Aumento da inatividade física foi identificado sobretudo nos países de renda alta. Foto: PEXELS
Mais de 1,4 bilhão de adultos em todo o mundo não praticam atividades físicas suficientes. É o que revela a primeira pesquisa feita para estimar tendências globais sobre o hábito de se exercitar. Realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o levantamento usa dados de 2001 a 2016. No Brasil, a inatividade física afeta 47% da população.
Em 2016, cerca de uma em cada três mulheres (32%) e um em cada quatro homens (23%) em todo o planeta não estavam atingindo os níveis recomendados de atividade física para se manterem saudáveis — ao menos 150 minutos de exercício com intensidade moderada ou 75 minutos com intensidade vigorosa por semana. A pesquisa alerta que o sedentarismo aumenta o risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, demência e alguns tipos de câncer.
A estimativas analisadas pela OMS demonstram que houve pouco progresso na melhoria dos níveis de atividade física entre 2001 e 2016. Os dados apontam que, se as tendências atuais continuarem, a meta global de 10% de redução da inatividade não será atingida até 2025.
“Ao contrário de outros grandes riscos para a saúde global, os níveis de inatividade física não estão caindo e mais de um quarto de todos os adultos não estão atingindo os níveis recomendados de atividade física”, afirma a principal autora do estudo, Regina Guthold.
O relatório da OMS incluiu nos cálculos as atividade físicas realizadas no trabalho e em casa, durante deslocamentos e momentos de lazer. Os resultados foram obtidos a partir de 358 questionários populacionais feitos em 168 países, somando um total de 1,9 milhão de indivíduos participantes. Todos tinham no mínimo 18 anos de idade.
Desigualdades entre os países
Segundo a OMS, em 55 dos 168 países pesquisados, mais de um terço da população não praticava atividade física suficiente. De acordo com a pesquisa, o sedentarismo avançou principalmente nos países ricos — houve um aumento de 5% na inatividade física em nações de renda alta, de 32% em 2001 para 37% em 2016. Nos Estados de baixa renda, o crescimento foi de apenas 0,2%, no mesmo período, alcançando 16,2%.
Na América Latina e no Caribe, foi identificada uma tendência crescente no índice de inatividade física — de 33% para 39%. Brasil e Argentina foram citados pelo estudo como países que impulsionam essa expansão de modos de vida sedentários não apenas na região, mas também no mundo, ao lado da Alemanha, Nova Zelândia e Estados Unidos.
Nos países mais ricos, a transição para ocupações e formas de recreação mais sedentárias, bem como para meios de transporte motorizados poderia explicar os níveis mais altos de inatividade física. De acordo com os autores do levantamento da OMS, nos países de renda mais baixa, o trabalho e o deslocamento exigiriam mais atividade dos indivíduos.
Embora diminuições da atividade física ocupacional e doméstica sejam inevitáveis, conforme os países prosperam e o uso da tecnologia aumenta, os governos devem fornecer e manter uma infraestrutura que promova caminhadas, ciclismo, esportes e recreação ativa.
Fiona Bull, coautora da pesquisa, lembra que quase 75% de todos os países já contam com uma política ou plano de ação para combater a inatividade física. Mas poucas estratégias foram implementadas para ter impacto nacional, avalia a especialista.
“Os países precisarão melhorar a implementação de políticas para aumentar as oportunidades para a prática de atividade física e incentivar mais pessoas a serem fisicamente ativas. Os governos reconheceram a necessidade de ação, endossando o plano de ação mundial sobre atividade física e saúde para 2018 a 2030”, completa Bull.
A estratégia global estabeleceu a meta de reduzir a inatividade física em 10% até 2025 e 15% até 2030.
A região com a maior diminuição da inatividade física foi o leste e sudeste da Ásia — de 26% em 2001 para 17% em 2016. A variação foi influenciada em grande parte pela absorção de atividades na China, o país mais populoso da região.
Em 2016, em quatro países, mais da metade dos adultos eram insuficientemente ativos – Kuwait (67%), Samoa Americana (53%), Arábia Saudita (53%) e Iraque (52%).
Mulheres são menos ativas que os homens
A pesquisa identificou, em 2016, uma diferença nos níveis de inatividade física entre mulheres e homens de 10% ou mais no Sul da Ásia (43% contra 24%) e na Ásia Central. No Oriente Médio e no norte da África, a disparidade era de 40% contra 26%. Em países ocidentais de alta renda, de 42% contra 31%.
“Abordar estas desigualdades nos níveis de atividade física entre homens e mulheres será fundamental para alcançar as metas globais e exigirá intervenções para promover e melhorar o acesso das mulheres a oportunidades seguras, acessíveis e culturalmente adequadas”, afirma Bull.
Individualmente, alguns países registraram lacunas de gênero consideráveis. É o caso de Bangladesh, onde a inatividade física chega a 40% entre as mulheres, mas permanece relativamente baixa (16%) entre os homens. Na Índia, a diferença é 44% contra 25%. No Iraque, 65% contra 40%. Nas Filipinas, 49% contra 30%. Na África do Sul, 47% contra 29%. Na Turquia 39% contra 22%. Nos Estados Unidos, 48% contra 32%. No Reino Unido, 40% contra 32%.
A divulgação do estudo da OMS antecede a Terceira Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre Doenças Crônicas Não Transmissíveis e seus fatores de risco, incluindo a inatividade física. O evento acontecerá em 27 de setembro deste ano, em Nova Iorque.
Acesse a análise da OMS na íntegra clicando aqui.