Afora a manipulação da rede Globo e a hipocrisia dos que sempre criminalizam os movimentos do sem nada e agora fingem apóia-los pra desestabilizar o governo Dilma, as manifestações são legitimas e a esquerda deve estar muito atenta às ruas.
Os protestos expressam indignação face a tanto desrespeito à vida nas grandes cidades. São alvos dos manifestantes os governos federal, estaduais e municipais, os partidos de direita, centro e esquerda, o parlamento e o próprio Estado, tristemente simbolizado pela ocupação do Palácio do Itamaraty. A sociedade brasileira repudia com veemência este tipo de violência.
Mas também os movimentos sociais tradicionais são atacados, a começar pela CUT, a UNE, o MST. Risco imenso, pois são essas organizações, forjadas na resistência democrática, que abrigam os de baixo diante da implacável guerra dos poderosos contra os seus direitos elementares. Risco imenso que não retira, repito, a legitimidade dos protestos.
Se a esquerda deseja sair do enorme embaraço em que foi mergulhada, ela não pode vacilar e tem que ir para as ruas. Mesmo porque se tornou evidente a participação nos protestos de grupos fascistas que pretendem se impor pela força ao conjunto do movimento.
Entre a urna e as ruas a esquerda deve se recriar. A presidente Dilma está certíssima quando diz que o Brasil acordou mais forte depois dos primeiros protestos. E vai ficar ainda mais forte se a esquerda reconhecer o esgotamento do modelo político herdado da transição conservadora e recuperar sua capacidade de iniciativa.
A presidente soube reagir e saiu do imobilismo. A Reforma Urbana, a Reforma Tributaria e a Reforma Política são agora pontos centrais da nova situação política nascida dos protestos. Ao propor a convocação de uma Assembleia Constituinte Soberana para fazer a Reforma Política, Dilma mostrou grandeza e ousadia. Uma agenda ampla e progressista se descortina por aí: democratização da imprensa, democracia participativa, fim do controle econômico sobre os partidos, corrupção etc.
Finalmente, antes que a instabilidade política e a turbulência econômica se combinem, o Planalto deveria propor uma Reforma Tributaria: desonerar o médio e o pequeno, controlar o capital especulativo e propor um novo pacto federativo. Não é fácil, mas o motivo imediato dos protestos, focalizados nas desastrosas políticas de educação, saúde e transporte, deve ser enfrentado pela raiz, isto é, quem vai pagar a conta? O setor privado também precisa colaborar. Foi a direita que aboliu a CPMF, aprofundando a crise da saúde. A destinação integral dos recursos do pre-sal para a educação é uma proposta do governo Dilma. A incorporação de médicos estrangeiros ao sistema público de saúde também. Agilizar essas reformas é a melhor forma de desbloquear as políticas reclamadas pelos manifestantes, recuperando a capacidade de iniciativa do governo.
Renato Martins
Sociologia Unila
Para refletir e debater (24): O retorno da velha dama
30 de Junho de 2013, 11:04 - sem comentários ainda | No one following this article yet.
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