
Os fluxos de investimento estrangeiro direto (IED) caíram pelo terceiro ano consecutivo na América Latina e no Caribe, para 161,673 bilhões de dólares em 2017. Foto: Pixabay/nedu503 (CC)
Apesar de um contexto internacional caracterizado por um maior crescimento da economia mundial, uma elevada liquidez internacional, altos lucros das grandes empresas e otimismo nos mercados financeiros, o investimento estrangeiro direto (IED) na América Latina e no Caribe caiu pelo terceiro ano consecutivo. O IED ficou em 161,673 bilhões de dólares em 2017, queda de 3,6% frente ao ano anterior e de 20% na comparação com 2011.
Os números constam no relatório “O Investimento Estrangeiro Direto na América Latina e no Caribe 2018“, divulgado nesta quinta-feira (5) pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), em uma coletiva de imprensa na Cidade do México com a participação da secretária-executiva do organismo, Alicia Bárcena.
Na ocasião, a CEPAL fez um chamado aos governos para incentivarem o IED de qualidade e compatível com o desenvolvimento sustentável, sobretudo para promover uma mudança na estrutura produtiva dos países que permita alcançar as metas da Agenda 2030.
O relatório da CEPAL explicou que, em uma análise de médio prazo, a queda contínua do IED desde 2011 pode ser explicada pelos menores preços dos produtos básicos de exportação, que reduziram significativamente os investimentos nas indústrias extrativas, e pela recessão econômica registrada em 2015 e 2016, principalmente no Brasil.
Essas duas tendências, entretanto, foram parcialmente revertidas em 2017 quando a região retomou o crescimento (avanço de 1,3% do PIB) e os preços do petróleo e metais subiram. Esse aumento dos preços fez com que se recuperasse a rentabilidade do investimento, após vários anos de queda, o que também impulsionou o reinvestimento dos lucros. No entanto, isso não foi suficiente para que se recuperasse o IED nas indústrias extrativas, apontou o relatório.
Enquanto em 2016 a maioria dos países da região registrou quedas nas entradas de IED, em 2017 o indicador subiu na maioria deles. No entanto, fortes baixas ocorreram em Chile (-48%), Brasil (-9,7%), e México (-8,8%).
Na América Central, o IED subiu pelo oitavo ano consecutivo (para 13,08 bilhões de dólares), com destaque para o aumento registrado no Panamá, cujos fluxos de entrada alcançaram 6,06 bilhões de dólares. No Caribe, houve alta de 20%, para 5,83 bilhões de dólares, mais da metade dos quais (60%) direcionados para a República Dominicana. Nesses países, tem sido muito importante o aumento dos investimentos na área turística, mas também no setor de recursos naturais — especialmente na Jamaica e na Guiana.
De acordo com o relatório, as principais origens do investimento estrangeiro direto na região em 2017 foram União Europeia e os Estados Unidos, respectivamente. A prevalência da Europa é particularmente notória na América do Sul, enquanto os EUA se mantêm como o principal investidor no México e na América Central.
A médio prazo, a queda no IED na região desde 2011 se concentrou quase exclusivamente no setor de recursos naturais, com baixas de 63%. As entradas de IED no setor de serviços caíram 11% e no setor de manufaturas aumentaram levemente. Essa recomposição dá oportunidades para focalizar os investimentos naqueles setores com maior capacidade para impulsionar a mudança estrutural e o desenvolvimento sustentável na região, processo que deve ser acompanhado por políticas que apoiem o desenvolvimento de capacidades nos países receptores.
“Não se trata simplesmente de criar as condições para que cheguem capitais estrangeiros, mas para que os investimentos se tornem fontes geradoras de disseminação tecnológica e produtiva, de emprego, e para que se orientem para um crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável”, ressaltou Bárcena.
O relatório enfatizou que setores como energias renováveis, telecomunicações e indústria automobilística são exemplos de como o IED pode contribuir para diversificar a estrutura produtiva, melhorar capacidades locais, criar emprego de qualidade e gerar encadeamentos com provedores locais e regionais.
Nesse sentido, destacam-se os investimentos, cada vez maiores, do setor automotivo no México e no Brasil, ou as manufaturas e serviços para a exportação na América Central e na República Dominicana (ambos temas tratados em capítulos separados do relatório). Entretanto, esses casos são ainda insuficientes para conseguir uma transformação produtiva na região, advertiu o documento.
Segundo o relatório, as tendências globais apontam para a estabilidade. Para 2018, não há previsão de mudança de cenário, com entradas de IED para a região permanecendo estáveis, próximo aos valores de 2017 — considerando uma margem de erro de 2%.
O documento disse ainda que o contexto internacional de incerteza favorece um padrão de crescimento dos países líderes em que o investimento doméstico e as capacidades locais são fatores-chave. Apesar da recuperação dos preços das matérias primas e do interesse em novos produtos como o lítio, não se repetirão os grandes fluxos de IED para os recursos naturais da última década, alertou a CEPAL.
As saídas de IED dos países da região caíram mais fortemente do que as entradas, e somaram 23,41 bilhões de dólares em 2017, 34% inferior ao apresentado em 2016 e menos da metade do alcançado em 2014.
As empresas translatinas, que tiveram uma grande expansão entre 2006 e 2014, não conseguiram diversificar sua estratégia para além das indústrias extrativas ou buscar mercados em outros países da região. Em um contexto de recessão (ou de baixo crescimento) e menores preços do petróleo e minérios, os países da América Latina e do Caribe tiveram que restringir suas operações no exterior ou, pelo menos, reter seu crescimento.
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