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Uma sátira ao Natal dos banqueiros
20 de Dezembro de 2012, 22:00 - sem comentários ainda Por Gabriel BonisEm meio à decoração natalina e corais de ursinhos de pelúcia na Avenida Paulista, centro de São Paulo, uma manifestação de funcionários do banco HSBC aproveitou os clichês da festa cristã para protestar contra as condições de trabalho. De longe, as versões satíricas de tradiconais jingles de Natal atraíam a atenção dos pedestres na movimentada calçada: “Bom Natal, um Feliz Natal, se eu pratico assédio moral, com você” e “É Natal, é Natal, passa no RH, tá prontinha a rescisão, pode se mandar”, são apenas dois dos trechos mais repetidos.
O cenário de crítica aos lucros obtidos pelos banqueiros é completado com teatro. Ao lado do cartaz “Natal dos Desiludidos”, personagens do setor bancário e econômico ganham ares natalinos. Ao som dos jingles, dançam em frente ao banco o “Jurosalém”, com sua fantasia de Rei Mago, e o “Satã-der”, com sua capa vermelha e uma foice. Há espaço ainda para o “Papel Noel Magro” – sem o saco de presentes, claro.
Organizado pelo Sindicato dos Bancários de Curitiba, onde fica a sede do HSBC, a ação se espalhou pelo Brasil. Usando o humor, os funcionários denunciam supostos abusos cometidos pela instituição, como demissões, metas abusivas e terceirizações.
Em São Paulo, o protesto quer lembrar a demissão cerca de 40 pessoas nas últimas semanas. “É muita gente com desempenho ruim para mandar embora na mesma época”, ironiza Liliane Fiuza, diretora do sindicato e funcionária do banco.
Por causa das demissões, a manifestação em clima natalino já havia ocorrido em outras agências da capital paulista, mas os funcionários guardaram para a avenida mais famosa da cidade o encerramento da ação. Isso para destacar, segundo Fiuza, que os protestos também ocorreram devido à proibição pelo banco de enfeites natalinos dentro das agências para não desrespeitar religiões não-cristãs. “O banco tem como símbolo o coral de crianças no Natal, no Palácio Avenida, em Curitiba. Proibir os enfeites é meio contraditório. Por isso, resolvemos fazer a ação com o Papai Noel magrinho.”
O sarcasmo e o simbolismo da manisfestação veio, justamente, da matriz curitibana, que compôs as músicas e as distribuiu pela País. “A ação constrange o banco e as pessoas se identificam com o lúdico, prestam mais atenção”, diz Fiuza. O protesto também tem outras motivações, explica Luciano Ramos, diretor do sindicato e funcionário do HSBC. “Temos que mesclar as atividades para dialogar com a população. Quem passa na rua e não tem conta no banco vai acreditar apenas na propaganda.”
Vestidos a carater, os três personagens animadores da “festa” são funcionários do sindicato, aliados da ideia. Entre eles, o Papai Noel Magro, fantasia de Jose Américo, um sindicalista esquelético de barba branca fina, que lembra vagamente a figura do “bom velhinho”. “O que mais me comove na categoria é a forma como são cobradas as metas, que forçam o trabalho além do limite humano”, diz. Mas concorda que o humor é a melhor maneira de denunciar a situação: “Chegar aqui e apontar a realidade com violência não toca as pessoas.”
Por meio de sua assessoria de imprensa, o HSBC informou respeitar “o direito democrático de manifestação dos sindicatos, mas não comenta publicamente as reivindicações, pois há comitês permanentes para a discussão destas questões”.
Ouça algumas das sátiras abaixo:
O povo é débil mental?
18 de Dezembro de 2012, 22:00 - sem comentários ainda Por Cynara MenezesNeste 2012 que já está no fim completaram-se 45 anos que foi apresentado ao mundo Terra em Transe, a obra-prima de Glauber Rocha que revolucionou o cinema com sua inovação estética e de linguagem. Quase meio século se passou e o Brasil que se desnuda nas imagens em preto e branco permanece atual: políticos populistas ou assumidamente de direita às voltas com um jornalista supostamente “idealista”, mas que na hora agá é capaz de chamar o povo de imbecil.
