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Blog Comunica Tudo

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir. Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

"Houve extermínio sistemático de aldeias indígenas na ditadura"

2 de Agosto de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Perseguido pela ditadura, José Humberto Costa do Nascimento, o Tiuré Potiguara, abandonou seu trabalho na Funai, viveu escondido na floresta amazônica e, após conseguir deixar o Brasil, foi reconhecido como refugiado pelo governo do Canadá. Agora, de volta ao país, ele aguarda a Comissão de Anistia julgar seu pedido de reconhecimento como vítima do regime e quer a ajudar a Comissão Nacional da Verdade a resgatar a história do que classifica como “genocídio indígena praticado pela ditadura”.

Brasília - Em entrevista exclusiva à Carta Maior, Tiuré descreve o que testemunhou das atrocidades cometidas pela ditadura contra os índios, critica a participação dos irmãos Vilas Boas no processo, cobra autonomia para as nações indígenas e reivindica que o país dê o passo histórico necessário para o reconhecimento dos povos originários que, segundo ele, embora não conste nos registros oficiais, são tão vítimas dos militares quando estudantes, operários, militantes e camponeses.


“Pode parecer irônico falar isso, mas a repressão, as torturas, as atrocidades cometidas no meio urbano parecem maior, parecem que doeram mais do que as que foram cometidas contra os índios. Hoje se fala em 400 desparecidos nas cidades, mas nós podemos falar em cinco mil desaparecidos indígenas, porque houve extermínio sistemático de aldeias. Era uma política de estado”, afirma.

Qual a sua etnia, a sua região de origem?
Eu sou da etnia potiguara, do litoral da Paraíba. Antes, nós ocupávamos um território que ia da Paraíba ao Maranhão. Hoje em dia, estamos reduzidos somente ao norte do estado, na costa.

E como foi seu envolvimento com a ditadura militar?
Na década de 1970, eu era funcionário da Funai e, lá dentro, eu pude ver a política oficial da ditadura com relação aos índios. Impossibilitado de conviver com aquilo, abandonei o órgão e, convidado pelo líder de uma aldeia parkatejê, fui embora para a Amazônia, ajudá-los a se organizar para combater os militares. A aldeia ficava no sul do Pará, numa região já marcada pelo combate à Guerrilha do Araguaia. Era uma região de forte presença dos militares.

E a ditadura tinha, de fato, essa política de dizimar aldeias, cometer abusos e violações de direitos humanos contra os indígenas?
Isso hoje tá comprovado. Havia um coronel chamado Amauri, chefe da Funai em Belém, que usava de todos os métodos para exploração, por exemplo, do ouro e da castanha do Pará, obrigando os índios a trabalharem em sistema de escravidão. Ele usava a repressão, a violência, atirava... o grupo parkatejê já era considerado exterminado. De 1964 até 1975, a etnia perdeu mais de mil pessoas. Um processo de dizimação mesmo, porque já estava em andamento a tática da ditadura de ocupação da Amazônia, com os grandes projetos, como a transamazônica. E todo esse projeto eu vi dentro da Funai, quando ainda trabalhava lá. E era um projeto já ditado pelos americanos. Eu tive acesso a diversos documentos. Eu não sabia ler em inglês, mas compreendida os relatórios do adido militar americano no Brasil. Então, já existia um entendimento para desocupação desta área para exploração dos grandes projetos, como Carajás, Tucuruí, as grandes linhas de transmissões, a ferrovia, Serra Pelada... e os índios atrapalhavam, porque estavam em cima dessa região.

E você participou ativamente da resistência indígena?
Sim, e em consequência disso, tive que ficar dois anos escondido na mata, porque o Exercito estava atrás de mim, a Polícia Federal tinha ordem para me prender. Como eu não pertencia à aldeia, eles achavam que era eu que estava acirrando os índios. Fui considerado subversivo, agitador, não podia sair. Eles iam até de helicóptero atrás de mim. A perseguição fui muito grande, não só para mim, mas para outras lideranças também. E houve mortes, sequestros, torturas que, por ocorrerem na floresta, por não se darem no ambiente urbano, era muito mais impune, muito mais abafada. Tanto é que até hoje se procuram os guerrilheiros do Araguaia.

Na floresta, os militares usaram de todas as atrocidades possíveis, porque acharam que iam ficar totalmente cobertos, que não haveria testemunhas e que esta história nunca viria à tona, como está acontecendo hoje. E obrigavam os índios, por exemplo, a ajudá-los a eliminar os guerrilheiros. Colocavam os índios na frente, como bate-paus, para identificar os acampamentos. Como foi o caso dos suruís.

