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Bertoni

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Blog do Bertoni

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | 1 person following this article.
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Pra mim, nada mudou...

9 de Fevereiro de 2015, 9:44, por Bertoni

Setembro de 2006, campanha eleitoral. Lula disputa a reeleição. Alckmin é o candidato da oposição com o lema "O Brasil precisa de um gerente".

Saio do trabalho e paro em um posto de combustíveis para abastecer o meu Verona, vermelho, 1996. Devidamente adesivado, fazendo campanha para o, assim como eu,  ex-metalúrgico Lula.

O frentista que me atende, olha-me e baixinho diz:

- Este ano a gente leva, né?

Olho ao redor, só vejo carros com adesivos de Alckmin, um mar azul e amarelo. Naqueles tempos a expressão "coxinha" ainda não era usada para qualificar os repetidores de mantras tucanos.

Pergunto ao frentista:

- Nós quem, cara pálida?  Aqui só tem eleitor tucano!

- Nós, o povão! O Lulão leva essa, né? - responde-me ele indagando.

- Eu faço campanha para isso, mas percebo que aqui neste bairro a coisa não será fácil.

- Ah, estes riquinhos, não sabem nada. Só pensam neles...  e começa a me explicar os avanços no governo Lula.

Termina o abastecimento, digo a ele que gostaria de dar uma ducha no carro. Já são mais de 19h e a ducha estava por fechar. O frentista, animado com a conversa, me diz que ele mesmo lavaria o Verona.

Enquanto lava meu carro, ele segue animadamente falando sobre a sua identificação com o Presidente da República: "um peão como eu, povão como eu".

Do alto de minha arrogância intelectualóide interrompo a fala do frentista e afirmo:

- Na real, na real, para mim nada mudou. Continuo empregado, como era, ganhando a mesma coisa que ganhava, com o mesmo carro velho que tinha. Mas faço campanha pro Lula porque não penso só em mim e porque também conheço sua hsitória, além de conhecê-lo pessoalmente

Falei isso achando que estava abafando e mostrando meu comprometimento com a classe trabalhadora, à qual pertenço até hoje. E aí tomo na fuça!

- Como não mudou nada para você, camarada? Claro que mudou, claro que mudou. Tá bom, você pode não estar ganhando mais, mas 1º não perdeu emprego. 2º você está gastando menos. Você lembra quanto custava um saco de 5Kg de arroz em dezembro de 2002 quando FHC deixou o governo? E o feijão?

- O pacote arroz custava R$ 15,00 ou R$ 3,00 o quilo. - respondo encabulado e com aquela cara de "me ferrei, ele tá certo".

- Então, irmão, hoje o pacote de arroz está custando R$ 7,00 ou R$ 8,00. Você pode não estar ganhando mais, mas está gastando menos ou usando o dinheiro que te sobra para outras coisas. Antes mal alcançava para a alimentação e as contas do mês, não é?

Pois, ele tinha razão.

Me dei conta nesta conversa que, embora sendo um trabalhador como ele, eu já estava me rendendo aos vícios da classe média e em parte assumindo o discurso dos poderosos.

As mudanças que aconteceram no Brasil estavam ligadas a tirar a maioria da população brasileira do estado de indigência e da miséria.

Para as classes média e alta, isso pouco significa, pois já tinham acesso ao mínimo de educação, saúde, emprego e serviços que os mais pobres só passaram a ter a partir de 2004-2005. 

De fato, a tímida inclusão dos mais pobres irrita a classe média, que se preocupa mais em detonar a ascensão dos pobres que combater a acumulação de riquezas nas mãos de 1% de ricos que lhes cagam à cabeça.

1 Tempos depois de nossa conversa o frentista foi promovido a segurança e meses mais tarde deixaria o emprego no posto de combustíveis para ir trabalhar numa metalúrgica na região metropolitana para "ganhar 3 vezes mais", segundo seus colegas de trabalho no posto. 

2 Estamos em fevereiro de 2015, o pacote de arroz de 5 Kg custa em torno de R$ 12,00 a R$13,00, ou seja, passados 12 anos e 2 meses desde o fim da era FHC e com todos os aumentos que tivemos nos preços dos alimentos, este produto básico e tradicional à alimentção dos brasileiros ainda está cerca de 20% mais barato que na época do neoliberalismo descarado.



