O Brasil da minha Avó Mariana
4 de Fevereiro de 2018, 21:35Desde criança sempre gostei muito de ouvir as histórias vivenciadas por minha avó materna que se chama Mariana, relatos de uma vida Severina, causos de uma mulher nordestina que nasceu num Agreste pernambucano pouco convidativo nos idos de Março de 1932. A história de vida da minha avó se confunde com a história de milhares de nordestinas, brasileiras e pernambucanas que trazem consigo resquícios de uma sociedade colonial firmada no machismo, alienação e fanatismo religioso regado à miséria. Em uma noite com o celular nas mãos resolvi gravar suas palavras, o diálogo era sobre fome, miséria e a desgraça dos anos de sua juventude. Como historiadora que sou não deixei de inserir sua fala num contexto histórico familiar aos meus ouvidos e as páginas dos diversos ensaios que nos contaram a tragédia da fome.
A seguir um relato não de quem ouviu falar, mas de quem vivenciou, de quem chegou a tocar naquele cenário de Vidas Secas, assim com seu jeito simples e sem preocupações ortográficas me relatou minha avó Mariana:
...Era tudo um jiral de varas. Um catatal de vara com uma esteira velha. Era minha “fia”. Era a riqueza, era essa. Mas pronto! Ah minha “fia” eu nasci e me crie foi vendo gente passar necessidade. Roubar mandioca, pelos rosados. Era o povo roubando mandioca pra fazer “bejú”. Aproveitavam que os donos não “tavam” no roçado. Arrancar mandioca.
-Mas foram no meu roçado e arrancaram não sei quantos pés de mandioca.
Tudo pra fazer “bejú” pra alimentar os “fios”. Tá pensando que era brincadeira era? Hum. Esse povo novo não sabe disso não. Pensa que nunca houve isso não. Mas houve muito viu! O que passou no mundo da “cambada véia”, só quem sabe quem for antigo.
O povo “ia” pro Juazeiro de pé. Pedir coisa ao meu Padre Cícero. E quando chegava lá, pedia coisa pra ele. Ele dava alguma coisa que ele tinha que tinha poder.
Mas era tanta da coisa que você não sabe de nada não. Chegava numa casa. Aquele horror de gente. Escondidos por que era tudo rasgado, “entangado”. Era fogo. Hum.
Meu pai era uma pessoa... Que meu pai ajudou muito. Ele ajudou muito o povo. Quando ele sabia que tinha uma pessoa passando mal. Ele mandava ir ver coisa lá. Ele tinha feijão de “fole”. Roça pra fazer farinha à vontade. A pessoa ia pro roçado de mandioca assim. Quando dá fé chegava quatro, cinco pedindo umas mandioquinhas pra aprontar pra “relar” fazer “bejú”. Hum. Você não sabe de nada não, mas eu, eu sei. Eu vi coisa quando era criança.
Água? Era uma seca! Tinha ano que era seco. Pra ver uma gota naquele “vinquivinco”, um pote d’água. Na cabeça. Meu pai como tinha “animá” levava numa âncora. Ele tinhas umas âncoras de carregar água. E quem não tinha era na cabeça. Saiam de madrugada aquele rebanho pra ir ver água no Retiro. “Muié” e homem. Tudo. Com os potes na cabeça. E era longe vissi! Mais de légua.
A volta era fogo. Hoje todo mundo é rico. Graças a Jesus. Todo mundo é rico, tem ninguém mais pobre não, mas naquele tempo. Daquele povo antigo tem poucos.
Chegava numa casa. Naquelas casas que tinha o que comer. Era que o povo dava uma coisinha de farinha. Outro um feijão. Por que tinha quem “trabaiava”, quem podia “trabaiava” pra ele, mas muitos não podiam por que iam morrer de fome. Trabalhar pra dá de comer a família.
Ah minha “fia”! A coisa era preta. Eu vi tanta crise na minha vida. Fazia dó.
O relato acima descrito com riqueza de detalhe foi ao longo da história contado em diversas obras como, por exemplo, Josué de Castro em Geografia da Fome, na literatura por Graciliano Ramos em Vidas Secas, Os Sertões por Euclides da Cunha entre outras obras que se debruçaram sobre este tempo e esta temática, mas todos escritos sob a ótica analítica foram de suma importância para a posteridade, mas não há nada mais valioso que a memória das muitas Marianas, é pessoas que não leram que não ouviram falar, nem se quer sabem que a história de sua vida pertence a um contexto histórico, mas que seus olhos foram testemunhas e suas vidas vítimas de um descaso social materializado, que hoje temos conhecimento através das obras históricas e literárias.
