DEPOIMENTO: ‘Sabemos que dentro de uma emergência, tudo é urgente’
agosto 17, 2018 18:20
Catalina Sampaio, de 25 anos, trabalha desde 2014 para o ACNUR, atuando como assistente de proteção em Boa Vista. Foto: ACNUR
“Grande parte da minha família foi refugiada por motivos de perseguição política na América do Sul. A proteção internacional foi fundamental para que eles conseguissem se reestruturar. A experiência vivida por eles é a minha maior inspiração para trabalhar na área humanitária, sobretudo na área do refúgio. Para mim, é muito importante poder proporcionar proteção para as pessoas que estão em uma jornada parecida a essa que marcou a minha família.
A população com a qual trabalhamos, ou seja, as pessoas em situação de refúgio, geralmente em um primeiro momento se encontram em situação de extrema vulnerabilidade e precisam receber uma assistência direta. É extremamente gratificante perceber que elas conseguiram se restabelecer. Que já se sentem mais fortes, e conseguem caminhar sozinhas, pois já têm as ferramentas necessárias para isso. Fico muito feliz quando eles já conseguem se cuidar e me procuram para dizer “olha, eu estou me cuidando, eu estou bem e eu estou seguindo o meu caminho”.
É muito desafiador quando não conseguimos atender, de maneira individual, todos os casos que chegam até nós. Muitas vezes nos deparamos com uma situação onde há simultaneamente um caso de alto risco e outro de médio ou baixo, e nós não conseguimos responder todas as demandas de forma imediata. É necessário fazer um filtro sobre o que necessita ser resolvido em menos de 24 horas e o que pode esperar até 72 horas. Sabemos que dentro de uma emergência, tudo é urgente. Entretanto, a parte mais difícil do trabalho é identificar e priorizar as urgências.
Foi o caso da situação do aumento do fluxo de venezuelanos em Boa Vista. Nossa ação para identificar esses perfis começou na praça Simon Bolívar, onde vivia a maior parte dos venezuelanos que chegavam a Boa Vista e não tinham para onde ir. De lá, conseguimos encaminhar todas essas pessoas de forma segura para o novo abrigo. Oferecer proteção para tantas pessoas de uma só vez foi muito gratificante. O melhor dia para mim foi quando, em maio deste ano, estabelecemos o abrigo Jardim Floresta, o primeiro aberto depois da federalização da resposta, onde foi possível abrigar e oferecer segurança para cerca de 600 pessoas que estavam vivendo em situação de rua e extrema vulnerabilidade. Nós realocamos, de maneira voluntária, famílias com crianças, mulheres sozinhas, idosos, homens em situação de risco, entre outros.
Tem alguns momentos mais difíceis durante alguns dias. E esses momentos geralmente ocorrem quando temos que priorizar alguns casos e deixar para depois aqueles que podem esperar mais um pouco. Frequentemente, nos vemos em uma situação onde é necessário avaliar os perfis de vulnerabilidade, identificar quem vamos acolher primeiro para que seja possível garantir segurança de maneira emergencial. Para mim, a pior parte é quando temos que dizer ‘ainda não'”.
ONU Brasil promove concurso de redação e artes visuais para estudantes sobre direitos humanos
agosto 17, 2018 17:32
Crianças observam uma cópia da Declaração Universal dos Direitos Humanos em Nova Iorque quando o documento tinha apenas dois anos, em 1950. Foto do arquivo da ONU.
A ONU no Brasil abriu inscrições para um concurso de redação e artes visuais para estudantes dos ensinos médio e fundamental com o tema “Que mundo queremos nos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos?”.
É possível enviar contribuições até o dia 30 de setembro de 2018.
A Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH) foi adotada pela Assembleia Geral da então recém-criada Organização das Nações Unidas em 1948. Em 2018, o documento mais traduzido do mundo completa 70 anos, propiciando uma oportunidade de reflexão sobre as principais transformações e novos desafios que os direitos humanos enfrentam atualmente.
A DUDH foi parte fundamental de transformações nas vidas de milhões de pessoas nessas últimas sete décadas, ajudando a prevenir sofrimentos e a lançar as bases para um mundo mais justo.
Ao passo que muitas de suas promessas ainda não foram plenamente realizadas, o fato de ela ser um documento que tem resistido ao teste do tempo é sinal de sua importância e da universalidade dos valores que ela promove: igualdade, justiça e dignidade humana.
