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Blog do Bertoni

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | 1 person following this article.
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Que porra é essa?

22 de Fevereiro de 2013, 21:00, por Bertoni - 2929 comentários

Quem acompanha este blog sabe que não sou de ficar publicando aqui coisas pessoais. Porém, o acidente sofrido no último dia 20/02/2013 me leva ao expediente.

Sérgio Luís Bertoni

O acidente

Estava eu com meu Ford Verona 1.8.i GL parado, na pista da esquerda,  no semáforo da Av. General Mário Tourinho com Alameda Júlia da Costa, no bairro Campina do Siqueira, em Curitiba, quando fomos violentamente atingidos por um caminhão PUMA à serviço da empresa espanhola OHL - Autopista Litoral SUL.

Que porra* é essa?  - foi o que gritei naquele momento ao olhar rapidamente para o retrovisor e ver que o caminhão continuava crescendo em minha direção, pois desgovernado, nos arrastava em direção ao cruzamento, onde outros veículos que trafegavam pela Alameda Júlia da Costa cruzavam tranquilamente a Av. Gen. Mário Tourinho.

A sensação que tive foi igual a aquela quando somos atingidos por uma grande e inesperada onda de mar, mesmo estando na parte mais raza...

Um Focus branco que vinha pela Júlia da Costa, à minha esquerda, sentido bairro-centro, conseguiu perceber o que passava, engatou ré, mas mesmo assim foi atingido pelo comboio formado pelo meu automóvel e o trem motor que era o caminhão desgovernado.

À direita, sentido bairro, trafegava um Peugeot 207 SW que acabaria se chocando com meu Verona e jogando-o para a calçada na Mário Tourinho já depois do cruzamento, onde fomos (eu e o Verona) parar em um poste.

Atrás do poste um jardineiro cortava a grama. Momentos antes ele cortava a grama no local onde o Verona foi arremessado...

O caminhão desgovernado seguiria adiante, arrastaria o Verona, atingiria a traseira do Peugeot 207 SW e se chocaria conta um VW Gol Preto estacionado em frente ao local de trabalho de seu proprietário.

O Gol, por sua vez, empurrado pelo caminhão atingiria uma Parati que se encontrava estacionada à sua frente.

O caminhão só pararia metros depois na calçada direita da Avenida General Mário Tourinho, onde quase se chocou contra a cerca de proteção de uma obra.

Mas e daí? - deve estar perguntando você, caro leitor. Acidentes de trânsito acontecem todos os dias e centenas de brasileiros morrem nas ruas e estradas de nosso país.

Nasci de novo!

Como você poderá observar nas fotos que estão na galeria Morte de Verona, eu nasci de novo no dia em que o querido Verona 1.8i GL morria, depois de 17 anos de cuidados e preparos para a tão sonhada placa preta.

O carro, carinhosamente chamado de Velhona pela filhota, estava em excelente estado de conservação e merecia elogios em todos os lugares por onde passava, para orgulho total de seu proprietário.

Ainda é difícil acreditar que o veículo que nos serviu por tanto tempo virou um monte de ferro retorcido e imprestável.

O Verona

Morava eu na Rússia quando, depois do fim da Autolatina (o casamento malfadado entre Ford e VW), a Ford fez uma promoção para desovar os estoques dos modelos Escort e Verona (equipados com motor VW) que seriam substituídos pelos novos Escort Hatch e Escort Sedan movidos pelos novos e potentes motores Zetec.

Fiquei sabendo da promoção ao ler na internet que o companheiro Vicentinho, atualmente deputado federal pelo PT de São Paulo, havia adqurido um Escort Azul. Não tive dúvidas. Passei a mão no telefone e entrei em contato com meu pai, para que ele fosse até a Ford e comprasse um Verona, que ele tanto queria. Eu tinha umas reservas e o que faltava seria coberto por um pequeno empréstimo a taxas de juros europeias...

Meu pai se aposentou trabalhando na Ford e portanto mantinha alguns dos benefícios dos trabalhadores da ativa como, por exemplo, comprar carros com desconto diretamente na montadora.

Apaixonado pelo Verona, o velho não teve dúvidas. Se dirigiu ao departamento de RH (Relações Humanas) da empresa, onde foi informado que não haviam mais veículos disponíveis.

Ah! Quando o velho me comunicou o ocorrido, entrei em contato com o diretor responsável pelo RH da Ford na América Latina, velho conhecido dos tempos das negociações e embates sindicais e questionei a indisponibilidade do veículo, especialmente para um ex-trabalhador que se aposentou ralando naquela empresa. Dias depois viria a resposta de que os veículos estavam disponíveis, mas somente na cor vermelha.

Maravilha! Era a cor que queríamos. Compramos o bichinho que ficaria sob os cuidados de meu pai entre 1996 e 2001 e faria a alegria dele e a minha em nossas viagens pelo Brasil.

2002, a primeira morte!

A partir de minha volta ao Brasil em 2001 o Verona passou a me servir como veículo oficial. Meu pai seguia com seu Ford Hobby 1.0 para rodar pela cidade como fizera nos anos anteriores.

Eis que durante uma viagem à Rússia, minha casa seria invadida por meliantes, fazendo com que meus pais viajassem à Curitiba para consertar os estragos e cuidar da casa enquanto eu não voltasse do exterior.

Cheguei em Sampa no dia 07 de setembro de 2002. Meu pai queria viajar para Sampa no domingo com o Verona, mas como eu precisava levar muitas coisas para Curitiba e tínhamos apenas um bagageiro de teto adequado ao Hobby, combinamos que eu viajaria com o Hobby e que ele voltaria a Sampa dirigindo seu escortinho 1.0.

A viagem no domingo 08/09/2002 foi horrivelmente inesquecível. Vários acidentes na Régis Bittencourt, tráfego descomunal na Serra do Cafezal, minha filhota vomitou um monte... isso sem contar a chuva torrencial que nos acompanhou durante toda a viagem. Demoramos mais de 9 horas para chegar à capital dos paranaenses.

