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Blog Comunica Tudo

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir. Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

Os novos defensores da censura

24 de Julho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda
Por Diego Pignones
Tá rolando no Facebook uma campanha pela “não à propaganda política no Facebook”.

Primeiramente, vamos analisar alguns fatos:
- Esta será a primeira vez que o Facebook será utilizado de maneira maciça para angariar votos;
- Há dois anos, tal estratégia ainda pertencia ao Orkut, ao Twitter e aos blogs de campanha;
- A internet é um meio de comunicação;
- As redes sociais são suportes de comunicação gratuitos aos seus usuários. Mas, lucram vendendo espaços publicitários para anunciantes;
- Cada conta/usuário é um veículo de comunicação, pois veicula mensagens/opiniões.


Desse modo, podemos concluir que as redes sociais são mídia, já que vendem espaços publicitários, são suportes de comunicação e cada conta/usuário é um veículo de comunicação.
Ou será que ainda existem ingênuos que pensam que o Facebook é um boteco virtual criado por Markito Zuckerberg para nos divertirmos de graça sem que ele lucre um puto centavo?

As redes sociais são o instrumento de comunicação mais democrático que existe, uma vez que basta que o usuário se cadastre e comece a veicular conteúdo. Desde de que entrei no Facebook tenho visto mensagens compartilhadas que não fazem parte de meu ideário, credo ou gosto pessoal, mas nem por isso lancei indiretas ou agredi textualmente a pessoa porque ela é livre pra se manifestar.

Afinal, é a liberdade de expressão.

Compartilhar mensagens cujo conteúdo seja o de cercear a liberdade de expressão é concordar com a censura. Então, a esses novos defensores da censura digo:

Não adianta postarem conteúdo a favor da liberdade de imprensa ou da liberdade de expressão, se compartilham ou já compartilharam imagens contra a propaganda eleitoral no Facebook.

Mas qual seria o argumento de quem esta compartilhando a mensagem contra a propaganda política/eleitoral no Facebook?

Propaganda indesejada.

Então, os novos defensores da censura no Facebook nunca receberam um e-mail sobre aumento de pênis, pacotes de viagens, sites de compras coletivas, enfim, um spam?

Também nunca receberam ligações de uma central de telemarketing? Nunca receberam filipetas ou encartes de supermercados em suas caixas de correspondência?

Será que fazem parte do seleto grupo que ainda pensa que o que sustenta um jornal ou revista são os assinantes ao invés de a publicidade?

Quanto menos falarmos de política e enquanto existirem pessoas ‘midiotizadas’ compartilhando conteúdos que visam à censura política, mais filhos da puta-corruptos-falcatruas são eleitos.

Mas até agora não entendi uma questão: A Europa sempre é utilizada como exemplo de povo politizado, mas o que há de errado em ser politizado no Brasil?

Diego Pignones
Publicitário e pesquisador em Comunicação Social.
Twitter: @diegopignones





Analisando a proposta do Governo para os Professores

22 de Julho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Publicado no Acerto de Contas
Na semana passada, enquanto estava viajando, o Governo apresentou uma proposta para os professores das universidades e institutos federais, que já dura mais de dois meses.
Antes de começar, é preciso falar da estranheza da demora no início de qualquer tentativa de aproximação com os professores. O Governo ficou apostando que a greve iria sumir do mapa, como se as coisas funcionassem dessa forma.
Mas vamos esquecer este fato para analisar ponto a ponto a proposta do Governo e a real situação dos professores das universidades.

A Carreira Hoje
Atualmente a carreira de professor universitário é uma das piores do Governo Federal. Não falo que é a pior porque ainda tem os técnicos-administrativos, que na média ainda conseguem ter uma carreira mais difícil.

Muita gente gosta de citar o caso do salário inicial do Professor Adjunto com Dedicação Exclusiva (eu mesmo cito porque é meu caso), mas não podemos esquecer que o Professor Adjunto já é um profissional no mais alto nível de qualificação acadêmica (com Doutorado). Em titulação não há mais o que alcançar.

