Professora do DF debate igualdade de gênero nas escolas com obras escritas por mulheres
июля 25, 2018 13:09No Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, lembrado em 25 de julho, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) homenageia a professora do Distrito Federal Gina Vieira, que tem se destacado pelo ensino da igualdade de gênero nas escolas a partir de obras escritas por mulheres.
A homenagem faz parte da ação digital “Destaque Laranja”, uma iniciativa do Sistema ONU no Brasil em reconhecimento a pessoas, cidades, escolas, universidades, empresas e outras instituições com atuação relevante para a prevenção e eliminação da violência contra as mulheres e meninas no país.
Filha de doméstica e pedreiro, Gina Vieira recebeu dos pais semialfabetizados um grande investimento em educação. “Aprendi com os meus pais que os estudos transformariam minha vida. Eles diziam que a educação me daria super poderes. Eu acreditei e hoje estou aqui”.
A ideia que norteou a professora hoje muda a vida de centenas de adolescentes e jovens da rede pública de ensino do Distrito Federal.
Mulher negra, nascida na região administrativa de Ceilândia, na periferia de Brasília, Gina Vieira é criadora do projeto pedagógico “Mulheres Inspiradoras”, e trabalha pela igualdade de gênero dando visibilidade para grandes mulheres que muitas vezes ficam esquecidas.
Durante sua história, Gina mobilizou esforços para reverter a educação falha e a falta de credibilidade que a estrutura social impõe às crianças negras. O racismo socialmente naturalizado se estendeu durante todo o processo de construção de sua carreira. Até hoje, mesmo tendo seu trabalho reconhecido e premiado nacionalmente, essa condição afeta consideravelmente a vida da professora.
“Na escola, eu percebi o que já havia fora dela: o racismo. Mas, na infância, tive uma professora chamada Creuza Lima. Diferentemente de todas as pessoas que faziam chacota comigo, riam de mim, do meu cabelo, da minha dificuldade em aprender, ela me colocou no colo, me deu carinho e se dedicou para que eu aprendesse. Isso mexeu muito comigo na época e me inspirou a ser uma professora como ela.”
Anos mais tarde, Gina cursou magistério, fez concurso público para a Secretaria de Educação do Distrito Federal e passou a exercer a profissão dos sonhos. Primeiramente, lecionando para crianças e, após a conclusão da Faculdade de Letras, para adolescentes.
“Foi um choque de realidade para mim, pois comecei a dar aulas para estudantes que não estavam interessados em aprender. Eles faziam muita bagunça, se comportavam muito mal. Eu ficava pensando o porquê isso acontecia, já que a educação tinha mudado a minha realidade.”
Nesse contexto, a professora passou por um período de adoecimento psicológico e, em sua recuperação, decidiu entrar na realidade da juventude, fazendo quatro pós-graduações em áreas conexas à adolescência.
Durante os estudos, percebeu que os e as jovens estudantes não interagiam bem com a escola por falta de motivação. “A escola, com seu sistema arcaico, não abraçava esse estudante. Então, o estudante também não se sentia pertencente àquele ambiente”.
Foi então que decidiu inovar na metodologia de ensino. A fim de superar as dores que sua trajetória de mulher negra e periférica trazia e que via estampada também em seus alunos, a educadora, apaixonada por literatura, levou para a sala de aula obras escritas por mulheres.
“Escolhi as obras, duas delas escritas por mulheres que tinham mais ou menos a idade das e dos estudantes — Malala Yousafzai e Anne Frank. Mas também selecionei nomes como Carolina Maria de Jesus e Cristiane Sobral, aqui de Brasília.”
A partir daí, nascia, em 2013, o projeto “Mulheres Inspiradoras”, com o intuito de ampliar o conhecimento e contribuir para o debate em torno da necessidade de desconstrução do machismo.
Dando visibilidade para mulheres que muitas vezes ficam esquecidas, Gina dá especial atenção às mulheres negras. Antes do projeto, a professora não havia tido contato com questões referentes à igualdade de gênero e nem à literatura negra.
“Estudando e pesquisando para ministrar as aulas, eu pude me empoderar nessa pauta. Com as obras de Cristiane Sobral, me reconheci negra e me senti motivada a assumir minha negritude”, disse.
A professora, que alisava o cabelo havia pelo menos 20 anos, decidiu então assumir sua identidade negra, passar pela transição capilar para manter o cabelo crespo.
Histórias de vida
Após a leitura das obras de personalidades femininas, os estudantes tinham um encontro com algumas mulheres com variadas profissões e trajetórias de vida.
