Movimentos sociais apóiam luta de resistência da Vila Autódromo
20 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaPor Convergência de Comunicação da Cúpula dos Povos – MST
Mais de 1500 militantes de movimentos sociais do campo, da cidade e indígenas realizaram hoje (20) um ato de solidariedade à comunidade Vila Autódromo, localizada na Baixada de Jacarepaguá, próximo à Barra da Tijuca. A comunidade é ameaçada de despejos há mais de 20 anos, e sofre agora nova ofensiva por causa dos Jogos Olímpicos, que serão realizados em em 2016.
Para Luis Zarref, dirigente da Via Campesina, a importância do ato se dá porque “a Vila Autódromo é um símbolo de resistência de todas as comunidades que estão sofrendo despejos pelos megaeventos, grandes investimentos, corporações, enfim, pelos projetos de desenvolvimento que são contrários ao interesses do povo. É um ato também que simboliza a luta dos desterritorializados, que estão sendo expulsos não só no espaço urbano, mas no campo e nas comunidades tradicionais”.
O ato teve início ontem (19), com uma vigília iniciada na comunidade por parte dos movimentos. Pela manhã de hoje, os manifestantes fizeram uma marcha simbólica por toda a comunidade, seguida por fala de militantes a apoiadores. Por fim, o ato fechou uma das faixas da Avenida Salvador Dali, em uma área próxima ao Riocentro, no qual as reuniões e negociações da Rio+20 estão ocorrendo.
Polícia – A presença policial durante todo o ato foi constante. Os moradores contam que desde às cinco da manhã, helicópteros sobrevoavam a comunidade. Além disso, a polícia criou uma barricada, que contou com mais de 50 policiais e o “Caveirão”, veículo de operações especiais do BOPE, para impedir que o ato avançasse ao Riocentro. De acordo com Zarref, A polícia tem o papel de intimidar a comunidade. Muitas pessoas não vieram por medo; nós identificamos vários policiais à paisana, e a comunidade fica com medo de sofrer repressão, porque os à paisana identificam quem está mobilizando da comunidade para depois perseguir.
O dirigente da Via Campesina acredita que a presença policial que intimida e, em última instância, reprime, “é sinônimo de um processo de militarização que o Rio vem sofrendo desde as Unidades Policiais de Pacificação (UPPs), e vem no sentido de evitar que a comunidade massifique a luta. Mas eles não foram capazes disso porque os movimentos sociais, em solidariedade à comunidade, vieram massivamente, e fizeram um ato bom, bonito e importante”.
História de resistência – A Vila Autódromo surgiu no início dos anos 1960 como uma vila de pescadores. Depois da construção do Autódromo de Jacarepaguá, em 1975, os operários que trabalhavam na construção foram se agregando à vila de pescadores. Os moradores foram empurrados em uma área aterrada, localizada no meio do Autódromo e da margem da lagoa. Em 1992, a Prefeitura do Rio de Janeiro solicitou a remoção da comunidade, alegando que ela causava “dano estético e ambiental”; em 2007, por conta dos Jogos Pan-Americanos, a comunidade sofreu mais uma ameaça de remoção para que se construíssem projetos imobiliários na região. A remoção pretende remover o autódromo e a vila para os jogos olímpicos.
Caso ocorra um despejo, cerca de 4000 pessoas que moram na área serão expulsas de suas casas.
Segundo Maria Motta, membro da Associação de Moradores da Vila Autódromo e que vive lá há dez anos, “O projeto da prefeitura de remoção existe há muitos anos atrás, desde que o prefeito Eduardo Paes era subprefeito da Barra ele queria nos remover. Esse projeto é feito em conchavo com as construtoras, que são as ao longo de todos esses anos, como a Carvalho Rocha, que financia as campanhas de Eduardo Paes financia. A área da comunidade é muito valorizada, por isso somos alvo de cobiça dos grandes empreendedores imobiliários”.
Maria ressalta que, se ocorra o despejo de fato, que está previsto para acontecer neste ano, a população não tem garantido um local para o qual seria realocada. “Um projeto do prefeito era nos realocar em uma área cujas terras foram compradas de uma forma excusa pela prefeitura. As terras pertenciam ao jogador Ronaldo Fenômeno, e valiam na época 250 mil reais. A prefeitura pagou 19 milhões e 900 mil reais pelo terreno. Por isso, maioria dos moradores se recusou a fazer o cadastro para ir para lá. Não sabemos o que vai acontecer, vai ser uma guerra”.