Uma tabela que circulou na internet fala isso.

Reprodução/Facebook

Se formos comparar em termos de titulação com outras categorias, deveríamos pegar o Professor que não tem mestrado ou doutorado, que é o caso de técnicos de outras carreiras e que não possuem Dedicação Exclusiva, que é também o caso de outras carreiras. Este seria o Professor Auxiliar com 40 horas.

Pois bem…um Professor com Graduação apenas, que trabalha 40 horas semanais, ganha hoje R$ 2.215,54 bruto. Se acha que é mentira, veja aqui. Isto mesmo, um Professor Universitário com graduação apenas (conheço casos como esse) ganha menos de 4 salários mínimos. O valor está um pouco divergente da tabela acima, em função dos 4% de reajuste do ano passado que só chegou agora.

Claro que podemos alegar, e eu concordo com isso, que só deveríamos ter professores com titulação, mas se é para compararmos os iguais (funcionários públicos), vamos às comparações por titulação e por oportunidades.

Já fiz um texto no Acerto de Contas, falando da enorme distorção que aconteceu entre carreiras semelhantes no Governo Federal durante o Governo Lula (ganhamos hoje menos que em 1998), à exemplo dos pesquisadores do IPEA e MCT. Basta ler o texto que irá saber do que estou falando. Um pesquisador com Doutorado no IPEA entrava ganhando R$ 300,00 a menos que um Professor com Doutorado. Hoje entra ganhando R$ 5 mil a mais.

Um professor com Doutorado, em DE, ganha hoje R$ 7.627,00 bruto. Isso com a exigência de não poder fazer absolutamente mais nada, o que é uma fantasia da Dedicação Exclusiva. E também estamos falando de um professor com Doutorado, que é a mais alta titulação passível de ser obtida. Não estamos falando de um recém-formado.

Essa “pequena” introdução foi apenas para falar de como está ruim o Salário de um Professor.

Mas vamos à proposta.

A Proposta do Governo

Desde 2008 ficou acertado com o Governo Federal uma mudança na carreira do Professor. Isso foi empurrado com a barriga para 2010, e depois para 2011, e depois para 2012, até que a greve estourou.

A proposta do Governo (e qualquer outra em debate) deve ser observado sob três ângulos: a questão salarialem si, a progressão na carreira e o interesse na melhoria da universidades (que significa uma melhoria qualitativa dos professores).

E_o_salario__oh__by_yoshiyaki

Do ponto de vista salarial, proposta apresentada pelo Governo é ridícula.

Falou-se que os professores teriam um aumento de 45%, mas isso só existe para 7% dos atuais docentes, que são titulares. O restante receberia aumentos em 10% ao ano, até 2015. Parece muito, mas se levarmos em consideração dois anos sem aumento (apenas 4% de reposição) e o nada que ganhamos durante o Governo Lula (apenas reposições), nos coloca apenas em situação semelhante ao Governo FHC.

Claro que a colocação da classe de Associado em 2008 ajudou na carreira, mas estou aqui falando do Adjunto.

A ideia original era a de equiparação ao MCT, mas isto não ocorre, já que hoje o Adjunto 1 entra ganhando R$ 10.350,68 (ver aqui) no MCT como pesquisador. Sem a necessidade de Dedicação Exclusiva. Na prática ele é pesquisador durante o dia e pode dar aulas em outra instituição à noite, ou complementar a renda como deseja.

A proposta do Governo é elevar o salário do Adjunto 1 a R$ 10.007,24, mas isto apenas em 2015. Veja que estamos falando do próximo Governo. O aumento chega após três anos.
Isso simplesmente não existe.

O titular, que ganhará (em 2015), R$ 17 mil, não pode servir de parâmetro, pois como já vimos, é minoria absoluta.

Um bom parâmetro de comparação está na matéria feita pelo UOL, mostrando que o Professor ganhará inicialmente apenas 0,85% a mais do que hoje.

