UNICEF pede que professores e alunos sejam ouvidos na formulação de políticas educacionais
June 14, 2018 19:23
Para UNICEF, políticas devem ser decididas com professores e estudantes que vivem diariamente a rotina escolar. Foto: Governo do Brasil
Em encontro com lideranças do setor privado, governo e sociedade civil, a chefe do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Florence Bauer, defendeu na quarta-feira (13) mais união entre instituições brasileiras, como forma de alcançar as metas da ONU sobre educação. Evento reuniu especialistas para debater os desafios à universalização do ensino público de qualidade. Na pauta do debate, estava o papel dos professores na formulação de políticas.
O chefe de educação do UNICEF no Brasil, Ítalo Dutra falou sobre o currículo escolar, que em sua avaliação deve ser entendido de forma ampla e inclusiva. “Não tem como pensar em estratégias de educação disseminadas a partir de uma visão central, deslocadas da realidade escolar. Professor tem que ser autor, estudante tem que ser autor, todos precisam ter voz”, defendeu.
O representante da agência da ONU ressaltou que é fundamental abrir espaço “para escutar quem está todo dia, com mais de 48 milhões de alunos, dentro da escola”. “A escola sozinha não dá conta dos desafios. Mas a mudança não acontece sem ouvir quem está, diariamente, na escola”, completou.
Também presente no evento, a estudante Thaiane alertou para os obstáculos à permanência na escola. A jovem, negra e aluna durante toda a vida de instituições públicas, contou que hoje faz Biologia numa universidade federal. Mas sua trajetória é exceção onde mora.
“Eu ia para a escola andando, com um grupo de amigos. A cada ano, o grupo ficava menor. Essa realidade é muito triste. Eu cheguei à universidade, mas a maioria dos meus amigos não. E não é uma questão de esforço. Essa ideia de que a juventude não quer nada não é verdade, a gente quer um futuro. Também não é questão do professor. Eles fazem o que podem. A escola faz o que pode. Mas ela sozinha não muda a realidade. É preciso pensar nas condições socioeconômicas em que esse aluno está inserido”, disse.
Thaiane lembrou que o Brasil tem educação gratuita, mas “falta ser de qualidade”.
Para o secretário de educação de Pernambuco, Frederico da Costa Amâncio, são necessários mais recursos para reverter o atual necessário, sobretudo na educação básica, fundamento das demais etapas da vida escolar.
“Avançamos no acesso escolar. Avançamos na ampliação dos anos de escolaridade da população. Mas a qualidade não tem avançado como gostaríamos. E temos um altíssimo abandono escolar no ensino fundamental, que se estende pelo ensino médio. Temos que investir nessas etapas de ensino. Para mudar o cenário atual, financiamento e gestão são pontos fundamentais”, disse.
Modelos para a inclusão
Ângela Dannemann, superintendente da Fundação Itaú Social, enfatizou que as políticas e programas educacionais devem levar em conta a realidade onde estão inseridas as instituições. “Temos que unir esforços e, ao mesmo tempo, ter um olhar para as especificidades locais. Não podemos falar em uma única educação integral, por exemplo. Precisamos de mais de um modelo, em linha com os diferentes contextos do país”, afirmou.
Para Liliane Garcez, gerente de projetos do Instituto Rodrigo Mendes, há uma parcela de meninos e meninas que estão excluídos e precisam de mais atenção — os jovens com deficiência.
“Quando a escola olha para uma criança com deficiência, vê primeiro a deficiência. Esse é um entrave cultural que precisa ser quebrado. Para falar em direitos humanos, precisamos inverter a centralidade, saindo da deficiência e olhando para a pessoa”, destacou a especialista. E complementou: “Quem sempre foi excluído tem pressa”.
Florence Bauer encerrou o dia de debates com um convite a todos os participantes, para que se engajem e se unam ao UNICEF e seus parceiros. “Trabalhar junto é essencial para mudar para melhor a educação brasileira”, disse a dirigente.
