Consulado da Suíça no Rio exibe filme sobre a luta das mulheres pelo direito de votar; participe
августа 16, 2018 17:01
Imagem: divulgação/Consulado da Suíça
O Consulado Geral da Suíça no Rio de Janeiro, com apoio do Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil (UNIC Rio), realiza neste sábado (18) às 15h, no teatro do Centro Cultural Correios, a apresentação do filme suíço: “Mulheres Divinas”.
Escrito e dirigido pela cineasta Petra Volpe, “Mulheres Divinas” narra a campanha das mulheres suíças pelo direito ao voto nos anos 1970. Enquanto a maioria dos países ocidentais introduziu o sufrágio feminino na primeira metade do século 20, a Suíça precisou esperar até 1971 – sendo um dos últimos países na Europa a conceder o direito às mulheres. No Brasil, o direito foi garantido em 1932.
O longa convida o espectador a pensar sobre o problema da desigualdade de gênero, mostrando hábitos e tradições machistas que contribuem para um cenário de opressão social constante, e elucida a importância das transformações geradas pela revolução feminina. Após a exibição, haverá um debate sobre o tema, mediado por Thiago Brito.
“A Suíça é conhecida pelos bancos, chocolates, relógios e por ser um dos países mais inovadores do mundo. Por isso mesmo, é tão surpreendente descobrir que, até 1971, as mulheres suíças não tinham direito ao voto”, diz a coordenadora de assuntos culturais e relações institucionais do Consulado da Suíça, Monika Füger.
O evento acontecerá na galeria da exposição “70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos”, com obras de Otávio Roth. Realizada pela primeira vez no Rio de Janeiro, a mostra apresenta 30 xilogravuras que traduzem os ideais de paz e igualdade defendidos nos artigos do documento.
Aprovada em 10 de dezembro de 1948, a Declaração foi construída a partir do esforço conjunto da comunidade internacional para garantir que os horrores da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) – incluindo o Holocausto – jamais se repetissem.
Considerada a base da luta universal contra a subjugação e abuso de povos, o documento estabelece obrigações para a atuação de governos, de maneira a garantir a proteção de comunidades e indivíduos.
A entrada é franca, com espaço sujeito à lotação (200 lugares).
Serviço: Exibição do filme “Mulheres Divinas”, de Petra Volpe
18 de agosto – 15h
Classificação: 14 anos
Legendado em português
Centro Cultural Correios – Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro, Rio de Janeiro
Livro e documentário sobre Sergio Vieira de Mello são lançados no Rio
августа 16, 2018 16:48Clique para exibir o slide.A contribuição do diplomata brasileiro Sergio Vieira de Mello para os direitos humanos e o trabalho humanitário globalmente foi tema do livro e do documentário “Sergio Vieira de Mello: o legado de um herói brasileiro”, lançados nesta quinta-feira (16) no Rio de Janeiro.
Morto em 2003, em um atentado terrorista em Bagdá que vitimou outros 21 funcionários da ONU, Sergio Vieira de Mello atuou durante mais de 30 anos nas Nações Unidas, tendo como última função o cargo de alto-comissário para os direitos humanos e de chefe da missão da Organização no Iraque.
O livro e o documentário foram lançados no Palácio do Itamaraty, centro da capital fluminense, durante evento que reuniu diplomatas, militares e profissionais das Relações Internacionais. O lançamento teve apoio do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio).
“Há 15 anos, morria o diplomata brasileiro Sergio Vieira de Mello, vítima de um atentado no Iraque. É algo extremamente triste para seus familiares e amigos, e que também marcou uma mudança para a ONU. Nossa bandeira já não significava mais proteção”, disse o diretor do UNIC Rio, Maurizio Giuliano, durante a abertura do evento.
Segundo Giuliano, o aniversário da morte do diplomata brasileiro é o momento de homenagear aqueles que lutam pela ajuda humanitária internacional e pela defesa dos direitos de civis em meio a conflitos armados.