O Brasil da minha avó Mariana foi este Brasil por ela relatado, um Brasil desigual, cruel, que massacrou milhares de Marianas.
Cibele dos Santos Silva
Especialista em História-Belo Jardim-PE
Por onde anda a identidade do povo brasileiro?
30 de Janeiro de 2018, 11:51Às vezes por necessidade de trabalho e outras por pura preocupação, paro só para pensar em como traduzir o complexo momento que vivemos no país. Sinto na alma que por mais que sorrisos vastos inundem o espectro do nosso dia a dia, há sem dúvidas uma grande dose de tristeza perambulando no imaginário de milhares de pessoas. Algo que além da tristeza traz junto uma profunda crise de identidade. Algo tão profundo que o mais tolo dos tolos um dia acordará e quem sabe se dará conta de que nem mesmo chão tem mais.
Como explicar que de uma hora para outra todas as lutas dos últimos cem anos foram suprimidas e comprometidas e como resultado apenas uma passividade absurda? Cadê o respeito a quem deu a vida para que se tivesse liberdade e melhores condições para o povo trabalhador? Como levar ânimo para quem perdeu o rumo das coisas e que ontem mesmo cantava suas conquistas em versos, prosas e muito consumo?
Talvez a resposta de algumas dessas perguntas esteja na leitura precisa que a professora Marilena Chauí fazia sobre a conjuntura da época, ao se referir ao conjunto de trabalhadoras e trabalhadores. Enquanto se vendia a ilusão que o país tinha produzido uma nova classe média, ela afirmava que se tratava apenas de uma nova classe trabalhadora, que tinha conquistado o que nunca teve acesso, mas estava longe de se afirmar como pertencentes à classe média, a qual caracterizava como uma verdadeira aberração.
Diria que foi uma doce ilusão que caminhou lado a lado com o povo sofrido brasileiro por algum tempo e por falta de lastro, consciência crítica e política e a necessidade de sair do individual para o coletivo tudo veio abaixo. O golpe em curso foi algo permitido e premeditado. Um golpe de classe que segue rigorosamente a restauração das dez metas estabelecidas no Consenso de Washington. Uma fatídica reunião ocorrida nos EUA em 1989, que tinha como pressuposto básico a implantação do neoliberalismo na América Latina e no Caribe. Um projeto de sucesso com FHC e interrompido pelos governos Lula e Dilma. Esse foi e é o verdadeiro enredo do momento que vivemos.
O resultado disso nos leva a impressão de estamos dentro de um filme de terror, vivendo cada cena apavorante. É como se um monstro desenvolvido em laboratório tivesse sido criado em casa como um bicho de estimação. Ele cresceu e engoliu seus criadores. O que o povo conquistou nos últimos cem anos, perdeu em várias canetadas e votos pagos com o dinheiro do povo.
Ao vasculharmos a história do Brasil, extremamente mal contada ao longo do tempo, percebemos que têm em seu DNA, invasão, golpes e escrachos políticos de toda ordem, mas também muita luta. Muita gente se organizou para lutar por direitos e mudanças na política nacional ao longo de sua historia.
Apesar disso, existem enormes contradições que transitam no tempo na política tupiniquim, onde os herdeiros da casa grande e seus representantes sempre esconderam que usaram e usam a boa fé do povo brasileiro para os enganarem e se manterem no poder, enquanto uma grande parte dos de baixo sempre consentiram em troca de algumas benesses. Uma contradição que manteve a democracia representativa atrelada aos interesses escusos nacionais e internacionais e que hoje se encontra praticamente falida.
Penso que o que sobrar desse golpe sairá muito mais fortalecido, tanto para a direita como para a esquerda. A direita que não tinha lastro agora tem e deem graças à mídia partidária e de classe que fez a cabeça de grande parte da população, além do que formaram alguns militantes, que é uma coisa nova no cenário político brasileiro. A dança dos verdes-amarelos consistiu num ponto de partida de pertencimento ideológico dessa linha de pensamento, que tem como grandes instrumentos o deus mercado, a meritocracia e o acúmulo de capital. A direita vive no Brasil sua lua de mel com o poder econômico.