Do ponto de vista da carreira, esta sofreu algumas poucas modificações na proposta do Governo.

A estrutura de classes basicamente não mudou. Apenas extinguiram os níveis horizontais das classes de Auxiliar e Assistente, mas isso não muda quase nada.

Além disso, o período entre as progressões manteve-se o mesmo.

Mas aí está um ponto interessante, para não dizer bizarro.

Exige-se agora que para progredir o professor tenha 12 horas semanais de sala de aula no mínimo, o que corresponde a três cadeiras. Para quem não tem pesquisa, nem participa de cargos administrativos ou de pós-graduação, este é o padrão. Mas para estes outros o padrão é de 4 horas (cargos administrativos) ou 8 horas (para quem tem pesquisa aprovada). A grande maioria dos professores das pós-graduações está neste patamar.

Pode-se achar pouco, mas é o que se pratica em todos os lugares do mundo, já que espera-se que os professores orientem alunos de mestrado e doutorado, além de exercerem outras atividades de pesquisa. Quando eu era Coordenador de Curso, normalmente ficava com uma turma adicional, mesmo tendo pesquisa, por uma necessidade interna, mas este não deve ser o padrão.

Em outras palavras, o Governo quer que o professor mais produtivo (pelo menos na teoria) trabalhe 50% a mais para progredir na carreira. Isso tudo sem nenhum aumento salarial significativo que justifique.

No fundo a única coisa que o Governo está pensando é em tapar o buraco aberto com a expansão de vagas pelo Reuni, já que a maioria dos professores ainda nem foi contratada.
Um ponto positivo está na possível progressão a Professor Titular dentro da carreira, ao invés de concurso específico. O Governo colocou uma barreira de 20%, mas acredito que isso possa ser negociado.

Outros dois pontos não vejo como negativo, apesar da chiadeira dos sindicatos, e argumento aqui.
  1. A centralização de critérios de promoção através de regras do MEC – atualmente as Universidades decidem suas regras, e na prática a distorção acaba reinando. Enquanto na UFPB se progride com um ofício fazendo o mínimo, na UFPE o professor segue uma via-crúcis de papelada desnecessária, que acaba prejudicando o processo. Além disso, há distorções de interpretação de legislação dentro dos próprios departamentos e Centros, fazendo com que o professor tenha não apenas mérito, mas sorte de cair em uma unidade de avaliação mais frouxa. Neste caso bastaria ao MEC regular como seriam as promoções, respeitando algumas regionalidades.
  2. A aceitação da percepção de recebimento através de projetos – Isso na prática já existe com as fundações, e a tentativa do MEC em regular é um avanço. Os sindicatos estão brigando contra isto, mas é apenas um dogma inútil.
Já em relação à melhoria da qualidade dos professores, obviamente não é um debate fácil. Apenas pode ser medido por critérios objetivos.

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Há uma grita geral em relação à isso, e os sindicatos ainda tentam brigar com o que é razoável, que é a progrressão na carreira por mérito, e este só pode vir através da titulação e da produtividade acadêmica.

Professores mais titulados devem ganhar mais. E professores mais produtivos também precisam ser remunerados por isso através de promoções.

A proposta do Governo, na prática, não mexe com isso. O sindicato quer afrouxar e o Governo quer apertar. O resultado é apenas manter do jeito que está, que não atende aos interesses de ninguém, especialmente das universidades.

Claro que um professor que produz mais merece ascender mais facilmente na carreira. Assim como deveríamos ter aplicações de métodos desta forma para avaliação da qualidade dos compromissos assumidos com a sala de aula. Não se pode admitir professores descompromissados com a mesma percepção de carreira de profissionais comprometidos.
Muito se fala do produtivismo, e que a atividade do professor é diferenciada, mas horário de aula deve ser cumprido e assiduidade deve ser exigida do profissional. Isso é o mínimo.