Em Curitiba, desestimulei meu pai a viajar à Sampa naquele dia. Apesar dos protestos de minha avó, ele topou. Pedimos um pizza e abri o melhor vinho que tinha em casa. Desfrutamos juntos aquela garrafa do "sangue da terra". Seria aquele nosso último jantar juntos.

Na segunda 09/09/2002 meus pais e minha vó sairiam de minha casa para não chegar às suas. Cerca de 2 horas depois de nossa despedida com o meu "Vão com Deus", o Hobby 1.0 de meu pai seria esmagado por duas carretas na região de Barra do Turvo, matando ao meu pai e à sua mãe. Por um defeito no cinto de segurança do passageiro dianteiro, minha mãe seria arremessada para fora do veículo e salva da fatalidade.

Aquele dia ficaria marcado em minha vida para sempre. Aquele acidente poderia ter acontecido com o Verona?

Quase 200 mil quilômetros

Por conta de meu trabalho e de meu gosto por condução de veículos automotores, rodei com o Verona quase 200 mil quilômetros por este Brasilzão afora.

Centenas de vezes passei pelo local onde meu pai faleceu em 2002 e sempre me perguntava: o acidente de 2002 poderia ter acontecido com o Verona?

Nos últimos tempos dizia a mim mesmo que não, pois todos sabemos que em história não existe "se". Só existe o que aconteceu. O resto é especulação ou masturbação mental.

2013, a morte

Como trafegava muito por São Paulo, Rio e rodovias movimentadíssimas, principalmente Regis Bittencourt e Dutra, jamais imaginaria que a morte do Verona viesse a ocorrer nas ruas de uma cidade com menos automóveis que as duas grandes capitais brasileiras e onde os motoristas insistem em andar a velocidades extremamente baixas...

Mas eis que, parado no semáforo, ouvindo tranquilamente as notícias no rádio, com a cabeça devidamente repousada no encosto de cabeças, seríamos violentamente atingidos e arrastados levando-nos à morte do Verona.

Habitáculo

Estou convencido de que não morri porque o sistema de segurança passiva do Ford Verona 1.8i GL funcionou perfeitamente, distribuindo a energia do impacto por toda a carroceria do veículo e mantendo o habitáculo do motorista e do passageiro dianteiro praticamente ilesos.

Banco e cintos de segurança

Estes cumpiram suas funções perfeitamente. O uso do cinto de segurança evitou que fosse arremessado contra o volante do veículo quando do brutal choque sofrido na traseira do Verona.

O banco serviu de amortecedor para minhas costas quando, no momento da batida frontal, o encosto foi jogado para traz mantendo meu corpo completamente apoiado.

A única lesão grave que tive foi uma luxação no ombro direito que faz com que minha direita fique imobilizada por alguns dias, mas minha esquerda continue livre, leve e solta, fazendo o que sempre soube fazer.

Conservadão

O Veroninha estava super conservado e este orgulho ninguém poderá tirar de mim.

Boas lembranças vou guardar deste companheiro de longas jornadas rodoviárias e que, mesmo depois do brutal acidente, continuou imponente exibindo seu estado de conservação no painel, que parece ter saído da fábrica dias atrás.

Solidariedade

Quero aqui agradecer a solidariedade recebida de todos que presenciaram o ocorrido, assim como a dos amigos que prestativamente estiveram e estão ao nosso lado.

Um agradecimento todo especial aos trabalhadores da obra de uma concessionária de veículos, que prontamente deixaram seus locais de trabalho, vieram em meu socorro e me ajudaram a sair do veículo. Talvez eles não saibam, mas naquele momento praticaram Solidariedade de Classe.

Obrigado também aos socorristas do SAMU e enfermeiros do Hospital Evangélico que prestaram os primeiros socorros.

Meu muitíssimo obrigado ao desconhecido motorista do ônibus que circulava a minha frente e furou o sinal cruzando a Alameda Júlia da Costa. Se ele tivesse parado no semáforo eu certamente teria sido esmagado entre o dianteira do caminhão e a traseira do ônibus...

Infelizmente, não posso e não vou agradecer à residente de ortodopedia do Hospital Evangélico que não se dignou a fazer exames mais detalhados, se contentou a olhar as radiografias e diagnosticar que não havia fraturas, me liberando do hospital com uma luxação no ombro direito que não me deixaria dormir entre 20 e 21 de fevereiro.

A esta residente, deixo um conselho: volte pra escola minha filha, tome um banho de humildade e aprenda que todo paciente é um SER HUMANO e como tal deve ser atendido, independentemente do tamanho da conta bancária ou do plano de saúde pelo qual é assistido.

Agradeço a meu ortopedista, Dr. Manuel Ruedas, que no dia 21/02/2013, me atendeu em seu consultório, fez todos os exames necessários e ao diagnosticar a luxação em meu ombro direito pôs a "mão na massa" e o colocou no lugar, livrando-me da terríveis dores que senti desde a hora do acidente.

Era mais que um automóvel

Muitos podem não entender a extensão deste post, mas o Verona 1.8i GL, Vermelho 1996, que morreu em 20 de fevereiro de 2013, é mais que um automóvel. Ele guardava as boas e doces recordações de meu falecido pai, para quem o modelo foi comprado inicialmente e, em sua memória, estávamos conservando.

Era também, para minha filha, a materialização do avô que morreu a uma semana dela completar 1 aninho de vida. Aliás, quando ela viu o carro destruído, chorou copiosamente. Depois me explicaria o motivo, que acabei de contar acima.

Era o sonho de um pobre, ex-metalúrgico na Ford Ipiranga, de um dia ter um carro antigo, com placa preta e ainda poder dizer "automóvel original de fábrica, não restaurado, único dono", como já fazia (as vezes) quando as pessoas elogiavam o estado de conservação do Verona.

O Veroninha era um membro da família Bertoni, querido por todos e que tanto nos ajudou, inclusive no transporte de grande parte da mudança que trouxemos de Moscou e precisamos carregar por terra entre as capitais dos bandeirantes.

