Pesquisadora da USP monta mapa da contaminação por agrotóxico no Brasil
21 de Setembro de 2016, 13:27 - sem comentários aindaPor João Peres/ Do De Olho nos Ruralistas
Os mapas produzidos por Larissa Mies Bombardi são chocantes. Quando você acha que já chegou ao fundo do poço, a professora de Geografia Agrária da USP passa para o mapa seguinte. E, acredite, o que era ruim fica pior. Mortes por intoxicação, mortes por suicídio, outras intoxicações causadas pelos agrotóxicos no Brasil. A pesquisadora reuniu os dados sobre os venenos agrícolas em uma sequência cartográfica que dá dimensão complexa a um problema pouco debatido no país.
Ver os mapas, porém, não é enxergar o todo: o Brasil tem um antigo problema de subnotificação de intoxicação por agrotóxicos. Muitas pessoas não chegam a procurar o Sistema Único de Saúde (SUS); muitos profissionais ignoram os sintomas provocados pelos venenos, que muitas vezes se confundem com doenças corriqueiras. Nos cálculos de quem atua na área, se tivemos 25 mil pessoas atingidas entre 2007 e 2014, multiplica-se o número por 50 e chega-se mais próximo da realidade: 1,25 milhão de casos em sete anos.
Além disso, Larissa leva em conta os registros do Ministério da Saúde para enfermidades agudas, ou seja, aquelas direta e imediatamente conectadas aos agrotóxicos. As doenças crônicas, aquelas provocadas por anos e anos de exposição aos venenos, entre as quais o câncer, ficam de fora dos cálculos. “Esses dados mostram apenas a ponta do iceberg”, diz ela.
Ainda assim, são chocantes. O Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos, posto roubado dos Estados Unidos na década passada e ao qual seguimos aferrados com unhas e dentes. A cada brasileiro cabe uma média de 5,2 litros de venenos por ano, o equivalente a duas garrafas e meia de refrigerante, ou a 14 latas de cerveja.
Em breve, todo o material reunido por Larissa será público. O livro Geografia sobre o uso de agrotóxicos no Brasil é uma espécie de atlas sobre o tema, com previsão de lançamento para o segundo semestre. Será um desenvolvimento do Pequeno Ensaio Cartográfico Sobre o Uso de Agrotóxicos no Brasil, já lançado este ano, com dados atualizados e mais detalhados. No período abrangido pela pesquisa, 2007-2014, foram 1.186 mortes diretamente relacionadas aos venenos. Ou uma a cada dois dias e meio: “Isso é inaceitável. Num pacto de civilidade, que já era hora de termos, como a gente fala com tanta tranquilidade em avanço de agronegócio, de permitir pulverização aérea, se é diante desse quadro que a gente está vivendo?”, indaga a professora ao programa De Olho nos Ruralistas.
O papel do agronegócio
Larissa fala de agronegócio porque é exatamente esse modelo o principal responsável pelas pulverizações. Os mapas mostram que a concentração dos casos de intoxicação coincide com as regiões onde estão as principais culturas do agronegócio no Brasil, como a soja, o milho e a cana de açúcar no Centro-Oeste, Sul e Sudeste. No Nordeste, por exemplo, a fruticultura. A divisão por Unidades da Federação e até por municípios comprovam com exatidão essa conexão.
A pesquisadora compara a relação dos brasileiros com agrotóxicos à maneira como os moradores dos Estados Unidos lidam com as armas: aceitamos correr um risco enorme. Quando se olha para um dos mapas, salta à vista a proporção entre suicídio e agrotóxicos. Em parte, explica Larissa, isso se deve ao fato de que estes casos são inescapavelmente registrados pelos órgãos públicos, ao passo que outros tipos de ocorrências escapam com mais facilidade. Mas, ainda assim, não é possível desconsiderar a maneira como distúrbios neurológicos são criados pelo uso intensivo dos chamados “defensivos agrícolas”, termo que a indústria utiliza para tentar atenuar os efeitos negativos das substâncias.
Soja, milho e cana, nesta ordem, comandam as aplicações.