Projeto Popular – A Vila autódromo conta com um projeto de urbanização criado em conjunto pela comunidade em parceria com os setores de Arquitetura da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O projeto, que está em construção, é criado por meio de assembleias com a população, que pode debater os pontos do projeto e votá-lo.
Entre outras coisas, o projeto popular reafirma o Direito à Moradia da comunidade e tem propostas para a Habitação, Saneamento, Transporte, Infraestrutura, Meio Ambiente e Desenvolvimento Cultural. Segundo Maria, “O projeto popular tem o apoio da comunidade, e por isso é opostos ao da prefeitura, que vem de cima para baixo e é fruto dos interesses das grandes construtoras”.
Presidente peruano reforça modelo extrativista como forma de desenvolvimento
20 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaPor Coordenação Andina de Organizações Indígenas (Caoi)
Enquanto o Peru é sacudido por múltiplos conflitos sociais provocados pela imposição da mineração em territórios indígenas, o presidente do país, Ollanta Humala, ratificou-se no extrativismo como modelo de desenvolvimento durante sua intervenção na Conferência de Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
O Presidente Humala, eleito com a promessa de que, em seu governo, a água valeria mais que o ouro, disse na Rio+20 que o Peru trabalha para melhorar a atividade extrativa, conseguindo a harmonia com o meio ambiente por meio dos marcos normativos para melhorar os padrões ambientais e a saúde da população, segundo informou o jornal A República de Lima. Humala também anunciou o fortalecimento do Ministério do Ambiente e uma institucionalidade ambiental com o compromisso de um modelo de desenvolvimento sustentável, inclusivo e coletivo.
Discurso e realidade
Desde que a ditadura de Alberto Fujimori mudou a Constituição e as leis, os sucessivos governos, formalmente democráticos, não têm mudado o modelo. Ao contrário, aprofundaram-no, emitindo diversas normas de criminalização da luta social. Centenas de líderes indígenas processados por defender os direitos de suas comunidades são o resultado dessas políticas. Ollanta Humala não é a exceção: durante os onze meses que está no governo, os conflitos socioambientais se multiplicaram e a repressão às comunidades indígenas tem custado novos mortos, feridos e processados.
Fazer questão do desenvolvimento extrativista não só aumenta os conflitos sociais, aprofunda as brechas econômicas e sociais, torna vulneráveis os direitos fundamentais e saqueia e maltrata à Mãe Terra. A Coordenadora Andina de Organizações Indígenas reafirma que a mineração é incompatível com o desenvolvimento sustentável. Não há “mineração boa” e “mineração má”, menos ainda nos países pobres, onde os governos se submetem ao mandato das corporações multinacionais.
Povos indígenas presentes na Marcha dos Povos em defesa dos bens comuns
20 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaPor Convergência de Comunicação da Cúpula dos Povos – Coorednação Andina de Organizações Indígenas (Caoi)
Centenas de indígenas concentraram-se no centro de Rio de Janeiro para encontrar-se com os diferentes grupos que se mobilizaram ontem (20) na grande marcha dos povos em defesa dos bens comuns e contra a mercantilización da Mãe Terra.
As vozes foram diferentes e diversas: homens, mulheres, jovens, trabalhadores, indígenas uniram-se numa única voz para denunciar o modelo capitalista hegemônico que está mercantilizando os bens comuns, em especial os que se encontram nos territórios indígenas.
Alberto Achito, indígena emberá da Colômbia, dirigente da Organização Nacional Indígena da Colômbia (Onic), integrante da Caoi, manifestou que os presidentes que se encontram em Rio+20 não levam em conta as vozes do povo. “O presidente Santos tem um modelo energético extrativista e fala dos objetivos do milênio. Não lhe interessa o que o povo precisa, só as concessões mineiras, se levar os resguardos indígenas, o água e nos despojar de tudo”, denunciou.
Já Nancy Iza, coordenadora de Mulheres Caoi, disse que a marcha global foi um esforço de todas as vozes diversas que se uniram na Cúpula. “Acredito que não haverá mudanças reais no documento final da Rio+20, os presidentes não mudarão coisas para incluir as propostas de todos os povos”, advertiu.