De todo o filme, foi esta a cena que marcou Nelson Rodrigues em sua faceta mais reacionária: “Fiquei maravilhado com uma das cenas finais de Terra em Transe. Refiro-me ao momento que dão a palavra ao povo. Mandam o povo falar, e este faz uma pausa ensurdecedora. E, de repente, o filme esfrega na cara da platéia esta verdade mansa, translúcida, eterna: o povo é débil mental. Eu e o filme dizemos isso sem nenhuma crueldade. Foi sempre assim e será assim eternamente. O povo pare os gênios, e só. Depois de os parir volta a babar na gravata”, escreveu o dramaturgo.
Na cena a que Nelson se refere, o jornalista vivido por Jardel Filho tapa a boca de Jerônimo, um líder sindical, e berra: “Estão vendo o que é o povo? Um imbecil, um analfabeto, um despolitizado. Já pensaram Jerônimo no poder?” Que visionário era Glauber… O sindicalista chegou, sim, ao poder. E estas frases de Terra em Transeme chacoalham agora, diante dos resultados da última pesquisa Datafolha sobre a confiança da população nas instituições: em três meses, o número de pessoas que confiam muito na imprensa caiu de 31% para 22%. Ao mesmo tempo, os que não confiam nada subiram de 18% para 28%. Mantiveram-se estáveis os que confiam “um pouco” na imprensa: oscilaram de 50% para 51%.
(o jornalista tapa a boca do povo: “imbecil”)
Por que isso se deu? Porque o povo é imbecil, como defendia o jornalista de Terra em Transe? Ou será que os jornalistas, como o do filme de Glauber, é que subestimam o povo? O que terá acontecido para que o povo, tão ingênuo, tão naïf, adquirisse esta desconfiança toda da imprensa? Sendo, ora, “débil mental”, como pôde enxergar no noticiário algo digno de desconfiança? Será a parcialidade jornalística, travestida de imparcialidade, tão visível que até um idiota –o povo– consegue perceber? Ou será que o povo, este imbecil, não está reconhecendo a si mesmo na imprensa? Como confiar em um “espelho da sociedade” que parece refletir seu oposto?
A imprensa brasileira esteve junto e refletiu os anseios do povo na campanha das Diretas, em 1984 –à exceção da rede Globo. Em 1991, novamente ao lado da população, jornais e tevês apoiaram o movimento que culminou no impeachment de Collor, em 1992. Mas, desde que Lula se tornou presidente, em 2002, começou um processo de distanciamento, de divórcio da chamada “grande imprensa” da população em geral (não é à toa que, neste período, tenham avançado os jornais “populares”: no ano passado, os jornais com preço de capa inferior a 1 real cresceram 10,3%).
Quanto mais o brasileiro se identificava com a presença de “um deles” na presidência, mais os grandes jornais se desidentificavam do povo ao atacar Lula sem trégua e, muitas vezes, sem razão. Faz dois anos já que Lula deixou a presidência, mas o processo continua. O ex-presidente se tornou uma obsessão para a imprensa, cujo objetivo parece ser destruí-lo. A pesquisa Datafolha também mostra que as críticas não atingem o eleitorado de Lula, que seria eleito no primeiro turno se fosse candidato à presidência novamente, com 56% dos votos. Imagino qual deve ter sido a reação à pesquisa dentro das redações: “Mesmo após o ‘mensalão’ eles ainda votariam em Lula? Ô povinho débil mental”.
Longe das paixões políticas, falta a jornais e jornalistas algumas reflexões. Talvez, ao tentar atingir Lula desmedidamente, forçando a mão nas denúncias, os jornais estejam atingindo o povo que ele representa e talvez o povo não esteja gostando disso. Talvez o povo esteja irritado também com a crítica contínua dos jornais a seu próprio comportamento, inclusive nas urnas. O olhar da mídia para com as escolhas do povo é no mínimo condescendente e, na maioria das vezes, de franca desaprovação –até porque a escolha, aberta ou velada, dos donos da imprensa recai no candidato oposto. “O povo não sabe votar” sempre foi o discurso adotado pela grande mídia e pela elite que ela representa. “O povo vota nessa gente porque eles dão esmola” é a nova versão da mesma frase. Ignora a realidade mais chã, de que talvez o povo vote “nessa gente” porque: 1. se identifica; 2. sua vida melhorou; 3. gosta.