“Em 2003, o sacrifício dos nossos colegas deu novas bases para a ONU seguir seu trabalho em circunstâncias mais difíceis. (…) Sérgio, com sua liderança como chefe do ACNUDH (Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos) deixou um legado. Este livro mostra esse legado”, salientou.
Escrito pelo jornalista Wagner Sarmento, o livro conta a trajetória de Vieira de Mello e tem o prefácio do político e jurista timorense José Ramos-Horta, vencedor do Nobel da Paz em 1996.
O diplomata brasileiro tornou-se referência em direitos humanos mundialmente por seu trabalho no Timor Leste, sendo responsável por importantes avanços sociais e políticos no país. Ele comandou a missão da ONU que atuou na transição do Timor Leste como um país independente, entre 1999 e 2002.
O documentário dirigido por André Zavarize e conduzido pela ZAZ Produções levou cinco anos para ficar pronto, após mais de 100 entrevistas realizadas em quase 80 mil quilômetros rodados e pesquisas sobre temas como paz e refúgio.
“O projeto surgiu da necessidade de imprimir memória sobre o trabalho de Sergio Vieira de Mello”, disse Zavarize, durante o evento de lançamento. Ele lembrou que o legado do diplomata brasileiro permanece importante em um contexto de mais de 68 milhões deslocados globalmente por conta de conflitos e perseguições.
“Não foi um trabalho fácil, porque se trata de um personagem gigantesco”, declarou Sarmento. “(O projeto) não era só sobre a história do Sergio, mas sobre a história humana. Ele esteve envolvido nos principais conflitos do início deste século”.
Na época de sua morte, Vieira de Mello era representante máximo das Nações Unidas no Iraque e visto como o futuro secretário-geral da ONU, devido à grande habilidade de negociação e paixão pelo trabalho em campo.
Em mensagem de vídeo transmitida durante o evento, o vencedor do Nobel da Paz José Ramos-Horta afirmou que o diplomata era “inspirado pela compaixão aos desfavorecidos”, tinha um “sentimento de solidariedade humana” e era “fiel aos valores e princípios da Carta da ONU”.
“A principal mensagem que o livro e o documentário querem deixar é de que o Sergio vive. Vivemos em um mundo com uma quantidade sem precedentes de refugiados. É urgente manter a memória de Sergio viva”, declarou Sarmento, lembrando que Sergio é uma inspiração para os profissionais que trabalham com refugiados no Brasil.
Parceira da ONU, organização Cáritas atende venezuelanos em São Paulo
августа 16, 2018 16:38
Caritas São Paulo e ACNUR promovem atendimento de cadastro inicial com venezuelanos recém-interiorizados na sede da organização. Foto: CASP/NiltonCarvalho.
O Centro de Referência para Refugiados da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP) realizou na última semana o atendimento de cadastro inicial aos venezuelanos que chegaram à capital paulista na quinta etapa do processo de interiorização do governo federal, realizada no fim de julho (24).
Assim como no caso dos demais grupos interiorizados, o atendimento de cadastro inicial teve apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). Os venezuelanos se cadastraram para tirar dúvidas sobre documentação e obter informações sobre serviços que o centro de referência oferece às pessoas em situação de refúgio.
A partir do cadastro, a equipe da CASP identifica as necessidades dos recém-chegados para direcioná-los ao setor de assistência, que providencia vagas em albergues e oferece informações sobre como acessar a saúde pública e dar entrada em pedidos para benefícios de assistência social.
Já o setor de integração encaminha os migrantes e solicitantes de refúgio para cursos de português, e os auxilia na elaboração de currículos e na busca de oportunidades de trabalho. Também orienta crianças, jovens e adultos que desejam retomar os estudos no Brasil.
Na Cáritas São Paulo, solicitantes de refúgio e refugiados recebem também acompanhamento da equipe de proteção no que diz respeito aos processos de solicitação de refúgio junto ao Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), além de atuar para que essa população tenha acesso a direitos no país.
Outro programa de atendimento é o de saúde mental, que presta apoio a pessoas que passaram por traumas e/ou têm dificuldades de adaptação no Brasil, como preconceito, falta de oportunidades de emprego e barreiras em relação à língua.