Para mim, a morte do Verona é também a segunda morte de meu pai, cuja memória estava preservada entre outras coisas no carrinho que foi brutalmente assassinado por um caminhão PUMA...

Veja mais fotos do finado Verona em Morte de Verona 

Curiosidades:

Estiveram envolvidos neste acidente:

  • um caminhão a serviço da empresa espanhola OHL,
  • uma cidadã norte-americana e seus dois filhos,
  • uma desembargadora da justiça do trabalho,
  • operários de uma obra de uma concessionária de veículos; e
  • eu, que dois dias antes, havia retornado de uma viagem à Cuba onde pudera "babar" nos automóveis antigos que circulam pela Ilha.

Os populares que circulavam na região, comentaram que o acidente parecia coisa de cinema...

O motorista do ônibus citado acima, deixou o veículo no terminal Campina do Siqueira e se dirigiu até o local do acidente onde conversou com vários dos envolvidos. Neste momento eu já havia sido levado ao hospital.

* Porra  s. f.

1. Pau comprido e arredondado. = CACETE, MOCA, PORRETE
2. [Informal]  Coisa ou facto incómodo. = PORCARIA


Quem dá corda nela?

21 de Fevereiro de 2013, 21:00, por Bertoni - 0sem comentários ainda



Generation Y, segundo o Journal de Québec

19 de Fevereiro de 2013, 21:00, por Bertoni - 0sem comentários ainda



40 perguntas para Yoani Sánchez em sua turnê mundial

18 de Fevereiro de 2013, 21:00, por Bertoni - 0sem comentários ainda
Famosa opositora cubana fará seu giro mundial por mais de uma dezena de países do mundo

Por  Salim Lamrani, de Paris

1.Quem organiza e financia sua turnê mundial?

2.Em agosto de 2002, depois de se casar com o cidadão alemão chamado Karl G., abandonou Cuba, “uma imensa prisão com muros ideológicos”, para imigrar para a Suíça, uma das nações mais ricas do mundo. Contrariamente a qualquer expectativa, em 2004, decidiu voltar a Cuba, “barco furado prestes a afundar”, onde “seres das sombras, que como vampiros se alimentam de nossa alegria humana, nos introduzem o medo através do golpe, da ameaça, da chantagem”, onde “os bolsos se esvaziavam, a frustração crescia e o medo se estabelecia”. Que razões motivaram esta escolha?

3.Segundo os arquivos dos serviços diplomáticos cubanos de Berna, Suíça, e de serviços migratórios da ilha, você pediu para voltar a Cuba por dificuldades econômicas com as quais se deparou na Suíça. É verdade?

4.Como pôde se casar com Karl G. se já estava casada com seu atual marido Reinaldo Escobar?

5.Ainda é seu objetivo estabelecer um “capitalismo sui generis” em Cuba?

6.Você criou seu blog Geração y (Generación Y) em 2007. Em 4 de abril de 2008 conseguiu o Prêmio de Jornalismo Ortega e Gasset, de 15 mil euros, outorgado pelo jornal espanhol El País. Geralmente, este prêmio é dado a jornalistas prestigiados ou a escritores de grande carreira literária. É a primeira vez que uma pessoa com seu perfil o recebe. Você foi selecionada entre cem pessoas mais influentes do mundo pela revista Time (2008). Seu blog foi incluído na lista dos 25 melhores blogs do mundo pela cadeia CNN e pela revista Time (2008), e também conquistou o prêmio espanhol Bitacoras.com, assim como The Bob’s (2008). El País lhe incluiu em sua lista das cem personalidades hispano-americanas mais influentes do ano 2008. A revista Foreign Policy ainda a incluiu entre os dez intelectuais mais importantes do ano em dezembro de 2008. A revista mexicana Gato Pardo fez o mesmo em 2008. A prestigiosa universidade norte-americana de Columbia lhe concedeu o prêmio María Moors Cabot. Como você explica esta avalanche de prêmios, acompanhados de importantes quantias financeiras, em apenas um ano de existência?

7.Em que emprega os 250 mil euros conseguidos graças a estas recompensas, um valor equivalente a mais de 20 anos de salário mínimo em um país como França, quinta potencia mundial, e a 1.488 anos de salário mínimo em Cuba?

8.A Sociedade Interamericana de Imprensa, que agrupa os grandes conglomerados midiáticos privados do continente, decidiu nomeá-la vice-presidente regional por Cuba de sua Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação. Qual é seu salário mensal por este cargo?

9.Você também é correspondente do jornal espanhol El País. Qual é sua remuneração mensal?

10.Quantas entradas de cinema, de teatro, quantos livros, meses de aluguel ou pizzas pode pagar em Cuba com sua renda mensal?

11.Como pode pretender representar os cubanos enquanto possui um nível de vida que nenhuma pessoa na ilha pode se permitir levar?

12.O que faz para se conectar à Internet se afirma que os cubanos não têm acesso e ela?

13.Como é possível que seu blog possa usar Paypal, sistema de pagamento online que nenhum cubano que vive em Cuba pode utilizar por conta das sanções econômicas que proíbem, entre outros, o comércio eletrônico?

14.Como pôde dispor de um Copyright para seu blog “© 2009 Generación Y - All Rights Reserved”, enquanto nenhum outro blogueiro cubano pode fazer o mesmo por causa das leis do embargo?

15.Quem se esconde atrás de seu site desdecuba.net, cujo servidor está hospedado na Alemanha pela empresa Cronos AG Regensburg, registrado sob o nome de Josef Biechele, que hospeda também sites de extrema direita?

16. Como pôde fazer seu registro de domínio por meio da empresa norte-americana GoDady, já que isto está formalmente proibido pela legislação sobre as sanções econômicas?