Para o bem das elites dos tucanos “Foda-se o Brasil”

7 de Fevereiro de 2015, 19:29, por Bertoni

Por Silvio Prado, professor

No país dos escândalos, para a mídia bandida e canalha só existe o escândalo da Petrobras. Nada mais existe debaixo do céu azul varonil dessa terra de bandidos engravatados e da vinheta indecente do plim plim global. Não existe o Trensalão onde Covas, Serra e Alckmin estão comprometidos até o fiofó.

Não existe o Complexo Cantareira, sem uma gota de água, sequinho como uma fatia de torrada. Não existe a FDE onde três e meio bilhões de reais estão disponíveis para as máfias que mamam no dinheiro da educação paulista.

Não existe o Itau, devendo 18 bi para a Receita Federal. Não existe o extermínio da juventude negra. Não existe o crime organizado mandando nos presídios paulistas, bem debaixo do nariz pontiagudo de Alckmin. Não existe o conjunto de multinacionais remetendo seus lucros, todo ano 40 bilhões em média, para suas matrizes.

Não existe meia dúzia de ricaços vagabundos comprando jatinhos, iates, aviões de luxo sem pagar imposto algum, enquanto o cidadão miserável paga alto imposto por um pacote de fubá. Não existe a bunda do Gilmar Mendes sentada e emperrando o andamento do processo que define a questão do financiamento das campanhas eleitorais.

Não existe a questão do banqueiro Dantas, duas vezes protegido e salvo pela "estranhíssima bondade" do mesmo Gilmar, um picareta que tão bem serve ao capital. Não existe o escândalo de sonegação fiscal da Globo, onde os irmãos Marinho fingem que não foram autuados em quase 800 vezes pela Receita Federal.

Não existe o escândalo do helicóptero dos Perrela, apreendido com 450 quilos de cocaína que, se a PF quisesse, já teria alcançado seus responsáveis seguindo algumas "carreirinhas” bem conhecidas pelo país inteiro. Não existe o escândalo da PM paulista que mata mais que todas as policias dos quase 50 estados norte-americanos.

Não existe o escândalos das reformas superfaturadas que o governo Alckmin promove de baciada nas escolas públicas. Não existe o escândalo do BANESTADO, até hoje engavetado para o bem de gente que se apropriou de mais de 40 bilhões de reais através de um esquema bancário criminoso.

Não existe o escândalo que envolveu o bandido Carlinhos Cachoeira, a criminosa VEJA e um cara de pau sem limites, como Demóstenes Torres, fazendo acusações criminosas e falsas. Não existe escândalo algum envolvendo aeroportos da família Neves, em Minas, custeado com dinheiro público, nem dinheiro também publico sustentando duas ou três emissoras de rádio de um playboy inútil que se travestiu de governador e agora se fantasia de senador por aquele estado.

Enfim, nenhum desses escândalos possui existência real. O único escândalo verdadeiro é o da Petrobras, a mesma empresa que era para ser a PETROBRAX dos bandidos tucanos, aquela que FHC, nosso bandido mor, queria (e ainda quer) privatizar para a alegria das petroleiras americanas.

O único escândalo brasileiro é o dessa empresa que controla uma riqueza que pode significar a redenção econômica desse pais cujo povo, conforme um historiador brasileiro, Capistrano de Abreu, durante toda a sua história foi "capado e recapado" para o bem das criminosas elites e, agora, como se fosse um milagre, deu um passo no sentido de assumir sua própria história, o que irrita, perturba e deixa sem rumo essa riquíssima minoria branca e canalha.

Portanto, para privatizar a Petrobras e torná-la PETROBRAX vale toda e qualquer molecagem cuspida pela boca do Willian Bonner em horário sordidamente nobre. Vale promover vazamentos de informações sigilosas, vale exaltar delegados da PF que fizeram campanha para Aécio Poeira Neves, vale desmoralizar ainda mais a justiça, a imprensa,a política.

Vale produzir mentiras por atacado e jamais colocar na mídia qualquer nome criminoso que tenha ligações umbilicais com os tucanos ou qualquer setor da oposição. O importante é falar desse escândalo da forma mais escandalosa possível, pela manhã, pela tarde, noite, madrugada, até que o povo resolva sair de casa e linchar o PT, incendiar seus diretórios, perseguir seus militantes e, pela revolta, criar consenso para que esse partido seja banido da vida política brasileira.

O importante para a burguesia brasileira, para os tucanos é deixar Dilma no chão, inviabilizar a campanha de Lula em 2018 e, dane-se a Petrobras, o pré-sal e, por extensão, foda-se o Brasil. Assim querem nossa elite branca e seus capachos tucanos. Assim querem os donos do petróleo. Foda-se o Brasil...