E esses índios ainda estão vivos, podem ajudar a recontar a história, a localizar ossadas?
Eu mesmo passei por um cemitério de guerrilheiros quando estava na companhia dos suruís. Nós estávamos fazendo um levantamento da área suruí para saber se havia possibilidade de extrair castanha. Já havíamos feito isso com os parkatejês, que são vizinhos, e eles também queriam uma fonte de renda própria, para não ter mais que depender da Funai. E eu fui designado para ir ajudá-los. A gente andava muito pela mata e, em uma dessas caminhadas, o grupo que estava comigo falou: “Tiuré, aqui estão enterrados os camará”. Camará são os brancos que estavam na área, os guerrilheiros do Araguaia. Devem ter alguns desses índios vivos até hoje. Eles eram mais velhos do que eu. E se eu estou com 63 anos, então devem ter 70 ou 80 anos. E no lugar dava pra ver realmente que não tinha mata, que existiam algumas covas rasas, bem na beira de um rio. É claro que, depois, os índios viram também militares voltarem lá para as tais “operações limpeza”, a retirada dos ossos. Mas os militares não eram assim tão minuciosos. Ainda podem haver alguns vestígios da presença de guerrilheiros por lá. Neste cemitério específico, eu soube que haviam sido enterrados três guerrilheiros.

Como os suruís lidavam com a violência praticada pelos militares? 
Isso acabava com eles. Os suruís tiveram muitas índias estupradas. Se você for hoje na aldeia, ainda há filhos de militares do Exército, de soldados e mesmo dos de patentes altas. Os militares fizeram campos de aviação na área. Os índios não podiam sair da aldeia. Toda a liberdade que eles tinham foi reduzida. E aqueles que não participavam das ações militares eram reprimidos e até mortos. Uns tinham que fugir dali. Então, os suruís foram vítimas, foram amordaçados dentro de seu próprio território, e obrigados a caçar os guerrilheiros, com quem eles já haviam estabelecido contato e relação de amizade. Porque, entre os guerrilheiros tinham dentistas, médicos que mantinham relações amistosas com eles. Iam na aldeia, trocavam milho, enfim, tinham um bom relacionamento antes da repressão chegar na floresta. Eles conheciam mesmo os guerrilheiros, e tinham conhecimento da região como a palma da mão. E, numa das ações, eles localizaram um acampamento, foram na frente, e o Exército chegou atrás, pegou os guerrilheiros totalmente desprevenidos, sem condições de reação. Os militares executaram todos eles e ainda obrigaram os índios a participar do ritual de corte de cabeças. Quando eu cheguei na aldeia, uns dois anos depois, esse ritual ainda afetava muito os suruís. Achavam que foi uma prática tão bárbara contra outro ser humano que não conseguiam superar.

Você já pediu reparação ao estado brasileiro pelos crimes cometidos contra você? 
Eu já dei entrada no pedido de anistia política. Não pelo dinheiro, mas por acreditar que meu reconhecimento como anistiado vai abrir uma porta para que outros índios, como os suruís, também consigam. Eu também já me coloquei à disposição para voltar a área, recuperar a confiança dos suruís e pedir que eles ajudem os brancos a localizar os corpos dos camarás, para que as respectivas famílias possam fazer os devidos rituais para os seus mortos. Para que possam vencer essa etapa da sua história. Estou aguardando o retorno das autoridades, mas até agora nada.

Você acha que existe algum tipo de resistência em incluir os índios como vítimas da ditadura? Como se os índios fossem os excluídos dos excluídos? 
A sociedade brasileira vem de uma herança colonizadora que já soma 500 anos de exclusão indígena. Até hoje nós não temos nossa história contada por nós mesmos. Há sempre uma história oficial que se sobrepõe. Então, esse reencontro da sociedade branca com a sociedade indígena, a tal reconciliação de que tanto se fala hoje, passa por esse reconhecimento do outro, pela aceitação dos primeiros habitantes desta terra, da sua cultura, da sua herança cultural para o povo brasileiro. Infelizmente, ainda não temos esse respeito. A resistência à aceitação dos índios como vítimas da ditadura é muito grande. Pode parecer irônico falar isso, mas a repressão, as torturas, as atrocidades cometidas no meio urbano parecem maior, parecem que doeram mais do que as que foram cometidas contra os índios. Hoje se fala em 400 desparecidos nas cidades, mas nós podemos falar em cinco mil desaparecidos indígenas, porque houve extermínio sistemático de aldeias. Era política de estado. Então, nós estamos tentando levantar essa documentação para comprovar isso. Tem muita coisa que foi publicada no exterior, e também estamos buscando os documentos existentes no Brasil. E, principalmente, os relatos de pessoas que ainda estão vivas. Que estão velhos, mas estão vivos.

É a oportunidade do estado brasileiro dar um passo a frente no reconhecimento do outro, do índios brasileiro que foi afetado não só pela ditadura, mas é até hoje. É a questão da terra, do desenvolvimento impulsionado de cima para baixo. Seja a soja, o minério, a exploração dos recursos hídricos dos territórios indígenas. No Canadá, eu participei do movimento indígena canadense e é muito diferente daqui.