Desde o início de 2018, o Centro de Referência para Refugiados da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo já atendeu 452 venezuelanos e organizou, no início de julho (4), um mutirão de cadastro que efetuou o atendimento de cadastro inicial de cerca de 90 pessoas.
Somente no primeiro semestre deste ano, o número de solicitações de refúgio feitas por venezuelanos no Brasil aumentou de 17.865 para 35.540. Com a contínua chegada de venezuelanos em Roraima, o governo federal desenvolveu o projeto de interiorização, processo voluntário que busca criar melhores condições de integração para aqueles que cruzam a fronteira.
De acordo com a disponibilidade de vagas, solicitantes de refúgio e migrantes que queiram participar do processo são selecionados, passam por exame de saúde, regularizam documentação, são imunizados e transportados às demais cidades de acolhida.
De acordo com dados da Casa Civil, a capital paulista foi a cidade que mais recebeu venezuelanos interiorizados. Do total de 820 pessoas que partiram de Roraima de forma voluntária para outros estados, 287 foram para São Paulo.
O processo é organizado pelo governo federal com apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), da Organização Internacional para as Migrações (OIM), do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
A atuação das agências da ONU se dá de forma integrada e com responsabilidades compartilhadas. O ACNUR estabelece o perfil da população registrada nos abrigos e identifica os interessados em participar da estratégia de interiorização. A OIM e o UNFPA atuam na informação prévia ao embarque, garantindo que as pessoas possam tomar uma decisão informada e consentida, sempre de forma voluntária. O UNFPA promove diálogos com as mulheres para que se sintam fortalecidas neste processo.
A OIM ajuda também na organização dos voos e acompanha os venezuelanos participantes do processo, que assinam termo de voluntariedade. O PNUD tem promovido seminários com o setor privado para estimular a inserção de trabalhadoras e trabalhadores venezuelanos no mercado de trabalho brasileiro.
ENTREVISTA: ‘Defenda as pessoas, não os Estados’, diz alto-comissário da ONU em fim de mandato
августа 16, 2018 15:16Clique para exibir o slide.Nos últimos quatro anos, Zeid Ra’ad Al Hussein, alto-comissário da ONU para os direitos humanos, têm pressionado governos no mundo todo, exposto violações dos direitos humanos e defendido firmemente os direitos das vítimas.
Sua nomeação pelo secretário-geral das Nações Unidas em 2014 foi um marco: ele se tornou o primeiro asiático, muçulmano e árabe a ocupar o cargo.
Antes disso, Zeid já tinha uma longa carreira, na ONU e como diplomata jordaniano. Ele atuou em seu país em diversos cargos, notavelmente como embaixador para os Estados Unidos e representante permanente das Nações Unidas em Nova Iorque, tendo exercido o mandato de presidente do Conselho de Segurança em janeiro de 2014.
Ao longo de sua carreira, Zeid demonstrou compromisso com a lei internacional, tendo importante papel no estabelecimento do Tribunal Penal Internacional, como o primeiro presidente da Assembleia de Estados-membros do Estatuto de Roma — transformando o tribunal de uma ideia para a ação — e, oito anos depois, supervisionando a definição legal do crime de agressão e a jurisdição do tribunal sobre o tema.
Em sua última entrevista ao UN News, o chefe de direitos humanos da ONU afirma que a “real pressão sobre seu trabalho vêm das vítimas e daqueles que sofreram e esperam muito de nós”.
“Governos são mais do que capazes de se defender. Não é meu trabalho defendê-los. Tenho que defender a sociedade civil, os grupos vulneráveis, os marginalizados, os oprimidos. Essas são as pessoas que nós, no nosso escritório, precisamos representar”, afirmou, alertando que a “opressão está retornando” globalmente.