Fonte: http://www.iranilima.com/2015/02/para-o-bem-das-elites-dos-tucanos-f-se.html



Gasolina aumentou! Vamos calcular???

6 de Fevereiro de 2015, 8:35, por Bertoni

Virou moda a classe média reclamar do aumento no preço da gasolina. É verdade que os dois reajustes anunciados recentemente por Levy e Dilma são de deixar qualquer um de orelha em pé.

Mas será que a roubalheira é essa mesma que a classe média alega, repetindo como matraca a campanha terrorista do PiG?

Vamos calcular?

Dependendo da região, em 2002, último ano do desgoverno de FHC, a gasolina custava entre 2,05 e 2,25 o litro. Tomemos como média o valor de R$ 2,15/litro.

Em 1994 quando FHC foi eleito o litro da gasolina custava R$0,54.

R$ 2,15 : 0,54 = 3,9815

Em 8 anos de tucanato o preço do litro da gasolina aumentou 298,15%.

Hoje o litro da gasolina está valendo R$ 3,30-3,50, dependendo da região. Tomemos a média de R$3,40/litro.

R$ 3,40 : 2,15 = 1,5814

Em 12 anos de petismo o preço da gasolina aumentou 58,14%

Se os governos petistas tivessem usado a mesma regra de reajustes da gasolina usada por FHC, hoje o litro deste combustível deveria valer, no mínimo, R$ 8,56!!!!

R$ 2,15 X 3,9815 = R$ 8,56

Faça conta! Simples assim!

Se liga!

A campanha dos caras não é contra o aumento de preços, nem contra a Petrobras. É contra o Brasil, pois eles querem entregar o Pré-Sal às empresas estrangeiras e mudar o regime de partilha, evitando assim que dinheiro dos royalties do Pré-Sal seja destinado à Educação e à Saúde conforme previsto na nova legislação do Petróleo.

Eles querem que você morra doente, sem educação e sem emprego!

Inflação acumulada!

Confira aqui a inflação acumulada entre Janeiro de 1995 e Outubro de 2014 ou calcule você mesmo a inflação acumulado nos períodos em questão clicando aqui

INPC - Julho 1994 até Dezembro de 2002: 144,43% (do início do real até o fim do governo FHC, 8 anos e meio)

INPC - Janeiro de 2003 a Janeiro de 2015: 101,32% (do início do 1º mandato de Lula até o 1º mês do segundo mandato de Dilma, 12 anos e um mês)

Logo, o reajuste da gasolina em 12 anos de Lula e Dilma foi abaixo da inflação, enquanto que no período de FHC foi muito, mas muito acima da inflação registrada no período)



Continuidade e Mudanças para superar as desigualdades

2 de Fevereiro de 2015, 8:28, por Bertoni

Por Clemente Ganz Lúcio

“Não basta que o estado de coisas que tentamos promover seja melhor que o estado de coisas que nos precedeu; ele tem que ser suficientemente melhor para compensar os males da transição.”

J. M. Keynes

Como encarar os desafios do futuro, em meio a tantas incertezas? O processo eleitoral estabeleceu os desafios da continuidade e da mudança para o próximo mandato da presidente Dilma Rousseff. Continuidade e mudança são enigmas enfrentados pelos cientistas sociais na tarefa de entender a trajetória da vida em sociedade. Para aqueles que lutam para promover transformações sociais, as incertezas de uma e de outra, em contextos históricos concretos, exigem capacidade de conduzir práxis de complexa engenharia política, econômica e social.

A superação da desigualdade continua sendo o maior desafio da sociedade brasileira. As diversas formas de desigualdade (regional, de gênero, de raça, de renda, de condição de vida e trabalho, entre outras) exigem o aprofundamento do princípio da equidade nas políticas públicas, como fundamento estruturante para a promoção da justiça, da liberdade e a sustentação da própria democracia.

A desigualdade como problema e a equidade como fundamento da ação que transforma a realidade abrem a Agenda Nacional de Desenvolvimento, documento propositivo que foi construído durante um ano de intenso e profundo debate no âmbito do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Instigados pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva a apresentar prioridades e diretrizes para as escolhas estratégicas que o governo deveria fazer para promover o desenvolvimento do país, os membros do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) construíram, com muito debate e diálogo, um conjunto de diretrizes estratégicas que formam a Agenda Nacional de Desenvolvimento. O documento foi entregue ao ex-presidente Lula em 2005 e, posteriormente, numa versão atualizada, apresentado à presidente Dilma, em 2011.

