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Putin ordena que chefes da espionagem da Rússia encontrem os mandantes do assassinato do embaixador na Turquia

20 de Dezembro de 2016, 17:54 , por Bertoni - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Logo após o assassinato de Andrey Karlov, embaixador russo na Turquia, o presidente russo Vladimir Putin convocou uma reunião urgente de seus principais assessores de política externa e de inteligência.

O encontro aconteceu ontem, 19 de dezembro de 2016, no Kremlin, e contou com a presença de Putin, presidente russo, Seguei Lavrov, ministro das Relações Exteriores, Sergey Naryshkin, chefe da SVR (Serviço de Espionagem Exterior) e Alexander Bortnikov, chefe da FSB (Serviço Federal de Segurança Nacional).

A nota publicada pelo Kremlin após a reunião dá uma idéia de qual será a resposta imediata da Rússia ao assassinato do embaixador:

Este crime é inegavelmente uma provocação destinada a desestabilizar a normalização das relações russo-turcas e o processo de paz na Síria, que é ativamente promovido pela Rússia, Turquia, Irã e outros países interessados ​​na resolução do conflito interno na Síria.

Só pode haver uma resposta - intensificar a luta contra o terrorismo.

O Comitê de Investigação da Rússia já iniciou a investigação do assassinato e foi encarregado de formar um grupo de trabalho que irá prontamente para Ancara participar das investigações deste crime, juntamente com parceiros turcos. Devemos descobrir quem dirigiu a mão do assassino.

A segurança deve ser reforçada nas missões diplomáticas russas na Turquia, na embaixada e em outras missões. O lado turco deve fornecer garantias de segurança nos escritórios diplomáticos russos, em conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas.

O conteúdo da nota marca a diferença entre a maneira como os russos lidam com esses tipos de atentados terroristas e como certos países ocidentais - principalmente os EUA e Israel - o fazem.

A resposta clássica ocidental a um assassinato desse tipo é a ação militar.

Em 1982, Israel usou uma tentativa de assassinato de Shlomo Argov, o embaixador de Israel na Grã-Bretanha, como pretexto para iniciar a invasão do Líbano, onde pretendia destruir a OLP (Organização de Libertação da Palestina).

Em 1986, os EUA bombardeando a Líbia como resposta ao assassinato de dois militares norteamericanos, mortos durante um ataque à discoteca La Belle, em Berlim Ocidental.

Em 2001, os EUA responderam aos ataques terroristas de 11 de Setembro invadindo o Afeganistão e depois destruindo o Iraque.

Em novembro de 2015, a França respondeu aos ataques em Paris bombardeando Raqqa.

Em 2016, os russos tratam os ataques deste tipo como uma "provocação" destinados a desestabilizar a perseguição de seus objetivos ("a normalização das relações russo-turcas e o processo de paz na Síria").

A partir do momento em que classificam o ataque como uma "provocação", passam a ter cuidado para não serem provocados a fazer o que eles acreditam que os terroristas querem que eles façam.

Diferentemente de Angela Merkel, a chefona alemã, que se apressou em qualificar o atropelamento de uma feira natalina por um caminhão (ocorrido em Berlim na mesma data) como um atentado terrorista sem ainda ter provas para tanto, os russos abrem uma investigação do crime cometido contra seu embaixador.

Descarta-se, portanto, uma resposta militar neste primeiro momento.

Para surpresa dos analistas internacionais, a resposta do presidente Putin ao assassinato de A. Karlov não foi convocar Serguei Shoigu, ministro da Defesa da Rússia, nem os demais chefes militares do país. Ao contrário, se reuniu com o ministro russo da Relações Exteriores, e os chefes dos serviços de espionagem e segurança da Rússia.

Em vez de identificar o ataque como um ato de guerra (que por sinal é o que legalmente é um assassinato de um embaixador), o presidente Putin classifica como "crime" e como tal deve ser investigado.

Ao invés de culpar os turcos por permitir que isso aconteça em seu território e ameaçá-los com toda sorte de conseqüências terríveis, o presidente russo pede a criação de um "grupo de trabalho" que em conjunto com as autoridades turcas buscarão identificar e localizar os responsáveis pelo assassinato.

Desta forma, a soberania e o orgulho da Turquia são respeitados.

Além dessas medidas, Putin chamou seus chefes de segurança para reforçar a segurança dos diplomatas russos (e sem dúvida de suas famílias) na Turquia.

Embora os comentários de Putin impliquem que a investigação está sendo realizada pelo Comitê de Investigação da Rússia - uma agência policial e de aplicação da lei mais ou menos análoga ao FBI dos EUA, o fato dele se reunir com os chefes dos serviços de espionagem exterior e segurança nacional - Naryshkin e Bortnikov - mostra que, na realidade, são as agências russas de espionagem exterior e segurança nacional  - a SVR e a FSB - a quem se dá a tarefa de localizar quem ordenou o assassinato.

Não descarta-se, contudo, a possibilidade do assassino ter agido sozinho.

Caso se comprove que o assassinato foi resultado de uma conspiração e que outras pessoas participaram de sua preparação e execução, não se deve excluir a possibilidade de uma brutal reação russa.

No entanto, o contraste entre a resposta imediata russa ao assassinato do embaixador e a típica resposta ocidental é impressionante.

Em situações deste tipo, as potências ocidentais (EUA e Israel em especial) usam fuzis e bombas, os russos usam as lupas dos serviços secretos...


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