeiro
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
Por entre as frestas da mata se vê um belo amanhã...
19 de Julho de 2018, 17:13A escolha por essa temática nasceu ao lembrar que nasci num sítio, na cidade de Belo Jardim – PE, circundado por mata fechada e a possibilidade de usar essa imagem como uma metáfora para nosso dia a dia. Algo que transitasse por algumas contradições e o que não faltam são contradições a serem observadas, tanto nossas como de pessoas que conhecemos. Quem não conhece uma criatura que mudou de lado ou de opção ao primeiro lampejo?
Caminhar em mata fechada sem conhecer o caminho é o mesmo que entrar num rio sem saber nadar. Por outro lado, quem vive a vida ao deus-dará, qualquer destino serve ou estará entregue ao acaso.
Lembrando que a mística: destino-acaso não se define por si só, pois o acaso pode ser o atrevimento de um momento que queria ser destino.
A partir desse contexto me deparo com as primeiras dúvidas: Será que todo ser humano tem dois “eus” dentro de si? Duas personalidades? Duas formas de ser? Dois estilos de sentimentos, algo próximo da dualidade do bem e do mal?
A impressão que se dá é a de que de fato somos luz e sombra ao mesmo tempo, como sugere a Psicologia Analítica de Jung. Um lado se esconde para que o outro aflore. Fenômenos esses que ocorrem todos os dias com milhares de pessoas e nem mesmo elas se atem às mudanças de comportamento e provavelmente afetam quem vive ao lado. Isso pode gerar um estado depressivo, onde alegrias e tristezas se misturam, assim como sofrimento e felicidade faz parte dessa caminhada. O grande desafio que se forma é a busca do conhecimento interior e como dominar cada um desses sentimentos.
Ao buscar ajuda nos clássicos sobre essa dualidade, Chegamos a várias compreensões. Segundo Rousseau o ser humano nasce bom e é a sociedade que o vicia. Daí nasce à discussão de que o ser humano é produto do meio.
Por outro lado, no Estado da Natureza, Thomas Hobbes afirma que os homens (usarei por conta própria a mudança de homem para os seres humanos) podem todas as coisas e para tanto utilizam todos os meios para atingi-las. Afirma ainda que os “seres humanos” são maus por natureza (o homem é o lobo do próprio homem), pois possuem um poder de violência ilimitado.
Hobbes afirma ainda que no uso de suas faculdades naturais, para conquista e manutenção do bem conquistado, os “seres humanos” usam da razão, da paixão, da experiência e da força física se necessário for, mas também os descarta quando não mais se interessam. Talvez isso explique o drama, por exemplo, de quem ama ou se apaixona e não é correspondido. Um drama desnecessário, pois não há a menor razão de se gostar de alguém que não corresponde à outra pessoa, porém isso acaba sendo importante para o crescimento dos seres humanos. O sofrimento também gera crescimento.
Já Santo Agostinho afirma que, sendo o homem imagem e semelhança do Criador, ele é essencialmente bom e capaz de amar. O livre arbítrio, aliado às escolhas levam os seres humanos a amar, mas também a odiar, da forma particular de cada um e de cada uma. A contraposição ao ódio vem da máxima religiosa de que devemos amar ao próximo como a nós mesmo. Máxima essa totalmente desvirtuada nos dias de hoje por muita gente.
Para fechar a questão de forma particular para esse post, Nietzsche afirma que o conceito de bom ou de mau na esfera moral não possui sentido em si mesmo, de modo que nada, em sua essência, é objetivamente bom e tampouco mau. Creio que a partir dessa visão, vêm as crenças, valores e atitudes. Imagino ainda que dê para encaixar nesse contexto o fato de que não existe verdade absoluta e sim a verdade particular de cada um e de cada uma e suas consequências, como por exemplo, a lei do retorno.
Ao descobrirmos que possuímos duas pessoalidades, como agir com cada uma delas? Por onde anda meu outro eu? Esse caminho pode nos dar respostas do porque que algumas pessoas mudam da água para o vinho sem nenhuma explicação? Enquanto o lado do bem conserva o do mal destrói.
A partir dessa conversa, o que fica latente a meu ver é a necessidade permanente do autoconhecimento, que pode levar uma vida toda e que mesmo que uma pessoa venha a se descobrir, se torna impossível um autoconhecimento pleno, pois somos momentos, lutamos pelo previsível, buscamos coisas simples e nos decepcionamos quando nos deparamos com o imponderável. Ninguém se conhece totalmente, apenas o que é aparente o resto é ilusão.
Por entre as frestas da mata se vê um belo amanhã. Isso vale para os dias complicados que vivemos hoje, onde o ódio tenta competir com o amor e se tornar o senso comum, porém serve mesmo é para acreditamos que por trás de cada arvoredo existe uma bela paisagem para ser assistida, mas também para ser vivida. Basta acreditamos e servir à causa que pode mudar o mundo.
Algo me parece real. Quando tudo que nos rodeia começar a parecer tangível, principalmente pelos nossos desencontros, por certo o amor continuará sendo uma coisa finda, usando um trecho da belíssima poesia “Memórias” de Carlos Drummond de Andrade. A partir dessa compreensão, é visível que o ato de amar perpassa religiões, credos e ideologias e sua materialização faz com que a solidariedade seja um caminho seguro em busca de nossas essências.
Enquanto há vida existirá um amanhã, que podemos imaginá-lo como uma chuva de verão com cheiro de terra molhada, como gotas de orvalho com cheiro de mato verde e como luz ao sair da escuridão, pois virá recheado de esperança.
Na visão da minha existência, ontem plantei um pé de esperança e bebi na fonte cristalina daquele riacho e estou certo de que amanhã estarei nas ruas com o povo de bem comemorando a retomada da luz que está em trevas.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
Imagem: http://frestapoetica.blogspot.com/