
Sem-teto em Nova Iorque. Relator da ONU disse que estratégia do governo norte-americano parece ser dirigida principalmente pelo desprezo e às vezes até pelo ódio aos mais pobres. Foto: Flickr/Tina Leggio (CC)
A principal estratégia dos Estados Unidos para lidar com a pobreza extrema tem sido “criminalizar e estigmatizar” aqueles que precisam de assistência, de acordo com um especialista independente em direitos humanos da ONU, em comunicado divulgado no início de junho (4).
Essa avaliação preocupante da divisão social dentro de um dos países mais ricos do mundo foi feita pelo relator especial da ONU Philip Alston, que apresentará seu último relatório ao Conselho de Direitos Humanos no final deste mês.
O documento é baseado em sua visita aos EUA em dezembro passado, durante a qual viajou para Califórnia, Alabama, Geórgia, Virgínia Ocidental e Washington D.C.
Alston disse que o governo Donald Trump introduziu incentivos fiscais “massivos” para corporações e para os mais ricos, ao mesmo tempo em que orquestrou o que o especialista chamou de “ataque sistemático ao sistema de bem-estar social”.
Para Alston, que é especialista da ONU em extrema pobreza e direitos humanos, trata-se de uma estratégia que parece ser dirigida principalmente pelo desprezo e às vezes até pelo ódio aos pobres, junto com a mentalidade de que “o vencedor leva tudo”.
“Bloquear os pobres precisamente porque são pobres, exagerando muito a quantidade de fraudes no sistema, envergonhando aqueles que precisam de assistência e criando cada vez mais obstáculos para impedir que as pessoas obtenham os benefícios necessários, não é uma estratégia para reduzir ou eliminar a pobreza”, disse o especialista.
Ele acusou o sistema legal norte-americano de se concentrar em aumentar a receita dos estados, em vez de promover a justiça, acrescentando que “multas e taxas são acumuladas de modo que infrações de baixo nível se tornam imensamente pesadas, um processo que afeta principalmente os membros mais pobres da sociedade”.
Mas, ao mesmo tempo, disse: “os juízes definem grandes quantias de fiança para os réus que aguardam julgamento, permitindo que os ricos paguem seu caminho para a liberdade, enquanto os pobres ficam presos e incapazes de trabalhar ou sustentar suas famílias”.
Alston acrescentou que, com os EUA tendo agora a mais alta desigualdade de renda no mundo ocidental, a mais alta taxa de encarceramento no mundo, e uma das mais baixas taxas de participação eleitoral entre países desenvolvidos, “não é coincidência que alta desigualdade coincida com a aberta e dissimulada privação de direitos de milhões e milhões de eleitores norte-americanos”.