17.Seu blog está disponível em pelo menos 18 idiomas (inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, português, russo, esloveno, polaco, chinês, japonês, lituano, checo, búlgaro, holandês, finlandês, húngaro, coreano e grego). Nenhum outro site do mundo, inclusive das mais importantes instituições internacionais, como por exemplo as Nações Unidas, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a OCDE ou a União Europeia, dispõem de tantas versões linguísticas. Nem o site do Departamento de Estado dos Estados Unidos, nem o da CIA dispõem de igual variedade. Quem financia as traduções?

18.Como é possível que o site que hospeda seu blog disponha de uma banda com capacidade 60 vezes superior àquela que Cuba dispõe para todos os usuários de Internet?

19.Quem paga a gestão do fluxo de mais de 14 milhões de visitas mensais?

20.Você possui mais de 400 mil seguidores em sua conta no Twitter. Apenas uma centena deles reside em Cuba. Você segue mais de 80 mil pessoas. Você afirma “Twitto por sms sem acesso à web”. Como pode seguir mais de 80 mil pessoas sem ter acesso à internet?

21.O site www.followerwonk.com permite analisar o perfil dos seguidores de qualquer membro da rede social Twitter. Revela a partir de 2010 uma impressionante atividade de sua conta. A partir de junho de 2010, você se inscreveu em mais de 200 contas diferentes do Twitter a cada dia, com picos que podiam alcançar 700 contas em 24 horas. Como pôde realizar tal proeza?

22. Por que cerca de seus 50 mil seguidores são na verdade contas fantasmas ou inativas? De fato, dos mais de 400 mil perfis da conta @yoanisanchez, 27.012 são ovos (sem foto) e 20 mil têm características de contas fantasmas com uma atividade inexistente na rede (de zero a três mensagens mandadas desde a criação da conta).

23.Como é possível que muitas contas do Twitter não tenham nenhum seguidor, apenas seguem você e tenham emitido mais de duas mil mensagens? Por acaso seria para criar uma popularidade fictícia? Quem financiou a criação de contas fictícias?

24.Em 2011, você publicou 400 mensagens por mês. O preço de uma mensagem em Cuba é de 1,25 dólares. Você gastou seis mil dólares por ano com o uso do Twitter. Quem paga por isso?

25.Como é possível que o presidente Obama tenha lhe concedido uma entrevista, enquanto recebe centenas de pedidos dos mais importantes meios de comunicação do mundo?

26.Você afirmou publicamente que enviou ao presidente Raúl Castro um pedido de entrevista depois das respostas de Barack Obama. No entanto, um documento oficial do chefe da diplomacia norte-americana em Cuba, Jonathan D. Farrar, afirma que você nunca escreveu a Raúl Castro: “Ela não esperava uma resposta dele, pois confessou nunca tê-las enviado [as perguntas] ao presidente cubano. Por que mentiu?

27.Por que você, tão expressiva em seu blog, oculta seus encontros com diplomáticos norte-americanos em Havana?

28.Entre 16 e 22 de setembro de 2010, você se reuniu secretamente em seu apartamento com a subsecretaria de Estado norte-americana Bisa Williams durante sua visita a Cuba, como revelam os documentos do Wikileaks. Por que manteve um manto de silêncio sobre este encontro? De que falaram?

29.Michael Parmly, antigo chefe da diplomacia norte-americana em Havana afirma que se reunia regularmente com você em sua casa, como indicam documentos confidenciais da SINA. Em uma entrevista, ele compartilhou sua preocupação em relação à publicação dos cabos diplomáticos norte-americanos pelo Wikileaks: “Eu me incomodaria muito se as numerosas conversas que tive com Yoani Sánchez forem publicadas. Ela poderia sofrer as consequências por toda a vida”. A pergunta que imediatamente vem à mente é a seguinte: quais são as razões por que você teria problemas com a justiça cubana se sua atuação, conforme afirma, respeita o marco da legalidade?

30.Continua pensando que “muitos escritores latino-americanos mereciam o Prêmio Nobel de Literatura mais que Gabriel García Márquez”?

31.Continua pensando que “havia uma liberdade de imprensa plural e aberta, programas de rádio de toda tendência política” sob a ditadura de Fulgencio Batista entre 1952 e 1958?

32.Você declarou em 2010: “o bloqueio tem sido o argumento perfeito do governo cubano para manter a intolerância, o controle e a repressão interna. Se amanhã as suspenderem as sanções, duvido muito que sejam vistos os efeito”. Continua convencida de que as sanções econômicas não têm nenhum efeito na população cubana?

33.Condena a imposição de sanções econômicas dos Estados Unidos contra Cuba?

34.Condena a política dos Estados Unidos que busca uma mudança de regime em Cuba em nome da democracia, enquanto apoio as piores ditaduras do Oriente Médio?

35.Está a favor da extradição de Luis Posada Carriles, exilado cubano e ex-agente da CIA, responsável por mais de uma centena de assassinatos, que reconheceu publicamente seus crimes e que vive livremente em Miami graças à proteção de Washington?

36.Está a favor da devolução da base naval de Guantánamo que os Estados Unidos ocupam?

37.Você é favorável à libertação dos cinco presos políticos cubanos presos nos Estados Unidos desde 1998 por se infiltrarem em organizações terroristas do exílio cubano na Florida?

38.Em sua opinião, é normal que os Estados Unidos financiem uma oposição interna em  Cuba para conseguir “uma mudança de regime”?

39.Em sua avaliação, quais são as conquistas da Revolução Cubana?

40.Quais interesses se escondem atrás de sua pessoa?

* Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, Salim Lamrani é professor titular da Université de la Réunion e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro se intitula Etat de siège. Les sanctions économiques des Etats-Unis contre Cuba, Paris, Edições Estrella, 2011, com prólogo de Wayne S. Smith e prefácio de Paul Estrade.

Contato: Salim.Lamrani@univ-mlv.fr.

