
Crianças rohingya em centro de aprendizado no campo de Kutupalong, em Bangladesh. Foto: ACNUR/Adam Dean
A chuva forte sobre o telhado da sala de aula não abafa as crianças rohingya que cantam uma música tradicional de Mianmar. A aula de canto é uma das atividades oferecidas no centro de ensino de apenas um cômodo no maior assentamento de refugiados do mundo, o campo de Kutupalong, em Bangladesh. Durante apenas duas horas por dia, jovens entre seis e nove anos aprendem noções básicas de leitura, escrita e matemática, antes de dar o lugar para as próximas turmas, cada uma com 40 alunos.
Aulas lotadas, baixa carga horária, materiais limitados, tempestades e lama são alguns dos obstáculos que meninos e meninas têm de enfrentar para ter uma educação básica no campo de refugiados, segundo os professores do local.
“O maior desafio é que não temos um currículo fixo, nem de Mianmar nem de Bangladesh”, afirma Jaivul Hoque, gerente de projetos do centro. “É apenas o ensino primário, não há ensino secundário.”
Dez meses se passaram desde o início do deslocamento de quase 1 milhão de rohingyas, que deixaram Mianmar com destino a Bangladesh devido a violações de direitos humanos e perseguição étnica. Mais da metade desses indivíduos são crianças.
O alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, viu em primeira mão as condições em que as famílias deslocadas vivem — em casas precárias, erguidas em encostas íngremes, com drenos de bambu e tijolos cavados à mão, sem eletricidade e apenas com água bombeada à mão.
O dirigente também visitou um centro de saúde integrado que oferece cuidados primários, clínicas para mães e filhos, apoio nutricional e aconselhamento de saúde mental para refugiados que sofrem com o trauma da violência.
A atual conjuntura em Mianmar não permite um retorno seguro e digno para os refugiados. Para a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), é necessário investir numa resposta de médio e longo prazo, garantindo aprendizado de qualidade e oferecendo também aulas de ensino secundário para os jovens rohingya.
“Se não estruturarmos isso adequadamente de uma maneira que seja padronizada e ofereça um currículo adequado para todas as crianças, com educação primária e secundária, você corre o risco de perder muito tempo em uma geração inteira de crianças”, afirmou Grandi durante a missão.