A Comissão de Inquérito sobre a Síria divulgou nesta quarta-feira (12) um relatório que destaca níveis sem precedentes de deslocamento interno ocorridos no primeiro semestre deste ano no país.
Entre janeiro e junho, mais de 1 milhão de sírios fugiram de suas casas e passaram a viver em péssimas condições. A Comissão alerta ainda sobre o que pode ocorrer na província de Idlib, se os esforços para chegar a um acordo negociado falharem.
Em entrevista à ONU News, de Genebra, o presidente da Comissão, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, comenta o risco de uma catástrofe humanitária.
“A situação dos refugiados é muito visível, há mais de 4 milhões nos países vizinhos e 1 milhão na Europa, mas esses deslocamentos internos não são muito visíveis. Hoje, se calcula que 6 milhões de sírios não moram nas suas próprias casas. Nesses últimos seis meses, 1 milhão saiu de cidades e nós resolvemos chamar a atenção para os sofrimentos e para a carência de direitos dessa população”, disse Pinheiro.
“Também acenamos para alguma coisa que está muito presente no dia de hoje que é a ameaça na província de Idlib, onde estão quase 3 milhões de habitantes, deslocados, muitos de outras cidades, e algo como 10 mil, 15 mil terroristas e grupos armados. Nós achamos que seria um desastre humanitário, um massacre, se a guerra contra os terroristas, contra a qual nós não temos nenhuma objeção, seja feita às expensas da população civil.”
O documento destaca seis batalhas importantes que levaram ao deslocamento em massa: Alepo, norte de Homs, Damasco, Rif Damasco, Daraa e Idlib.
O relatório revela que forças do governo sírio dispararam gás cloro este ano num subúrbio controlado pelos rebeldes em Damasco e na província de Idlib.
Os investigadores relataram ações que podem ser consideradas crimes de guerra ocorridas em 22 de janeiro e 1º de fevereiro na área residencial de Duma, em Ghouta Oriental.
O documento descreve a difícil situação dos civis que deixaram suas casas entre janeiro e junho em intensos combates. Na maioria deles, ocorreram crimes de guerra, incluindo os ataques indiscriminados, ataques deliberados contra áreas protegidas, uso de armas proibidas e saques, que também envolveram grupos armados.
Existe cerca de 1 milhão de crianças em Idlib, na Síria. Foto: UNICEF
A Comissão defende que, para recuperar Ghouta Oriental em abril, as forças do governo lançaram numerosos ataques indiscriminados em áreas civis densamente povoadas, que incluíam o uso de armas químicas.
O relatório destaca que mulheres e crianças ficaram feridos e contraíram problemas respiratórios e precisaram de oxigênio.
A conclusão da Comissão é que forças do governo e milícias cometeram crimes de guerra pelo uso de armas proibidas e pelo lançamento de ataques indiscriminados em áreas povoadas por civis em Ghouta Oriental.
O relatório aponta que o cloro também foi usado em 4 de fevereiro. A nota destaca que helicópteros do governo derrubaram pelo menos dois barris transportando cargas de cloro na área de Taleel, em Saraqeb.
Nessa operação, 11 homens ficaram feridos e provas documentais e materiais analisadas pela Comissão confirmaram a presença de helicópteros na área e a utilização de dois cilindros de gás de cor amarela.
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