A marcha concentrou quase 80 mil pessoas de diferentes países ao longo das principais ruas de Rio de Janeiro. Amanhã, no Riocentro a delegação da Caoi participará dos diálogos da Rio+20 oficial.
Via Campesina: Cúpula dos Povos leva 80 mil às ruas por justiça social e ambiental
20 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindapor Rafael Soriano, do MST/Via Campesina
Mais de 80 mil homens e mulheres formaram um mar de pessoas que, organizadas, cobriram a avenida Rio Branco no Centro do Rio de Janeiro, desde a Candelária até a Cinelândia. A mobilização global convocada pelo Grupo de Articulação da Cúpula dos Povos e engrossada por diversos movimentos e pela população do Rio de Janeiro foi o marco do levantar das vozes dos povos de todo o mundo contra o teatro barato encenado na conferência oficial, a Rio+20, por chefes de Estado e grandes corporações, incapazes de promover justiça social e ambiental.
Num chamado à unidade de toda a classe trabalhadora mundial, o dirigente da Via Campesina, João Pedro Stédile, convocou o grande contingente a um pacto histórico: “propomos o pacto do Rio de Janeiro dos povos em luta, para que voltemos para nossos locais de origem e façamos todos os dias lutas contra os inimigos certos”. Stédile alerta para o mundo que os grandes poluidores, usurpadores dos recursos naturais dos povos, que destroem a vida na Terra, tem “nome e sobrenome, é o capitalismo, as grandes transnacionais, Monsanto, Cargil, os bancos!”
O líder Sem Terra alerta para o momento em que vivemos, de capitalismo em crise, quando os capitalistas ficam mais gananciosos. “Avançam para querer se apoderar dos recursos do mundo, para se protegerem da crise e, em seguida, com a privatização da terra, água e até do ar (com os créditos de carbono), poderem retomar seus ciclos de usurpação”, explicou. No entanto, frente a um contingente jamais visto em lutas nas ruas do país desde 1989, deixou a esperança de que novos tempos podem estar se anunciando, no qual os povos, “cansados das políticas do neoliberalismo, caminham por suas próprias pernas”.
Os gritos de todas as comunidades, movimentos e povos em luta foram ouvidos ao longo da manifestação, que pautou o fim deste sistema de exploração do trabalho e dos recursos naturais até esgotá-los, a construção de novos paradigmas, como a alternativa da Agroecologia na alimentação do planeta, os direitos, culturas e demandas dos povos. Trazendo o que chamou de calor revolucionário dos povos do Caribe, Camille Chalmers, do Haiti, foi enfático ao exigir o fim do colonialismo em países como Curaçao e Porto Rico, do neocolonialismo sofrido pelo Haiti e esbravejou: “as tropas da ONU devem sair do Haiti já!”
Os milhares de homens e mulheres, camponeses, urbanos, de todos os confins do planeta faziam coro contra a “economia verde”, proposta dos bancos e chefes de Estado para o planeta: o capitalismo travestido de sustentabilidade. Iniciativas como os REDD ou mesmo a farsa dos créditos de carbono, que financeirizam a própria vida e o meio ambiente, foram rechaçadas pelas populações que ora convergem para uma plataforma mundial de soluções apresentadas e já praticadas pelos próprios povos do mundo para “esfriar o planeta” a partir da agricultura camponesa e um novo marco econômico.
Para Elizabeth Mpofu, que veio do Zimbábue na delegação da Via Campesina Internacional, “a Rio +20 deveria se chamar Rio -20! A economia Verde não é solução, pois somente serve às transnacionais, não respeita os Direitos Humanos, não respeita as gentes. Cria, por sua vez, uma agenda de destruição. Nós vamos destruir esta agenda”. A militante exemplificou como a concentração de terras é um dos problemas mais sérios do mundo, citando o caso recente do Paraguai em que, assim como outros semelhantes, viu tombar lideranças camponesas que contrariam o latifúndio devastador.
Durante o grande ato, o evento oficial da ONU foi lembrado, destacando-se o desprestígio das principais economias dos países do Norte para com os “governos puxa-sacos do Imperialismo”, que se encontram na Rio +20. Foi questionada a cessão por parte do governo brasileiro de um aporte de US$ 10 bilhões (dez bilhões de dólares) ao fundo de resgate dos bancos europeus em crise. No total, somando as colaborações de todos os países do G-20, serão desprendidos US$ 456 bi dos cofres públicos para a crise do capitalismo.
