ARTIGO: Como aumentar a eficiência do setor de transporte rodoviário do Brasil?
июля 20, 2018 15:01
Sob pressão após a greve de caminhoneiros, o governo federal reagiu determinando, entre outras medidas, um congelamento de curto prazo do preço do diesel na bomba de gasolina. Foto: Agência Brasil/Marcelo Camargo
Por Antonio Nucifora*
O setor de transporte rodoviário no Brasil vem se reorganizando após a greve dos caminhoneiros em maio.
Sob pressão, o governo reagiu determinando, entre outras medidas, um congelamento de curto prazo do preço do diesel na bomba de gasolina, a isenção de pedágio para caminhões vazios e a introdução de uma tabela mínima de frete para os caminhoneiros, medidas que passam agora pela avaliação do Congresso. Com essas medidas, o país está perdendo uma ótima oportunidade de tratar as causas raiz do setor de transporte rodoviário.
O Brasil tem um dos custos logísticos mais altos da América Latina. A consultoria Ilos estima que os custos logísticos representam em média 12,2% do PIB do Brasil.
Nos Estados Unidos, esse custo fica ligeiramente abaixo de 8%. A maior parte deve-se a transporte (6,8% do PIB), seguido por estoque (4,5%), armazenamento (0,9%) e custos administrativos (0,5%). Em 2016, por exemplo, o custo da exportação de soja para Xangai (China) era 33% mais alto saindo de Mato Grosso do que de Illinois (EUA), embora o custo do transporte marítimo fosse mais elevado a partir dos EUA.
A eficiência logística no Brasil é baixa por causa da predominância do transporte rodoviário. O Relatório do Banco Mundial “De Volta ao Planejamento: Como Preencher a Lacuna de Infraestrutura no Brasil em Tempos de Austeridade” ressalta que, no Brasil, a matriz logística permanece dominada pelo transporte rodoviário, com 63-65% da tonelada-quilômetro útil, contra 21% na China e 39% na Índia.
Essa sobrecarga do modal rodoviário ocasiona grandes custos. O Brasil poderia economizar cerca de 0,7% do PIB a cada ano se deslocasse frete do modal rodoviário para o ferroviário e o aquaviário. Além dos custos mais baixos, haveria significativos benefícios ambientais e de segurança nas estradas.
Esse custo é exacerbado por ineficiências significativas do próprio setor.
Primeiro, uma parcela importante do transporte rodoviário é atomizada e carece de profissionalização para ser eficiente. O setor presta seus serviços com uma frota de 2,3 milhões de veículos, cerca de metade dos quais (55%) é de propriedade de empresas transportadoras estabelecidas, ao passo que a outra parte (45%) é composta de caminhoneiros autônomos, segundo dados da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).
Ou seja, metade do setor é concentrada e relativamente eficiente, enquanto a outra é atomizada, mal organizada e globalmente muito menos eficiente, pois não pode tirar proveito das economias de escala que os grandes volumes de carga proporcionam. Uma empresa média de transporte rodoviário possui cerca de nove veículos, uma cooperativa média tem mais de quarenta, e a maioria dos caminhoneiros autônomos, apenas um.
Em segundo lugar, comparados com os de outros países, os custos operacionais do setor de transporte rodoviário brasileiro são altos e devem-se sobretudo ao elevado consumo de combustível, à idade avançada da frota e à baixa manutenção.
Sem considerar manutenção e depreciação, os gastos com combustível são responsáveis pela maior parte dos custos operacionais (>40%), seguidos por salários (cerca de 30%), seguro e pedágios (que somam 30%). À guisa de comparação, apontemos que, nos EUA, o combustível representa cerca de 36% dos custos operacionais totais, e na Europa, entre 20 e 30%.
No entanto, estes custos são muito mais altos na China (60%). As frotas antigas e a manutenção deficiente também elevam os custos operacionais por causa das panes frequentes. No Brasil, os veículos dos caminhoneiros autônomos têm em média 19 anos de idade, os veículos de cooperativas, 14 anos, e os das transportadoras, 9 anos.
Para tratar dessa questão, é preciso acelerar a substituição da frota brasileira por caminhões mais novos, o que pode melhorar a eficiência energética média da frota e o desempenho do setor em matéria de emissões (de gases). Os EUA e diversos outros países recorreram com sucesso às parcerias com montadoras e vendedores de tecnologia para fazer avançar a fronteira da eficiência energética dos caminhões novos.