Você viveu no Canadá, quando?
Eu fui em 1985 porque, quando se fala em abertura política, estamos falando de uma questão teórica, porque a ditadura continuava, principalmente no meio do mato, no interior. Dura até hoje. O coronelismo ainda está lá. O poder político, os currais eleitorais, estão lá. Os assassinatos das lideranças indígenas e das lideranças rurais, as queimas de arquivo, a impunidade, tudo isso continua. E se eu saí do país em 1985, é porque já não existia mais nenhuma possibilidade para mim. Se eu não saísse, eu não estaria hoje aqui contando essa história. Foi a possibilidade de consciência, porque muitos outros índios não tiveram condições de sair. No Canadá, pedi reconhecimento como refugiado político. Foi um processo longo, que levou cinco anos de investigações. O governo canadense até veio ao Brasil investigar minha história. E eu consegui provar tudo o que dizia. Considero o meu reconhecimento como refugiado como uma condenação do Brasil. A primeira condenação por violações aos direitos de um índio. O assunto teve grande repercussão na imprensa internacional.

E como é no Canadá?
É claro que o Canadá não é um paraíso para os índios, mas eles estão bem mais avançados nessas questões de direitos humanos. Eles já participam dos royalties, por exemplo, das companhias que exploram petróleo, que utilizam os recursos hídricos, através de hidrelétricas. Eles participam dos lucros das empresas e os gerem de forma mais autônoma.

Então, você discorda dessa política brasileira de tutela dos índios?
Claramente. Hoje se fala muito em autossuficiência, se fala em autossustentabilidade, mas não se dar autonomia financeira para os índios. O que se tem hoje são migalhas, reparações financeiras que só resolvem o problema temporário. Essas indenizações não significam nada. Nós queremos é participar dos lucros dessas empresas. Nós queremos ter a nossa universidade. Eu estudei numa universidade indígena canadense financiada com os recursos dos indígenas, com professores indígenas. Nós queremos universidades nas nossas áreas, queremos hospitais para atendimento 24 horas nos nossos territórios. Nós temos um problema grave em educação e saúde que não se resolve com indenizações pontuais. Na minha área potiguara, ainda há uma usina funcionando que foi instalada pela ditadura. A maior reserva de titânio do Brasil tá lá na nossa área. E uma mineradora explora. E tem uma aldeia há 4 Km dessa exploração em que as pessoas estão morrendo à míngua. É uma situação insustentável. Tem que haver uma mudança. Temos que discutir a participação nos lucros dessas empresas.

Assim como os estados estão brigando pelos royalties, nós também, os primeiros povos, queremos royalties, porque estamos sendo explorados em nosso território. Na época da ditadura, o Exército entrou na nossa área [Potiguara] e garantiu terras para grandes latifundiários e grandes companhias internacionais. Nós perdemos um terço do nosso território durante a ditadura. Eles deram até um atestado de óbito para nosso povo, dizendo que não existiam mais potiguaras na área. E com esta certidão negativa, conseguiram financiamento do Banco Mundial. A Funai é responsável por tudo que aconteceu com o povo indígena.

Na sua experiência na Funai, você deve ter convivido com os irmãos Villas Boas. Qual foi o papel deles neste contexto todo?
Eu tenho uma crítica muito grande aos Villas Boas. Eles são considerados os humanistas, não sei nem como ainda não foram laureados pelo Nobel, porque conseguiram uma publicidade incrível. Mas eles participaram desse processo de aprisionamento das nações indígenas, como se quisessem criar um zoológico. O Xingu é isso. Na época da ditadura, os interesses de deslocar as aldeias para desenvolvimento da economia levou os militares a usar os Villas Boas para criar aquele Parque do Xingu, que não é nada mais do que você colocar diferentes aldeias, muitas delas que viviam em guerra culturais seculares, todas juntas. Línguas diferentes, culturas diferentes, tudo no mesmo território. E os Villas Boas participaram disso e acabaram criando um cenário de propaganda do regime.

O Xingu virou o cartão postal da política indigenista. Aquela coisa mais supérflua, mais teatral, para os militares promoverem festas e lotarem aviões de gente par aos verem sendo fotografados com os índios. Para mim, os Villas Boas foram complacentes com a ditadura. Olha, eu entrei na Funai com a visão de que a política dos militares para os índios era aquela do Marechal Rondon: “morrer se for preciso, mas matar nunca”. Mas, na verdade, a cartilha deles era o contrário, era a cartilha americana: “índio bom é índio morto”. Então, temos que desmistificar essas histórias impostas pelo regime e contar a nossa história. É isso o que esperamos da Comissão Nacional da Verdade, da Comissão da Anistia.

Hoje, você milita em alguma organização indígena? 
Não. Eu estou ligado a minha aldeia, uma aldeia pequena. Não sou de partido nenhum, não pertenço a nenhuma ONG. A minha intenção é criar uma resistência indígena nacional. É com este intuito que voltei ao Brasil. O movimento indígena, na minha época, tentava se organizar. Hoje, há muitas lideranças cooptadas, com cargos no governo, na Funai, com acordos desvantajosos com a iniciativa privada. Por isso, minha intenção é ajudar na conscientização pra gente fazer um levante revolucionário, para retomarmos nossas terras.




Enquanto fala de Mensalão, mídia esconde a “Lista de Furnas”

1 de Agosto de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda
Por Altamiro Borges 

A mídia “privada” é bastante seletiva na escandalização da política. Nos últimos dias, ela só pensa naquilo - no “julgamento do século” do chamado “mensalão do PT”, que se inicia nesta quinta-feira (2) no Supremo Tribunal Federal. As revistonas deram capas terroristas; as manchetes dos jornais parecem combinadas; e os “calunistas” da tevê não falam em outra coisa. De tão concentrada, porém, a mídia deixou de noticiar que Ministério Público Federal decidiu fazer a denúncia formal sobre a famosa Lista de Furnas.