A outra hipótese para esta falta de confiança do povo na imprensa talvez esteja na agenda negativa que ela adotou nos últimos dez anos. É a exata inversão da máxima do ministro Rubens Ricúpero durante o governo Itamar Franco: “O que é ruim a gente fatura, o que é bom a gente esconde”. Vasculhem as capas dos jornais na última década à cata de boas notícias. Não tem nada lá, e houve boas notícias de sobra. Se um extraterrestre descesse aqui hoje e julgasse o País apenas pelo que lê e assiste na imprensa, pensaria que estamos à beira do colapso. E vai ver o povo, mesmo sendo débil mental, não gosta de ficar lendo má notícia o tempo todo. Já trabalha duro o dia inteiro, não quer saber de tanta chateação.
Há ainda a possibilidade de que a internet tenha se consolidado como a “má influência” que os donos dos jornais, no fundo, tanto temiam. Não se pode descartar que os “blogs sujos”, que vêm martelando ao longo destes anos as manipulações e o mau jornalismo praticado por setores da mídia, tenham logrado plantar uma sementinha de desconfiança na cabeça do povo. O brasileiro, sem acesso aos jornais impressos, passou a se informar pela rede e a ter diferentes visões do noticiário, antes dominado pelo poderoso (e tendencioso) telejornal da maior emissora do país e por meia dúzia de veículos impressos. Com o acesso livre à informação, talvez o povo já não seja mais tão débil mental assim. Será que o foi algum dia?
Línguas indígenas: situação atual, levantamento e registro
18 de Dezembro de 2012, 22:00 - sem comentários ainda
LÍNGUAS INDÍGENAS: SITUAÇÃO ATUAL, LEVANTAMENTO E REGISTRO[1]
Por Denny Moore (Museu Goeldi)
1. Situação Atual
É fundamental ter os fatos sobre a situação atual das línguas indígenas brasileiras como base para qualquer planejamento do seu registro e da sua proteção. Realizamos dois levantamentos das línguas nativas do país usando várias fontes nos anos recentes. Um (Moore, 2005) reflete a situação no mesmo ano e o outro (Moore, 2006) tem os fatos sobre línguas da Amazônia em geral como foram conhecidos no ano 2001. Na pesquisa de fontes de informações para esses levantamentos, ficou evidente que o nosso conhecimento dos fatos é limitado e às vezes confuso.
Um problema é a confusão freqüente entre línguas, dialetos e grupos étnicos. Por exemplo, na família Mondé do tronco tupi, a fala dos Gavião de Rondônia e a fala dos Zoró são geralmente listadas como línguas distintas, enquanto, de fato, são dialetos tão próximos quanto o português de Salvador e o português de São Paulo. Os falantes desses dialetos podem, dependendo das relações políticas do momento, afirmar que os dois dialetos são idênticos ou que são bem diferentes. Qualquer critério técnico para distinguir entre dialetos de uma mesma língua e línguas distintas tem os seus limites; todavia, lingüistas geralmente utilizam o critério de inteligibilidade mútua. Sem critérios desse tipo, esforços para registrar línguas podem se complicar com um número indefinido de formas de fala consideradas como línguas distintas. Nossa sugestão seria utilizar um critério técnico para agrupar dialetos da mesma língua, mas também obter informações sobre o sentimento dos falantes em relação às outras variedades e sobre a situação sociolingüística dos grupos envolvidos.
Se dialetos mutuamente inteligíveis não são considerados línguas distintas, o número de línguas indígenas brasileiras relatado por Moore (2006) seria 154 ou menos, e o número deve se reduzir com mais conhecimento. O grau de conhecimento científico dessas línguas, no ano 2001, foi, aproximadamente, o seguinte:
·9% descrição completa: descrição da gramática, coletânea de textos, dicionário
·23% descrição avançada: tese de doutorado ou muitos artigos
·34% descrição incipiente: dissertação de mestrado ou alguns artigos
·29% nada de importância científica
Dessas 154 línguas, 23% (Moore 2006) estão ameaçadas de extinção em curto prazo, devido aos seus números reduzidos de falantes e baixa transmissão à nova geração. A situação de muitas outras línguas é também bastante precária. O grau de perigo foi subestimado no passado, devido à falta de informações sólidas sobre línguas em regiões remotas e devido também a uma confusão entre o número de falantes (ou semi-falantes) da língua de um grupo e o tamanho da população do grupo. Por exemplo, segundo Rodrigues (1986:72 e 1993) o número de falantes da língua Yawalapiti é 135. Todavia, segundo Seki (1999:420) somente 13 Yawalapiti falam a língua. Como outro exemplo, segundo Rodrigues (1986:81 e 1993) há 256 falantes da língua Torá, e o número dado por Aikhenvald e Dixon (1999:343) é parecido: 250. Porém, segundo o website do Instituto Sócio-Ambiental, a língua Torá foi extinta uma geração atrás.