As más condições das rodovias são outro importante fator dos altos custos operacionais no Brasil. Apenas 12% das rodovias são pavimentadas e, segundo o mais recente relatório da CNT, só 40% da malha rodoviária pavimentada estão em boas condições.
Entre 2000 e 2013, o investimento em infraestrutura no Brasil foi de meros 2,1% do PIB, contra 8,6% na China, 4,8% na Índia e 4,3% no Chile. Um estudo do Banco Mundial de 2012 estima que mais de 0,7% do PIB é perdido devido à má qualidade das rodovias, à engenharia deficiente da malha e aos congestionamentos das rodovias, o que resulta em perda de tempo e aumento dos custos operacionais dos veículos.
Mas o que precisa mudar para aumentar a rentabilidade e a competitividade do setor de transporte rodoviário?
O diagnóstico é claro. Ao resolver ineficiências operacionais da malha rodoviária federal pavimentada e as ineficiências da matriz dos modais de transporte, o Brasil poderia economizar 1,4% do PIB, o que equivale a 2,2 vezes o atual gasto anual no setor de transporte.
Portanto, ao invés de subsidiar, o que não resolve as causas do baixo desempenho do setor, o governo precisa:
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- Incentivar a profissionalização e facilitar a consolidação de firmas por meio de treinamento e da simplificação da regulamentação;
- Avançar na direção de uma frota de caminhões mais eficiente e mais verde impondo regulação adequada e facilitando o acesso ao financiamento;
- Aumentar o investimento em infraestrutura rodoviária e manutenção para reduzir os custos operacionais, reduzindo os gargalos que restringem a participação eficiente do setor privado
- E, contemplando o longo prazo, tomar medidas destinadas a mudar gradualmente a matriz de modais do setor de forma a aumentar a utilização de transporte ferroviário e aquaviário.
Entretanto, o Congresso parece preferir mais subsídios e controle de preços. Agora é o momento para que os pré-candidatos às eleições deste ano mostrem que são contra paliativos pedindo que o Congresso trate das causas raiz.
*Economista-chefe do Banco Mundial para o Brasil, já trabalhou para a instituição na Europa, na África e no Oriente Médio. Esta coluna foi preparada em colaboração com Grégoire Gauthier, especialista sênior de transportes, do Banco Mundial.
Parlamentares latino-americanos alertam que leis contra a fome podem virar letra morta
июля 20, 2018 13:40
Comércio intra-regional é um dos caminhos para combater a fome na América Latina e no Caribe. Foto: ONU
Sem orçamento e sem monitoramento, as leis de combate à desnutrição na América Latina e Caribe não terão efeito. O alerta vem das Frentes Parlamentares regionais contra a Fome, que se reuniram neste mês (12), na Guatemala. Mais de 30 deputados e senadores de 19 países discutiram medidas para evitar que legislações sobre o tema virem letra morta, sobretudo tendo em vista a meta da ONU para acabar com a malnutrição até 2030.
Para o chefe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) na Guatemala, Diego Recalde, além de criar textos constitucionais, “os órgãos legislativos têm uma grande responsabilidade em monitorar as leis e outras ações dos poderes do Estado, garantindo orçamentos adequados e responsabilização”.
Representando as frentes parlamentares, a senadora mexicana e coordenadora-geral dos organismos, Luisa María Calderón, afirmou que a meta do grupo para 2018 será garantir que países ajam em conformidade com as políticas sobre malnutrição já vigentes em cada país.
FAO capacita consultores legislativos
O secretário-geral do Parlamento latino-americano e caribenho (PARLATINO), Pablo González, lembrou a importância dos consultores legislativos, que auxiliam os representantes eleitos na elaboração de propostas de leis. Com isso, garantem que as novas políticas sejam sustentáveis.
A FAO capacitou recentemente mais de 30 consultores legislativos em temas como investimento responsável para a agricultura e sustentabilidade nos sistemas alimentares.
Engajamento de parlamentares ganha apoio dentro e fora da região
Nos dias 29 e 30 de outubro, será realizada a Primeira Cúpula Mundial Parlamentar contra a Fome e a Malnutrição. O evento acontece na Espanha, onde as 19 Frentes Parlamentares latino-americanas e caribenhas apresentarão seus compromissos e iniciativas na área. A expectativa dos participantes é estimular a criação de organismos similares em outras regiões.