Uma relação exposta no mapa, que mostra um grande cinturão de intoxicações no centro-sul do país. São Paulo e Paraná aparecem em destaque em qualquer dos mapas, mas a professora adverte que não se pode desconsiderar a subnotificação no Mato Grosso, celeiro do agronegócio no século 21.
O veneno está na cidade
A conversa com o De Olho nos Ruralistas – durante gravação do piloto de um programa de TV pela internet – se deu em meio a algumas circunstâncias pouco alvissareiras para quem atua na área. Há alguns dias, a Rede Globo tem veiculado em um de seus espaços mais nobres, o intervalo do Jornal Nacional, uma campanha em favor do “agro”. Os vídeos institucionais têm um tom raríssimo na emissora da família Marinho, com defesa rasgada dos produtores rurais de grande porte.
“Querem substituir a ideia do latifúndio como atraso”, resume Larissa. Ela recorda que, além do tema dos agrotóxicos, o agronegócio é o responsável por trabalho escravo e desmatamento. E questiona a transformação do setor agroexportador em modelo de nação. “A alternativa que almejaríamos seria a construção de uma outra sociedade em que esse tipo de insumo não fosse utilizado. Almejamos uma agricultura agroecológica com base em uma ampla reforma agrária que revolucione essa forma de estar na sociedade.”
No mesmo dia da entrevista, o Diário Oficial da União trouxe a sanção, pelo presidente provisório, Michel Temer, da Lei 13.301. Em meio a uma série de iniciativas de combate à dengue e à zika, a legislação traz a autorização para que se realize pulverização aérea de venenos em cidades, sob o pretexto de combate ao mosquito Aedes aegypti. A medida recebeu parecer contrário do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, posição que foi ignorada por Temer.
Larissa considera que a medida representa um grande retrocesso e demonstra preocupação pelo fato de a realidade exposta em seus mapas ser elevada a potências ainda desconhecidas quando se transfere um problema rural para as cidades. “O agrotóxico se dispersa pelo ar, vai contaminar o solo, vai contaminar a água. O agrotóxico não desaparece. Ao contrário, ele permanece.” Em outras palavras: o veneno voa e mergulha. Alastra-se. E tem longa duração.
Fonte: Carta Campinas
O Brasil e o Perigoso Jogo da História
20 de Setembro de 2016, 23:47Este artigo de Mauro Santayana teve sua divulgação censurada por aquela rede digital norte-americana que muitos pensam ser um espaço democrático e aberto ao debate de ideias divergentes...
Embora muita gente não o veja assim, o afastamento definitivo de Dilma Roussef da Presidência da República, em votação do Senado, por 61 a 20 votos, no final de agosto, é apenas mais uma etapa de um processo e de um embate muito mais sofisticado e complexo, em que está em jogo o controle do país nos próximos anos.
Desde que chegou ao poder, em 2003, o PT conseguiu a extraordinária proeza de fazer tudo errado, fazendo, ao mesmo tempo, paradoxalmente, quase tudo certo.
Livrou o país da dependência externa, pagando a dívida com o FMI, e acumulando 370 bilhões de dólares em reservas internacionais, que transformaram nosso país, de uma nação que passava o penico quando por aqui chegavam missões do Fundo Monetário Internacional, no que é, hoje - procurem por mayor treasuries holders no Google - o quarto maior credor individual externo dos Estados Unidos.
E o fez, ao contrário do que dizem críticos mendazes, sem aumentar a dívida pública.
A Bruta, em 2002, era de 80% e hoje não chega a 70%.
A Líquida era, em 2002, de aproximadamente 60% e hoje está por volta de 35%.
Mas isso não veio ao caso.
Ajudou a criar milhões de empregos, fez milhões de casas populares, criou o Pronatec, o Ciências Sem Fronteiras e o FIES, fez dezenas de universidades e escolas técnicas federais e promoveu extraordinários avanços sociais.
Mas isso não veio ao caso.