O premiado jornalista Amaury Ribeiro Jr., autor do livro “A privataria tucana” – o best-seller que também foi omitido pela mídia tucana –, registrou ontem no jornal Hoje em Dia a decisão do MPF. Segundo revelou, a autenticidade de “lista” já teria sido provada. Ela revela que a estatal Furnas superfaturou contratos para repassar dinheiro a cerca de 150 políticos durante a campanha eleitoral de 2002. Os principais beneficiários seriam candidatos do PSDB e do DEM, entre eles o mineiro Aécio Neves e o paulista Geraldo Alckmin.

Cinismo dos tucanos e da mídia

A famosa “lista de Furnas”, que os demotucanos juravam não existir e que a mídia "privada" sempre evitou investigar, teria sido feita pelo próprio ex-presidente e ex-diretor de planejamento da empresa, Dimas Toledo. Para a procuradora Andrea Bayão Ferreira, do Rio de Janeiro, agora não há mais dúvida sobre a sua autenticidade. De posse dos documentos, Amaury Ribeiro inclusive já pensa em escrever a segunda parte do livro “A privataria tucana”. Para ele, a lista comprova a existência de um “mensalão” de Furnas.

A decisão do MPF também animou o deputado Rogério Correia (PT-MG). Com base num laudo pericial da Polícia Federal, ele foi um dos primeiros a denunciar o rombo na estatal para financiar a eleição de Aécio Neves ao governo de Minas, em 2002. “Quando fiz a denúncia, tentaram até mesmo cassar o meu mandato. Mas a verdade, finalmente, começa a prevalecer”. Para ele, a lista comprova a hipocrisia dos tucanos. “Eles só querem investigar os esquemas dos outros, porque esse de Furnas eles tentam abafar até agora”.




Eleitor pede autógrafo de Serra em gesto inédito

1 de Agosto de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda
Eleitor paulistano pede um autógrafo para o candidato José Serra, do PSDB. O livro que ele tinha em mãos? A privataria tucana, de Amaury Ribeiro Jr. Embora Serra não seja o escritor textual do livro, ele protagonizou as histórias ali descritas. Com seu corriqueiro ar de mau humor, Serra deu as costas para o eleitor, mais uma vez.







TV Globo recua em tentativa de golpe

1 de Agosto de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda
Deu na Carta Capital:
A tevê Globo fechou um acordo com os candidatos à Prefeitura de São Paulo sobre como será a cobertura das eleições municipais neste ano. A emissora voltou atrás na proposta anterior, na qual somente os dois primeiros nas pesquisas apareceriam diariamente na televisão. Com o novo acordo, seis candidatos devem aparecer diariamente no jornal noturno regional da emissora, o SPTV segunda edição, e no Bom Dia SP.
A reunião que selou o acordo ocorreu nesta terça-feira 31 com representantes dos oito candidatos que possuem representantes no Congresso Nacional. Os dois candidatos que estiverem na sétima e oitava colocações na pesquisa devem aparecer uma vez por semana com imagens e, nos dias restantes, sem.
(...)
Deu no blog do Miro

Diante da pressão do PT e do PMDB, a TV Globo finalmente recuou na sua tentativa marota de golpe na cobertura jornalística das eleições para a prefeitura da capital paulista. Ela havia anunciado que daria espaço nos noticiários do Bom Dia São Paulo e no SPTV apenas ao tucano José Serra e o midiático Celso Russomanno, que aparecem nos primeiros lugares nas pesquisas e firmaram um pacto de cumplicidade. A medida feria a própria legislação e causou revolta entre os partidos excluídos por esta concessionária privada de um bem público.

Em reunião realizada ontem, a emissora se comprometeu a cobrir diariamente as atividades dos seis principais postulantes ao cargo – Serra (PSDB), Russomanno (PRB), Fernando Haddad (PT), Gabriel Chalita (PMDB), Soninha Francine (PPS) e Paulinho da Força (PDT). Com base neste recuo, os demais candidatos excluídos também deverão ingressar na Justiça Eleitoral para exigir o mesmo direito. Como já apontou o advogado do PT, Hélio Silveira, a exclusão nos telejornais com base nas pesquisas “é um tratamento que a lei não permite”.

Pela legislação eleitoral, todos os candidatos de partidos com representação na Câmara de Deputados devem ter espaço na cobertura das eleições e têm direito a participar de debates na rádio e TV. “A lei veda às emissoras de rádio e tevê darem tratamento privilegiado a um candidato em detrimento do outro”, explica Hélio Silveira. Mesmo assim, as empresas de radiodifusão desrespeitam a regra para fazer campanha dissimulada dos seus candidatos. A TV Globo sempre atentou contra a legislação, mas agora foi obrigada a recuar!




