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O jornalista, um fingidor - entre a emoção e o escárnio
30 de Janeiro de 2013, 22:00 - sem comentários ainda É parte das crenças nas redações que o jornalista, por viver imerso nos fatos e em contato quase permanente com os dramas da sociedade, acaba por desenvolver uma espécie de capa impermeável emocional.Essa seria uma qualidade exigida, por exemplo, para os repórteres de televisão e rádio, os âncoras dos telejornais e os entrevistadores em geral.
Apresentador do Jornal Nacional, da Rede Globo, William Bonner costuma ser lembrado por ter sido capaz de noticiar a execução de seu colega Arcanjo Lopes do Nascimento, o Tim Lopes, em 2002, com o rosto praticamente impassível, sem demonstrar seus sentimentos.
Mas também é citado por não ter podido conter as lágrimas ao anunciar outra morte, no ano seguinte, a do seu patrão Roberto Marinho.
Essa característica atribuída a jornalistas tem sido também a origem de muitos equívocos na interpretação dos sentimentos alheios.
Eventualmente, correm até apostas nas redações sobre quanto tempo determinado acontecimento vai levar até começar a produzir anedotas entre jornalistas.
Um jornal importante, como o gaúcho Zero Hora, pode passar de manifestações explícitas de luto, como a colocação de faixa pretas em suas páginas, até o extremo oposto, o de admitir conteúdo de puro escárnio às vítimas.
Correm na internet manifestações de protesto contra a charge publicada na terça-feira, dia 29/01, pelo principal jornal da região Sul do País, sob o título “Uma nova vida” (ver aqui: www.coletiva.net/site/noticia_detalhe.php?idNoticia=48570).
A obra, assinada pelo veterano chargista Marco Aurélio, retrata uma longa fila de estudantes mortos, postados diante de um prédio identificado como “USP – Universidade de São Pedro”. Da porta, o próprio São Pedro recebe e direciona os jovens conforme a especialidade – arquitetos, sala 5 com Niemeyer; gente da pedagogia, com Gilberto Freire; medicina, sala 7 com Zerbini” – e assim por diante.
É uma referência direta aos mortos na boate Kiss, de Santa Maria, que o mais reles pasquim de quinta categoria teria pejo de exibir.
Após as primeiras críticas de leitores, o desenho desapareceu da versão online do jornal e o blog “Os diaristas”, que costumava publicar os trabalhos de chargistas e caricaturistas do grupo Zero Hora, foi tirado do ar.
Mas fica a pergunta: o que é que o jornal gaúcho pretendia ao publicar esse monumento ao mau gosto?
O jornalista, um fingidor
Na verdade, os jornalistas, como o inverso do poema, apenas fingem não sentir a dor que deveras sentem.
Por essa razão, entre outras, espera-se deles que dominem o vernáculo e as demais linguagens da comunicação, de modo a poderem se aproximar dos fatos com alguma objetividade, sem pieguice mas também sem frieza.
Em episódios de risco de má interpretação, a medida mais salutar é eliminar as fontes de possíveis equívocos.
No caso da tragédia de Santa Maria, o mais correto seria dispensar os chargistas de terem que caminhar na corda bamba.
Mesmo porque uma seção de humor é a última coisa que o leitor gostaria de ver num jornal em uma ocasião como essa.
Nesta quinta-feira (31/01), os jornais de circulação nacional começam a deixar para trás os relatos emocionados de sobreviventes e parentes das vítimas fatais e investem na apuração das causas da tragédia.
Além disso, instigam as autoridades a tomar uma posição mais clara quanto à necessidade da prevenção de riscos nas casas noturnas em outras cidades.
A Folha de S. Paulo volta a tratar do assunto em manchete, noticiando que a prefeitura da capital paulista promete fazer uma avaliação das boates da cidade em noventa dias.
O Estadão informa, na primeira página, que o dono da boate Kiss instalou a espuma de plástico que gerou a fumaça tóxica sem consultar os bombeiros nem a prefeitura de Santa Maria. E também registra as medidas preventivas tomadas em São Paulo.
O Globo alerta que há no Rio de Janeiro 49 espaços culturais sem alvará e também anuncia um mutirão de vistorias.
Os familiares das vítimas finalmente podem se retirar para o luto privado, com menos risco de virem a ser convocados a expor suas penas diante das câmeras.
O foco agora á a caça aos responsáveis, e, claramente, a imprensa escolheu entre os dois proprietários da casa noturna de Santa Maria aquele que vai levar a carga mais pesada.
