O WO e a política
mayo 11, 2016 16:54 - no comments yetHá derrotas e derrotas.
Há aquelas que o time joga muito, bonito, se esforça, mostra raça, mas em um lance perde o jogo.
Porém, as mais feias derrotas são aquelas que o time faz corpo mole, não se empenha, não joga o jogo, parece não estar em campo, não disputa uma dividida se quer, enquanto a torcida grita, apóia, incentiva o time, comparece ao estádio...
A Democracia brasileira voltou ao rol das derrotas feias.
Alguns, individualmente, até jogaram bem, se esforçaram, mas a comissão técnica errou feio na tática, apresentou um futebol burocrático e, assim como a seleção de felipão, levou de 7 dos nazistas.
E a torcida?
Vai triste para casa na esperança que na próxima temporada o time esteja mais preparado.
O Melancólico Fim de Um Ciclo
mayo 11, 2016 16:44 - no comments yetPor Arnobio Rocha
Com o afastamento (via Golpe) da Presidência de Dilma Roussef, fecha-se um grande ciclo político no Brasil. De vitória de uma esquerda pragmática, iniciado nos fim dos anos de 1970 com as greves no ABC e que levou um operário e uma mulher ao governo central do quinto maior país do mundo, entre as dez maiores economias do planeta.
Aquele ousado grupo construiu oposições sindicais, venceu sindicatos, fundou a CUT, o PT, teve participação decisiva no processo de redemocratização do Brasil. Durante a constituinte, mesmo em ínfima minoria, trouxe os trabalhadores para o centro dos debates e incluiu pontos fundamentais na Constituição. Estes quadros, temperados na luta, chegou à Presidência com um dos seus melhores nomes, Lula, o primeiro presidente vindo do povão sofrido e trabalhador, sem a educação formal.
O traço sindical, reivindicatório e, ao mesmo tempo, conciliador teve seu auge nos treze anos e cinco meses na presidência. Quanto a esquerda ideológica, ela não conseguiu disputar e tensionar o governo para uma ruptura com a conciliação, então, o projeto se esgotou, com a crise econômica e o desgaste político dos principais dirigentes.
O PT, principal artífice desse movimento, aceitou o jogo eleitoral como ele é, com caixa dois, sobras de campanhas e montagem de base parlamentar, senão não se ganha eleições e principalmente, não se governa. Usou-se as armas para vencer e governar, nada diferente dos outros 100% governos eleitos em qualquer época. (O Impeachment Será O Muro de Berlim do PT?)
A burguesia mostrou que acredita na piamente na luta de classes, que só faz as concessão quando não tem saída, mas jamais perde a perspectiva de retomar o governo, parcela do poder, haja visto que o Poder Real, ela, a burguesia, sempre teve em suas mãos, em especial a fração que hoje determina o destino do Kapital, o Capital Financeiro Internacional.
Hoje ela retoma às suas mãos a presidência, de forma golpista, sem respaldo popular, sem votos. O novo governo (O Dia Depois do Golpe.) foi gestado e parido na ira que a mídia provocou na população contra o governo, com uma narrativa de criminalização dos principais líderes do PT, a economia era o pano de fundo do ódio cego.
O que nos cabe agora é nos segurarmos, manter-nos firmes e repensar os próximos passos, em primeiro lugar, a resistência política, para que o governo golpista, não nos destrua, inclusive, fisicamente. O Estado de Exceção (Estado de Exceção: O Sequestro da Democracia.) é a opção principal de um governo sem crivo das urnas.
O fim de um ciclo vitorioso, ainda que pese o desfecho melancólico, também significa o início de outro, pois, dialeticamente, estamos sempre em processo, não é o fim da história.
Vamos em frente!
Publicado originalmente no blog do Arnobio Rocha sob o título O Fim de Um Ciclo Político
O Haiti é aqui! Desculpem-nos, haitianos!
mayo 11, 2016 14:42 - no comments yetHaiti
Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
Casagrande transforma o Brasil numa grande república de bananas
mayo 8, 2016 14:20 - no comments yetO que denigre o País no exterior não é uma "campanha" para desacreditá-lo. São os fatos internamente produzidos
Por Celso Amorim
Há uma nova obsessão com a imagem do Brasil. Parlamentares e editorialistas revelam grande preocupação com os efeitos que discursos e entrevistas da nossa presidenta (quando escrevo, Dilma Rousseff ainda é a presidenta do Brasil e espero que assim continue ou volte a ser, quando o processo se completar) possam ter na visão que os estrangeiros, naturalmente os dos Estados Unidos e Europa, têm do nosso país.
Desde cedo, na minha vida política e profissional, nutro grande implicância com o que está por trás do conceito de “imagem no exterior”, nada mais que uma das muitas faces do complexo colonial característico da nossa elite. Para ela, não importa o que somos, mas o que outros (especialmente norte-americanos e europeus) pensam de nós, pois no fundo “elas” (as elites) gostariam de ser “eles”.
Esse parece ser o arcabouço mental dos falsos defensores do Brasil, que, quais os fariseus da antiguidade, demonstram indignação com a “campanha” que, alegam, visaria a desacreditar nossas instituições. (Na verdade, elas desacreditam apenas um processo específico.)