Condomínio Cingapura – com vista para a Copa

1 de Agosto de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Por Natália Garcia*

Moradores de prédios populares em Itaquera, zona leste de São Paulo, se preparam para receber o maior evento esportivo do mundo

“Você fica de fora, baixinho, é 5 contra 5”, determinou Adailton, indicando quais os campos de cada time e entregando a bola ao árbitro. Começou a partida de futebol mais esperada da semana – ao menos pelos que estavam em campo. Descalços e descamisados, os dez adolescentes disputavam a final do campeonato Itaquera City – competição entre os times formados por moradores da unidade Goiti do conjunto de habitações populares Cingapura, que fica em Itaquera, na zona leste de São Paulo. Em uma quadra que teve a pintura refeita recentemente, eles se exibiam uns aos outros com dribles, chapéus e outras manobras futebolescas. Ao fundo, enormes guindastes amarelos operados 24 horas por dia para levantar o Itaquerão, o estádio do Corinthians, que vai sediar a abertura da Copa do Mundo em 2014.


O Itaquerão começou a ser construído em maio de 2011, em uma parceria entre o clube do Corinthians, a incorporadora Odebrecht (que receberam um empréstimo do BNDES de R$ 400 milhões), a prefeitura de São Paulo (que vai emitir R$ 450 milhões em títulos de isenção fiscal) e Governo do Estado de São Paulo, que deve apoiar com uma verba em torno de R$ 70 milhões para o aluguel e montagem de arquibancadas provisórias, aumentando a capacidade do projeto original, que era de 45 mil lugares, para 68 mil – exigência da Fifa para que a arena pudesse sediar a abertura da Copa de 2014.

O estádio e o conjunto Cingapura-Goiti ficam igualmente perto da estação Corinthians-Itaquera do metrô – ambos a cerca de 15 minutos de caminhada. Como até o momento não há hotéis na redondeza, o local com melhor vista para o estádio é justamente o conjunto de prédios do Cingapura-Goiti. Eu já tinha ouvido boatos sobre moradores da região do Itaquerão que queriam alugar seus imóveis por preços exorbitantes durante a Copa, em 2014. Em um passeio de bicicleta pela região, foi um dos torcedores assíduos do Corinthians, que acompanham diariamente a construção do sonhado estádio, que me confidenciou: “Diz que vai alugar lá por 20 mil reais na época da Copa”.

Fui atrás desse boato quando visitei o Cingapura-Goiti pela primeira vez. Mas foi quando já estava em minha quinta ida ao local que conheci Lauro, morador do bloco 7 (o nome é fictício). “Eu já fiz negócio, já”, contou Lauro com o tímido olhar escondido pela aba do boné e um escorregadio sotaque mineiro. “A prima do meu cunhado tem um parente que mora lá em Londres, Inglaterra, sabe? Ela que fez negócio pra mim, pela internet, vou alugar por 20 mil reais na Copa”, afirmou.

Lauro é morador do Cingapura-Goiti desde que o conjunto de habitações populares foi entregue, em 1999. Ele morava na comunidade da Favela Goiti, junto com outros três irmãos, em um puxadinho construído nos fundos da casa dos pais. “Quando a assistente social falou que íamos ganhar o apartamento do Cingapura, eu duvidei”, conta ele. “Só acreditei mesmo quando a gente recebeu as chaves e veio para cá”, completa. Lauro recebeu um apartamento “no cimento”, como ele diz, sem acabamento. Com o passar dos anos, foi revestindo as paredes, colocando portas privativas nos quartos e mobiliando os cômodos.

“Esse Lauro tem mais de dois metros de garganta”, alertou-me Josias, outro morador do Cingapura-Goiti.

Ainda que Lauro possa ter inventado a história do negócio que fechou, seria assim tão difícil alugar os apartamentos do Cingapura na época da Copa pelo preço sugerido por ele? Fato é que a proximidade em relação ao estádio e a ausência de hotéis na região instigaram várias mentes, além da de Lauro, com a ideia de alugar os apartamentos do Cingapura em 2014.

Periferia?

Chegar em Itaquera, com a linha Amarela do metrô, leva 40 minutos partindo da Avenida Paulista, e com baldeação para a linha vermelha do metrô. A estação terminal Corinthians-Itaquera tem vista para as arquibancadas já delineadas do Itaquerão, que subiam a cada vez que eu visitava a região. Na saída estão o Poupatempo e o Shopping Itaquera. Dentro do complexo de lojas a primeira coisa que se avista é o Coiffure Lohan, um cabeleireiro que cobra R$ 32 para lavar e cortar. Há um ano, o valor do mesmo serviço era R$ 12. “É o efeito Itaquerão”, disse-me a frequentadora Rosana.

Saindo do estacionamento do Shopping Itaquera, há uma faixa de pedestres para atravessar a Radial Leste que conduz até o portão de entrada do Cingapura-Goiti, que ocupa 2 quarteirões com 13 edifícios.

O conjunto possui dois pátios, ambos com pracinhas centrais, uma quadra esportiva e dois playgrounds. Enquanto caminhava entre os prédios eu atentava para a quantidade de cheiros diferentes, que denunciavam a péssima qualidade dos canos da rede de coleta de esgoto, a preferência invariável por água sanitária como produto de limpeza e a insistência em usar caldo de galinha industrializado no preparo de qualquer que fosse o alimento.

