
Colheita de soja em fazenda localizada no município mato-grossense de Rondonópolis, um dos principais pólos produtivos do país. Na década de 1990, a cidade chegou a ser denominada capital nacional do agronegócio Foto: EBC/Roosewelt Pinheiro
A produção agrícola e pesqueira na América Latina e no Caribe crescerá 17% nos próximos dez anos, segundo novo relatório publicado na terça-feira (3) por Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Mais da metade desse crescimento (53%) pode ser atribuído a um aumento na produção agrícola, cerca de 39% devido ao setor pecuário, e os 8% restantes como resultado da expansão da produção pesqueira.
De acordo com o relatório Perspectivas Agrícolas 2018-2027, a produção total na região deverá crescer 1,8% ao ano até 2027. Cerca de 60% desse crescimento ocorrerá devido a melhoras no rendimento, que irão aumentar em média 11% na região durante a próxima década. As mudanças mais importantes são esperadas para os setores de cereais e oleaginosas, e o restante da expansão da produção agrícola será resultado de uma ampliação na área colhida.
O uso agrícola da terra na região aumentará em aproximadamente 11 milhões de hectares e aproximadamente a metade será para a produção agrícola. O cultivo de soja representará a maioria (cerca de 62%) da expansão da área cultivada na região.
Soja vai liderar a expansão da área da região
O relatório da OCDE/FAO indica que o Paraguai vai expandir significativamente sua área de cultivo de soja. O Brasil vai aumentar a plantação múltipla (na mesma terra) de soja e milho, enquanto a ampliação regional do cultivo será motivada pela demanda regional por alimentos e pela crescente demanda global pelo produto.
Embora cerca de 46% da produção de soja da região seja exportada, principalmente para a China, aproximadamente 54% da produção total de soja será processada na região para gerar farinha e óleo. Espera-se que a demanda chinesa por importações diminua, o que terá repercussões para fornecedores importantes como o Brasil.
O Brasil é destacado pelo relatório como um dos países que irá desempenhar um papel fundamental como um dos principais fornecedores de alimentos para o mundo todo, juntamente com Rússia, Índia, China, Europa Ocidental e Estados Unidos.
Produção de carne na região crescerá 19%
A produção de carne na região expandirá 19% para atender o forte crescimento da demanda global e regional. Enquanto o consumo regional de carnes aumentará em cerca de 8 milhões de toneladas (17%) até 2027, a produção regional será cada vez mais orientada para as exportações.
As exportações de carne da região aumentarão em quase 3 milhões de toneladas em 2027, representando um crescimento de 31% em relação ao período base 2015-17, uma expansão quatro vezes maior do que a dos últimos dez anos. Três quartos deste crescimento de exportação virão do Brasil.
Também se espera um crescimento do setor lácteo regional. No entanto, a maior parte da produção será consumida na região. Até 2027, o consumo total de produtos lácteos aumentará em 18%, com produtos lácteos frescos representando a maior parte da demanda adicional. Como resultado, o crescimento da produção regional de manteiga, queijo e leite em pó desnatado deverá diminuir nos próximos anos.
Preferência pelo doce permanecerá problemática
A região continuará a ser a maior consumidora mundial de açúcar em termos per capita. O consumo de açúcar e óleo vegetal continuará crescendo em termos per capita e a uma taxa mais rápida do que na década anterior. Cerca de 18% do aumento esperado na disponibilidade calórica per capita total virá desses dois produtos básicos. Como resultado, os altos níveis de obesidade na região devem persistir.
Espera-se uma expansão significativa da produção aquícola no Brasil e no Chile, com um crescimento total da produção de 43%, o que faz com que a região continue sendo a segunda maior produtora de pescado do mundo depois da Ásia.
A maior parte dessa expansão servirá para atender à crescente demanda regional por peixe, já que o consumo de alimentos per capita deverá crescer 13% na próxima década. Se a China implementar integralmente as disposições pesqueiras do seu 13º Plano Quinquenal, suas exportações de produtos de pesca capturada e de produtos aquícolas diminuiriam substancialmente, abrindo novas oportunidades de mercado para a América Latina.
Espera-se que a região continue a ser um fornecedor global importante de vários produtos alimentícios, respondendo por 56%-59% do comércio mundial de soja e açúcar e 30% do comércio mundial de carne até 2027.
As políticas comerciais atuais da Argentina, como a eliminação dos impostos sobre a exportação de milho e trigo, devem incentivar a produção orientada para a exportação desses produtos. Com os Estados Unidos classificando o etanol de cana como um combustível renovável avançado, incentivando as importações do Brasil, a posição da região como exportadora líquida de etanol se fortalecerá nos próximos dez anos, com o valor comercial líquido crescendo 11% anual.