Quando questionado se a visão que tinha da ONU e de suas capacidades mudou durante o tempo que passou defendendo as vítimas de violações dos direitos humanos nos últimos quatro anos, ele disse: “é muito difícil tolerar abusos na ONU quando eu penso nas coisas heroicas que as pessoas fazem em campo, seja os atores ou funcionários humanitários, meus oficiais de direitos humanos, as pessoas que estão monitorando e observando”. “Tiro meu chapéu para eles. Eles são a ONU que eu vou valorizar e lembrar”.
UN News: Quando você compara o cenário de direitos humanos hoje quando você assumiu o Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos em 2014, quais são as principais diferenças?
Zeid Ra’ad Al Hussein: Quando eu assumi, coincidiu com os vídeos terríveis divulgados online pelo Estado Islâmico, ou ISIS, que alimentaram muito medo e horror. E começamos a ver uma espécie de aprofundamento da crise na Síria e no Iraque. E isso levou a duas coisas.
A primeira, uma maior determinação de embarcar em estratégias de contraterrorismo, que sentimos ser, em parte, excessivas em certos aspectos. Cada país tem obrigação de defender sua população, e o terrorismo é horrendo e chocante e precisa ser condenado e enfrentado. Mas sempre que há ação excessiva, você não apenas coloca uma pessoa contra o Estado, mas muitas pessoas contra o Estado, que podem acabar se movendo na direção dos extremistas.
Há os debates sobre migração e o fortalecimento dos demagogos e daqueles que tentam transformar o que está acontecendo na Europa em capital político. A cada ano que passou, começamos a ver uma pressão mais intensa sobre a agenda de direitos humanos.
UN News: Você foi muito franco e citou governos e líderes em todo o mundo que abusaram dos direitos humanos. Você vê isso como o papel mais importante para o chefe de direitos humanos da ONU?
Zeid Ra’ad Al Hussein: Sim. Na Comissão de Direitos Humanos, você faz parte da ONU, mas também faz parte do movimento de direitos humanos e ambos são igualmente importantes. Como eu disse em ocasiões anteriores, os governos são mais do que capazes de se defender. Não é meu trabalho defendê-los. Eu tenho que defender a sociedade civil, os grupos vulneráveis, os marginalizados, os oprimidos. Essas são as pessoas que nós, em nosso escritório, precisamos representar.
Eu sempre senti que essa era a tarefa principal: fornecemos assistência técnica, coletamos informações, divulgamos publicamente. Mas, em termos gerais, o dever central para nós é defender os direitos dos mais marginalizados e daqueles que deles necessitam.
UN News: O que acontece se você for pressionado a ficar em silêncio?
Zeid Ra’ad Al Hussein: Bem, o interessante é que a pressão sobre esse trabalho em particular não vem muito dos governos. Todos eles atacam o escritório porque criticamos todos eles, mas também apontamos para áreas onde há melhorias, e, às vezes, elogiamos governos por fazerem a coisa certa.
A pressão real sobre esse trabalho vem das vítimas e daqueles que sofrem e esperam muito de nós. Essa é a pressão que acho mais importante em termos da necessidade de fazer a coisa certa.
UN News: Houve momentos em que você teve que se comprometer demais e talvez até mesmo decepcionar os defensores de direitos de alguma forma?
Zeid Ra’ad Al Hussein: Não, não nesse sentido, porque acho que tenho sido franco o suficiente e acho que abri novos caminhos quando se trata de altos-comissários. Eu posso te dizer que, em quase todas as reuniões com governos, disse coisas que eu sei que eles nunca teriam ouvido antes de alguém na ONU.
A enormidade do sofrimento das pessoas cria um sentimento de inadequação que, não importa o que eu faça — uma entrevista como essa, uma coletiva de imprensa, um relatório — não vai restituir um filho ou filha desaparecido. Eu sei que não vai acabar com a prática da tortura imediatamente. Eu sei que os residentes em um campo de deslocados internos não vão se mudar no dia seguinte para algum lugar melhor.
E esse sentimento é a pressão de que estou falando. É esse tipo de sentimento de que, não importa o que eu faça, não é suficiente para o desafio colossal que está diante de nós.
UN News: Houve momentos em que você achou melhor usar uma diplomacia discreta para trabalhar nos bastidores?