Ao mesmo tempo, as luzes começam a se afastar do prefeito e do comandante local do Corpo de Bombeiros.
Mas, até esta quinta-feira, ninguém havia divulgado o nome que assina o laudo que liberou aquela ratoeira.
(Por Luciano Martins Costa)
Vale-cultura do governo federal brasileiro
30 de Janeiro de 2013, 22:00 - sem comentários ainda Por Rui Tavares, escritor e historiador portuguêsO Brasil continua a inovar em programas federais para a realização de direitos sociais e culturais. Desta vez o governo federal criou o vale-cultura.
São 50 reais por mês para os trabalhadores que recebam até cinco salários mínimos para gastar em cultura. Desses 50 reais, 45 são pagos pelo patrão (em troca de um benefício fiscal) e os outros 5 pelo trabalhador. O trabalhador recebe um cartão de débito com o qual pode comprar livros, ir ao museu ou ao cinema, com completa liberdade de escolha. Uma experiência que vale a pena seguir e que prova que ainda não foi tudo inventado. Ao contrário do que dizem, o estado social ainda tem futuro, se houver imaginação e pragmatismo. Abaixo, o vídeo oficial do vale-cultura.
Apresentação feita em 26/01/2013. [Flickr]
30 de Janeiro de 2013, 22:00 - sem comentários aindamarcelodamico posted a photo:
Bloco de integração psicossocial de Engenho de Dentro, RJ. Conheça o maravilhoso projeto Ocupa Nise www.facebook.com/ucupa.nise?group_id=0 . Conheça Nise da Silveira www.museuimagensdoinconsciente.org.br/html/nise.html . Evoé!
Deputado encaminha queixa-crime por calúnias
29 de Janeiro de 2013, 22:00 - sem comentários aindaO deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) foi alvo na noite de segunda-feira (28 de janeiro) de um ataque criminoso articulado por grupos de extrema direita no país (link) . O parlamentar já encaminhou Queixa-Crime à Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de Santa Maria, solicitando abertura de inquérito para investigar e identificar autores e a origem das calúnias criminosas com conteúdo falso, que circulam na internet, responsabilizando criminalmente os autores.
Segundo o deputado, diante da Justiça, os autores dos ataques terão “oportunidade de sustentar as acusações”. Segundo informações, a ação iniciou na página do Revoltados Online no Facebook, um grupo de extrema direita, como é possível de comprovar aqui.
Ainda a tarde desta quarta-feira (30), Pimenta esteve em contato com especialistas em segurança da internet da Polícia Federal. O deputado diz que não hesitará em responsabilizar criminalmente quem reproduzir o conteúdo falso desse material.
Por fim, lamentou que, em um momento de dor e comoção nacional, haja espaço para que se use a tragédia como forma de tentativa de calúnias.
Veja aqui o texto da queixa-crime:
Por que surgiu o Partido do Futuro
29 de Janeiro de 2013, 22:00 - sem comentários aindaPortugal, março de 2012: mobilizados contra crise e inspirados nos protestos espanhóis, milhares de jovens saem às ruas e criam movimento “geração à rasca” |
Parte dos “Indignados” espanhóis busca novo caminho para superar crise da democracia formal. Qual seu programa? Por que cultivam o anonimato?
Por Manuel Castells | Tradução: Gabriela Leite
Dia 8 de janeiro, anunciou-se na internet a criação do “Partido do Futuro”, um método experimental para construir uma democracia sem intermediários, que substitua as instutuições atuais, deslegitimadas na mente dos cidadãos. A repercussão cidadã e midiática tem sido considerável. Só dia do lançamento, e apesar da queda do servidor por ter recebido 600 visitas por segundo, a iniciativa (http://partidodelfuturo.net) teve 13 mil seguidores no twitter, 7 mil no facebook e 100 mil visitas no YouTube. Jornais estrangeiros e espanhóis, fizeram eco de uma “entrevista coletiva do Futuro” que anuncia o triunfo eleitoral de seu programa: democracia e ponto.
Sinal de que já não se pode ignorar o que surge a partir do 15-M. Porque esse partido emerge do caldo de cultura do movimento, mesmo que não possa, de modo algum, assimilar-se ao mesmo. Porque não existe “o movimento” com estrutura organizativa nem representantes, mas pessoas em movimento que compartilham de uma denúncia básica às formas de representação política que desarmam as pessoas ante os efeitos de uma crise que não causaram, mas que sofrem a cada dia. O 15-M é uma prática coletiva e individual mutante e diversificada, que vive na rede e nas ruas, e cujos componentes tomam iniciativas de todo tipo, desde a defesa contra o escândalo das hipotecas até a proposta de uma lei eleitoral que democratize a política.