Nesses anos fez-se muito para enfrentar as causas que promovem as desigualdades, com a colocação em prática de muitas iniciativas sugeridas e, consequentemente, o alcance de resultados robustos. Entretanto, o problema é dramaticamente imenso e, portanto, há muito ainda por fazer. Diante do contexto nacional e internacional, das mudanças já realizadas e observando entraves e dificuldades, cabe, talvez, pactuar as prioridades em termos de diretrizes estratégicas de desenvolvimento para os próximos anos.

O processo de mobilidade social ascendente promovido pela geração de milhões de novos empregos, com salários valorizados, pelas políticas de distribuição de renda e seguridade social, pela oferta de crédito, pelo acesso a bens e serviços, permitiram que milhões deixassem a condição de miseráveis e pobres e construíssem novas estratégias de transformação da trajetória de suas vidas. Assumiram a condição de demandantes de bens e serviços, públicos e privados, o que mudou relativamente a sociedade e a vida de todos. Nesse contexto, as empresas redescobriram o potencial do mercado interno, a demanda mobilizou a produção, a renda e a riqueza de todos aumentaram. O território foi alterado pelo crescimento mais acentuado das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e as relações sociais ganharam novos contornos políticos, econômicos e culturais.

Entretanto, esse intenso processo de transformação revelou que a estrutura econômica das cidades, do campo e da base produtiva estava aquém das demandas. Os gargalos que já eram perceptíveis antes, resultantes da longa falta de investimento, tornaram-se dramáticos em vários sentidos. Observa-se, a título de exemplo, aqueles acumulados pela falta de investimento em infraestrutura e serviços/equipamentos urbanos, agravados pela ampla privatização dos serviços públicos. O mesmo pode ser observado na carência em termos de infraestrutura produtiva, econômica e social, o que compromete o desenvolvimento econômico.

Nesse processo, o país mostrou a potencialidade do mercado interno de consumo e produção de massa, a capacidade criativa dos agentes econômicos e o decisivo papel que o Estado desempenha como indutor, coordenador, regulador e mobilizador do desenvolvimento. Ao mesmo tempo, ficou evidente a carência, o limite e a distorção no uso de recursos financeiros. Há urgência no desenvolvimento das capacidades da sociedade em relação às questões da ciência, tecnologia e inovação, especialmente por meio do acesso universal à educação de qualidade e do investimento para criar e realizar projetos. Persiste o travamento da atuação do Estado para realizar suas atribuições, faltando articulação e coordenação às políticas públicas. A relação entre os poderes deve ser pautada pela cooperação visando à eficiência e à eficácia, bem como é preciso revisar as atribuições dos entes federados.

Olhar prospectivamente os desafios, no contexto da complexidade das sociedades modernas, inclusive a brasileira, significa compreender velhos e novos conflitos da forma capitalista de produção e de distribuição da renda e da riqueza privada e pública. A trajetória de superação da desigualdade exige construir os meios para promover a igualdade de oportunidades, igualdade de condições e igualdade de capacidade para todos.

A desigualdade é uma construção social e histórica, contraditoriamente ampliada pelas revoluções industriais que, desde o século XVIII, progressivamente criam capacidade econômica de atender às necessidades materiais de todos e, potencialmente, promover bem-estar e qualidade de vida para toda a sociedade. Entretanto, não é isso que se observa ainda hoje, pois, segundo diferentes estudos, a desigualdade segue crescendo no mundo e as distâncias entre ricos e pobres ampliaram-se muito nos últimos anos.

Promover o fim da miséria e acelerar a redução da pobreza são objetivos alcançáveis, de complexa execução, porque requerem um tipo de crescimento econômico continuado, com qualidade distributiva do incremento da produtividade e com novas formas de produção e consumo. Requer alterar o fluxo de renda em termos de distribuição pessoal e funcional e na forma de acumular e distribuir a riqueza em termos privado e público.

Colocar a questão social como indutora da estratégia de crescimento - seja pelo objetivo de gerar empregos e renda ou pela promoção de infraestrutura econômica e social para promover bem-estar e qualidade de vida para todos - gerou, e continuará gerando, tensões e conflitos. Isso porque a desigualdade é mantida e produz estrutura de poder, status, controle e coerção social, e a superação dela exige alterar essas relações, o que cria desconforto e reação. Altera-se o equilíbrio instável da iniquidade e a transição traz incertezas sobre os novos posicionamentos relativos que os efeitos distributivos produzirão.

