Quando temas como privatização e retirada de direitos trabalhistas não parecem despertar o interesse dos leitores e artigos com títulos sensacionalistas sobre a prisão de Lula fazem sucesso, é indicativo de que estamos perdendo o senso do essencial, do prioritário.
Observando a audiência de publicações recentes sobre os temas privatização, retirada de direitos trabalhistas e prisão de Lula, percebi que a audiência alcançada pelo último é no mínimo 10 vezes superior a dos demais.
Causa-me estranheza que temas tão importantes para a vida de todos os brasileiros tenham repercursão tão distinta. Ora, se a prisão de Lula é uma ameaça à Democracia, as privatizações e a retirada de direitos trabalhistas também o são e suas consequências atingirão os 200 milhões de brasileiros, transformados de uma hora para outra em escravos da nova era, que se acham livres.
Parece que estamos perdendo a noção do essencial, dispostos a fazer qualquer coisa para salvar a liberdade do companheiro ex-presidente da república e ex-líder sindical metalúrgico. Não haveria outra coisa mais importante a fazer no momento que mantê-lo em liberdade, mesmo que uma liberdade limitada pelo golpe de classes imposto pela Casagrande e sua justiça, seu parlamento e sua imprensa.
Por algum motivo, me vem a cabeça a história do Masoléu de Lênin, na Praça Vermelha, bem em frente ao Kremlin de Moscou.
Desde o fim da URSS, em dezembro de 1991, o Masoléu de Lênin é um tema recorrente nos debates daquele país.
O KPRF - Partido Comunista liderado por Guenadii Ziuganov, teoricamente herdeiro do PCUS (Partido Comunista da União Soviética), é o maior defensor da manutenção do Masoléu. Já os neoliberais defendem a sua retirada imediata, enquanto a nomenklatura que domina o Kremlin é mais pragmática: mantém o masoléu como moeda de troca.
Toda vez que Putin quer aprovar algum projeto na Duma (parlamento russo) e o KPRF se posiciona contra, o establishment russo ameaça retirar o Masoléu e enterrar a múmia de Lênin. Os "comunistas" russos esperneiam, protestam, mas acabam aprovando o que Putin queria ao "conquistar" a manutenção do Masoléu na Praça Vermelha.
Longe de querer tirar conclusões precipitadas, fico com a impressão de que a nossa galera caminha para o mesmo destino, ou seja, não importa o que aconteça ao país e à Classe Trabalhadora, nossa maior tarefa seria manter Lula fora da cadeia. Lula seria o nosso Masoléu de Lênin, pelo preservação do qual estaríamos dispostos a lutar, mesmo que isso custe a venda de todas as empresas estatais e a retirada de todos os nossos direitos trabalhistas.
Claro que precisamos lutar para manter livre não só Lula, mas todos as pessoas que lutam contra o governo Temer, fruto de um golpe de estado de classes. Mas é preciso também lutar contra as privatizações e a retirada dos direitos trabalhistas, pautas eleitorais derrotas 4 vezes consecutivas nas urnas (2002, 2006, 2010 e 2014) e que volta agora com força total com o golpe neoliberal.
A prisão de Lula, sem dúvida nenhuma, escancara o caráter do golpe anti-trabalhadores. Porém, precisamos lutar não só pela liberdade de Lula, mas contra as privatizações e a favor de nossos direitos trabalhistas e sociais.
Se perdemos isso de vista, acabaremos como o KPRF de Ziuganov, brigando para manter o Masoléu de Lula, pois já não teremos nem empresas estatais, nem direitos sociais a defender.
0sem comentários ainda
Por favor digite as duas palavras abaixo