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Ucrânia e Rússia: para sairmos do senso comum neste conflito
10 de Março de 2022, 19:30Ouço e vejo tantos especialistas em assuntos políticos darem suas opiniões sob o conflito Ucrânia e Rússia que parece fácil entender o assunto e apontar um vilão. Sabemos que num conflito bélico, não há inocente. O lado pior do ser humano passamos a conhecer nestes momentos. Ao fim de cada comentário dos chamados especialistas, para os leigos fica fácil entender e responsabilizar somente uma nação: a Rússia.
Para os historiadores especializados em Europa, falar da Rússia, dos primórdios do Principado de Kiev (hoje a Ucrânia), seria um deleite, que já não é tão tranquilo assim de estar resumindo a um único texto.
A União Soviética existiu por 69 anos e a Rússia ficaria no seu lugar, fraca e sem peso político e militar. Boris Yeltsin era a cara da acometida Rússia. Homem doente, sem personalidade e que sofria de alcoolismo e andava com a mala do juízo final.
Dentre idas e vindas de uma outra geopolítica no campo europeu ficou acertado que as duas alianças militares, a OTAN e o Pacto de Varsóvia, iriam desaparecer. Não havia mais a necessidade da existência das duas forças militares. Acontece que o acordo foi simbólico e sem assinatura de documentos. O erro foi neste momento em que ambas as partes não registraram nada a mais. A porta do expansionismo ficou aberta para OTAN.
Na década de noventa, a Federação Russa estava obsoleta, perdeu vergonhosamente a guerra contra a Chechênia. Enquanto isso, a OTAN começava a aglutinar os países do leste europeu.
Foi a OTAN que começara a provocação. O Presidente Putin, num olhar aguçado (foi espião pela antiga KGB), já percebia o avanço da OTAN mais ao leste da Europa. O atual diretor da CIA (Serviço Secreto norte americano) William J. Burns, corrobora do mesmo pensamento do presidente Russo há mais de duas décadas sob o avanço da OTAN ao leste da Europa. Segundo Burns, "a hostilidade à expansão inicial da Otan é quase universalmente sentida em todo o espectro político interno aqui" (https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60584900).
Implícito e em dois momentos, William J. Burns advertia ao ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, sob o afrontamento e naquele instante, a Polônia, a Hungria e a República Tcheca davam sinais para entrar na Otan.
Como nada na História é à toa, William J. Burns escreveu a sua preocupação à ex-Secretária de Estado, Condoleezza Rice: "a entrada da Ucrânia na Otan é a mais brilhante de todas as linhas vermelhas estabelecidas pela elite russa (não apenas Putin). Em mais de dois anos e meio de conversas com os principais atores russos, desde aqueles que se escondem nos recantos sombrios do Kremlin aos críticos liberais mais ferrenhos de Putin, ainda não encontrei ninguém que veja a Ucrânia na Otan como algo além de um desafio direto aos interesses russos" (https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60584900).
Ao chegar à presidência da Federação Russa nos anos dois mil, o presidente Putin iniciava a modernização das forças armadas Russas, valorizava a ciência e investia nas universidades. Faltava adivinhar quando colocaria as cartas na mesa da geopolítica mundial.
O engano das grandes potências foi pensar: quem foi um dia líder deve estar adormecido, numa espécie de hibernação. A Grande Rússia estava ferida e perdida, mas não morta.
Não concordo com a invasão da Ucrânia por parte da Rússia. Entendo a preocupação de Vladimir Putin de estar sendo cercado por países da OTAN. Não necessariamente, há sempre bases militares da OTAN com mísseis convencionais em países, apontados estrategicamente. Não estou afirmando nada, mas não estranhe caso isso venha acontecer na Ucrânia e países bálticos. Já pensou você sabendo que seus vizinhos estão prestes a afunilá-los, o que você faria? Isso que Putin vem sentindo, sendo desafiado.
Vladimir Putin deve ser responsabilizado e por outro lado, não estou enaltecendo um governo ucraniano que caiu igual a um rato preso, não sabendo o que fazer. Agora vê-se em apuros e está igual a um adolescente pedindo ajuda à OTAN.
Nesse momento, os EUA estão impondo sanções sobre a Rússia como uma forma de penalizar o governo russo em questão da guerra da Ucrânia. De fato, pode-se dizer que a Rússia se preparou para realizar esse movimento militar, pois elevou a sua reserva cambial para a quarta maior do mundo, sendo avaliada em 600 bilhões de dólares e possui um parceiro econômico, a China, que poderá intervir com as demandas de bens de consumo, além da criptomoeda chinesa que poderá ser usada em negociações futuras.
As sanções que o governo norte-americano colocou sobre a Rússia acabou sendo um empecilho a eles mesmos, os EUA, pois não poderão exportar petróleo e outras commodities da Rússia e se veem na obrigação de ter que negociar com a Venezuela. Sim, com a Venezuela, que o próprio governo estadunidense colocou sanções econômicas como uma forma de “punir pela falta de democracia”. Algo bem hipócrita e, talvez sim ou não, o presidente Maduro negocie a retirada dos embargos que os próprios venezuelanos e cubanos sofrem pelos EUA.
A guerra vai muito além do senso comum. Está além do que a mídia coloca como um lado é “bom” e o outro lado é “mal”. Devemos ampliar o nosso senso crítico e analisar o porquê de qual atitude está ocorrendo. Nos questionar o porquê do atual conflito entre Rússia e Ucrânia, mas para isso, deve-se aprofundar ao menos nas questões políticas, sociais, históricas e geográficas.
(Por Fabio Idalino Alves Nogueira, graduando em História pela UVA/RJ e professor de pré-vestibular comunitário; e Gabriel Luiz Campos Dalpiaz, professor de Ed. Física na UEMS e estudante de filosofia.)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..