Por Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos)
Há um certo tipo de crescimento econômico que permite transformações sociais e políticas para se promover desenvolvimento. É o crescimento que tem capacidade para produzir bem-estar social e qualidade de vida para todos, no contexto do desafio da sustentabilidade ambiental. Como uma das maiores economias do planeta entra na trajetória de crescimento econômico? Como esse crescimento ganha a qualidade distributiva requerida para o desenvolvimento?
O enfretamento dessas questões é urgente e requer qualidade no debate público. É complexo articular o desenvolvimento produtivo de um país continental como o Brasil, mas isso dever ser feito com: (a) a mobilização da população para fazer da base material um ativo de bem-estar, promovendo capacidade cognitiva que, aplicada em tecnologia e inovação, agregue qualidade à vida e; (b) uma indústria capaz de transformar a base material, recuperando, preservando e atuando pela sustentabilidade do meio ambiente.
São os processos industriais que mobilizam o trabalho e geram tecnologias e inovações que transformam a base material em riqueza agregada de valor. A sociabilidade da vida moderna é resultado das mudanças que o sistema industrial engendrou na divisão do trabalho, na produção do espaço urbano e no extraordinário incremento da produtividade geral da economia. O comércio vende os itens produzidos pela indústria e os serviços incorporam esses produtos na execução de suas atividades. Enfim, sem indústria, não há o tipo de crescimento de que precisamos para o desenvolvimento.
Por isso, é urgente estabelecer as conexões significativas entre a politica macroeconômica e as fontes que articulam e dinamizam as frentes de expansão econômica. Essa conexão deve visar simultaneamente à qualidade do mercado interno de consumo de massa, com aumento do emprego e melhora nos salários, à participação expressiva das exportações e à ampla reorganização do espaço urbano e rural, mas com qualidade de vida e produção com sustentabilidade ambiental.
Por isso, a política econômica deve mobilizar um processo de desenvolvimento industrial e produtivo, para o qual concorrem, entre outros: (a) uma política cambial que protege a indústria tecnologicamente competitiva; (b) a redução dos juros e a reorganização da dívida pública; (c) a criação de mecanismos privados de financiamento de longo prazo; (d) a desindexação dos contratos e preços; (d) a simplificação tributária; (e) a desoneração do investimento e das exportações; (f) o investimento em infraestrutura econômica e social. O ajuste fiscal, desconectado desses elementos, em uma economia debilitada, pode agravar todos os problemas e comprometer inclusive as metas do próprio ajuste.
Ademais, é necessário participar da terceira e da quarta revolução industrial em curso, incorporando conhecimento aos processos produtivos e atualizando o parque fabril tecnologicamente atrasado e; mobilizando radical mudança na qualidade da educação para que a capacidade produtiva e gerencial esteja atualizada nas frentes de expansão econômica. É imperioso, por exemplo, diminuir a desigualdade de produtividade entre as grandes e as pequenas e microempresas.
É necessário fazer escolhas inteligentes, a partir do debate político, que orientem o desenvolvimento econômico para o aumento da produtividade, dos salários, da qualidade do emprego e diante da vantagem comparativa de uma demanda interna que anima a capacidade produtiva aqui instalada. Essas escolhas precisam ser feitas já, operadas e implantadas agora, o que exige algum tipo de coalização social para criar a força politica capaz de mobilizar e implantar uma agenda de desenvolvimento assentada no incremento e na partilha dos ganhos de produtividade.
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