O encontro global terá o suporte da FAO, do PARLATINO, da Cooperação Espanhola e do Parlamento Espanhol. A parceria reafirma o apoio de instituições como a ONU e o Ministério das Relações Exteriores da Espanha às frentes contra a fome. A Agência Brasileira de Cooperação e o Programa Fome Zero na Mesoamérica, do governo do México, também apoiam as entidades parlamentares.
A União Europeia e a Secretaria-Geral Ibero-americana já reconheceram as contribuições dos grupos de deputados e senadores empenhados em erradicar a desnutrição.
Comissão reúne-se em Brasília para monitorar implementação nacional dos objetivos globais
июля 20, 2018 13:19
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável foi estabelecida pelos países-membros da ONU no fim de 2015. Foto: ONU
A Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), formada por organizações do setor público, privado e da sociedade civil brasileira, e representantes da ONU no Brasil reuniram-se na semana passada (13) em Brasília (DF) para monitorar a implementação dos objetivos globais nacionalmente.
O encontro serviu de preparação para a participação da delegação brasileira no Fórum Político de Alto Nível sobre Desenvolvimento Sustentável, realizado em Nova Iorque esta semana (de 16 a 18).
Durante o encontro, foi anunciada a criação da Câmara Conjunta Brasil-ONU para o monitoramento dos ODS no país. Participaram do encontro Henrique Villa, secretário-executivo da Comissão Nacional dos ODS; e Niky Fabiancic, coordenador-residente da ONU no Brasil.
Também estiveram presentes o embaixador José Antônio de Carvalho, subsecretário-geral de Meio Ambiente, Energia e Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e negociador brasileiro para as mudanças climáticas; e o diretor do Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Daniel Balaban.
As Nações Unidas no Brasil submeteram oficialmente à Comissão Nacional para os ODS os documentos temáticos para os ODS 6, 7, 11, 12 e 15, que correspondem a água potável e saneamento, energia limpa e acessível, cidades e comunidades sustentáveis, consumo responsável e produção e vida terrestre, respectivamente.
O objetivo desses documentos é servir de subsídio para as discussões da comissão e auxiliar na construção de propostas para a implementação da Agenda 2030.
Durante o Fórum de Alto Nível em Nova Iorque, a Presidente do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC), Marie Chatardová, disse que se os países quiserem cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030, precisarão acelerar o progresso em direção a um mundo mais justo. “Há progresso, mas geralmente não a uma velocidade suficiente, para conquistar os ODS até 2030”, disse.
ODS e crescimento econômico
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) organizaram uma série de debates econômicos para discutir os desafios conjunturais e estruturais do Brasil, no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A primeira reunião foi realizada na terça-feira (17), com o tema “Perspectivas e Desafios Atuais e Futuros do Brasil e seu Impacto no Progresso da Agenda 2030”.
Denominados “Debates Econômicos dos ODS”, os eventos são realizados trimestralmente e envolvem altos funcionários de governo (Executivo, Legislativos e empresas públicas relevantes), organizações empresariais e organizações internacionais, bem como economistas da Presidência da República. O diretor Daniel Balaban representou o Centro de Excelência contra a Fome no primeiro debate.
AIEA firma parceria com Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear para treinamento de profissionais
июля 20, 2018 12:53
O diretor-geral adjunto e chefe do Departamento de Ciências Nucleares e Aplicações da AIEA (à direita), Aldo Malavasi, e o presidente da Sociedade Brasileira de de Medicina Nuclear (SBMN), Juliano Cerci. Foto: AIEA
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) assinou nesta semana (18) um acordo de parceria com a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN) que irá aumentar as oportunidades de treinamento para profissionais de medicina nuclear na América Latina e no Caribe, assim como nos países africanos de língua portuguesa.
Enquanto no passado ambas as organizações trabalharam juntas nas áreas de medicina nuclear e imagens moleculares, o acordo — o primeiro do tipo assinado pela AIEA na América Latina — agora definirá e formalizará essa colaboração.
“O Brasil oferece um pano de fundo ideal para o acordo de parceria, pois o país abriga o maior número de centros de medicina nuclear na região da América Latina e Caribe, com várias instalações de última geração relacionadas a todas as áreas da medicina nuclear”, disse a chefe da seção de Medicina Nuclear e Diagnóstico por Imagem da Divisão de Saúde Humana da AIEA, Diana Paez.
“Também oferece uma excelente variedade de programas de treinamento e uma sólida comunidade de especialistas de alto nível”, salientou.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer e as doenças cardiovasculares, ambas classificadas como doenças não transmissíveis (DNTs), estão entre as principais causas de morte no mundo.