Já em relação à produção acadêmica, esta realmente é mais complicada, porque a quantidade de trabalhos sem impacto gerados apenas para completar os pontinhos da Capes é imensa. Esta-se reproduzindo a figura doHomo Lattes, que chega ao final da carreira e produziu penas de textos  sem relevância.

Mas isto é assunto para outra discussão.

Resumo

Em resumo, a proposta do Governo simplesmente não atende a ninguém.

Não consegue resolver o problema salarial dos professores e muito menos mexe de maneira coerente com a carreira.

Na prática estão fazendo dois movimentos: empurrando com a barriga o problema para o próximo Governo e procurando resolver o buraco deixado por Lula e Haddad com o Reuni.




Entrevista com Pedro Cardoso exibida em 2009

22 de Julho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários aindaLeda Nagle entrevistou o ator Pedro Cardoso no programa Sem Censura, da TV Brasil, em17 de setembro de 2009. Embora já tenha alguns anos, o conteúdo da conversa entre os dois é muito pertinente e atual. Por isso resolvi publicar aqui. O vídeo postados no Youtube está dividido em quatro partes.

Na verdade, este post começou com a recente 'polêmica' no programa de Pedro Bial, no qual Pedro Cardoso defendeu seus conceitos contra os paparazzi. Fiquei interessado em ouvir mais ideias do ator, alguém a quem admiro como profissional e como pensador. Até mesmo em meu último post, Ensaio sobre o partidarismo político, chego a citar uma pequena ideia que ele coloca nesta entrevista. Assista:

Parte 1


Parte 2


Parte 3


Parte 4




Ensaio sobre o partidarismo político

20 de Julho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Todos os partidos políticos são variantes do absolutismo, já dizia Proudhon no século XIX. Pensamento com o qual concordo. Mas para entender o significado profundo é preciso compreender melhor o que é absolutismo. Segundo o dicionário Priberam Online:

absolutismo 
1. Sistema de governo em que o poder do chefe é absoluto.
2. Despotismo, tirania, autocracia.
3. Poder absoluto e ilimitado.

Entenda-se que o partido político, ao vencer uma eleição, ganha para si o poder de administração, não somente dos bens públicos, mas também da regulamentação dos bens privados. Podem assim dizer que os políticos governam para o povo e em nome da democracia, ou melhor, dentro de um sistema democrático. Será?


Fosse assim, na história brasileira, não teríamos visto escravidão, ou será que alguém deseja ser escravo? Fossemos democráticos, no Rio de Janeiro, e não veríamos pacientes internados serem transferidos do Iaserj (Instituto de Assistência aos Servidores do Estado do Rio de Janeiro), na calada da noite. Ou será que alguém o desejaria? Fossemos “do povo e para o povo” e não assistiríamos o Núcleo para Idosos do Hospital Estadual Albert Schweitzer – RJ -  sendo fechado e deixando 1.600 senhores e senhoras sem atendimento.

Chegam a nos dizer que o Estado deve administrar a coisa pública com mão forte, porque nem sempre o povo sabe o que é melhor pra si. E mais, que o Estado gere e escolhe o que é melhor para todos ou pelo menos, para a maioria. Será?

Onde está a maioria da população que decidiu deixar impune os militares da ditadura brasileira que torturaram, mataram, estupraram, ocultaram cadáveres, prenderam sem acusações ou processos legais? Onde está a maioria do povo brasileiro que escolheu sucatear a saúde, a educação, a industrialização nacional, a tecnologia tupiniquim, o saneamento e muito mais, em nome de uma oligarquia e uma elite financeira que há séculos domina este país?

Existem ainda outras questões que me povoam a mente quando pensamos na tal democracia brasileira. Principalmente quando chegamos numa campanha eleitoral. Minha caixa de e-mail começa a ser povoada por textos partidários ofendendo e denegrindo outros partidos. Qual o motivo? Desejam, todos, governar as diferenças, em nome da democracia? Bem, se não sabem administrar as diferenças nem em campanhas eleitorais, sem recorrer a joguetes ridículos para competir numa eleição democrática, quão melhor se sairão para resolver as diferenças de milhões de cidadãos, cujas vidas, direta ou indiretamente, dependem de ações políticas?