“Setor privado, vocês têm um papel fundamental na garantia dos direitos de crianças e adolescentes. E podem ajudar em várias áreas: advocacy, geração de conhecimento, inovação, busca por soluções. Esse é nosso convite: sejam porta-vozes dessa agenda e se juntem a nós por todo menino e toda menina, sem exceção.”
O evento terminou com o estudante e cadeirante Eduardo Salgado, de Gravatá (PE), que fez uma apresentação de dança e mostrou que a deficiência não é uma barreira, mas uma porta para a arte e a inclusão.
Conflito no leste da Ucrânia continua deslocando famílias; vídeo
June 14, 2018 19:06Acompanhe o tema clicando aqui e aqui.
Refugiada síria desafia tradições no papel de líder comunitária no Líbano
June 14, 2018 18:53
Alya baseia-se nos valores da sua criação para liderar e orientar comunidade de refugiados sírios no Líbano. Foto: ACNUR
Com a cabeça enrolada em um lenço preto e branco – um cachecol tradicionalmente usado como adorno entre os homens árabes – Alya caminha confiante entre as tendas de um assentamento informal na região norte do Vale do Beca, no Líbano.
A refugiada síria, de 50 anos, confere se está tudo bem com os outros refugiados no assentamento. Ela é a líder por aqui, também conhecida como “shawish”, um papel tradicionalmente atribuído a homens refugiados que supervisionam e gerenciam assentamentos informais no Líbano.
“Isso me dá força”, diz ela com orgulho. Em árabe, “shawish” – uma palavra masculina – tem sido usada para se referir a homens que gerenciam trabalho estrangeiro no Líbano. Mas, desde o início do conflito na Síria e do fluxo de mais de 1 milhão de refugiados ao país, a palavra encontrou um novo significado.
Em assentamentos de tendas informais, um shawish é a pessoa nomeada por outros refugiados para coordenar, supervisionar e tomar as decisões. A maioria dos shawish no Líbano são homens.
O papel de Ayla é excepcional, e ela atribui suas qualidades de liderança à sua criação. “Recebo minhas forças do meu pai”, conta. “Ele nos ensinou a sermos fortes e defender nossos direitos. Mesmo que um homem esteja discutindo, não devemos nos calar, precisamos responder”.
Nascida e criada em uma sociedade tradicional e patriarcal, Alya disse que seu pai a inspirou a ser corajosa. “Ele foi criticado por todos, incluindo seus próprios irmãos, mas ele realmente queria que suas filhas tivessem os mesmos direitos dos homens”.
Alya, uma mulher solteira, foi forçada a fugir da Síria com suas três irmãs e o sobrinho, órfão há mais de cinco anos. Eles cruzaram a fronteira para o Líbano na região de Qusayr, buscando refúgio no norte do Vale do Beca.
Eles se instalaram em um pequeno assentamento informal de tendas com cerca de seis outras famílias de refugiados, a maioria deles liderados por mulheres que perderam seus parceiros para a guerra.
Enquanto em alguns assentamentos de refugiados o shawish pode se tornar uma figura autoritária e antidemocrática, todos dizem que com Alya é diferente.
“Todos eles queriam que eu fosse o shawish”, explica. “Eles disseram que eu poderia administrar e gerenciar o assentamento e participar de reuniões”. O trabalho de Alya inclui atuar como ponto focal de organizações locais e as autoridades, bem como da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e de outros órgãos da ONU.
Alya garante que todo o auxílio seja distribuído igualmente entre os refugiados no assentamento. “Se houver algum conflito entre os refugiados, eu os reúno para resolver o problema”, explica. Os refugiados a amam, e tanto mulheres como homens confiam nela. Sua porta está sempre aberta para aqueles que desejam passar para tomar um café ou conversar.
“Ela é nossa mãe”, diz Bakra, uma mãe solteira de dois filhos que reside no assentamento. “Ela é tão calma e respeitosa com todos, nós confiamos nela, eu nunca iria trocá-la por um shawish homem”.