Por outro lado, a esquerda brasileira tem a grande oportunidade de se reinventar, de criar a tão sonhada frente de esquerda, a partir de um projeto unificado de sociedade, organizar a sociedade na luta de seus direitos, além de retomar antigas bandeiras históricas perdidas no individualismo de cada segmento e de cada linha de pensamento.
Para hoje no processo de enfrentamento, a grande tarefa será a organização nacional de comitês de resistência suprapartidários, ou ainda de Conselhos Populares, com base na capacitação, principalmente para que se possibilite o nascimento de novas lideranças, que é a grande escassez do momento.
Conquistas se fazem conquistando. Lutas concretas necessitam de exercício diário e contínuo e projeto de vida necessita de sonhos que o alimente.
Cada vez que o trem da história faz uma curva caem por terra centenas de falsos líderes e dão espaço para que, da base da sociedade, sujam novos atores que lutam por uma causa.
Ter uma causa é antes de tudo se comprometer com milhares de pessoas que perderam suas identidades, resgatando seus sonhos perdidos e alimentando o direito de participação como grande instrumento de vida.
Que consigamos embarcar no trem da história e fazermos a travessia rumo a uma sociedade justa, livre e igual para todos e todas.
Antonio Lopes Cordeiro (Toni)
Estatístico e Pesquisador em Gestão Pública e Social
tonicordeiro1608@gmail.com
24 DE JANEIRO DE 2018: UM DIA TÍPICO NO BRASIL
27 de Janeiro de 2018, 22:03“Não pode ser candidato. Se for, não pode ser eleito. Se eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar”. Não. Esta frase não foi dita em 2014 para alinhar a inalienável PresidentA Dilma. Esta frase foi proferida pelo jornalista Carlos Lacerda no ano de 1950 para tentar alinhar o postutalnte a presidente da república, depois de 15 anos governando o país - com golpe e tudo- (1930 - 1945), Getúlio Vargas e tirá-lo do pareô de concorrer às eleições. Getúlio foi candidato e ganhou. Governou até quando pôde. Saiu no caixão. Mas, não cedeu. Ou melhor, cedeu a vida no lugar da entrega. Neste país a história de repete. Como farsa ou como tragédia, viu, Marx. Se repete. E, dia 24 de janeiro de 2018 será mais um dia de repetição da história. Devemos lembrarmo-nos de que já a fizemos de formas distintas em diversos momentos. A nossa história já foi de revoltas; de levantes; de Canudos, de Balaiadas, Alfaiates, Malês... Foi e é de quilombo. O fato deste texto ser escrito por mim já apresenta o que é resistência de um povo.
No entanto, não adentrando no vergonhoso juridicamente; no torpe socialmente e seletivo escravagista penalmente; processo que condena o presidente Lula, no dia 24 de janeiro de 2018 não está em jogo somente um julgamento. Estaremos tratando da escrita de mais um capitulo da história do Brasil. História construída sobre os escombros de corpos indígenas e negros. Feita sob a negação da participação e contribuição das mulheres, para além dos choros da dores. História feita de nordestinos que somente “serviam a quem vence o vencedor”, - os vencedores moravam no Sul Maravilha, viu, Camões! Somente isso. Terras brasilis em que as Ilhas de riquezas formam o arquipélago desajuntado em geografia e organizadíssimo em sentimentos de perseguição e de matanças. Dia 24 estará na história. Não como um ponto fora da curva, mas como a lógica. A lógica? Poderia até ser. Mas, D. Lindu mãe do Lula, educou seu filho para ajudar a mudar a lógica.
A lógica, esta senhora da razão, do raciocínio. Esta moça da ciência foi desafiada mais uma vez. Em outros momentos também o foi e, com tamanha grandeza para o seu tempo. Agora, em nossos tempos, também representa a mesma grandeza. Lula desrracionalizou a lógica e lhe pôs poesia. Introduziu a metáforas futebolísticas para falar que cabia um keinesianismo na economia. Apresentou para o reinado súditos cansados. Não de trabalho, mas cansados de ser súditos. E, os reis ficaram sabendo que haviam no Brasil uma legião de pessoas com capacidade extraordinária para fazer o neodesenvolvimentismo seguir. Isso foi cutucar a onça varas curtas, Singer? Bem provável, né!?
