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ARTIGO: Os custos da guerra comercial

junio 29, 2018 17:08 , por ONU Brasil - | No one following this article yet.
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Foto: Imprensa/GEPR

Foto: Imprensa/GEPR

Por Mukhisa Kituyi*

A introdução pela administração Donald Trump de tarifas de importação abrangentes sobre aço e alumínio levanta a possibilidade real de uma guerra comercial global. Os efeitos seriam sentidos em todos os lugares, mas especialmente nos países mais pobres do mundo, colocando em risco a atual recuperação global e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

De acordo com um velho provérbio africano, “quando os elefantes lutam, é a grama que sofre”. O mesmo vale para as guerras comerciais: quando as principais economias entram em conflito, os países em desenvolvimento estarão entre os mais atingidos.

Em 1º de junho, o governo dos Estados Unidos impôs tarifas de importação de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio. As taxas afetarão não apenas a China, mas também Canadá, México e países da União Europeia (UE).

Cecilia Malmström, comissária da UE para o comércio, observou em um recente evento realizado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) que “não estamos em guerra comercial, mas poderíamos estar”. É uma situação que deveria preocupação de todos.

Sabemos pela história que ninguém ganha em uma guerra comercial. Os aumentos de tarifas dos principais países representam uma reversão de esforços desde o final da Segunda Guerra Mundial para eliminar as barreiras comerciais e facilitar o comércio global.

O custo da guerra comercial

Desde que o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT, na sigla em inglês) entrou em vigor, em 1947, o valor médio das tarifas em todo o mundo diminuiu 85%. Isso não é coincidência, mas resultado da cooperação multilateral e de oito rodadas de negociações comerciais globais, primeiro sob o GATT e depois sob sua sucessora, a Organização Mundial do Comércio (OMC).

As reduções tarifárias, juntamente com os avanços tecnológicos, impulsionaram a extraordinária expansão do comércio global que temos testemunhado em nossas vidas. Em 1960, o comércio como parcela do PIB mundial ficou em 24%; hoje é quase 60%.

A expansão do comércio alimentou o crescimento econômico, criou empregos e aumentou a renda familiar em todo o mundo. É um fator-chave por trás da ascensão do Sul Global, onde dezenas de países em desenvolvimento experimentaram um forte crescimento econômico e uma mudança social positiva. E tornou possível uma das realizações mais notáveis ​​da história da humanidade: tirar 1 bilhão de pessoas da pobreza no espaço de apenas duas décadas.

No entanto, a expansão comercial não beneficiou a todos igualmente. E, em alguns casos, resultou em degradação ambiental e deslocamento econômico, com muitas pessoas agora se sentindo para trás. Estas são questões sérias e legítimas que devem ser abordadas. Mas o unilateralismo não é o caminho para isso. Desafios globais exigem soluções globais.

Infelizmente, as atuais ações comerciais anunciam uma situação em que todos perderão. Em uma guerra comercial, empresas de uma ampla gama de setores perderão lucros, e os trabalhadores perderão empregos. Os governos perderão receita e os consumidores terão menos opções de produtos disponíveis. E, não importa onde estejam, firmas, governos e famílias incorrerão em custos mais altos.

Pior ainda, uma guerra comercial global pode comprometer o próprio sistema comercial multilateral. Sem dúvida, isso resultaria em aumento de tarifas maior do que qualquer coisa que tenhamos visto na história recente. A pesquisa da UNCTAD mostra que as tarifas médias podem subir de níveis insignificantes para até 30% para os exportadores dos EUA e 35% e 40% para os exportadores da UE e da China, respectivamente. Assim, mesmo que os “elefantes” tenham peso econômico suficiente para resistir a uma guerra comercial, eles não se beneficiariam de uma.

E, é claro, os países em desenvolvimento que não tiveram nenhum papel no início dessa disputa seriam ainda menos capazes de arcar com seus custos. Em média, as tarifas aplicadas às exportações dos países em desenvolvimento podem aumentar de 3% para 37%. Mas enquanto tarifas médias que afetam países como Nigéria e Zâmbia provavelmente não iriam além de 10%, as do México poderiam chegar a 60%. Da mesma forma, países como Costa Rica, Etiópia, Sri Lanka, Bangladesh e Turquia podem enfrentar tarifas médias de 40% a 50%.

Além disso, uma guerra comercial seria um duro golpe para os países mais pobres do mundo e para a esperança de dobrar a participação dos países menos desenvolvidos nas exportações globais até 2020, sob os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Isso comprometeria a frágil recuperação econômica desde a crise financeira global há uma década, prejudicando assim o crescimento e o desenvolvimento em todo o mundo. E isso limitaria a extensão em que o comércio poderia ser usado para promover metas globais.

O dano causado por uma guerra comercial completa seria sentido bem além do comércio internacional. O clima comercial atual reflete uma tendência global preocupante em direção ao unilateralismo nacionalista. Os países que ajudaram a remodelar nosso mundo para melhor através do comércio estão agora abandonando a cooperação internacional, e essa mudança pode ter sérias implicações em outras áreas, como nos esforços globais para combater a mudança climática e garantir paz e prosperidade para todos. A maneira mais fácil de vencer uma guerra comercial é evitá-la completamente.

*secretário-geral da UNCTAD


Origen: https://nacoesunidas.org/artigo-os-custos-da-guerra-comercial/

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