O crescimento economico deve ser orientado para ampliar a capacidade de produzir bens e serviços que atendam às demandas e necessidades do conjunto da população. O resultado é um ciclo virtuoso de expansão da economia, uma vez que, com isso, haverá mais pessoas empregadas e com renda, que movimentarão o mercado interno de produção e consumo, além de incrementar o investimento produtivo. E é preciso aproveitar o contexto, antes das profundas mudanças demográficas que conduzirão a população a um gradativo processo de envelhecimento. É urgente incrementar a produtividade e abrir oportunidades de uma relação virtuosa entre tecnologia, emprego e renda.

Nessa perspectiva, é estratégico o desenvolvimento industrial, entendido como a capacidade de transformação material para produzir os bens necessários à vida moderna, dinamizador da produtividade do setor de serviços e do comércio, agregador de valor à produção agropecuária e mineral, entre outros. O país tem um grande parque industrial que precisa ser modernizado tecnologicamente, ampliado e distribuído no território, organizado e articulado em termos de cadeias produtivas e mais bem integrado às cadeias globais de agregação de valor. Investir em ciência, tecnologia e inovação, aproximando universidades e centros de pesquisa das empresas, por exemplo, assim como universalizar a educação de qualidade, desde a infância, é a base para a igualdade de oportunidades para todos e para o incremento da produtividade geral e o elemento para o desenvolvimento pleno da cidadania.

Por sua vez, a política econômica deverá promover e renovar a capacidade fiscal do Estado para investir em infraestrutura produtiva e social, base para incremento da produtividade e promoção de bem-estar; reestruturar a dívida pública, reduzindo de maneira definitiva a taxa de remuneração e os dispêndios; deslocar os capitais para o investimento produtivo; ofertar crédito com menor taxa de juros; favorecer taxa de retorno apropriada ao capital, sem a fácil vantagem do lucro sem risco; criar capacidade privada de financiamento de longo prazo, para além do que hoje já se faz com fonte pública; sustentar uma política cambial que favoreça o desenvolvimento produtivo e coibir fluxos especulativos de capitais. Há o desafio da reforma fiscal que simplifique o sistema tributário e mantenha uma carga fiscal coerente com os desafios do desenvolvimento do país. Não menos relevante é dar tratamento ao pacto federativo, observando com cuidado a distribuição das responsabilidades entre os entes federados.

Enfim, uma agenda de complexas questões precisará ser coordenada para sustentar o crescimento. No contexto desses desafios, a relação entre o interesse público e o interesse privado precisa ser recolocada em outro patamar. Se o Estado não pode tudo, por outro lado, pode muito. O setor privado, por sua vez, dispõe de capitais que são essenciais para o sucesso de uma estratégia de desenvolvimento e estes precisam ser efetivamente mobilizados para o desenvolvimento produtivo. Há que se buscar, com transparência, um novo patamar de relação entre o setor público e o setor privado.

O presente, de maneira inédita, anuncia a dramática e urgente tarefa de aliar a questão econômica e social do crescimento ao desafio ambiental e climático. A superação da questão social da desigualdade deve mobilizar um tipo de crescimento econômico intencionalmente orientado para gerar conhecimento, estrutura produtiva e transformação material capazes de recuperar e preservar o meio ambiente e atuar contra as graves mudanças climáticas em curso. Esse desafio pode ser tomado como uma oportunidade para novos paradigmas de desenvolvimento econômico no campo e na cidade, de reorganização do espaço urbano e rural, de integração entre local de moradia e local de trabalho, de tratamento da questão da mobilidade, em que as políticas sociais e os serviços sustentam o próprio crescimento. O tamanho do território brasileiro, o volume de reservas naturais, a diversidade de biomas e florestas, entre outros, são ativos estratégicos para a qualidade de vida e a segurança alimentar do mundo e devem ser assim considerados na estratégia de desenvolvimento do país. Será também uma oportunidade para uma nova abordagem entre retorno público e ganho privado, entre o individualismo e o exacerbado consumismo, recolocando outra relação entre bem-estar material, o bem viver e a felicidade.