Parei em frente ao bloco 2. Tentei tocar o interfone, mas a estreita distância entre as barras do portão deixou evidente que ele não foi pensado por um arquiteto – meu braço só passou até o pulso e tive que fazer força para alcançar o botão 22, que apertei aleatoriamente. Maurícia, a síndica e dona de casa, me atendeu e deixou subir – receptividade que se repetiria com todos os moradores do Cingapura-Goiti que procurei.

Condomínio Fechado

Na sala, piso azulejado, sofás amarelos arredondados e uma televisão de tubo com tela plana de 40 polegadas. “O bloco 2 é o melhor para morar aqui”, garantiu ela. “É o único que está sempre com os portões fechados, onde ninguém entra sem ter autorização”, explicou. Pergunto se os outros blocos não são seguros. “Aqui é tudo meio bagunçado, mas agora, com essa reforma da prefeitura eles querem transformar em condomínio fechado, e a gente vai ficar mais seguro”, responde ela.

Maurícia refere-se ao projeto 3R, Programa de Regularização, Recuperação e Revitalização dos empreendimentos de habitações populares entregues nos anos 90, entre os quais estão os conjuntos do projeto Prover (Programa de Verticalização de Favelas), nome com o qual a gestão José Serra tentou rebatizar o Cingapura, sem sucesso – todo mundo continua chamando pelo nome antigo.

As obras são coordenadas pela Secretaria Municipal da Habitação e incluem pintura, paisagismo, criação de áreas de lazer e cobertura nas garagens, com o objetivo de revitalizar os conjuntos e comercializá-los. O projeto inicial do Cingapura previa que os moradores tivessem apenas um Termo de Permissão de Uso (TPU) dos imóveis, mas a inadimplência no pagamento das taxas de TPU (que no Cingapura-Goiti custa R$ 57 por mês), a degradação das áreas de lazer e a comercialização informal desses imóveis levou a Secretaria da Habitação a optar por vendê-los. O valor das unidades do conjunto Goiti ainda não foi definido, mas os apartamentos de outros Cingapuras têm sido comercializados por uma média de R$ 70 mil, com financiamento pela Caixa Econômica Federal.

“O Cingapura foi uma evolução do que começamos na gestão da [Luíza] Erundina”, explica o urbanista Nabil Bonduki, que trabalhou na Secretaria Municipal da Habitação durante o mandato da ex-prefeita, de 1988 a 1993. Nabil conta que coordenou projetos de urbanização das favelas de São Paulo na época. “Quando a urbanização era inviável, desenvolvemos a solução de verticalização das favelas, com a construção de conjuntos habitacionais”, conta o urbanista.

“Mas quando o Maluf assumiu, em 94, ele parou com a urbanização e só levou a verticalização adiante, criando o projeto Cingapura”, conclui. “Como esses blocos eram construídos sem nenhum planejamento de desenvolvimento econômico da região e sem a capacitação profissional de seus moradores, acabou sendo muito comum a comercialização dos imóveis”, avalia.

Maurícia integra a parcela de moradores do Cingapura Goiti que não adquiriram o TPU originalmente. Ela comprou o seu em 2002 por R$ 14 mil. “Para passar o TPU para o nome do novo proprietário, a gente faz um contrato ‘de gaveta’, reconhece firma e leva na Central de Habitação”, explicou.

Em uma das primeiras negociatas desse tipo feitas no Cingapura Goiti, no final de 1999, o antigo permissionário preparou um contrato de venda com a ajuda de um amigo advogado. Esse contrato virou o modelo usado em negociações dali para frente e é o mesmo até hoje, os moradores só mudam os nomes, imprimem e assinam.

“No começo, teve gente que vendia o apartamento por 2, 4 mil reais”, conta Maurícia. Na minha primeira visita, em maio de 2012, as unidades à venda no Cingapura-Goiti já tinham saltado para R$ 80 mil. Na última, em julho de 2012, o preço já batia a marca dos R$ 150 mil.

Parte dessa valorização aconteceu pelos novos equipamentos públicos do entorno. Quando foi entregue, o Cingapura Goiti ficava separado do metrô Corinthians-Itaquera por um lixão e era cercado por uma antiga linha de trem, que em 2002 foi desativada para a construção da Radial Leste. Em 2000 a estação de linha vermelha do metrô ganhou um Poupatempo e em 2007 o lixão foi removido para a construção do Shopping Itaquera. “Mas nada valorizou isso aqui tanto como esse estádio aí, ainda mais com a Copa”, afirma Maurícia.

Segundo Nabil, a venda dos Título de Permissão de Uso , a rigor, não poderia acontecer, mas o poder público é conivente com a venda de habitações populares. “Quando há investimentos em uma área da cidade e ela começa a se desenvolver economicamente, ficar mais urbanizada, os pobres que moram lá começam a ser vistos como uma ‘anomalia’, como se não merecessem morar em um lugar bom da cidade”, teoriza Nabil.