Alya raramente deixa o assentamento. Ela não pode trabalhar porque sofre de pressão alta e problemas cardíacos, o que a impede de trabalhar na agricultura, onde suas irmãs e a maioria dos outros refugiados na região conseguem seu sustento.
Quando ela não está administrando o assentamento, está cuidando do sobrinho que perdeu os pais para a guerra. “Minhas irmãs nos apoiam, mas é difícil. Há muito a se pagar e não há renda suficiente”, diz. Alya está entre os muitos refugiados sírios em situação de vulnerabilidade no Líbano, que após anos no exílio temporário estão lutando para sobreviver.
Ela não é paga para fazer seu trabalho como um shawish. “Eu faço isso para ajudar os outros”, afirma. “Pode ser um desafio às vezes, mas isso me dá um tremendo senso de propósito e orgulho”.
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June 14, 2018 18:42Confira neste vídeo e saiba mais sobre o trabalho do FIDA clicando aqui.
Oficinas capacitam atores envolvidos no acolhimento de refugiados e migrantes no Brasil
June 14, 2018 18:37
Em Boa Vista, migrantes e refugiados venezuelanos que viviam acampados na praça Simón Bolívar foram transferidos para dois abrigos temporários. Foto: ACNUR/Reynesson Damasceno
A Rede de Capacitação a Refugiados e Migrantes lança em Brasília na segunda-feira (18) um projeto de capacitação de atores envolvidos no acolhimento, integração e interiorização de refugiados e migrantes no Brasil. O evento ocorrerá às 18h e também celebrará o Dia Mundial do Refugiado, comemorado em 20 de junho.
O projeto “Atuação em rede” oferecerá oficinas gratuitas nos próximos 18 meses, tendo início nas cidades que atualmente participam do processo de interiorização de migrantes e refugiados venezuelanos.
A capacitação abordará temas como regularização migratória, direitos sociais, humanos e trabalhistas, nova Lei de Migração e lei de refúgio e combate à xenofobia e à exploração de mão de obra.
O público-alvo é composto por integrantes dos comitês de acolhida e dos grupos de trabalho sobre empregabilidade instituídos nos municípios participantes do programa de interiorização, gestores e equipes dos abrigos, servidores públicos e organizações da sociedade civil envolvidas no acolhimento, no abrigamento e na integração de migrantes e refugiados, estudantes e jornalistas. O primeiro treinamento ocorrerá em julho.
Compõem a Rede a Escola Superior do Ministério Público da União (ESMPU), a Procuradoria Federal dos Direitos dos Cidadãos (PFDC), o Ministério Público do Trabalho (MPT), a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), a Organização Internacional para as Migrações (OIM), a Conectas Direitos Humanos, o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH) e a Defensoria Pública da União (DPU).
A iniciativa foi criada com o objetivo de fomentar a discussão em torno da necessidade de se estabelecer políticas locais de acolhimento, abrigamento e integração para refugiados e migrantes.
A solenidade de lançamento do projeto será aberta ao público, sem necessidade de inscrição, e contará com a presença da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, além de autoridades do Ministério Público da União e de órgãos públicos e representantes de instituições não governamentais.
De acordo com dados do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), o Brasil reconheceu, até o final de 2017, um total de 10.145 refugiados de diversas nacionalidades. Com relação às migrações, segundo a pesquisa Atlas Temático: Observatório das Migrações em São Paulo, elaborada por pesquisadores da Unicamp, entre os anos de 2000 e 2015 chegaram ao Brasil 880 mil imigrantes.
Mais recentemente, após o fluxo de bolivianos, haitianos, cubanos e africanos, o Brasil passou a receber refugiados e imigrantes venezuelanos. Estima-se que mais de 50 mil venezuelanos chegaram ao país desde o início de 2017.
Serviço
Lançamento do projeto “Atuação em rede: capacitação dos atores envolvidos no acolhimento, integração e interiorização de refugiados e migrantes no Brasil”
Data: 18 de junho, às 18h
Local: Auditório Pedro Jorge I da ESMPU (SGAS 604 – L2 Sul), Brasília-DF