Zeid Ra’ad Al Hussein: Estamos sempre tentando. Tentando usar uma diplomacia discreta. Quer dizer, estamos constantemente nos reunindo com governos, enviando cartas e fazendo ligações.
Mas, ocasionalmente, quando tentávamos esse caminho e não funcionava, aí íamos a público. Às vezes, pedia ao meu porta-voz que fizesse isso; às vezes, pedia ao meu escritório regional; e outras vezes, fazia sozinho. Mas tudo é cuidadosamente pensado.
Havia um ministro das Relações Exteriores, por exemplo, com quem eu precisava falar. Estávamos planejando enviar uma missão técnica ao seu país e, por quase um ano, ele me evitou. Eu o vi aqui na AG [Assembleia Geral] e ele disse: “sim, sim, sim”, mas depois apenas me evitou. Enviamos uma mensagem a ele, avisando que eu iria a público no dia seguinte, aí ele atendeu o telefone imediatamente.
E a lição aprendida foi que, se você às vezes não ameaçar falar publicamente, não chama a atenção deles. E eu preferiria errar na parte de falar publicamente do que ficar em silêncio.
Trabalhei pela primeira vez com a ONU em 1994 e 1995, na ex-Iugoslávia. Vi as catástrofes que o silêncio pode trazer. Acho que a partir daquele momento, eu estava determinado a não ficar em silêncio quando as evidências eram apresentadas diante de nós.
UN News: O que mais lhe tocou no seu trabalho? Quais foram esses momentos, os encontros com pessoas que mais significaram para você?
Zeid Ra’ad Al Hussein: Houve muitos. Acho que é muito difícil ouvir o sofrimento das pessoas. Uma das vezes foi quando fui ao centro de detenção do Ilopango, em El Salvador. [Quatro jovens mulheres] foram sentenciadas a 30 anos de prisão. Elas alegaram que eram emergências obstétricas, ou seja, abortos espontâneos. Já o Estado alegou que foram interrupções da gravidez.
Quando me sentei com elas — eu tinha comigo uma equipe completa, meu escritório, assistentes e intérpretes — acho que dentro do espaço de cerca de 10 minutos estávamos todos chorando; estávamos em lágrimas porque o sofrimento delas era extremo. Uma delas nos contou que seu feto estava no chão e, em vez de levarem-na para um hospital, algemaram-na e levaram-na para a prisão. Eu pensei que a crueldade, a capacidade de crueldade humana é incrível.
Eu vi o presidente depois disso e disse: “por que todas essas garotas são pobres? Cada uma delas?”. É como se apenas os pobres enfrentassem esse tipo de condição. Este é o ponto que realmente chama a atenção — pobres sofrem todas as conseqüências. Aquele momento sempre permanecerá comigo. E tem havido alguns assim.
UN News: Existe um momento específico que se destaca como sendo o mais difícil ou talvez o mais importante durante o seu mandato?
Zeid Ra’ad Al Hussein: Tudo tem sido difícil. Quando você está defendendo os direitos das pessoas, e há tanta pressão sobre você por conta dessa profunda necessidade interna ou desejo de ajudá-las, tudo é muito difícil.
Mas eu me inspiro nos incríveis defensores dos direitos humanos, jornalistas, advogados, ativistas em muitos países que fazem coisas incríveis e corajosas para destacar a situação dos outros; para defender os direitos dos outros. Sempre que eu quero reclamar de alguma coisa dia após dia, lembro que não é nada comparado à pressão que essas pessoas enfrentam, confrontam, superam — muitas vezes elas não têm medo.
Estes são os líderes reais; estas são as pessoas que inspiram. Não são muitos os políticos que afirmam ser líderes e são fracos e egoístas, e são líderes apenas no nome. Os verdadeiros líderes são aqueles que, contra todas as probabilidades, fazem o que é certo e, em seguida, muitas vezes pagam um preço por isso e são detidos por isso.
E acho que isso é o que nos mantém abastecidos e trabalhando em favor deles.