Línguas consideradas extintas às vezes ainda têm alguns falantes ou semi-falantes. Exemplos disto são Puruborá, com dois ou três semi-falantes, e Salamãy (Mondé), com uma semi-falante. Mesmo estas línguas com poucos falantes têm valor científico. A língua Baré, por exemplo, que perdeu seu último falante no Brasil alguns anos atrás, foi analisada como tendo aspiração intrínseca ao morfema—um fenômeno de muito interesse fonológico.
Várias línguas indígenas têm formas cerimoniais (freqüentemente antigas) que são muito estimadas pelos falantes, mas que são vulneráveis à perda por causa de mudanças culturais como, por exemplo, a introdução de religiões alheias. Os índios Apurinã tradicionalmente usaram uma forma cerimonial (Xangané) da sua língua na entrada de aldeias Apurinã consideradas distintas em termos políticos. O primeiro passo para criar uma política pública para línguas indígenas pode ser a realização de um levantamento nacional para determinar os fatos relevantes sobre cada língua e a sua situação. Os dados para serem levantados incluem:
Os nomes da língua e dos grupos que a falam, incluindo os nomes usados pelos próprios povos e os nomes usados pela sociedade nacional, incluindo lingüistas.
1.Os dialetos da língua, a distância lingüística entre eles, e as atitudes dos falantes sobre a relação entre as várias formas da língua.
2.A população e localização dos grupos que falam variedades da língua.
3.O número de falantes e semi-falantes de cada variedade da língua.
4.O grau de transmissão de cada variedade da língua.
5A afiliação da língua com troncos lingüísticos e famílias lingüísticas.
6.Os estudos, publicados ou não, das variedades da língua.
7.As gravações existentes de cada variedade da língua e a sua localização.
8.As ortografias usadas para escrever as variedades da língua, a sua precisão lingüística e grau de funcionamento e os materiais escritos na língua.
9.O grau de manutenção das tradições dos grupos falantes, especialmente das tradições orais e formas especiais da língua.
Em princípio, o levantamento seria dos fatos; os materiais, por exemplo, artigos científicos ou gravações, seriam fisicamente presentes em vários lugares.
2. A situação mundial de línguas em perigo de extinção e o movimento internacional em favor de documentação e manutenção
A situação das línguas no Brasil é típica da situação mundial. O movimento internacional em torno de línguas em perigo de extinção se intensificou com a publicação de um artigo pelo lingüista Michael Krauss (1992), que estimou que 90 % das línguas do mundo estariam em perigo de extinção no século XXI, se não fossem tomadas medidas preventivas. É importante evitar derrotismo e pessimismo excessivo; por exemplo, o hebraico hoje em dia é uma língua viva, falada pela população de Israel.
Dois programas internacionais apareceram nos últimos sete anos com o objetivo de patrocinar e estimular projetos de documentação e revitalização de línguas ameaçadas: o programa DOkumentation BEdrohter Sprachen (DOBES, da Fundação Volkswagen da Alemanha, www.mpi.nl/DOBES) e o Endangered Languages Documentation Programme (ELDP, Programa para a Documentação de Línguas Ameaçadas, patrocinado pela Lisbet Rousing Charitable Fund e administrado pelo School for Oriental e Asian Studies, Universidade de Londres, www.hrelp.org/grants). Mais recentemente, a Fundação Nacional para a Ciência dos EUA iniciou um programa para documentação também. Em parte por causa deste estímulo, há hoje em dia uma discussão internacional ativa sobre a metodologia de documentação e manutenção de línguas. Felizmente, vários projetos internacionais de documentação e a manutenção estão em progresso no Brasil, envolvendo 17 línguas:
Patrocínio DOBES:
Língua (tronco/família) Lingüista Instituição
Kuikúro (Karib) Franchetto Museu Nacional
Trumái (isolada) Guirardello MPI/Museu Goeldi
Awetí (Tupí) Drude Universidade Livre de Berlim/Museu Goeldi
Kaxuyána (Karib) Meira Universidade de Leiden/Museu Goeldi