Neste concurso, a proposta é que participantes desenvolvam uma interpretação própria pensando os 70 anos da Declaração, expressada por meio de uma redação ou por meio das artes visuais – como desenho, pinturas, fotografias, ilustrações, grafites, colagens, quadrinhos, dentre outras formas de arte visual.
Premiação
Serão premiadas 4 (quatro) propostas, uma para cada modalidade/categoria – redação ensino fundamental, redação ensino médio, artes visuais ensino fundamental e artes visuais ensino médio.
A ONU Brasil poderá dar publicidade às artes vencedoras e redações nas suas plataformas e redes sociais, além de utilizá-las em materiais relacionados à celebração dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos no Brasil. A critério da Comissão Julgadora, poderão ser indicadas a menções honrosas para uma ou mais artes.
Os prêmios consistirão em (1) reconhecimento para as pessoas vencedoras em evento de premiação; (2) divulgação das redações e artes vencedoras em publicação referente à celebração dos 70 anos da DUDH no Brasil; e (3) divulgação dos trabalhos vencedores no site da ONU Brasil e de parceiros durante as celebrações dos 70 anos da DUDH e em outras atividades das Nações Unidas de promoção dos direitos humanos.
Todos os detalhes sobre como participar estão no edital do concurso; acesse clicando aqui.
Projeto promove inclusão social e laboral de venezuelanos em Manaus
agosto 17, 2018 17:25
Venezuelanos chegam ao Brasil pela cidade de Pacaraima, em Roraima. Foto: EBC
Solicitantes de refúgio e residentes temporários venezuelanos que vivem em Manaus e estão buscando emprego poderão se preparar melhor para conseguir uma vaga no mercado de trabalho. Por meio de aulas de português e cursos profissionalizantes, o projeto “Oportunizar” promoverá a inserção socioeconômica desta população, que está reconstruindo sua vida na capital amazonense.
Resultado de parceria entre Centro de Ensino Técnico (CENTEC) e Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), o projeto será lançado na próxima terça-feira (21), às 14h, no Auditório João Bosco da Assembleia Legislativa do Estado (Av. Mário Ypiranga Monteiro, 3.950 – Parque Dez).
Na ocasião, será iniciada também uma campanha de sensibilização da classe empresarial sobre a contratação desta população. Além disso, a Centec apresentará o selo “Oportunizar”, que reconhecerá as boas práticas e compromisso de empresas locais com a inclusão de solicitantes de refúgio.
O projeto é um trabalho socioeducativo para melhorar a fluência dos participantes na língua portuguesa por meio de cursos profissionalizantes, criando assim competências para quem busca uma oportunidade de trabalho nos setores da indústria, comércio e serviço, ou mesmo como empreendedores.
Com um variado perfil profissional e bom nível educacional, a população venezuelana (assim como outros refugiados e solicitantes de refúgio) enfrenta diferentes desafios no seu processo de integração, entre eles, a barreira do idioma e a comprovação de suas habilidades. Esta situação dificulta a inserção no mercado de trabalho, comprometendo a autossuficiência destas pessoas.
O projeto oferecerá quatro cursos de qualificação profissional aos venezuelanos solicitantes de refúgio: “Auxiliar de Cozinha e Confeitaria”, “Auxiliar Administrativo”, “Manicure, Pedicure e Designer de Sobrancelha”; e “Instalador de Refrigeração e Climatização Doméstica”.
Todos os cursos terão uma carga horária ampliada no componente Língua Portuguesa Instrumental, visando aprimorar o domínio do idioma e facilitar a inserção dos venezuelanos no mercado de trabalho. O projeto “Oportunizar” oferecerá 120 vagas, sendo 30 para cada um dos cursos.
Além disso, vai articular encontros com segmentos empresariais da indústria, comércio e serviço no estado do Amazonas para sensibilizar sobre o tema da empregabilidade dos solicitantes de refúgio e garantir a efetividade da capacitação ofertada pelo projeto. Também será criado um banco de dados com informações profissionais de solicitantes de refúgio e refugiados que será compartilhado com empregadores interessados nesta mão de obra.
Os cursos se iniciam em duas semanas, e as inscrições já estão sendo feitas na Cáritas Arquidiocesana de Manaus (Av. Joaquim Nabuco, 1023 – Centro), das 8h às 11h. Algumas vagas serão reservadas para refugiados e solicitantes de refúgio de outras nacionalidades.