De 56,4 milhões de mortes globais em 2015, 17,7 milhões foram atribuídas a doenças cardiovasculares, enquanto 8,8 milhões ocorreram devido ao câncer. Além disso, o número de pacientes afetados está aumentando devido, em parte, ao aumento do tempo de vida, bem como às mudanças no estilo de vida.
A medicina nuclear desempenha um papel importante no cuidado de tais doenças, desde sua detecção precoce, até a fase de tratamento e, posteriormente, no monitoramento das respostas dos pacientes.
A parceria envolverá a colaboração entre as duas organizações na formação complementar de profissionais de medicina nuclear e de imagens moleculares, e aqueles de disciplinas afins, nos Estados-membros da AIEA.

Da esquerda para a direita, Raul Ramirez Garcia, do Departamento de Cooperação Técnica da AIEA; Enrique Estrada-Lobato, da Divisão de Saúde Humana da AIEA; Juliano Cerci, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN); Aldo Malavasi, vice-presidente diretor geral e chefe do Departamento de Ciências Nucleares e Aplicações da AIEA; e Diana Paez, da Divisão de Saúde Humana da AIEA; após a assinatura de um acordo prático formalizando a parceria. Foto: AIEA/D. Calma
Em particular, terá como alvo profissionais da região da América Latina e do Caribe, bem como países africanos de língua portuguesa. Como parte de sua cooperação, a AIEA e a SBMN identificarão centros clínicos ou universidades de alto nível para a formação de profissionais e bolsistas de medicina nuclear.
As organizações também fornecerão conhecimentos especializados e outros apoios relacionados ao treinamento, visando aumentar a capacidade nesse campo. Finalmente, ajudarão na identificação de centros clínicos de alto nível adequados para participação em projetos de pesquisa coordenados pela AIEA.
“O acordo vai construir uma ponte oficial para o caminho da colaboração”, disse Juliano Cerci, presidente da SBMN. “Esperamos fortalecer os campos de pesquisa e aprendizado, mas também questões práticas como regulamentação e educação formal”.
Há mais de 50 anos, a SBMN tem sido uma organização líder no campo da imagiologia molecular e medicina nuclear no Brasil, trabalhando para promover e ampliar o conhecimento, uso e acesso à medicina nuclear no país. Sua missão é promover, apoiar e estimular o progresso, a melhoria e a disseminação da medicina nuclear, bem como ciências e disciplinas relacionadas nos campos científico, ético e econômico.
“A AIEA tem o prazer de formalizar nossa colaboração com a SBMN”, disse o diretor-geral adjunto e chefe do Departamento de Ciências Nucleares e Aplicações da AIEA, Aldo Malavasi.
“Esse acordo prático é o primeiro do tipo na América Latina e no Caribe e reunirá o alcance institucional da AIEA e a expertise da SBMN em medicina nuclear, permitindo melhores oportunidades de treinamento e capacitação em toda a região. A cooperação entre a AIEA e organizações profissionais é essencial para expandir apoio ao trabalho, alcance e impacto da agência.”
Centro da ONU recebe delegação de agência de saúde animal e vegetal da Coreia do Sul
июля 19, 2018 19:08
Integrantes da missão junto aos profissionais da PANAFTOSA e do LANAGRO/MG. Foto: PANAFTOSA
O Laboratório de Referência do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (PANAFTOSA) e o Laboratório Nacional Agropecuário (LANAGRO/MG) para febre aftosa receberam em julho (de 10 a 12) uma missão de nove profissionais da Agência de Quarentena Animal e Vegetal (APQA, na sigla em inglês), da Coreia do Sul.
Durante a visita, foram apresentados, para conhecimento dos visitantes, aspectos do Plano Hemisférico de Erradicação da Febre Aftosa (PHEFA) e do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa no Brasil (PNEFA), assim como atividades de erradicação da febre aftosa realizadas pelo Serviço Veterinário Estadual (IMA) em Minas Gerais.
A pesquisadora veterinária da Divisão de Febre Aftosa da agência sul-corana, Ku Bok Kyung, apresentou o programa de controle da doença atualmente implementado no país asiático.
A missão visitou também as instalações do laboratório de biocontenção para febre aftosa. Além disso, foram discutidos assuntos relacionados à cooperação técnica entre as instituições para o desenvolvimento e validação de kits para diagnóstico rápido de doenças vesiculares.