Mas até agora, muitas dessas iniciativas parecem condenadas a um beco sem saída. Por um lado, as pesquisas mostram que uma grande maioria dos cidadãos (cerca de 70%) estão de acordo com as críticas do 15-M e com muitas de suas propostas. Por outro lado, toda essa mobilização não se traduz em medidas concretas que ajudem as pessoas, porque existe um bloqueio institucional à adoção das ditas propostas. Os dois grandes partidos espanhóis são corresponsáveis pela submissão da política aos poderes financeiros no tratamento da crise — compartilhando, por exemplo, a gestão irresponsável dos gerentes do Banco da Espanha, que arruinou milhares de famílias. Por isso o 15-M expressou-se no espaço público, em acampamentos, em manifestações, em assembleias de bairro e em ações pontuais de denúncia. Mas mesmo que essa intervenção seja essencial para criar consciência, esgota-se em si mesma quando se confronta com uma repressão policial cada vez mais violenta.
Por sorte, o 15-M freou qualquer impulso de protesto violento, desempenhando um papel de canalizador pacífico da ira popular. O dilema é como superar as barreiras atuais sem deixar de ser um movimento espontâneo, auto-organizado, com múltiplas iniciativas que não são um programa, e portanto podem congregar potencialmente os 99% que sabem o que não querem (ou seja, o que temos hoje), e que se lembram de buscar em conjunto novas vias políticas de gestão da vida.
Para avançar nesse sentido, surgiu uma iniciativa espontânea de ir ocupando o único espaço em que o movimento não está presente: as instituições. Não de imediato, porque seu projeto não é o de ser uma minoria parlamentar, mas mudar a forma de fazer política. Por meio de democracia direta, instrumentada pela internet: propondo referendos sobre temas-chave; co-elaborando propostas legislativas mediante consultas e debates no espaço público, urbano e cibernético; com medidas concretas, a serem debatidas entre a cidadania e servindo de plataforma para propostas que partam das pessoas.
Na verdade, não é um partido, mesmo que esteja registrado como tal, mas um experimento político, que vai se reinventando conforme avança. No horizonte, vislumbra-se um momento em que o apoio da cidadania a votar contra todos os políticos ao mesmo tempo, e em favor de uma plataforma eleitoral que tenha esse só ponto em seu programa, permita uma ocupação legal do Parlamento e o desmantelamento do sistema tradicional de representação, de dentro dele mesmo. Não é tão absurdo. É, em grande medida, o que aconteceu na Islândia, referente explícito do partido que nos fala a partir do futuro.
Mas como evitar reproduzir os esquemas tradicionais de partido, no processo de conquistar a maioria eleitoral? Aqui é onde se coloca a decisão — criticada pela classe política e alguns jornais — de anonimato, mantido pelas pessoas que tomaram essa iniciativa. Porque se não existem nomes, não há líderes, nem cargos, nem direções, nem porta-vozes que dizem que falam pelos demais, mas acabam representando a si mesmos. Se não há rostos, o que ficam são ideias, práticas, iniciativas.
De fato, é a prática da máscara como forma de criação de um sujeito coletivo composto por milhares de indivíduos mascarados, como fizeram os zapatistas em sua época, ou como faz o Anonymous com sua famosa máscara reconhecível em todo o mundo, mas com múltiplos portadores. Aliás, o aninomato no protesto encontra-se em nossos clássicos: “Fuenteovejuna, todos por um [1]”.
Talvez chegue um momento em que as listas eleitorais requeiram nomes, mas inclusive aí não necessariamente seriam líderes, porque é possível sortear os nomes entre milhares de pessoas que estejam de acordo com uma plataforma de ideias. No fundo, trata-se de pôr em primeiro plano a política das ideias, com qual enchem a boca os políticos — enquanto fazem sua carreira acotovelando-se entre si. A personalização da política é a maior cicatriz da liderança ao longo da história, a base da demagogia, da ditadura do chefe e da política do escândalo, baseada em destruir pessoas representativas. O “X” adotado como símbolo pelo partido do futuro não é para esconder-se, mas para que seu conteúdo seja recheado pelas pessoas que projetem, nesse experimento, seu sonho pessoal num um sonho coletivo: democracia e ponto. A co-definir.
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[1] Peça do escritor espanhol Lope Vega, escrita em 1610, tendo como tema a rebelião do povo, unido contra a tirania e as injustiças. Ver na Wikipedia