Página no Facebook: https://www.facebook.com/SalimLamraniOfficiel



Entrevista com Valter Pomar: PT, um partido ímpar

13 de Fevereiro de 2013, 22:00, por Bertoni - 55 comentários

Artigo sugerido por O Eletricitário

O jornal Página 13 entrevista nesta edição Valter Pomar, membro do Diretório Nacional do PT e Secretário Executivo do Foro de São Paulo. O dirigente petista faz uma análise da trajetória do partido que completa 33 anos, no dia 10 de fevereiro. Fala sobre os dez anos do partido frente ao Governo Federal; e a necessidade de que o Processo de Eleições Diretas, que será realizado este ano seja capaz de formular uma nova estratégia para o PT enfrentar a atual situação política, nacional e regional e mundial.

 

PG13 – O PT completa 33 anos no dia 10 de fevereiro. Qual é a diferença do PT de 1980 e de hoje?

Valter Pomar – A principal diferença é que hoje somos governo nacional e temos melhores condições para materializar nossas propostas. Mas conquistamos a presidência de República em condições muito diferentes daquelas que existiam em 1980 ou em 1989. O PT é diferente, o Brasil é diferente, a América Latina e o mundo são diferentes.

 

PG13 – O que mudou desde fundação do PT para cá?

Valter Pomar – De maneira geral, a onda neoliberal que começou nos anos 1970 afetou negativamente o mundo do trabalho, as nações em desenvolvimento, o estado de bem estar europeu, o socialismo de tipo soviético e causou imensos estragos na cultura progressista, democrática, de esquerda em todo o mundo. Tudo isto constrange o potencial de um governo de esquerda.

 

PG13 – Como, apesar deste contexto negativo, o PT ganhou as eleições presidenciais?

Valter Pomar – Há várias causas. O neoliberalismo chegou tardiamente no Brasil, quando já estava refluindo no resto do mundo. Em parte por isto, em parte por nossas virtudes, conseguimos impedir os tucanos de implementar o neoliberalismo até o fim: por exemplo, preservamos estatais importantes, como o Banco do Brasil e a Petrobras. O que quer dizer que a correlação de forças aqui não era tão negativa quanto em outras partes. Por outro lado, apesar de também ter sido impactado, o PT conseguiu ampliar sua influência eleitoral nos anos 90, o que funcionou como um contraponto ao refluxo das lutas sociais naquele mesmo período e funcionou como um acúmulo de forças fundamental para entender a vitória de 2002. E, por fim, há um fato importantíssimo: uma parte da burguesia brasileira estava descontente com o fundamentalismo neoliberal de FHC e não fez contra Lula 2002 o que havia feito contra o Lula 1989. Essas são algumas das causas que nos levaram a vencer. A correlação de forças não impediu o PT de ganhar as eleições presidenciais de 2002, mas produziu um governo muito diferente do que faríamos, por exemplo, se tivéssemos vencido em 1989. Naquela época teríamos um governo de esquerda, já a partir de 2003 tivemos um governo de centro-esquerda.

 

PG13 – Em que o PT avançou?

Valter Pomar – Aqui é preciso distinguir as coisas. O PT nos anos 80 era o partido da luta contra a ditadura e contra a transição conservadora, um partido de oposição, ancorado nas lutas sociais e no socialismo como objetivo. Já nos 90 nos convertemos em alternativa de governo contra o neoliberalismo. E a partir de 2003, viramos o partido do presidente da República. Assim, do ponto de vista de massa, nossos êxitos se confundem com os êxitos do governo, que de maneira muito resumida consistem em ter melhorado a vida do povo, recuperado o papel do Estado e adotado uma política de integração regional. Numa frase, estamos nos desfazendo da herança maldita do neoliberalismo. Mas o Partido não pode ser avaliado apenas pelo que fez ou deixou de fazer enquanto governo. Temos objetivos históricos que vão muito além daquilo que um governo é capaz de fazer. E, neste aspecto, o balanço é mais contraditório.

 

PG13 – Você acha que nesses anos o PT retrocedeu?

Valter Pomar – As pesquisas, inclusive as nossas, mostram que o PT segue sendo o partido com maior apoio popular, 24%, muito à frente do segundo colocado, que é o PMDB, com 6%. Mas somos os maiores, num ambiente em que cai o número de brasileiros e brasileiras que manifestam preferência por algum partido: 61% em 1988, 44% em 2012. De maneira geral, podemos dizer que nos últimos dez anos melhoraram as condições materiais de vida do povo brasileiro, mas a subjetividade popular não acompanhou o ritmo. Por subjetividade, eu me refiro ao ambiente cultural em geral, à postura dos meios de comunicação e da indústria cultural, à qualidade da educação pública, à auto-organização social, à democratização da política e à vida interna dos partidos. No concreto: hoje no PT temos mais filiados-eleitores que filiados-militantes. E nossa vida interna, nosso debate, está longe, muito longe, da que necessitamos para governar e principalmente transformar profundamente o país.

 

PG13 – Apesar disto, podemos falar que o PT é hoje o maior partido de esquerda da América Latina e um dos maiores do mundo?

Valter Pomar – Eu evito usar esta expressão, porque me recorda uma frase de um ministro da ditadura militar acerca da Arena. Brincadeiras a parte, o PT não é dos maiores partidos do ponto de vista numérico. Pode ser que esteja enganado, mas acho que o percentual de brasileiros filiados ao PT é inferior ao de uruguaios filiados à Frente Ampla. Aliás, o PT precisa crescer muito em número de filiados, o que exigirá garantir a existência de núcleos, de formação e de comunicação partidária. Mas voltando a tua pergunta, embora numericamente possamos não ser os maiores, ao menos proporcionalmente, do ponto de vista político o PT é visto hoje como um dos partidos mais importantes do mundo e da América Latina. Não apenas porque governamos o Brasil, com os êxitos já citados, mas também porque expressamos uma esquerda que soube resistir relativamente bem à crise do socialismo soviético e da social-democracia.

 

PG13 – Quais os principais desafios do Partido para o próximo período?