Claro está para todo mundo que a disputa eleitoral entre partidos é uma disputa entre modelos diferentes de governança. Está? Programa de governo não parece ser algo claro para a maioria da população; ao menos, esta ignorância parece ser verdadeiramente democrática. Direitos e deveres dos cargos políticos e públicos também não parece ser algo esclarecido para a maior parte do povo. Mais uma vez, parece que temos na ignorância de algo o nosso elemento unificador e democrático.

A minoria do povo brasileiro, provavelmente, pode ser chamada de militante ou ativista político ou algo que o valha. A maioria ainda diz que futebol, política e religião não se discutem, ou seja, a omissão me parece eminentemente democrática no Brasil.

Enquanto escrevo este texto, nossos partidos políticos continuam bradando em nome da democracia. E para vencer na gestão de milhões de diferentes cidadãos, estes partidos agem no sentido de arruinar seus adversários, bombardeando as diferentes posturas de si de modo enfático. Mais uma vez pergunto: como lidarão com as diferentes posturas quando assumirem o poder? Bombardearão e destruirão mais uma vez? Parece-me que a aniquilação das diferenças é algo extremamente democrático no Brasil.

Um dia, penso eu, nosso país irá amadurecer. A partir deste momento, o povo brasileiro compreenderá que partidos políticos são variantes do absolutismo e que desejam o poder em suas mãos.

Pedro Cardoso, numa entrevista concedida em 2009, fez uma afirmação muito feliz, em minha opinião. O PT, no governo federal, foi o melhor governo que já tivemos, principalmente se o compararmos aos anteriores. Mesmo assim, o partido dos trabalhadores continua governando em nome da mesma máquina que mantém o Brasil como exportador de matéria-prima, em franco processo de desindustrialização, com uma educação pífia, uma saúde deficiente, um saneamento básico muito abaixo do básico e assim por diante. Há tempos mantemos nosso país governando para bancos e empresas transnacionais, com um governo que financia, em grande parte, a mesma mídia oligárquica que luta contra a evolução da nação.

Se somos a quinta economia mundial, também somos o único país da América Latina a não punir seus ditadores que cometeram inúmeros crimes e continuamos atrás até mesmo de países da África, neste quesito. Se seremos a sede de uma Copa do Mundo e de uma Olimpíada logo em seguida, ainda temos índices de homicídios assustadores, maiores que muitas guerras que já aconteceram ou ainda acontecem. Por isso evoco você, cidadão, a pensar qual democracia o partidarismo brasileiro tem sustentado e mantido?

Insisto em pensar e sonhar e lutar o quanto posso em nosso amadurecimento político e social. Penso que um dia compreenderemos que quem faz política é o cidadão (eu e você) e tomaremos para nós as rédeas da nossa história, seja como indivíduo, seja como nação. É por isto que sonho e vivo. Talvez seja esta a minha utopia.




Por que o Brasil se atrasa

18 de Julho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

1. desindustrialização do Brasil não tem sido explicada adequadamente, sequer pelos economistas menos vinculados à ideologia das corporações transnacionais.

2. Em entrevista à BBC (13.07.2012), Gabriel Palma, professor da Universidade de Cambridge, Inglaterra, lembrou que, em 1980, a produção industrial no Brasil superava a do conjunto formado por China, Índia, Coreia do Sul, Malásia e Tailândia e que, em 2010, já não representava senão 10% do total produzido nesses países.

3. O economista Leonardo Guimarães Neto, publicou artigo no portal do Centro Celso Furtado, Ano 6 - Edição 8, Recife, 13.04.2012, intitulado A retomada da indústria brasileira: o recado de Antônio Barros de Castro”.