O fato não é este. Somente quero expor que não se trata de amor, este texto. Na ciência tem de caber poesia para que a gente entre. E, que a gente puxe mais gente, mais gente nossa, como me orienta o maior movimento, a meu ver, de resistência no Brasil hoje, que são os movimentos diversos e em varias frentes que as mulheres negras fazem. E nos ensinam.
Lula não desafiou ninguém. Lula negocia até as pessoas perceberem que entre o Estado e a Nação há pessoas... e, o entendimento de Estado-Nação somente se faz com a devida porosidade. A questão está em que a elite brasileira foi constituída pela negação, não pela afirmação. Assim sendo, não era para entrar ninguém. Mas, entrou. Entrou e fica. Já está na história. Se a história da gente fosse com as perdas individuais a gente já havia sucumbido. A nossa é coletiva.
Enquanto gestor e político, antes de Lula somente Getúlio, mesmo sendo filho da elite agraria do Sul ousou a fazer a novidade. E fez. Pagou com a vida. Para conseguir apontar a arma contra a própria cabeça precisa de ter os 10 dedos da mão em riste contra. Lula não tem. Somente tem 9. Um dos dedos se foi ajudando este Brasil a sem maior e caber mais gente. Este que sustentaria jamais nasceu porque não seria ou será usado. A coragem de Getúlio neste momento é revivida e reorientada por Lula. Guerras de posição e guerras de movimento é de acordo com o tempo, né, Gramsci... (este teve os olhos ofuscados pela luz da liberdade italiana a o as retinas não suportaram dois dias foras do Cárcere que valeu ao mundo os Cadernos). Lula é filho de muitos ensinamentos. Filho e uma força inaugural. De uma coragem descomunal. De uma audácia sem igual... de uma perseguição infernal. Não vencerão.
24 de janeiro está na história do Brasil como uma das grandes datas. Das datas que a gente sente tristeza em que ocorra, mas alegria em viver ao lado de quem tem coragem. Como diz um amigo meu: “pode chorar pode mijar” vocês podem até escolher as datas, mas a gente escolhe a história. Presidente é povo e o povo tem um presidente. Tem o presidente: Luís Inácio Lula da Silva. Eleição sem Lula é fraude. Sigamos!
Jocivaldo dos Anjos, 20/01/18
BRASIL, BEM-VINDO AOS TEMPOS MACHADIANOS: POR UM NEO-ILUMINISMO À BRASILEIRA.
27 de Janeiro de 2018, 21:56Jocivaldo dos Anjos¹
Welcome!
Acordamos neste dia em que a Pauliceia desvairada celebra mais uma primavera na Selva de Pedra, onde a “garoa rasga a carne naquela torre de Babel”. Gosto daquela Babel e vez em quando vou naquele esgarçamento de línguas e linguagens somente interpretadas pelo realismo. Quem chora ali mandam pra casa ou pro saco. Ali é terra de pouco sentimentos. Terra de bandeiras e de bandeirantes. De bandeirantes que adentraram as almas, mataram corpos e receberam homenagens. Reinado do realismo machadiano. O real no real. Sendo de lá pode ser o dólar, euro... no real. Assim é ela. A cidade que não dorme e odeia romanticismo. Os românticos costumam dizer que “não existe amor em SP”. SP não está nem aí para o amor. SP é razão. Quem quiser paixões que vá para outras bandas do Brasil em que foi ensinada que “somente o amor constrói”. Não foi amor o que construí nesta cidade o 1% mais rico do planeta. Não foi. Não foi por amor que foi construído por lá o centro nervoso do capitalismo brasileiro. Não foi por amor que o massacre do Carandiru contribuiu para a inauguração de novas formas de relacionamentos entre encarcerados e encarcerados e sociedade. Não é por amor que meu irmão levanta as 04:00 da manhã para trabalhar. Em São Paulo somente o amor não constrói. Nem em canto nenhum. O amor é uma bazofia criada para inglês (brasileiro ver). O axioma é sua falta. A retorica é sua presença. Mas, de conversa bonita o céu está cheio. O inferno é a realidade. E também: o inferno não são os outros. E, o quinto dos infernos ficou maior ainda. Não é por amor que meus filhos podem estudar em escola privada. É pela mensalidade que o meu corpo escravizado pelas possibilidades melhores que os corpos escravizados de minha mãe e de meu pai me permitiram. Também não é por amor que vou visita-los vez em quando. É pelas minhas condições de pagar as passagens de deslocamentos entre a Soteropólis e a Gata Borralheira. O papo hoje é reto. Na real.