“Nesse sentido, a venda de habitações populares e a mudança do padrão dos moradores para classes menos pobres é vista com bons olhos porque infelizmente ainda prevalece na nossa sociedade a lógica da senzala, em que ricos e pobres devem viver segregados”, lamenta Nabil. “Ao contrário, manter pessoas ricas e pobres morando próximas seria uma ótima solução urbanística para São Paulo”, afirma o urbanista, que é candidato a vereador municipal pelo PT. “Barateia o preço da mão de obra, diminui a necessidade de deslocamentos longos pela cidade e garante que moradores de baixa renda tenham acesso a equipamentos públicos de lazer e a estudos, para que eles também possam evoluir”.

“Com esse projeto dos 3R está tudo mudando por aqui”, conta Aldemar, síndico do Bloco 8. Ele explicou que, além de cercar todo o entorno do Cingapura, transformando-o em um condomínio fechado, a obra também colocou grades na parte de cima dos nichos onde ficam os butijões de gás, porque, segundo Aldemar, “muita gente usava esses espaços como cama para namorar”. Dois playgrounds foram construídos, a quadra recebeu nova pintura e guaritas foram criadas nas duas entradas do conjunto habitacional. Por enquanto, as guaritas ainda ficam vazias e os portões abertos. Na prática, as ruas e pátios internos do Cingapura continuam a ser espaços públicos de passagem e permanência da população do entorno. “Vai ser uma transição, entende? A gente vai ter que contratar uma administradora para tocar aqui o condomínio”, explica Aldemar.

A taça do Mundo é nossa

“Todo mundo quer achar um jeito de se dar bem com a Copa”, afirma Isná, síndica do Bloco 4. “Para você ter uma ideia, um homem me procurou para comprar um apartamento que tem à venda aqui no meu bloco para fazer um depósito de caixas de isopor, carrinhos, tudo para ser vendedor ambulante lá na porta do Estádio”, conta. Mas Isná está incerta sobre o futuro do Cingapura Goiti. “A gente não sabe o que vai acontecer depois dessa reforma toda. O comércio nos apartamentos, por exemplo, deve ficar proibido”, pondera ela. Pergunto se hoje em dia o comércio é permitido por lá. “Na verdade não tem muita regra, sabe, a gente não tem um Regimento Interno, aqui cada um faz o que quer”, responde Isná. “No Bloco 1, por exemplo, tem uma senhora que vende salgadinhos, outra tem um monte de geladeiras em casa e vende refrigerante, você interfona, pede o que quer e ela entrega na porta; lá no Bloco 7 tem uma mini confecção de roupas, no 2 tem uma senhora que vende Jequiti [uma marca de cosméticos do Grupo Sílvio Santos]; e no 9 tem até um cabeleireiro”, conta ela. Surpresa, decido sair de lá e cortar o cabelo.

Cícera é sócia de Cleinha no salão montado no apartamento 22, que oferece serviços de lavagem, corte, manicure e depilação. O apartamento padrão do Cingapura Goiti tem dois quartos, sala, cozinha e banheiro. A sala virou recepção, um dos quartos é usado para cortar, o outro para depilação. Enquanto aguardava minha vez na sala de espera, ao som de uma versão em português e em ritmo de forró da música “Oh Carol”, escutei um diálogo entre mãe e filha na sala de depilação. “Tem que pagar a moça pra depilar, mãe?”, disse uma voz infantil. “Minha filha, a única coisa que a gente ainda não paga nessa vida é o ar”, respondeu a mãe, desanimada.

Lavei e cortei meu cabelo com Cleinha por dez reais, enquanto puxava conversa sobre a construção do Itaquerão. “Por enquanto a vida aqui continua a mesma, mas depois que o estádio estiver pronto, aí sim vai mudar tudo”, afirma a cabelereira. Pergunto se para melhor ou pior. “Ah, vai virar uma zueira de torcedor aqui que não quero nem ver”, reclamou, enquanto dividia minunciosamente meu cabelo para o corte. Se realmente houverem estrangeiros hospedados no Cingapura-Goiti durante a Copa, eles não poderão usufruir do salão, que será desmontado em janeiro de 2013 para que o filho de Cleinha ocupe o apartamento. Ainda assim, a cabeleireira planeja uma reforma no apartamento para a possibilidade de hospedar torcedores durante o evento de 2014.

“Todo mundo quer alugar o apartamento para a Copa, disso não tem dúvida, mas antes tem um monte de coisas que a gente precisa organizar aqui”, diz Eliseu, síndico do Bloco 11. Ele explica que um dos planos dos síndicos é colocar um portão elétrico, para controlar a entrada de quem não for morador. “Mas a gente nem sabe direito quem é morador aqui, precisaria fazer um ‘censo’ mesmo, cadastrar todo mundo, para daí contratar uma administradora e regularizarmos tudo”, explica ele.