Valter Pomar – Um dos desafios é não viver do passado glorioso, nem se conformar com o presente exitoso. Noutras palavras: o PT não pode virar um partido que tem um grande passado pela frente. Até porque, se fizermos isto, seremos derrotados pela direita, que está se renovando, se reciclando, nos atacando e experimentando caminhos para nos derrotar. Outro desafio é deixar de ser um partido de anos pares, ou seja, um partido que vive fundamentalmente em função dos processos eleitorais, dos governos, dos mandatos parlamentares e do pagamento das dívidas das campanhas anteriores. Temos quer voltar a ser um partido que atua também nos anos ímpares e que sabe combinar luta social, luta ideológica, construção e partidária, com disputa eleitoral, ação parlamentar e governamental. Foi com esta combinação de formas de luta que acumulamos forças para vencer em 2002. Um terceiro desafio é construir uma estratégia que nos permita passar para uma nova etapa, uma etapa de reformas estruturais no país. Aqui, em minha opinião, trata-se de atualizar o programa e a estratégia democrático-popular e socialista que o PT elaborou nos anos 80. Até porque, o sucesso relativo de nossa ação governamental está recolocando os dilemas estratégicos que o Brasil viveu naquela época. Evidentemente, um quarto desafio é a reeleição para a presidência em 2014, ampliar nossa presença nos governos estaduais e nos parlamentos.

 

PG13 – Neste ano, além das comemorações dos 33 anos do PT, o partido realiza o Processo de Eleições Diretas. Qual é a importância do PED?

Valter Pomar – Depende. Se o regulamento do PED for respeitado, ou seja, se houver debate, democracia interna e, principalmente, se pararmos de importar para dentro da nossa vida interna práticas oriundas das eleições tradicionais, se tudo isto for feito, o PED pode ser muito importante para formular uma nova estratégia para o PT enfrentar a nova situação política, nacional e regional e mundial. Resumidamente: em parte por causa dos efeitos da crise, em parte porque a burguesia não gosta da combinação de salários altos e desemprego baixo, está ocorrendo uma mudança na postura do grande capital frente ao governo federal encabeçado pelo PT. Ou seja, estão deixando de existir aquelas condições excepcionais que permitiram a um governo de centro-esquerda, liderado por Lula, melhorar a vida dos pobres e garantir grandes lucros aos ricos. O PED é o momento de debater esta nova situação e de decidir que caminho seguir. Claro que haverá os que defendem que o caminho a seguir é fazer concessões ao capital, via concessões, desonerações, subsídios e flexibilizações na legislação trabalhista e social. Confio, entretanto, que a maioria do Partido vai optar por outro caminho: mais democracia, reformas estruturais, fortalecer o mundo do trabalho, reafirmar nossos compromissos socialistas.

 

PG13 – O que diria para o militante petista e para o simpatizante do partido nos 33 anos do PT? Qual é hoje o principal inimigo e a principal ameaça ao PT?

Valter Pomar – Se me pedem para escolher um, eu diria que o principal inimigo é o monopólio da mídia. Hoje, as grandes empresas de comunicação são o quartel-general da direita, dos conservadores. Não apenas do antipetismo, mas anti-esquerda, anti-movimentos sociais, anti-democracia. Agora, a principal ameaça que paira sobre nós é a postura conivente, complacente, tímida, recuada, com que alguns setores do PT e da esquerda em geral tratam este tema. O inimigo está na dele, está fazendo o seu papel, que é o de nos desmoralizar para nos destruir. O problema está em como atuamos frente a isto. Temos que construir os nossos meios de comunicação próprios, temos que democratizar a verba publicitária dos governos que dirigimos, temos que fazer cumprir as leis (por exemplo, parlamentares não podem ser proprietários de concessões públicas de rádio e TV) e temos que alterar a legislação que regula a comunicação social.

 

PG13 – Mas o PT já está há dez anos no governo e, como você diz, pouco avançamos na tão sonhada democratização da comunicação. Por quê?

Valter Pomar – Na minha opinião, prevaleceu no governo uma linha incorreta, de conciliação com as grandes empresas de comunicação. O problema de fundo é o seguinte: a saúde é um direito público, a educação é um direito público, é dever do Estado garantir estes direitos, podendo o setor privado ter um papel complementar, mas sob supervisão pública. Pois bem: na comunicação deveria valer o mesmo critério. Mas na prática segue prevalecendo o contrário: a informação e a comunicação são controlados pelo setor monopolista privado, com quase nenhuma supervisão pública, mas com amplo financiamento público via propaganda governamental. Nós temos os recursos humanos e financeiros necessários para ter uma comunicação pública de imensa qualidade, assim como para ter uma comunicação privada democrática e plural; falta vontade política. E temos a obrigação de democratizar as verbas publicitárias, muito mais do que aquilo que já foi feito.

 

PG13 – Quero insistir no assunto governo. Em 2013, o partido também comemora os 10 anos do Governo Democrático e Popular. O PT conseguiu os avanços a que se propôs enquanto governo e se manteve fiel à sua plataforma?

Valter Pomar – Não foram dez anos de governo democrático-popular. Foram dez anos de governo federal encabeçado pelo PT. Assim está, aliás, no documento que convoca o Quinto Congresso petista. Infelizmente, na hora de dar nome ao evento, acho que alguém ficou com medo de melindrar os aliados com a história de encabeçado pelo PT; e como falar de governo de centro-esquerda é meio frustrante, tacaram a expressão democrático-popular. Sei que para alguns pode parecer uma firula terminológica, mas não é: precisamos exatamente de um governo que faça reformas estruturais no país, por exemplo, a tributária e a agrária, e o nome que sempre demos a isto foi exatamente governo democrático-popular. Feita esta ressalva, a resposta a tua pergunta é: mais ou menos. A plataforma do PT não foi globalmente executada nestes dez anos de governo. Em alguns casos, porque a correlação de forças impediu; noutros casos, porque durante muitos anos prevaleceu no Partido a tese de que é melhor um mal acordo do que uma boa briga. Apesar disto, estes dez anos podem e devem ser comemorados: com todas as limitações e contradições, trilhamos o caminho da superação do neoliberalismo, melhoramos a vida do povo e incentivamos a integração regional. Historicamente, não é pouca coisa. Mas, também historicamente, não é o suficiente. A desigualdade continua brutal, a maioria do povo ainda não tem acesso ao bem-estar social, a democracia política continua refém das elites.