Ademais, os indivíduos ou entidades que se dizem preocupados com a “imagem” supõem uma total desconexão entre esta e a realidade. Durante a ditadura, cidadãos foram perseguidos por contribuírem para denegrir a “imagem do Brasil”, ao divulgar fatos que a nossa própria imprensa não podia publicar, mas que mais tarde teve de reconhecer.
Nessa mesma época, ao tempo em que presidi a Embrafilme, ouvia, por vezes, outro comentário ainda mais aterrador. O cinema brasileiro era nocivo à percepção que se fazia do Brasil, pois mostrava muita pobreza. Os mais desavergonhadamente reacionários chegavam a dizer “mostrava muitos negros” (sic).
Recordo-me de um diálogo entre o meu então chefe, o equilibrado e racional embaixador George Alvares Maciel, e um diplomata de alto escalão que veio chefiar uma delegação a uma reunião da OEA. Por volta de 1972 ou 73. O enviado do governo aproveitou a ocasião para fazer aos funcionários da repartição uma preleção sobre a situação brasileira, em que sobressaiu especialmente a preocupação com a “imagem”.
Maciel, que não tinha papas na língua, disse ao fim: “Eu tenho uma ideia para melhorar a imagem do Brasil”. Entre cético e surpreso, o autor da preleção indagou: “Qual, por favor, me diga”. Maciel foi singelo: “Diga para o governo acabar com a tortura”.
Hoje, os “guardiães da imagem” gostariam de evitar que se consolide a visão sobre a verdadeira natureza do processo em curso no Brasil: uma transferência ilegítima do poder de um grupo político a outro, com base em alegações pouco substanciosas sobre o manejo do Orçamento.
Como esse tema foi sobejamente discutido, chamo a atenção para um ou dois pontos que, penso, só foram mencionados de maneira indireta. O primeiro diz respeito à questão da imagem propriamente. Nada fez tão mal à percepção que se tem do nosso país quanto o espetáculo soturno da votação para a abertura do impeachment na Câmara dos Deputados.
E essa percepção, infelizmente, corresponde à realidade de um sistema político-eleitoral que produz congressistas que falam em nome de Deus ou da família, quando, na verdade, defendem interesses pessoais ou paroquiais, aos quais se soma uma indisfarçável ojeriza à mudança social empreendida pelos governos Lula e Dilma.
Com acertos e erros (esses sempre existem), foram administrações voltadas para o povo e, sobretudo, para a diminuição da brutal desigualdade que caracteriza a sociedade brasileira. Esse “ódio de classe”, que não é privilégio só dos muito ricos, mas é também um traço de todos os que querem manter distância daqueles que estão em um patamar abaixo do seu, além do lamentável preconceito contra a mulher, estava estampado no rosto de vários que, como em um quadro de Hieronymus Bosch, vociferavam impropérios, cada vez que um orador manifestava oposição ao impeachment.
Esse sistema político tem de ser mudado, para baratear as eleições e torná-las mais representativas dos anseios do povo brasileiro, seja pelo voto em lista, que fortaleceria os partidos, seja pelo distrital misto (modelo alemão), que associa o alinhamento a determinada ideologia à representação mais próxima das comunidades.
Por essa razão, entre outras, é inócua a sugestão de antecipação de eleições presidenciais, sem que, ao mesmo tempo, se proceda a uma renovação em profundidade do sistema político e eleitoral, tarefa que somente uma Assembleia Constituinte exclusiva pode operar.
Outro ponto que apenas implicitamente apareceu até aqui, mesmo nas comparações muito bem feitas com situações passadas ou de outros países, é justamente o da substituição de um grupo político por outro: uma mudança de rumo que substitui um projeto reformador, consagrado nas urnas, por uma visão socialmente conservadora, característica de quase todos os governos anteriores ao de Lula. Na maioria absoluta dos casos comumente lembrados, não foi disso que se tratou. Nos Estados Unidos (sempre um padrão), Richard Nixon não foi substituído por um democrata.
Nem um político republicano teria sucedido a Bill Clinton se o julgamento do Senado norte-americano fosse diverso daquele que foi. Mesmo no Brasil, a saída de Collor não trouxe ao poder líderes da esquerda. Com efeito, a despeito da tendência nacionalista de Itamar e de sua sensibilidade social, a política neoliberal foi mantida, só que com maior eficiência e resultados mais palpáveis, ao menos no que toca à macroeconomia.
O que não deixará de ser motivo de espanto e estranheza para a opinião pública mundial é o fato de que o projeto de uma sociedade mais igualitária e de um país mais autônomo e participante nas questões internacionais, levado adiante pelos governos Lula e Dilma e objeto de admiração e respeito praticamente universais, dê lugar a um enorme retrocesso em direção a antigas posturas de submissão aos poderosos, no plano externo, e de complacência com a injustiça, no plano interno, não por meio de uma decisão do voto popular, mas de manobras de cúpula, conduzidas por personagens sobre os quais (mesmo mantida a indispensável presunção de inocência) pesam acusações muito mais graves do que as chamadas “pedaladas fiscais”.
É esse espanto e essa estranheza que “ofensivas midiáticas”, ainda que com grande apoio de boa parte da nossa mídia, não conseguirão apagar, da mesma forma que o noticiário encomendado sobre o “milagre brasileiro” nos anos 70 não resgatou a “imagem” do País, conspurcada pela tortura.
Publicado originalmente na edição 899 de CartaCapital, com o título Sobre a imagem do Brasil
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