“Só que aí entram alguns problemas”, contrapõe Edvânio, amigo de Eliseu e síndico do Bloco 12. “Com todas essas mudanças, a gente vai ter que regularizar tudo e a dona Maria, por exemplo, que varre o nosso Bloco três vezes por semana, teria que ser contratada direitinho, tudo formalizado” pondera ele. “O problema é que a gente nem tem empresa aberta, então teríamos que ‘tercerizar’ o serviço”, explica. Edvânio está preocupado com os gastos que o condomínio terá se todas essas mudanças forem adotadas. Hoje, além da TPU de R$ 57, os moradores do Cingapura-Goiti pagam um valor de condomínio, que varia de bloco para bloco mas fica em torno dos R$ 50. “Se tudo isso mudar, esse valor vai chegar a pelo menos 150 reais, e vamos acabar excluindo as pessoas mais pobres, que vieram da favela e estão aqui desde o começo”, explica Edvânio.

“O pessoal que veio da favela já tem dificuldade de pagar os 50 reais, que dirá 150”, completa Eliseu. “Mas aí, por outro lado, sem essa organização, fica difícil a gente fazer um esquema seguro para a época da Copa, cada um vai querer cobrar um preço, vai misturar gringo com os ‘nóias’ que moram aqui e vai acabar virando confusão”, pondera. “Outro dia mesmo, teve pancadão aqui no pátio e eu chamei a polícia”, conta Isná. “Mas os policiais me disseram por telefone que como aqui agora era condomínio fechado eu teria que ir lá autorizar a entrada deles pelo portão”, explica. “Só que se eu fizesse isso, ia ter tiro e pedrada na minha janela!”, conclui.

“É por essas questões que a gente está pensando direitinho em como vai ser com essa coisa da Copa”, explica Eliseu. Segundo ele, os síndicos têm conversado para tentar estabelecer um valor fixo de aluguel no condomínio na época do evento. Como os moradores do Cingapura receberão a escritura dos imóveis após a implementação do projeto 3R (no primeiro semestre de 2013), a operação de aluguel dos apartamentos será legalizada. “Nós queremos combinar um preço para que as coisas aconteçam de forma mais organizada e todo mundo saia ganhando igual”, pondera Eliseu. Enquanto essas questões se desenrolam, Eliseu, sempre que pode, vai até a obra do Itaquerão buscar um pouco de barro do terreno. Ele é prestador de serviços em transportadora no interior de São Paulo e sempre que vai trabalhar leva consigo vidrinhos com terra do Itaquerão. “Vendo cada um por 10 reais”, conta ele, gargalhando.

Despedi-me de Elizeu e Edvânio e saí pelo pátio interno do Cingapura-Goiti. Sentei-me no playground dos fundos e fiquei observando as crianças brincando sem nenhum adulto por perto. Um garoto estava de pé no balanço enquanto dois tentavam empurrá-lo o mais forte que conseguiam. Um terceiro ficava de fora jogando pedras para o alto, tentando acertar o garoto do balanço, que desviava gritando “vai, coríntia”. Lá pelo terceiro grito o hino do Corínthians soou absoluto, potencializado por enormes caixas de som em um apartamento do bloco 3, deixando até meus pensamentos inaudíveis. Na janela apareceu dona Margareth, com os olhos azuis serenos e um sorriso fixo nos lábios. No dia anterior o timão tinha conquistado, pela primeira vez, o sonhado título de Campeão da Copa Libertadores da América e ela ainda se deliciava com a vitória.

Margareth é uma das moradoras que está no Cingapura desde o começo. Seu marido trabalhou na construção do Itaquerão, mas foi dispensado quando as atividades feitas com trator – sua especialidade – foram concluídas. Desempregado, ele viajou para o interior em visita à família e conseguiu uma vaga em uma fazenda por lá. Agora, Dona Margareth quer vender seu apartamento no Cingapura para se juntar ao marido.

– O que a senhora acha desses gringos que virão aqui para o estádio?

– Gregos?

– Não, gringos.

Silêncio.

– É o que esse negócio de “gringos”? – perguntou-me ela.

– Gringos, essas pessoas que vêm de fora do Brasil – esclareci.

– Eles vem só para ver o campeonato paulista?

– Não, dona Margareth, para a Copa.

– A Copa vai ser aqui nesse estádio?! – perguntou-me ela, surpresa.

– Vai sim – confirmei.

Mais uma vez, silêncio.

– E tem bastante dinheiro esses gringos aí que você falou? – indagou ela.

Se Dona Margareth é de uma ingenuidade marcante, e está longe de saber o valor do imóvel que tem nas mãos, esse já não é o caso de Eliete, síndica do Bloco 11. Ela trabalha como faxineira em escritórios da região da avenida Faria Lima, em São Paulo. Como mora no sexto andar do Cingapura, tem uma das melhores vista do estádio. “Me falaram que deu na internet que vai alugar aqui por 80 mil para a Copa”, conta ela. “Mas na hora de alugar vai ter que tirar tudo aqui de casa, as coisas de valor, DVD, porque não dá para confiar assim em qualquer um”, pondera Eliete. Seu plano é esperar pelo evento para alugar seu apartamento e depois “vender para um corintiano bem roxo”.

(Publicado na Agência A Pública)

Natália Garcia é autora do projeto Cidades para PessoasEsta reportagem foi realizada através do Concurso de Microbolsas de Reportagem da Pública.  Outras reportagens financiadas pelo concurso – com o apoio da Fundação Ford – serão publicadas durante este mês.