De acordo com a diretora do CENTEC, Eliana Pinheiro, a geração de emprego e renda é condição indispensável para integrar solicitantes de refúgio, refugiados e migrantes na sociedade local. Eliana ressalta que quanto maior o número de empresários sensibilizados com a causa, melhores serão as condições de vida dos venezuelanos que se encontram em Manaus.
“O CENTEC tem como missão formar pessoas para que tenham uma oportunidade melhor em relação à própria vida. Trabalhar com os solicitantes de refúgio da Venezuela é dar continuidade a essa missão. Faremos a capacitação que essas pessoas precisam para ter a possibilidade de uma vida mais estruturada. E queremos estar com eles até sua inclusão no mercado de trabalho”, explica a professora.
Para a representante do ACNUR no Brasil, Isabel Marquez, os venezuelanos e venezuelanas “trazem conhecimentos e experiências profissionais que certamente contribuirão para as cidades que os acolhem, pois têm imensa vontade de trabalhar e produzir”.
Segundo ela, “desenvolver esse potencial possibilita não somente a integração socioeconômica e o alcance de autonomia em termos de sustento próprio, mas também contribui com conhecimentos e aportes sociais e culturais”.
A presença da população venezuelana em Manaus tem aumentado nos últimos anos, como reflexo do fluxo de venezuelanos que deixam seu país devido aos desafios políticos, socioeconômicos e de direitos humanos. Segundo dados da Polícia Federal, já são mais de 7 mil solicitações de refúgio feitas no Amazonas por venezuelanos, nos últimos dois anos. Deste total, mais de 5 mil foram feitas em 2018.
Em Manaus, abrigos administrados por organizações da sociedade civil têm acolhido famílias venezuelanas no âmbito da estratégia de interiorização conduzida pelo governo federal. Os abrigos são apoiados pelo ACNUR e por parceiros locais. Cerca de 165 venezuelanos chegaram à capital amazonense por meio desta estratégia.
FAO e secretaria de desenvolvimento agrário assinam acordo de cooperação
agosto 17, 2018 17:01
Parque Nacional das Sempre-Vivas, em Minas Gerais. Foto: Wikimedia Commons/Carolina Teixeira de Melo Franco (CC)
Em busca do reconhecimento e da proteção de tradicionais sistemas agrícolas brasileiros, foi assinado na quinta-feira (16) um acordo de cooperação no qual a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) reconhece a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário (SEAD) como ponto focal no levantamento e na identificação de candidaturas para o programa de reconhecimento de Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial (SIPAM).
“O SIPAM é o equivalente ao reconhecimento que a UNESCO dá aos sítios históricos de Patrimônio Mundial da Humanidade. São práticas que têm um diferencial em termos de criatividade, de originalidade, de história e de tradição. Práticas que favorecem comunidades vulneráveis e a biodiversidade do país e, por isso, devem ser reconhecidas e valorizadas”, afirmou Alan Bojanic, representante da FAO no Brasil, durante a assinatura do acordo.
Segundo o representante, são sistemas que atravessaram adversidades ao longo da história e, mesmo assim, foram capazes de manter suas tradições culturais, diversidade agrícola e cumprir uma função ecológica.
Para o secretário especial de agricultura familiar e do desenvolvimento agrário, Jefferson Coriteac, esse acordo de cooperação entre FAO e SEAD trará o reconhecimento mundial da importância das famílias e das comunidades na construção e, especialmente, na perpetuação da cultura tradicional agrícola brasileira.
“A partir do momento que se reconhece a importância dessas práticas, elas ganham uma proteção ainda maior e visibilidade internacional”, explicou Coriteac.
A iniciativa vai ao encontro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) lançados pelas Nações Unidas na Agenda 2030, como erradicação da pobreza em todas as suas formas (ODS 1), igualdade de gênero (ODS 5), produção e consumo sustentável (ODS 12), vida e ecossistemas terrestres (ODS 15), entre outros.
Atualmente, são 51 patrimônios agrícolas em todo o mundo que possuem este reconhecimento da FAO. Na América do Sul, apenas Peru e Chile possuem sistemas com tal reconhecimento.