Bakairí (Karib) Meira Universidade de Leiden/Museu Goeldi
Mawé (Tupí) Meira Universidade de Leiden/Museu Goeldi
Kaxinawá (Pano) Camargo CNRS
Língua (tronco/família) Lingüista Instituição
Kuikúro (Karib) Franchetto Museu Nacional
Trumái (isolada) Guirardello MPI/Museu Goeldi
Awetí (Tupí) Drude Universidade Livre de Berlim/Museu Goeldi
Kaxuyána (Karib) Meira Universidade de Leiden/Museu Goeldi
Bakairí (Karib) Meira Universidade de Leiden/Museu Goeldi
Mawé (Tupí) Meira Universidade de Leiden/Museu Goeldi
Kaxinawá (Pano) Camargo CNRS
Patrocínio ELDP:
Puruborá (Tupí) Galucio Museu Goeldi
Sakurabiát (Tupí) Galucio Museu Goeldi
Ayuru (Tupí) Demolin Universidade Livre de Bruxelas/USP
Salamãy (Tupí) Moore Museu Goeldi
Apurinã (Aruák) Facundes UFPA
Puruborá (Tupí) Galucio Museu Goeldi
Sakurabiát (Tupí) Galucio Museu Goeldi
Ayuru (Tupí) Demolin Universidade Livre de Bruxelas/USP
Salamãy (Tupí) Moore Museu Goeldi
Apurinã (Aruák) Facundes UFPA
Ofayé (Macro-Jê) Ribeiro Universidade de Chicago/UFG
Kaduvéu (Guaykurú) Sandalo UNICAMP
Karo (Tupí) Gabas Museu Goeldi
Enawé Nawé (Aruák) de Resende Museu Nacional
Kaduvéu (Guaykurú) Sandalo UNICAMP
Karo (Tupí) Gabas Museu Goeldi
Enawé Nawé (Aruák) de Resende Museu Nacional
Patrocínio NSF:
Piratapúya (Tukano) Stenzel Museu Nacional
Piratapúya (Tukano) Stenzel Museu Nacional
Além desses projetos (todos quais estão sendo feitos por brasileiros ou por lingüistas lotados em instituições brasileiras), cujo foco é mais documentação do que pesquisa, há projetos menores apoiados por fontes nacionais ou pela Endangered Languages Fund (Fundo para Línguas Ameaçadas). Existe uma diferença entre uma pesquisa tradicional de uma língua com poucos falantes e um projeto cujo foco é a documentação moderna desta mesma língua—o que corresponde ao registro feito pelo Iphan de patrimônio imaterial. Um aspecto da nova onda de projetos de documentação que é significativo para o registro de línguas é que eles utilizam tecnologia digital para realizar gravações de alta qualidade a baixo custo. Por exemplo, vídeos podem ser gravados em fitas mini-DV e transferidos diretamente para micro computadores, para edição e gravação em DVD. Gravadores do tipo Hi-MD gravam áudio em arquivos digitais que podem ser transferidos diretamente para micro-computadores para processamento. Existem softwares especiais para a transcrição de gravações de áudio e vídeo, bem como softwares para a catalogação do conteúdo de gravações. Ainda existem questões da migração de gravações—como maximizar as chances de transferir as gravações e transcrições para novos meios de armazenagem quando os meios atuais forem obsoletos.
Arquivos informatizados de documentação lingüística existem em muitos países. Interessantemente, 95% das consultas aos arquivos lingüísticos na Austrália são feitas por nativos. Nos Estados Unidos, até as gravações feitas em cilindros de cera por antropólogos no início do século XX estão sendo procuradas por grupos indígenas querendo recuperar o que eles podem da sua língua. Um princípio de documentação atual é que as gravações devem estar disponíveis à comunidade indígena, que deve indicar os assuntos mais interessantes para documentação.
3. Revitalização e manutenção lingüística
Além de registrar e documentar línguas, há a questão de revitalização e manutenção de línguas. Métodos sendo utilizados mundialmente incluem os seguintes:
1.Ninho de linguagem. Crianças, que aprendem línguas sem esforço, poderiam ficar com os avôs durante certos períodos, falando somente na língua nativa.
2.Mestre e aprendiz. Um falante assume a responsabilidade de ensinar um jovem na língua. Os dois trabalham juntos na tarefa como achem necessário.
3.Imersão. Durante um certo período a comunidade ou uma parte da comunidade fala somente na língua e os não falantes têm que adquirir um mínimo da língua para se comunicar nesses períodos.
4.Alfabetização na língua materna. Materiais escritos na língua geralmente aumentam o prestígio da língua e chamam o interesse da geração mais jovem.