Enquanto os diplomatas e chefes de Estado de uma centena de países se encontraram para redigir um único documento (que não prevê punições e metas para os poluidores), um sem número de organizações da sociedade promovem a Cúpula dos Povos, por Justiça Social e Ambiental e em Defesa dos Bens Comuns. Além de grandes mobilizações de rua, acontece uma série de debates e momentos de convergência nos eixos que englobam as denúncias das reais causas da crise, as soluções já praticadas pelos povos e as agendas e unidades para a luta nos próximos períodos.
Movimentos sociais fazem ato contra a Vale e demais grandes corporações
19 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaNo final da tarde de ontem, os movimentos socais participantes da Cúpula dos Povos realizaram um ato contra a transnacional Vale, em frente à sede da empresa, entre as ruas Santa Luzia e Graça Aranha, no Rio de Janeiro.
Participaram do ato por volta de 3 mil pessoas dos movimentos sociais da Via Campesina, Marcha Mundial das Mulheres, entre outros. A ação foi coordenada pela Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale. A Vale foi escolhida como alvo simbólico para representar as grandes corporações internacionais, cujas práticas desrespeitam os trabalhadores, degradam o meio ambiente e roubam dos povos o controle sobre seus territórios.
“A Vale usa a mesma estratégia em todos os países do mundo. Em Moçambique, são 1365 famílias sofrendo repressão desde 2004; a Vale viola os direitos dos trabalhadores, não dando condições de segurança e higiene e já controla todo o território centro-norte de Moçambique, através da construção de uma linha férrea”, denunciou Jeremias Vunjanhe, militante da ONG Justiça Ambiental, que havia sido impedido de entrar no Brasil na semana passada.
Além dos problemas sociais, os manifestantes focaram os impactos ambientais da empresa. “Estamos aqui, também, com um relatório de insustentabilidade, fruto de um ano de pesquisa e trabalho de aprofundamento, para desmontar as declarações que a própria empresa faz no relatório de sustentabilidade dela”, afirmou o padre Dário Bossi, da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Bossi citou como exemplos desse impacto a construção da usina siderúrgica TKCSA, cuja poluição foi demonstrada por estudos, e que está sob intervenção do Ministério Público, e a duplicação da ferrovia de Carajás, no norte do país, que ameaça dobrar os impactos já existentes da mineração na Amazônia.
Scott, do sindicato USW (United Steelworkers), do Canadá, denunciou as péssimas condições enfrentadas pelos trabalhadores da Vale em seu país. A empresa provocou a maior greve da história do Canadá, que durou 11 meses entre 2009 e 2010, porque usou a recente crise mundial como justificativa para realizar demissões em massa, diminuir salários e aumentar jornadas, entre outros retrocessos nos direitos dos trabalhadores. “Isso é uma vergonha”, afirmou. Naquele país, só nesse ano já foram contabilizadas 16 mortes de trabalhadores em operações da Vale.
Adelaide, do Movimento Xingu Vivo para Sempre, relatou o processo de privatização da Amazônia impulsionada pela construção da usina de Belo Monte, cujo consórcio construtor conta com a presença da Vale. Larissa, da Marcha Mundial das Mulheres, denunciou como as obras de empresas como a Vale afetam em especial as mulheres, com o aumento da prostituição e da violência. Moisés, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), denunciou o processo de criminalização do povo que luta contra as grandes empresas.
Durante o ato, foi projetado um vídeo na parede do prédio da empresa, com imagens de denúncia dos problemas causados pelas transnacionais. Os manifestantes também atiraram tinta vermelha contra o prédio, para simbolizar o rastro de sangue deixado pela Vale, e por todas as grandes corporações, nos territórios que atingem.
“As transnacionais são culpadas pelo atraso dos povos. Não podemos permitir que os ricos sigam sendo ricos e os pobres sigam sendo pobres”, afirmou Jairo Rubio, da Via Campesina na Colômbia.
A Vale, que está presente em 38 países na América, África e Ásia, foi eleita a pior empresa do mundo, por voto popular, no prêmio Public Eye Award.
“O protesto culminou no lançamento do Relatório de Insustentabilidade da Vale“.
Equipe de convergência