Não sou pessimista. Apenas realista, de vez em quando. Afinal tem dias que Machado deve ser de Assis. De Assis para mostrar que a preposição DE indica que tem um dono. Não é Machado de todo mundo. É somente de Assis. Tem dono. No capitalismo se tem quem tem. No capitalismo todo mundo tem um dono. Mesmo que implícito. No capitalismo quem não tem dono é como aquele preto que não sofre racismo. A isso a gente aprendeu a chamar, no realismo de burrice, cegueira, escravidão adestrada... que leva a canalhice. Se faz por não saber não importa. Errado é errado e acabou. Quem não sabe que trate de aprender e apreender. Crime é crime e eu sou eu”. Quem pode ter tem. Quem pode dominar domina. Quem teve a herança possui. Pronto! Então, vamos parar de sonhos para entendermos o que é de quem e o que isso representa. De ressaca não se folga na segunda-feira, necessariamente. De ressaca, no máximo, vai-se ao banheiro vomitar. Geralmente, numa como a deste dia 25 de janeiro de 2018 vomita-se a bílis de fígado. Aquele liquido gosmento verde que parece se rasgar parte do corpo a cada saída forçada do corpo. Amarga demais. Dê mais. E não afasta de mim este cálice.
Se hoje é dia de ressaca é porque o de ontem foi de festa. Ontem, 24 de janeiro de 2018 foi mais um dia da festa da história do Brasil. Já houve outros momentos de festas, mas alguns se sobressai. Somente lembrarei de três para ilustração: 23 de abril de 1500 (para celebrar a apropriação das terras, corpos, almas e estupros de indígenas no Brasil; dia 14 de maio de 1988 para celebrar a continuidade da escravidão no povo afro-brasileiro e, premiando isso ainda com leis que permitisse prender os corpos cujos os machados de antanho não conseguiu arrancar a cabeça e levar em praça pública. Por se falar em praça pública (que é somente do povo rico.Dos plutocratas brasileiros) e cabeças decepadas, lembremo-nos dia 22 de abril , que se sucedeu a arribada à Praça de Ouro Preto a cabeça de mais um: Tiradentes foi o da vez. Desta forma, este dia 25 de janeiro de 2018 não é um ponto fora da curva. É mais um dia de nossa história ressaqueada. Aliás, devemos afirmar também que como somos formados por um positivismo cartesiano exacerbado, quem sente a ressaca não é quem estava no banquete. É assim de quem estava trabalhando no banquete servindo aos donos da festa e, já de corpo esguio e cansados, tomou um gole da pinga pior que tinha pela manhã para voltar pra casa. Esta desceu queimando tudo e... continuou bebendo pelo caminho até se chegar em casa. - Quem não ouviu aquela frase: eu bebo e você embebeda? Nesta pegada!
Ontem houve festa no país. Houve até o CarnaLula. Esta festa foi nomeada desta forma para celebrar a condenação do ex-presidente Lula por crime de corrupção. A corrupção, como em outras datas, precisa de ser banida. Não toda a corrupção. A seletiva corrupção. A corrupção que pode permitir o reposicionamento de classes. O que pode, em alguma medida, permitir outras inclusões na agenda de desenvolvimento nacional. Pensemos e entendamos. Nos EUA o fim do apartheid foi fruto de que? No Brasil a criação dos programas de inclusão é fruto de que? A contratação daquela banda para aquela festa é fruto de que? – fruto da competência de quem conseguiu decifrar o enigma da esfinge. Né naummmmm?
O convite agora não é invisível como em outros tempos. A implicitude abre passagem para que nesta avenida passe o carro forte, com as notas verdes e à frente haja negros fortes e bons em carros fortes melhores e armados até os dentes para a defesa do carro e dos seus donos e de outros negros, afirmando como quem manda quer que seja e quem é mandado deve agir. Tempos de razão. No tempo da razão se racionaliza. Não se trata de um novo iluminismo. Mas, de um iluminismo à Brasileira, que seja. Somente devo afirmar que é tempo da razão. Necessariamente um iluminismo feito por quem foi objeto de estudo dos velhos iluministas. Um neo-iluminismo. Na razão a razão dirige.