Foram médicas, professoras, atrizes e, uma delas, a professora Creuza, exemplo na infância de Gina Vieira. Depois desta etapa, os jovens levaram, para a sala de aula, histórias das mulheres inspiradoras de sua vida. O auge do projeto foi a publicação de um livro com mais de 100 histórias que envolviam mães, tias, avós e amigas dos estudantes.
O projeto “Mulheres Inspiradoras” venceu diversos prêmios. O primeiro deles, em 2014, foi o 4º Prêmio Nacional de Educação e Direitos Humanos, apoiado pelo Ministério da Educação. Em seguida veio o 8º Prêmio Professores do Brasil e o 10º Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero. O projeto também foi o vencedor do 1º Prêmio Ibero-Americano.
Com a parceria internacional do Banco de Desenvolvimento da Américas Latina (CAF), a iniciativa foi implementada em mais de 30 escolas, atingindo cerca de 3 mil jovens. Em média, 80 professores e professoras estão sendo treinados como multiplicadores da ação; e mais de 1,5 mil obras escritas por mulheres já foram distribuídas para instituições de ensino.
Em dia mundial, ONU Brasil homenageia ativistas e artistas negras
июля 25, 2018 12:13
Roda de conversa promovida pela ONU em Brasília celebrou o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha. Foto: ONU
Em uma roda de conversa para celebrar o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho, o coordenador-residente da ONU Brasil, Niky Fabiancic, homenageou na terça-feira (24), em Brasília (DF), ativistas e artistas negras, como Sueli Carneiro, Carolina Maria de Jesus, Marielle Franco e Angela Davis. Para o dirigente, os esforços dessas mulheres permitiram enxergar o sexismo e o racismo como elementos estruturantes da sociedade.
“Hoje, graças à luta incansável de Sueli, Maria Carolina e muitas outras mulheres, conhecidas e anônimas, sabemos um pouco mais sobre quão difundidos são os seus efeitos (do racismo e machismo). Sabemos, por exemplo, por dados do IPEA (o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que no Brasil as mulheres negras ainda não alcançaram 40% da renda dos homens brancos e ganham cerca de 60% em relação a mulheres brancas”, afirmou Fabiancic.
Também segundo o IPEA, 39,1% das mulheres negras empregadas estão inseridas em relações precárias de trabalho.
“Sabemos também, de acordo com o Mapa da Violência, que, enquanto os assassinatos de mulheres brancas reduziram 10% entre 2003 e 2013, os de mulheres negras aumentaram 54%. No Brasil, a cada três mulheres em privação de liberdade, duas são negras”, acrescentou o chefe das Nações Unidas no Brasil.
Fabiancic ressaltou ainda que “mulheres negras são sub-representadas na política, nos cargos de chefia, no governo, nos meios de comunicação” e também na própria ONU. O dirigente explicou que a Organização tem adotado medidas para reverter essa disparidade em seus quadros funcionais.
Atualmente, a ONU Brasil conta com o Grupo Temático de Gênero, Raça e Etnia da América Latina. A instituição também tem o apoio do comitê “Mulheres Negras rumo a um Planeta 50-50”, além de parcerias com os movimentos de mulheres negras do país e da região.
Mulheres negras pelos direitos humanos
Fabiancic enfatizou que “as mulheres negras têm estado, desde sempre, na linha de frente pela defesa dos direitos humanos”. “Destaco neste sentido o trabalho exemplar da Marielle Franco”, afirmou o dirigente, lembrando a trajetória da vereadora do Rio de Janeiro, assassinada em março último.
“Quando as mulheres negras avançam, toda a sociedade avança. Ou ainda, como disse Angela Davis, ‘quando as mulheres negras se movimentam, toda a estrutura da sociedade se movimenta com elas'”, defendeu o coordenador-residente.
Na avaliação do dirigente, as mulheres afrodescendentes são uma população central para que o Brasil, a América Latina e o Caribe alcancem os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU e as 169 metas da Agenda 2030. Segundo Fabiancic, o conceito da filosofia ubuntu — ‘Eu sou, porque nós somos’ —, lema de Marielle, resume o espírito dessa agenda global.
“Para muito além dos dados, as mulheres afrolatinoamericanas, caribenhas e da diáspora são a chave para pensarmos novos sentidos para democracia, igualdade e justiça social. Levar a sério as dinâmicas em torno de gênero e raça na região é o mesmo que estender a toda a sociedade um convite para pensarmos um mundo novo”, completou.