4. Nele aprecia o pacote estímulos, de R$ 60 bilhões, à indústria brasileira (sic), incluindo: desoneração fiscal, ampliação e barateamento do crédito; redução de até 30% do imposto sobre produtos industrializados para o setor automobilístico; redirecionamento de compras governamentais para bens produzidos internamente; redução de impostos na tecnologia da informação.

5. Deixa de denunciar mais esse absurdo presente à predadora indústria automobilística estrangeira, que não cessa de descapitalizar o País, enviando ao exterior os ganhos oligopolistas arrancados dos consumidores nacionais.

6. Omite também que, sob a presente estrutura industrial, dominada pelas transnacionais, os investimentos e subsídios aos centros de pesquisa tecnológica significam desperdício de recursos públicos, porquanto, não havendo empresas nacionais viáveis no mercado, só ínfima fração do resultado das pesquisas resultará em inovação tecnológica.

7. Observa Guimarães, que, embora bem recebido, o pacote foi considerado insuficiente por sindicatos patronais e de trabalhadores. Esses reclamam:

  • (I) desvalorização cambial,
  • (II) redução dos juros e dos spreads bancários e
  • (III) redução do preço de insumos fundamentais para a atividade industrial, como a energia elétrica.
8. Segundo Guimarães, a perda de competitividade da indústria nacional [sic] não se deve só ao custo Brasil: enorme carga tributária; juros e spreadsbancários altos; elevados preços da energia elétrica; enormes déficits de infra-estrutura de transporte e logística.

9. perda estaria associada à reduzida capacidade de inovação da grande maioria dos segmentos produtivos da indústria nacional (sic), em contexto de acelerado avanço tecnológico nos países competidores, tais como a China.
10. Precisamos, porém, ir mais fundo. Entender por que essa capacidade é reduzida. Daí, inseri três vezes o advérbio latino “sic”, após “indústria brasileira ou nacional, porque a questão básica, intocada nas discussões correntes; é a desnacionalização, o fato de a produção realizada no Brasil não ser nacional, mas subordinada às matrizes das transnacionais estrangeiras que a controlam.

11. É ridículo falar em inovação tecnológica com a indústria desnacionalizada e com os seus centros das decisões sobre produção e mercados, situados no exterior.

12. Se não há inovação tecnológica no Brasil é porque as transnacionais se apropriaram de tecnologias no exterior, amortizaram-nas com as vendas em outros mercados e as utilizam aqui a custo real zero, tal como acontece com as máquinas e equipamentos importados a preços superfaturados.

13. Por que, então, tais indústrias não são competitivas, se seus custos reais de produção são extremamente baixos, ademais de as transnacionais receberem colossais subsídios prodigalizados pelos governos federal, estaduais e municipais?

14. Porque o valor contábil das despesas das subsidiárias no Brasil é levado às alturas, através dos preços que estas pagam às matrizes nas importações dos bens de produção (inclusive o da tecnologia, jamais transferida): os bens de capital e os insumos, tudo é superfaturado, além de serviços sobrefaturados e até fictícios.

15. Em suma, as políticas de favorecimento às transnacionais, inauguradas em 1954, e intensificadas desde então, fazem que os brasileiros paguem para se tornarem pobres. Os fabulosos lucros reais obtidos pelas transnacionais são transferidos ao exterior, não apenas como tal, mas também através desses superfaturamentos e do subfaturamento de exportações.

16. Estando a economia concentrada por empresas transnacionais e bancos, na maioria desnacionalizados, e os “nacionais” associados aos estrangeiros e com eles ideologicamente alinhados, é esse sistema imperial que elege os “governantes” nos poderes do Estado brasileiro, pois as eleições dependem dos dinheiros para as campanhas e do acesso às redes de TV comerciais, vinculadas aos mesmos interesses.

17. Em tais condições, tornam-se inócuos os votos piedosos dos economistas, quando recomendam reformular a infra-estrutura de transportes e logística, baixar os juros até o patamar internacional (o que viabilizaria reduzir a carga tributária), desvalorizar a taxa cambial etc..