Na ressaca se toma chá de boldo. Não adianta dizer que não vai beber nunca mais. (as drogas fazem parte das celebrações e do fugere humano). Não adianta enjoar e passar o dia dormindo. Na ressaca a gente organiza para beber a dose que se aguenta. Ou somente beber (até ficar de ressaca) quando puder celebrar. Se não puder celebrar bastante, melhor não beber. Na ressaca a gente já pode refletir, pois, apesar de estarmos de ressaca já estamos sóbrios. E, já podemos ler Machado de Assis na ressaca e desligar o sertanejo universitário. Na ressaca a é ex. e o ex. já tem outra mais nova e mais gostosa. Na ressaca a economia solidária não resolve os problemas da parte superior do capitalismo. Na ressaca a marginal deve servir somente para o acesso a via principal. Na ressaca não há conciliação de classe e nem uma nova classe média. Na ressaca, preto é preto, branco é branco, bicha é bicha, puta e puta, corno e corno e veado é veado. Bem-vindos a ressaca. E não tomem chá de boldo para não permitir embriagar novamente. Sem choros pelas palavras e coisa feitas nos momentos das bebedeiras. Mesmo que por osmose.
Nunca vi ninguém ganhar nada chorando. Se ganha lutando dentro de uma dada realidade. Dentro das possibilidades de se construir a história em Marx. Dentro do sentimento de Potência em Nietzsche. Dentro das relações sociais em Machado. Guardem os livros de romantismo. Queimem os de autoajuda. Liguem a TV (seja na vênus platinada ou em qualquer outro partido do poder) A vida real é dura. Muito dura. Duríssima. Bem-vindos. E, sem chororô. Sigamos!
1. Jocivaldo dos Anjos é aluno especial do Doutorado em Administração Pública pela Universidade federal da Bahia – UFBA. jocinegao@hotmail.com
Belo Horizonte – MG – Brasil, 25 de janeiro de 2018,
RAÍZES HISTÓRICAS: FANTASMAS SANGRAM NOSSA DEMOCRACIA
27 de Janeiro de 2018, 21:40É preciso debruçar-se sobre o período republicano para compreender as raízes golpistas das forças que sempre atuaram contra a Democracia. A História pontua e demonstra que a ruptura democrática ocorrida em 2016 não foi um fato isolado dentro da nossa História, mas uma reincidência histórica, tramada inclusive pelos mesmos atores de outrora, pelo uso dos mesmos instrumentos ideológicos e pelos mesmos grupos.
Tragicamente a História do Brasil trás em sua narrativa sucessivos golpes, e essa prática foi herdada pelo regime Republicano, inclusive a República nasceu de um golpe contra a Monarquia, não que a Monarquia fosse positiva. Não era, de forma alguma, mas a República não foi instaurada, ela foi outorgada pelas mesmas classes que hoje sangram a Democracia. Por isso, é elementar uma análise histórica do período Republicano na História do Brasil, uma vez que o momento em que vivemos tem raízes e ocorrências dentro da República.
A observação sobre fatos e fatores políticos que antecederam o Golpe Parlamentar de 2016 torna a compreensão dos acontecimentos mais clara para a compreensão dos acontecimentos contemporâneos, pois todos os eventos históricos estão interligados no tempo e no espaço. É preciso compreender as amarras de cada ocorrência e seu respingo na sociedade em que estamos inseridos.
Concretizado o Golpe Parlamentar de 2016 que depôs a Presidenta eleita, Dilma Rousseff, a elite orgânica, a mídia e o judiciário são sem sombra de dúvida os maiores beneficiados, pois além de participarem diretamente da administração pública estão usufruindo de cargos, de privilégios e dinheiro público, para através das reformas impopulares e à custa do direito do Povo Trabalhador manter-se no poder ao lado do governo mais impopular da história desse país, isto é, do Sr. Michel Fora Temer.
Os fatos ocorrentes no Brasil desde 2016 são mais sequências de páginas da nossa história que tem em seu enredo o ataque à Democracia, dias que nos envergonham tal qual1964, pois são páginas marcadas como mais um dos capítulos da História Republicana onde mais o Estado Democrático de Direito foi violado.
A condenação de Lula pelas duas primeiras instâncias num processo sem uma prova contundente e indiscutível torna Lula mais um Tiradentes, mais um Arraes, mais um Jango, mais um Gregório Bezerra, mais um brasileiro que tem sua liberdade cerceada pelos golpistas que transitam pela História do Brasil em diferentes épocas, mas com a mesma máscara, com o mesmo objetivo: Sangrar a Democracia.
Cibele dos Santos Silva
Pós-graduada em História
Belo Jardim-PE