A desigualdade presente nas sociedades também atua contra valores estruturantes do processo civilizatório. Como desenvolver o valor da fraternidade em uma sociedade estruturalmente desigual? Como incrementar a produtividade econômica em uma sociedade cognitivamente desigual? Como fortalecer a democracia e a liberdade em uma sociedade politicamente desigual? É necessário permanentemente tomar consciência da injustiça nas diferentes formas de desigualdade, fenômeno político, ético, moral e estético inaceitável e, ao mesmo tempo, de maneira pragmática, dar-se conta de que a desigualdade é também ineficiente e ineficaz do ponto de vista econômico.

Abre-se também a oportunidade para religar o bem-estar material, o bem viver e a preservação do meio ambiente, fruto do investimento para estabelecer novas relações de cooperação que busquem envolvimento dos atores, em espaços intencionais de diálogo, recuperando a centralidade da política pelo debate público e a mobilização para a construção de acordos sociais em todos os níveis.

O que se busca por meio do diálogo social é, considerando-se os conflitos e contradições que conformam as relações sociais, criar um campo/espaço para formular desafios, elaborar novas utopias que possam, por meio de promessas pactuadas, ser antecipadas pela ação que as materializa no presente. Ao unir e pactuar, estabelece-se a relação como fonte de poder e, como afirma Hannah Arendt:

“A faculdade humana de fazer e manter promessas guarda um elemento da capacidade humana de construir o mundo. Assim como as promessas e acordos tratam do futuro e oferecem estabilidade no oceano de incertezas do porvir, onde o impensável pode irromper de todos os lados, da mesma forma as capacidades humanas de constituir, fundar e construir o mundo sempre remetem mais aos nossos ‘sucessores” e à ‘posteridade’ do que a nós mesmos e à nossa época. A gramática da ação: a ação é a única faculdade humana que requer uma pluralidade de homens; a sintaxe do poder: o poder é o único atributo humano que se aplica exclusivamente ao entremeio mundano onde os homens se relacionam entre si, unindo-se no ato de fundação em virtude de fazer e manter promessas, o que, na esfera política, é provavelmente a faculdade humana suprema.”

Sem dúvida, há distorções na organização política do país que não favorecem o debate público e o aprofundamento dos argumentos sobre as escolhas que se deve realizar para aprofundar mudanças. Muitas vezes, propositadamente, a política conduz ao embate visando criar obstáculos às transformações. Uma reforma política deve estar orientada para a qualidade da democracia representativa, para a valorização do diálogo e da pactuação na vida política e pública, favorecendo toda ação dedicada ao bem e ao serviço coletivo.

1 Artigo publicado no Le Monde Diplomatique Brasil, número 89 (diplomatique@dilomatique.org.br)

2 Sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

3 O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) foi criado pela Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003, que estabelece que "ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social compete assessorar o presidente da República na formulação de políticas e diretrizes específicas, e apreciar propostas de políticas públicas, de reformas estruturais e de desenvolvimento econômico e social que lhe sejam submetidas pelo presidente da República, com vistas à articulação das relações de governo com representantes da sociedade".

4 Disponíveis em www.cdes.gov.br

5 ARENDT, Hannah. Sobre a Revolução. São Paulo: Companhia das. Letras, 2011. 410 p.



Vivas às profetizas brasileiras!!!

1 de Fevereiro de 2015, 20:25, por Bertoni

Tudo Vira Bosta

Rita Lee

O ovo frito, o caviar e o cozido
A buchada e o cabrito
O cinzento e o colorido
A ditadura e o oprimido
O prometido e não cumprido
E o programa do partido
Tudo vira bosta...

O vinho branco, a cachaça, o chope escuro
O herói e o dedo-duro
O grafite lá no muro
Seu cartão e seu seguro
Quem cobrou ou pagou juro
Meu passado e meu futuro
Tudo vira bosta...

(Refrão)
Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta...

Filé 'minhão', 'champinhão', 'Don Perrinhão'
Salsichão, arroz, feijão
Mulçumano e cristão
A Mercedes e o Fuscão
A patroa do patrão
Meu salário e meu tesão
Tudo vira bosta...

O pão-de-ló, brevidade da vovó
O fondue, o mocotó
Pavaroti, Xororó
Minha Eguinha Pocotó
Ninguém vai escapar do pó
Sua boca e seu loló
Tudo vira bosta...

(Refrão 2x)
Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta...

A rabada, o tutu, o frango assado
O jiló e o quiabo
Prostituta e deputado
A virtude e o pecado
Esse governo e o passado
Vai você que eu 'tô cansado'
Tudo vira bosta...

(Refrão 2x)
Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta...

Tudo vira bosta...(5x)



Bertoni