Voltou a produzir e a construir, depois de décadas de estagnação e inatividade, navios, ferrovias - vide aí a Norte-Sul, que já chegou a Anápolis - gigantescas usinas hidrelétricas (Belo Monte é a terceira maior do mundo) plataformas e refinarias de petróleo, mísseis ar-ar e de saturação, tanques, belonaves, submarinos, rifles de assalto, multiplicou o valor do salário mínimo e da renda per capita em dólares.
Mas isso não veio ao caso.
Porque o Partido dos Trabalhadores foi extraordinariamente incompetente em explicar, para a opinião pública, o que fez ou o que estava fazendo.
Se tinha um projeto para o país, e que medidas faziam, coordenadamente, na economia, nas relações exteriores, na infraestrutura e na defesa, parte desse projeto.
Em vez de "bandeiras" nacionais, como a do fortalecimento do país no embate geopolítico com outras nações, que poderiam ter "amarrado" e explicado a criação do BRICS, os investimentos da Petrobras no pré-sal, a política para a África e a América Latina do BNDES, o rearmamento das Forças Armadas, os investimentos em educação e cultura, em um mesmo discurso, o PT limitou-se a investir em conceitos superficiais e taticamente frágeis, como, indiretamente, o do mero crescimento econômico, fachada para as obras do PAC.
Na comunicação, o PT confiou mais na empatia do que na informação.
Mais na intuição, do que no planejamento.
Chamou, para estabelecer sua linha de comunicação, "marqueteiros" sem nenhuma afinidade com as causas defendidas pelo partido, e sem maior motivação do que a de acumular fortunas, que se dedicaram a produzir mensagens açucaradas, estabelecidas segundo uma estratégia eventual, superficial, voltadas não para um esforço permanente de fortalecimento institucional da legenda e de seu suposto projeto de nação, mas apenas para alcançar resultados eleitorais sazonais.
O Partido dos Trabalhadores teve mais de uma década para explicar, didaticamente, à população, as vantagens da Democracia, seus defeitos e qualidades, e sua relação de custo-benefício para os povos e as nações.
Não o fez.
Teve o mesmo tempo para estabelecer, institucionalmente, uma linha de comunicação, que explicasse, primeiro, a que tinha vindo, e os avanços e conquistas que estava obtendo para o país.
Como, por exemplo, a multiplicação do PIB em mais de quatro vezes, em dólar, desde o governo FHC - trágicos oito anos em que, segundo o Banco Mundial, o PIB e a renda per capita em dólares andaram para trás - que foram simplesmente ignorados.
Poderia ter divulgado, também, os 79 bilhões de dólares de Investimento Estrangeiro Direto dos últimos 12 meses, ou o aumento do superavit no comércio exterior, ou o fato de o real ter sido a moeda que mais se valorizou este ano no mundo, ou o crescimento da valorização do Bovespa desde o início de 2016, como exemplos de que o diabo não estava tão feio quanto parecia.
Mas também não o fez.
Sequer em seu discurso de defesa ao Senado - que deveria ter sido usado também para fazer uma análise do legado do PT para o país - Dilma Roussef tocou nestes números, para negar a situação de descalabro nacional imputada de forma permanente ao Partido dos Trabalhadores pela oposição, os internautas de direita e parte da mídia mais manipuladora e venal.
O PT dividiu-se, também, quando não deveria, e não estabeleceu uma estratégia clara, de longo prazo, que pudesse manter em andamento o projeto - de certa forma intuitivo - que pretendia implementar para o país.
O partido e suas lideranças foram reiteradamente advertidos de que ocorreria no Brasil o que aconteceu no Paraguai com Lugo - a presença aqui da mesma embaixadora norte-americana do golpe paraguaio era claramente indicativa disso.
De nada adiantou.
De que era preciso estabelecer uma defesa competente do governo e de seu projeto de país na internet - cujos principais portais foram desde 2013 praticamente abandonados à direita e à extrema-direita enquanto a esquerda, sem energia para se mobilizar, se recolhia ao monólogo, à vitimização e à lamentação vazia em grupos fechados e páginas do Facebook.