 

PG13 – Você é um dos dirigentes da Articulação de Esquerda, tendência petista que este ano está comemorando 20 anos de fundação. De que forma a AE colaborou para a construção do PT e no que continua a colaborar?

Valter Pomar – Nos anos 80, a tendência hegemônica no PT era a chamada Articulação. Depois de 1989, houve um grande debate no Partido e nesta tendência, sobre como atuar no contexto da ofensiva neoliberal e da crise do socialismo. Este debate resultou, primeiro, numa guinada à direita, que se tivesse prevalecido teria transformado o PT num partido social-democrata. Num segundo momento, como reação, houve um giro à esquerda: entre 1993 e 1995, uma precária maioria de esquerda controlou o Diretório Nacional do PT. Num terceiro momento, a maioria de esquerda foi desalojada: perdemos o 10º Encontro Nacional do PT por apenas 2 votos na tese guia e 16 votos na escolha do presidente do Partido. Durante dez anos, entre 1995 e 2005, a esquerda partidária cumpriu um papel de resistência, oscilando entre 45% e 30% do Diretório Nacional. A Articulação de Esquerda vertebrou, ao lado de tendências como a Democracia Socialista e a Força Socialista, esta resistência. Certamente cometemos muitos erros, mas olhando para trás acho que cumprimos um papel importante para o PT: sem nós, sem a pressão que exercíamos, a maioria moderada do PT poderia ter levado o Partido para um caminho de desacumulação de forças. Dou como exemplos disto: a tentativa de fazer o PT participar da revisão constitucional, que poderia ter nos custado algumas estatais; a tentativa de aprovar o parlamentarismo, que inviabilizaria de fato o governo Lula; a tentativa de lançar outro candidato presidencial, que não Lula, em 1998; e as ridículas tentativas de tratar o PSDB como nosso aliado, tentativas que até recentemente causaram desastres, como em Belo Horizonte.

 

PG13 – Qual é o principal legado da AE e desafios daqui para frente?

Valter Pomar – Acho que nosso principal legado foi o que ajudamos a fazer em 2005. Naquele ano, a direita se empenhou a fundo em destruir o PT. Aproveitou-se, para isto, de erros cometidos por setores do próprio Partido. E, frente ao ataque da direita, outros setores do Partido se acovardaram ou ficaram em tamanha defensiva que não conseguiam, nem mesmo, dizer um único motivo para acreditar, defender e votar no PT. Nós da Articulação de Esquerda, igual a outros setores do petismo, não titubeamos em defender o PT e acho que cumprimos ali um papel muito importante. Embora, é preciso dizer, o papel fundamental tenha sido cumprido pelo petista anônimo, aquela montanha de gente que não apenas foi votar no PED de 2005, mas defendeu o PT na rua.

 

PG13 – A AE terá candidato no PED. Quem será? Qual a plataforma da corrente para o PT?

Valter Pomar – Teremos candidato, que pode ser alguém da própria Articulação de Esquerda, neste caso provavelmente eu mesmo, assim como pode ser alguém integrante de outro setor, desde que óbvio tenha identidade programática com aquilo que defendemos. Nossa plataforma estará disponível em março, no endereço www.pagina13.org.br Seu componente central é: uma nova estratégia para um novo período. Basicamente, defendemos que é preciso passar da ênfase na superação do neoliberalismo, para a ênfase nas reformas estruturais. E que para isto é preciso outro tipo de comportamento partidário: mais mobilização, mais organização de base, mais formação, mais comunicação, mais defesa do projeto socialista. Um partido também para os anos ímpares, como creio já ter dito antes.

 

PG13 – Qual é a sua avaliação sobre a crise de 2005 e a AP 470?

 

Valter Pomar – A crise de 2005 tem duas facetas: por um lado, o ataque hipócrita da direita, que tentou transformar um caso de caixa 2 numa crise constitucional e no supostamente maior escândalo de corrupção na história do país; por outro lado, os erros de importantes dirigentes, que se terceirizaram parte das finanças partidárias para um criminoso tucano chamado Marcos Valério. Como a direita não conseguiu nos destruir em 2005, nem conseguiu nos derrotar em 2006 e 2010, abriu-se para eles o caminho da judicialização da política em geral, e para esta estratégia o caso de 2005 caia como uma luva. Por isto sempre afirmei que o processo no Supremo Tribunal Federal resultaria em condenações. Curiosamente, alguns dos condenados achavam o contrário. A mesma ilusão de classe que os levou a promiscuidade com Marcos Valério, os levou a acreditar no suposto caráter técnico da corte suprema. Claro que para fazer as condenações, foi necessário criar uma nova jurisprudência. Aos inimigos, nem mesmo a lei…

 

PG13 – O que você pensa sobre os atos que são organizados Brasil afora pelo companheiro José Dirceu?

Valter Pomar – Eu penso que ele está no direito dele se defender, até porque sua condenação foi sem provas. Mas se eu fosse ele, agiria totalmente diferente. Primeiro, pelo papel que ele jogou na construção do PT e na direção do Partido durante a primeira fase do governo Lula, acho que ele tem a obrigação de apresentar um balanço crítico e autocrítico de sua atuação. Em segundo lugar, acho que ele deveria acompanhar as deliberações do Diretório Nacional do PT acerca do assunto, que evitam cair na armadilha montada pela direita, que pretende transformar as condenações de alguns filiados em condenação de todo o Partido. Na minha opinião, Dirceu não percebe que a tarefa de defender o PT não deve ser confundida com a tarefa de defender os condenados pelo STF. Em terceiro lugar e mais importante, eu teria enfrentado este tema ainda em 2005, assumindo a responsabilidade política pelos erros cometidos. Se tivéssemos feito isto, estaríamos todos nós, ele inclusive, em melhor condição, agora.