Cantora Gaby Amarantos pede fim da violência contra mulheres negras
июля 25, 2018 11:05Em mensagem para o 25 de julho, Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha, a cantora Gaby Amarantos pede o fim da violência contra as brasileiras negras. No Brasil, sete em cada dez mulheres vítimas de assassinato são afrodescendentes. Gaby está com a ONU na campanha #VidasNegras. Saiba mais http://bit.ly/vnegras.
Foto de capa do vídeo: Wikimedia Commons/Gareth Jones
Colômbia: novo Congresso marca transição de grupo rebelde para a política, diz ONU
июля 24, 2018 18:00
Missão da ONU recolhe armamentos em floresta colombiana. Foto: ONU/Hector Latorre
Celebrando a realização da primeira sessão de um novo Congresso na Colômbia, as Nações Unidas disseram na sexta-feira (20) que a inclusão de ex-rebeldes no corpo legislativo marcou sua transição “das armas para a política”.
Em comunicado à imprensa, a Missão de Verificação da ONU na Colômbia e outras operações das Nações Unidas no país disseram que “comemoram a instalação hoje do Congresso colombiano resultante das eleições legislativas mais participativas e pacíficas em décadas”.
Eles acrescentaram que a inclusão no Senado e na Câmara de representantes da Força Alternativa Revolucionária do Comum, nome do partido criado a partir da desmobilização da guerrilha das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), “marca a transição deste grupo das armas para a política e a transição do país do conflito para a busca pela reconciliação”.
Em 2016, o governo e as FARC assinaram um acordo de paz, encerrando um conflito de 50 anos. Em meados de março deste ano, as primeiras eleições legislativas após o acordo de paz foram realizadas, atraindo milhões de colombianos para as urnas.
As entidades da ONU observaram que os desafios da violência e da pobreza persistem nas áreas rurais do país, e disseram esperar que, “em um clima de harmonia nacional, o trabalho de um novo Congresso seja decisivo para a extensão da presença do Estado sob o império da lei e a consolidação da paz em toda a Colômbia”.
Companhias de abastecimento de México e Brasil buscam ampliar capacidades técnicas
июля 24, 2018 16:57
As duas maiores instituições da América Latina e do Caribe na área de abastecimento de alimentos, a mexicana Aserca e a brasileira Conab, buscam fortalecer suas capacidades técnicas. Foto: EBC
Representantes dos dois maiores órgãos latino-americanos na área de abastecimento de alimentos, a mexicana Agência de Serviços para a Comercialização e Desenvolvimento de Mercados Agropecuários (Aserca) e a brasileira Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), reúnem-se até quinta-feira (26) na Cidade do México para trocar experiências e fortalecer a segurança alimentar nos dois países.
O encontro busca ampliar as capacidades técnicas dos dois órgãos em termos de apoio à comercialização, operação de mecanismos de gerenciamento de risco de preços e certificação de armazenamento.
No início da missão, o representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no México, Crispim Moreira, destacou que tanto a Aserca quanto a Conab são patrimônios institucionais de seus respectivos países, portanto, a troca de experiências facilitará com que a FAO continue promovendo a cooperação latino-americana entre todos os países da região.
“A FAO apoia as políticas de cooperação e desenvolvimento do México na Mesoamérica e no Caribe, bem como os espaços para o fortalecimento da agricultura familiar que o Brasil impulsiona nos países da América do Sul. Com este intercâmbio, as políticas públicas serão fortalecidas para favorecer as compras públicas, o armazenamento estratégico de grãos, a economia social camponesa e a pequena produção”, afirmou Moreira.
O diretor-geral da Aserca, Alejandro Salido, manifestou interesse em conhecer o trabalho da Conab no que diz respeito ao desenho de modelos de armazenamento e mecanismo de regulação e certificação.
“O México busca ter uma rede eficiente de armazenamento rural que permita a incorporação de financiamento e uma comercialização organizada. Neste sentido, conhecer a experiência da Conab sobre o desenho de modelos de armazenamento e mecanismo de regulação e certificação será de grande benefício”, afirmou Salido.
O presidente da Conab, Francisco Bezerra, disse que o Brasil busca aumentar sua participação no mercado mundial de grãos, por isso, é necessário ter as melhores técnicas de armazenamento, políticas de comercialização e estratégias de produção e exportação.
“O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de açúcar, café, soja, carne bovina e frango. Grande parte dessa produção permanece no mercado interno, por isso, temos grande necessidade de implementar políticas de segurança alimentar, comercialização e armazenagem”, afirmou.