18. Mantendo-se a atual estrutura de poder, essas medidas seriam irrealizáveis, além de que, para funcionarem, acarretariam a necessidade do controle de capitais e da estatização dos principais bancos, ou seja, políticas ainda menos toleráveis para os aproveitadores dessa estrutura.

19. Assim, o governo que empreendesse tais políticas, seria desestabilizado e derrubado antes de promover a indispensável a passagem do controle da indústria para capitais nacionais, privados e públicos.

20Se a indústria não for realmente nacional, jamais terá chance de ser competitiva. O mesmo se aplica à infra-estrutura econômica (energia, transportes e comunicações) e à social (saúde, educação e cultura). Há quedesmercadorizar os serviços públicos e eliminar as agências “reguladoras”, devolvendo o poder delas ao Estado.

21. Também importante para o Estado é recuperar funções perdidas com o modelo do “consenso de Washington” é a total reformulação da administração pública, generalizando-se os concursos públicos, a formação de técnicos e administradores, e instituindo a aferição de desempenho, com possibilidade de demissão, seleção de quadros desde a escola primária, etc..

22. Voltando a Guimarães: “Segundo Antônio Barros de Castro ...não se trata hoje de superar um hiato em relação a concorrentes que evoluíam lentamente em termos tecnológicos e de produtividade. Para ele, esta premissa não existe mais, e os concorrentes do Brasil, notadamente a China, ainda estão alcançando novos patamares de produtividade e aumentando o esforço tecnológico para acelerar sua eficiência”. China teria superado a fase de “made in China” para outra de “created in China”.

23. Ora, como assinalei no artigo Tecnologia, Desenvolvimento e Ilusões, publicado em maio, é incrível que até os economistas que não se restringem a discutir política macroeconômica, conclamem para a necessidade de inovação tecnológica sem reconhecerem a impossibilidade dela num país cujos mercados estão sob controle praticamente total de empresas transnacionais. 

24. Em artigo próximo tentarei resumir a avassaladora ocupação da economia brasileira, a qual prossegue em tal velocidade, que a empresa nacional é, cada vez mais, espécie em extinção.

25. De novo, Guimarães: Castro acredita que o Brasil, de início, deve ganhar tempo até induzir as grandes transformações, garantindo superávits no balanço de pagamento por 10 ou 15 anos com petróleo e matérias primas agrícolas, além da expansão do mercado interno “colocando areia para limitar a ocupação do mercado interno por importações ...”.

26. Isso seria, na realidade, perder tempo. E o Brasil já se atrasou demasiado nos últimos 58 anos! Proteção para a indústria, na atual estrutura, só favorece as transnacionais e eleva os incalculáveis prejuízos que vêm causando ao País.

27. De resto, enquanto se dilapidam os recursos naturais através das exportações primárias, as receitas são usadas para pagar por serviços superfaturados e fictícios, às matrizes das transnacionais, e para importar bens de alto valor agregado e insumos grandemente superfaturados. Nem se fica sabendo o que valem as matérias-primas exportadas, nem o balanço de pagamentos se equilibra sem endividamento.

28. Isso implica fomentar a estrutura econômica atrasada, como a da Venezuela, por mais de um século, antes de Chávez: exportar quantidades fabulosas de petróleo e ficar com a estrutura econômica mais primitiva da América do Sul, para gáudio do império anglo-americano.

29. Com governos acomodados às imposições do império, até por carecerem de consciência nacional, as transnacionais estão ocupando até os espaços recomendados por Barros de Castro e seguidores, como a agroindústria do etanol e a química baseada na energia vegetal. Note-se que nem falam dos óleos vegetais, como o dendê, capaz de produzir mais óleo – melhor que o de petróleo - do que a Arábia Saudita.

(Texto escrito e enviado por *Adriano Benayon, Doutor em Economia e autor de “Globalização versus Desenvolvimento”. Publicado originalmente no Rede Castor)