No Brasil, a agricultura tradicional dos apanhadores de flores sempre-vivas da Serra do Espinhaço, no território Alto Jequitinhonha em Minas Gerais, está a um passo de se tornar o primeiro patrimônio agrícola mundial brasileiro. Nesta região, vivem comunidades rurais tradicionais que, ao longo de séculos, realizam a coleta de flores sempre-vivas e mantêm o cultivo ancestral de roças e criação de animais.
A candidatura ao selo de Patrimônio Mundial da FAO foi oficializada em junho deste ano, durante o I Festival dos Apanhadores e Apanhadoras de Flores Sempre-Vivas, em Diamantina.
Modo de vida de quilombolas e descentes de indígenas
O sistema agrícola dos apanhadores de sempre-vivas abrange os municípios de Bocaiúva, Olhos D’Água, Diamantina, Buenópolis, Couto Magalhães, Serro e Presidente Kubitscheck.
O sistema representa o modo de vida de cerca de 20 comunidades, entre quilombolas e descendentes de indígenas que se estabeleceram há séculos na região. Nesta primeira etapa, o SIPAM vai abranger apenas os municípios de Diamantina, Presidente Kubitschek e Buenópolis.
As sempre-vivas são espécies características endêmicas do cerrado. As comunidades preservam conhecimentos ancestrais no manejo das flores, no cultivo de roças e na criação de raças caipiras de animais.
Chefe da ONU lembra vítimas de atentado que matou Sergio Vieira de Mello
agosto 17, 2018 16:56
Guterres fala durante cerimônia para lembrar o aniversário de 15 anos do ataque terrorista contra a sede da ONU em Bagdá. Foto: ONU/Eskinder Debebe
Lembrando os 22 colegas mortos no ataque terrorista contra a sede da ONU em Bagdá 15 anos atrás, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu nesta sexta-feira (17) que os funcionários da Organização prestassem homenagem àqueles que morreram dando andamento à missão e continuando a trabalhar em “lugares perigosos com o objetivo de torná-los mais seguros”.
Em uma cerimônia na sede da ONU em Nova Iorque por ocasião do Dia Mundial Humanitário, Guterres lembrou os compromissos da Organização — incorporados por aqueles que morreram em 19 de agosto de 2003 — de se posicionar ao lado daqueles que sofrem e entregar a ajuda da qual precisam.
Depois de observar um minuto de silêncio, ele disse que os funcionários assassinados fizeram o “último sacrifício pelos valores da Carta das Nações Unidas e pela população do Iraque”.
A cerimônia ocorreu em frente ao memorial construído para lembrar o ataque, onde foram colocadas a bandeira da ONU que estava na sede da Organização no país e o nome das vítimas.
“Eu era pessoalmente próximo de alguns dos colegas (que morreram), incluindo seu chefe, o incomparável Sergio Vieira de Mello”, disse Guterres. “Tive a oportunidade de ficar em estreito contato com ele durante seu trabalho no Timor Leste, onde teve papel essencial em garantir a liberdade da população do país e uma transição suave para a soberania”.
Dirigindo-se à plateia, que incluía familiares e colegas dos mortos, Guterres declarou que o ataque foi “enorme perda pessoal para muitos de nós”. “E uma perda ainda maior para as famílias daqueles que foram assassinados”.
O ataque, o primeiro a ter a ONU como alvo proposital, “foi traumatizante para toda a Organização, e aprendemos algumas lições muito difíceis”, disse Guterres, explicando que “os mecanismos existentes para a proteção dos sobreviventes e das famílias das vítimas eram inadequados, e levou muitos anos para melhorá-los”.
O chefe da ONU disse lamentar que “antes e desde aquele dia, os funcionários da ONU tornaram-se alvo daqueles que querem nos enfraquecer e fazer com que tenhamos medo de exercer nosso ofício”. Citando os ataques contra a ONU em Argel, Cabul, Mogadíscio, Abuja e outras localidades, ele disse que “terroristas tentaram nos silenciar e nos banir”.
Apesar de ter afirmado que o trabalho da ONU “nunca está livre de riscos”, o secretário-geral enfatizou que está “comprometido em melhorar a segurança de todos os funcionários das Nações Unidas”.
“A bandeira azul das Nações Unidas tremula alto porque mulheres e homens corajosos levam-na aos lugares mais longínquos do mundo”, disse, lembrando que “o legado dos trabalhadores humanitários, dos capacetes-azuis, dos militares e civis que deram suas vidas é duradouro e sempre estará presente nos nossos corações”.