 

PG13 – Então você acha que estes atos não ajudam ao Partido?

Valter Pomar – Como disse, acho que o Dirceu tem o direito de se defender. E acho que os militantes que se sentem solidários a ele, podem e devem participar. Mas na minha opinião política, estes atos não ajudam o Partido, não ajudam o governo e não ajudam os condenados. O PT deve continuar denunciando os atropelos cometidos pelo STF, deve continuar prestando solidariedade aos condenados, sem que isto implique em deixar de reconhecer os graves erros que foram cometidos. Mas a defesa do PT passa pela ação do Partido em torno dos grandes temas da pauta nacional. Quem quer e precisa colocar este tema no centro da pauta é a direita, não nós.

 

PG13 – Qual é a posição da AE a respeito da reforma agrária? Qual é a avaliação da corrente sobre a atuação do governo nesta área?

Valter Pomar – Somos totalmente a favor da reforma agrária. Tanto antes, quanto agora. Seja para combater a inflação, seja por segurança alimentar, seja para democratizar a propriedade e o poder, a reforma agrária é fundamental. O desempenho dos nossos governos, nesta área da reforma agrária estritamente falando, é medíocre. O correto seria que a reforma agrária tivesse a mesma importância e a mesma qualidade que a política agrícola, o apoio aos assentados e aos pequenos produtores.

 

PG13 – Financiamento Público de campanha é fundamental para que?

Valter Pomar – Para que haja democracia. Hoje, a eleição é deformada pelo poder do dinheiro. Não há democracia que resista a isto. E, como a grana chama grana, o investimento das empresas na democracia gera leis e governos em favor das empresas doadoras, gerando também corrupção. A corrupção é um efeito colateral inevitável do financiamento privado empresarial das campanhas eleitorais.

 

PG13 – Qual é a pauta prioritária para o PT no próximo período? Na sua avaliação em que devemos centrar nossas lutas?

Valter Pomar – Politicamente falando? Reforma política e democratização da comunicação. O PT tem que aproveitar este ano, aproveitar o PED, aproveitar seu Congresso, para debater com a sociedade brasileira sobre os grandes temas de nosso país, sobre o balanço de nossos governos, sobre os desafios futuros e sobre os grandes obstáculos políticos a este futuro, hoje: a influência do poder econômico nas campanhas eleitorais e a deformação informativa e comunicacional imposta pelos monopólios da mídia.

 

PG13 – E com a classe trabalhadora qual deve ser a nossa relação?

Valter Pomar – O PT continua sendo o Partido preferido pela maior parte dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras. E também somos o partido preferido da maior parte dos militantes sociais. O problema é que a pauta da mobilização social, no sentido amplo da palavra, não apenas reivindicativo, não ocupa um lugar central na agenda das direções partidárias. Ao lado deste problema, que vem dos anos 1990, há um problema novo: o surgimento de uma nova classe trabalhadora, geracionalmente e sociologicamente, isto que alguns chamam indevidamente de nova classe média. O PT precisa buscar este setor, organizá-lo, mobilizá-lo, impedir que a direita o hegemonize. Em especial a juventude, com destaque para a juventude trabalhadora, que tem que ser reconquistada pelo PT. E para isto precisamos de uma conduta muito forte, que vai desde o funcionamento e postura do PT e da Juventude Petista, passando por fortalecer nosso agir cultural, as politicas de governo etc.

 

PG13 – E  com os países da América Latina, da Europa que encontra-se em crise e EUA?

Valter Pomar – O PT tem uma política internacional bastante ativa, mas os recursos humanos e materiais disponíveis são ínfimos perante a imensidão da tarefa. Na secretaria de relações internacionais do PT temos, contando dirigentes e funcionários, sete pessoas. Quando contamos isto para os chineses ou para os franceses, eles não conseguem acreditar: seus departamentos de relações internacionais contam com mais gente. Se o PT quiser ampliar sua influência internacional, precisamos conhecer mais, elaborar mais, difundir mais o que fazemos e ter presença física mais intensa em todo o mundo. Não são tarefas difíceis em si, apenas exigem recursos, empenho e paciência para formar novos quadros. Felizmente, embora o PT estrito senso tenha pouca gente envolvida, o petismo no sentido amplo da palavra é muito presente na vida internacional, através dos nossos quadros que atuam na área, seja em movimentos sociais, ONGs, nas universidades e centros de pesquisa, governos e parlamentos. Este petismo internacionalista é fundamental para o PT e muitas vezes é o que suplemente a debilidade do aparato partidário.

 

PG13 – O que é ser socialista e defender o PT?

Valter Pomar – É fazer o que fazemos. Claro que quando eu vou a algumas atividades, onde a mesa de debate é composta apenas por organizações de ultra-esquerda, uma mais radical que a outra, é difícil. Mas quando eu lembro que o Brasil real é completamente diferente da composição daquela mesa de debate, quando eu lembro que a esquerda brasileira detém apenas 30% do parlamento nacional, quando eu lembro o ódio que a burguesia, a direita e o PIG têm contra o PT, quando eu penso no papel que o PT e o governo brasileiro jogam no mundo, quando eu penso no quanto melhorou a vida do povo nesses dez anos, aí eu acho que defender o PT é uma das coisas mais fáceis e necessárias.

De maneira similar, quando vou a reuniões dominadas por gente acrítica e burocratizada, que acham que está tudo 100% bem, que tem como horizonte máximo administrar, fica difícil. Mas basta mudar de ambiente, para ver que há dezenas ou centenas de milhares de petistas que não querem apenas governar, querem transformar o país e o mundo. Que não aceitam o neoliberalismo e o capitalismo como horizontes intransponíveis. E que não entraram no PT para fazer carreira, para ter cargos, mas sim para organizar e potencializar sua militância. Nestas horas, eu continuo achando válida uma opinião que eu tinha nos anos 80, ou seja, que o petismo pode ser o socialismo adequado às condições brasileiras. A conferir, pois esta história ainda está sendo escrita.



Bertoni