As frequentes reclamações de mulheres vítimas de assédio sexual no transporte público e os 40 casos registrados nos últimos três anos no metrô de Porto Alegre (RS) fizeram o comitê gaúcho impulsionador da campanha HeForShe – ElesPorElas no estado criar uma iniciativa contra o assédio nos trens.
Com o slogan “Fim da linha para a violência contra a mulher”, o Comitê ElesPorElas, integrante do movimento mundial da ONU Mulheres, lançou nesta segunda-feira (30) uma campanha em parceria com a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre – Trensurb.
O objetivo é combater o assédio, promover a igualdade de gênero e o fim da violência contra as mulheres. A representante da ONU Mulheres Brasil, Nadine Gasman, esteve presente no lançamento da campanha.
A iniciativa é o primeiro projeto coletivo do Comitê para debater e provocar o tema pelo fim da violência contra mulheres em espaços de transportes públicos. Cartazes e painéis serão espalhados nos trens e plataformas das estações entre Porto Alegre e Novo Hamburgo.
As peças terão imagens com destaque para o Ligue 180, Central de Atendimento à Mulher, da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres do Ministério dos Direitos Humanos. A ligação é gratuita.
Além dos cartazes, a campanha terá outras atividades, como intervenção artística com o uso grafite e de batalhas de rap em estações selecionadas, que ocorrerão por um período de três meses. O objetivo é sensibilizar e incentivar usuários e usuárias para que rompam com o silêncio e denunciem casos de assédio e abuso ocorridos nos vagões do metrô.
Sistematicamente, a Trensurb participa de campanhas e atividades pela igualdade de gênero e pelo fim da violência contra as mulheres. Em 2013, a empresa formou um grupo para discutir e expandir, no ambiente de trabalho, a promoção da igualdade, a prevenção e o combate a todas as formas de violência contra as mulheres. As ações são realizadas para o público interno e usuários e usuárias do metrô.
Cerca de 171 mil pessoas utilizam trem diariamente na região metropolitana de Porto Alegre. Mais da metade são mulheres, que utilizam o serviço pelo menos cinco dias por semana, numa jornada de trabalho e estudo com uma rotina que inclui horários de pico com vagões lotados. É comum mulheres reclamarem das atitudes de homens, que assediam as mulheres em momentos de lotação do transporte.
Violência contra as mulheres no RS
Este tipo de investida masculina explica a cultura por trás de muitas violências. Dados da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul revelam que casos de estupro aumentaram no comparativo entre os períodos de janeiro a dezembro de 2016 e 2017. Foram 1.574 casos em 2016, contra 1.661 em 2017. Uma média de quatro estupros por dia.
No caso de feminicídios consumados, foram 96 em 2016, contra 83 no ano passado. Já as tentativas de feminicídio aumentaram em 23,2%, e saltaram de 263 para 324 tentativas. A cada quatro dias uma mulher morre vítima de feminicídio no estado, e 63 mulheres sofrem por dia algum tipo de agressão com lesão.
Todas as entidades que se unem ao Comitê ElesPorElas devem promover uma mudança interna ou criação de programas de empoderamento e defesa das mulheres. A campanha é coordenada pelo Comitê Gaúcho Impulsor HeForShe – ElesPorElas, com participação da Trensurb, Universidade La Salle, Agência Moove, Ministério Público, Associação de Procuradores do Estado, Coletivo Hip Hop Linha do Trem em parceria com o Escritório da ONU Mulheres Brasil, sediado em Brasília.