5.Gravações de documentação. Músicas, narrativas tradicionais e outros materiais podem ser gravados e devolvidos à comunidade indígena para familiarizar os ouvintes com a língua e estimular tradições.
4. Referências:
Aikhenvald, Alexandra Y. e R. M. W. Dixon. 1999. Other small families and isolates. In The Amazonian languages, ed. por R. M. W. Dixon e Alexandra Y. Aikhenvald. Cambridge: Cambridge University Press.
Krauss, Michael. 1992. The world’s languages in crisis. Language 68:4-10.
Moore, Denny. 2005. Brazil: Language situation. In Encyclopedia of languages and linguistics, 2ª edição, ed. por Keith Brown, vol. 2: 117-127. Amsterdã: Elsevier.
____. 2006. Endangered languages of Lowland Tropical South America. InLanguage Diversity Endangered, ed. por Matthias Brenzinger. Berlim: Mouton de Gruyter. No prelo.
Rodrigues, Aryon D. 1986. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Edições Loyola.
____. 1993. Endangered languages in Brasil. Comunicação apresentada no Symposium on endangered languages of South America, Rijksuniversiteit, Leiden.
Seki, Luci. 1999. The Upper Xingu as an incipient linguistic area. In TheAmazonian languages, ed. por R. M. W. Dixon e Alexandra Y. Aikhenvald. Cambridge: Cambridge University Press.
[1] Texto publicado inicialmente na Patrimônio – Revista Eletrônica do IPHAN www.revista.iphan.gov.br
Luiz Gonzaga vai ganhar biografia em quadrinhos
18 de Dezembro de 2012, 22:00 - sem comentários ainda Por Revista O GritoO estúdio de design Retina78 anunciou a HQ Luiz Gonzaga — Asa Branca — O Menino Cantador, que deve chegar às livrarias nas próximas semanas. O músico completaria 100 anos este mês e vive um momento de homenagens em todo o Brasil.
A HQ conta a história de Gonzaga desde sua infância em Exu, no Interior pernambucano até seu sucesso como cantor popular. O roteiro é de Maurício Barros de Castro e desenhos de Wesley Rodrigues, que também é animador.
Luiz Gonzaga — Asa Branca — O Menino Cantador, tem 64 páginas e custa R$ 39,90.
FENAJ instalará Comissão da Verdade dos Jornalistas em janeiro
15 de Dezembro de 2012, 22:00 - sem comentários aindaAprovada no 35º Congresso Nacional dos Jornalistas, a Comissão Nacional da Verdade da categoria será composta pelos jornalistas Audálio Dantas (SP), Nilmário Miranda (MG), Rose Nogueira (SP), Carlos Alberto Caó (RJ) e Sérgio Murillo de Andrade (SC), que vai coordenar os trabalhos. Sua instalação oficial se dará durante a realização do Seminário Internacional Direitos Humanos e Jornalismo, programado para os dias 18 e 19 de janeiro de 2013, no Centro Cultural Érico Veríssimo (Rua dos Andradas,1223), no Centro Histórico de Porto Alegre.
Alguns Sindicatos de Jornalistas já criaram e instalaram suas comissões. A direção da FENAJ e sua Comissão da Verdade estão estimulando que todos os Sindicatos da categoria constituam suas comissões locais para construção do mais amplo levantamento documental e iconográfico possível, recuperando a história dos jornalistas vítimas da ditadura militar. "O propósito é registrar não apenas os casos de jornalistas mortos e desaparecidos, mas também de todos os que foram comprovadamente perseguidos, ameaçados, cassados, indiciados em processos, condenados, exilados, presos e torturados", explica o diretor de Relações Institucionais da entidade, Sérgio Murillo de Andrade.
O levantamento nacional terá como base os documentos oficiais produzidos no período da ditadura militar pelos órgãos de informação e que estão sob a guarda do Arquivo Nacional. "Também pretendemos realizar pesquisas junto à Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, entrevistar e colher depoimentos de vítimas ou testemunhas e pesquisar publicações da época", complementa Sérgio Murillo.
A expectativa é de que o levantamento nos estados ocorra até o dia 31 de março de 2013, para posterior sistematização e coleta de dados complementares. A ideia é produzir uma publicação especial e encaminhar o resultado do trabalho à Comissão Nacional da Verdade do governo federal até agosto próximo.
(Publicado no sítio da Fenaj)