Mais uma vez, o ponto é que, sim, somos parte da ONU, mas também fazemos parte de um movimento de direitos humanos. A ONU está criando ordem entre os Estados: conosco, nós olhamos para o coração do relacionamento entre governantes e governados e, portanto, é claro, isso será sensível.
As pessoas têm seus direitos, os Estados têm suas obrigações, seus compromissos. E nós temos que defender o povo.
UN News: Onde você acha que fez a maior diferença, pessoalmente? E você cometeu erros?
Zeid Ra’ad Al Hussein: Eu não sei. A questão deve ser dirigida à sociedade civil, grupos de vítimas, defensores dos direitos humanos. E se eles disserem: “Zeid fez um bom trabalho”, eu ficaria muito contente com isso. Se eles disserem: “Zeid poderia ter feito melhor”, eu teria que aprender a viver com isso e aceitá-lo. Eles é que realmente devem quantificar até que ponto consegui algo ou se assumi minhas responsabilidades da maneira correta.
UN News: Você disse que ser o alto-comissário para os direitos humanos é um trabalho único dentro das Nações Unidas, e você parece ter seguido um caminho bastante semelhante aos seus antecessores ao se tornar impopular junto aos governos. Você gostaria que sua sucessora seguisse esse caminho?
Zeid Ra’ad Al Hussein: O ponto fundamental que mencionei anteriormente é que os Estados podem se defender. Nosso trabalho não é defender os Estados, e a lei existe para a proteção dos fracos, não para a defesa dos fortes.
E assim, olhamos para a lei, olhamos para as obrigações dos Estados e nosso trabalho é defender as vítimas, as comunidades vulneráveis, as comunidades marginalizadas ou as comunidades oprimidas.
A opressão está está de volta. A repressão está na moda novamente.
Assim, não acredito que alguém que detenha essa posição — mesmo que se sinta diferente — possa, no final das contas, conduzir as coisas de uma maneira radicalmente diferente de mim ou de meus antecessores. Se você tentar fazê-lo, será extremamente desagradável, porque vai ouvir as próprias pessoas que estão sofrendo. E não pode haver nada que pese mais na sua consciência, se você os abandonar. Então, minha crença é que o trabalho define a conduta.
UN News: Existe algum outro conselho importante que você daria?
Zeid Ra’ad Al Hussein: Eu diria para estar sempre em boa saúde, porque é um trabalho exigente, e é custoso. Quem quer que assuma esse trabalho tem que estar pronto para isso. Alguns empregos no sistema da ONU são vistos como sinecuras, trabalhos para aposentadoria de funcionários nacionais. Este não é um deles. Requer compromisso completo.
UN News: Para você, o que acontecerá em seguida? Como um ex-diplomata experiente com tanta experiência da ONU, como esse trabalho mudou sua visão de mundo?
Zeid Ra’ad Al Hussein: Eu não sei, talvez eu seja jornalista!
Eu fiquei longe da minha família; preciso passar um tempo com eles e, então, vou procurar e ver qual nova direção eu gostaria de tomar. Mas preciso de um descanso também.
UN News: Tendo andado nesta corda bamba, você se sente um pouco mais agradecido pelo que a ONU faz, ou talvez um pouco menos?
Zeid Ra’ad Al Hussein: Não, se eu fosse, no futuro, pensar na ONU, eu pensaria nos momentos em campo nos quais vi a ONU fazendo coisas incríveis.
É muito difícil tolerar o abuso da ONU quando penso nas coisas heroicas que as pessoas fazem em campo, sejam funcionários humanitários, meus defensoras dos direitos humanos, as pessoas que estão monitorando, observando, enfrentando ameaças: tiro meu chapéu para eles. Eles são a ONU que eu vou amar e lembrar.
Para o mundo exterior, os jargões, as terminologias, parecem inacessíveis. Acho que o trabalho que o pessoal da ONU faz no campo é muito mais compreensível. Foi assim que entrei na ONU, no campo, e foi assim que eu soube disso. Acho que é aí que a ONU tem um impacto enorme e precisa continuar fazendo o investimento e a coisa certa.