Toda vez que escuto ou leio a expressão o "Brasil é o país do futuro" me lembro de Stephan Zweig e de um causo infantil...
Não posso dizer que a expressão nunca me entusiasmou e que nunca nela acreditei. Seria uma mentira deslavada.
Zweig
Com entusiasmo li "Brasil, país do futuro", a famosa obra do austríaco exilado no Brasil, que parecia entender tão bem nosso país e suas potencialidades, criatividades e a forma simples de encarar a vida.
Já em sua primeira viagem ao Brasil, Zweig escreveu aos cunhados Manfred e Hannah Altmann:
"Você não pode imaginar o que significa ver este país que ainda não foi estragado por turistas e tão interessante - hoje estive nas cabanas dos pobres que vivem aqui com praticamente nada (as bananas e mandiocas estão crescendo em volta) e as crianças se desenvolvem como se estivessem no Paraíso -, a casa inteira, desde o chão, lhes custou seis dólares e, por isso, são proprietários para sempre. É uma boa lição ver como se pode viver simplesmente e, comparativamente, feliz - uma lição para todos nós que perdemos tudo e não somos felizes o bastante agora, ao pensar como viver então"
Mas, com o avançar dos anos, parte significativa dos brasileiros foi perdendo a simplicidade e a felicidade de viver. Se tornou mais parecida com aqueles que perderam tudo e não são felizes o bastante agora, embora tenha conquistado ascensão material significativa.
"Enricamos" diriam alguns em tom jocoso. Empobrecemos do ponto de vista humanístico e humanitário, diria eu...
Causo Infantil
A criança pergunta aos país:
- O que é o futuro?
- Futuro, futuro... Bem. Hoje é o presente, é o agora que vivemos. Ontem é o passado. Já foi. O futuro é o amanhã, o que está por vir, respondem os pais que em seguida ordenam:
- Agora vi dormir que já é tarde.
Contemplada com a resposta, a criança vai dormir alegre na esperança de que quando acordar, no próximo dia, estará no futuro e descobrirá o tal porvir.
Ao despertar no outro dia corre feliz perguntar ao pais se o futuro chegou.
Os velhos respondem:
- O futuro é amanhã. Hoje é hoje. O presente...
E a criança confusa, tenta argumentar sobre o que os pais haviam dito na noite anterior. Coerentes, os adultos seguem na mesma linha de argumentação e a criança, desolada, conclui que o futuro nunca chegará, pois o amanhã sempre se transforma em hoje depois das 24 badaladas do sino...
País do Futuro
No caso do Brasil, o tal país do futuro parece que nunca chegará porque insistimos em ter medo dele, insistimos em nossa condição colonial. Preferimos gerir negócios alheios a cuidar de nossos próprios, ou melhor, nos acomodamos no "conforto" do carguinho em uma multinacional ou macaquear o império ao desafio de determinar nosso próprio rumo.
Tememos a responsabilidade da ousadia de ser uma nação. Uma nação livre e soberana...
Por isso, toda vez que parece que estamos chegando lá, forçamos a barra para ouvir as 24 badaladas do sino e acordar nas manhãs de hoje tal qual erámos no dia anterior...
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