De nada adiantou.
Não se deu combate às excrescências que sobraram do governo Fernando Henrique, justamente no campo da corrupção, com a investigação de uma infinidade de escândalos anteriores, que poderia ter levado à cadeia bandidos antigos como os envolvidos agora, por indicação também de outros partidos, nos problemas da Petrobras.
E erros táticos imperdoáveis - não é possível que personagens como Dilma e Lindbergh continuem defendendo a Operação Lava-Jato, de público, em pleno julgamento do impeachment, quando essa operação parcial e seletiva foi justamente o principal fator na derrubada da Presidente da República.
Sob o mote de um republicanismo "inclusivo", mas cego, criou-se um vasto ofidário, mostrando, mais uma vez, que o inferno - o próprio, não o dos outros - pode estar cheio de boas intenções.
Desse processo, nasceram uma nova classe média e uma plutocracia egoístas, conservadoras e "meritocráticas", paridas no bojo da expansão econômica e do "aperfeiçoamento" administrativo, rapidamente entregues, devido à incompetência estratégica à qual nos referimos antes, de mão beijada, para adoção institucional pela direita.
Ampliaram-se a autonomia, o poder e as contratações do Ministério Público e da Polícia Federal, medidas elogiáveis, que poderiam em princípio funcionar muito bem em um país verdadeiramente democrático, mas que, no Brasil da desigualdade e da manipulação midiática, levaram à criação de uma nova casta - majoritariamente conservadora - de funcionários públicos educados em universidades privadas - também ideologicamente alinhadas com a direita - com financiamento do FIES e em cursinhos para concurseiros, que não tem nenhuma visão real do que é o país, a República ou a História, e acham - ao lado de jovens juízes - que devem mandar na Nação no lugar dos "políticos" e do povo que os elege.
Como consequência disso, há, hoje, uma batalha jurídica que está sendo travada, principalmente, no âmbito do Congresso Nacional, voltada para a aprovação de leis fascistas - disfarçadas, como sempre ocorre, historicamente, sob a bandeira da anti-corrupção, que, com a desculpa de combater a impunidade - em um país em que dezenas de milhares de presos, em alguns estados, a maioria deles, se encontra detido em condições animalescas sem julgamento ou acesso a advogado - pretende alterar a legislação e o código penal para restringir o direito à ampla defesa consubstanciado na Constituição, no sentido de se permitir a admissibilidade de provas ilícitas, de se restringir a possibilidade de se recorrer em liberdade, e de conspurcar os sagrados e civilizados princípios de que o ônus da prova cabe a quem está acusando e de que todo ser humano será considerado inocente até que seja efetiva e inequivocamente provada a sua culpa.
Batalha voltada, também, para expandir o poder corporativo dessa mesma plutocracia e seus muitos privilégios.
Enquanto isso, aguerrida, organizada, fartamente financiada por fontes brasileiras e do exterior, a direita - "apolítica", "apartidiária", fascista, violenta, hipócrita - deu, desde o início do processo de derrubada do PT do governo, um "show" de mobilização.
Colocou milhões de pessoas nas ruas.
E estabeleceu seu domínio sobre os espaços de comentários dos grandes portais e redes sociais - a imensa maioria das notícias já eram, desde 2013 pelo menos, contra o governo do PT, em um verdadeiro massacre midiático promovido pelos grandes órgãos de comunicação privados - estabelecendo uma espécie de discurso único que, embora baseado em premissas e paradigmas absolumente falsos, se impôs como sagrada verdade para boa parte da população.
Entre as principais lições dos últimos anos, vai ficar a de que a História é um perigoso jogo que não permite a presença de amadores.
Enganam-se aqueles que acham que o confronto expõe apenas a direita e a esquerda, ou o PT e o PSDB - que agora se assenhoreou do PMDB e dos partidos do baixo clero.
Muito mais grave é a guerra que se desenha - e que já começou, não se iludam - entre aqueles que atacam a política, os "políticos", a democracia e o presidencialismo de coalizão - e aqueles que, por conveniência ou idealismo, serão chamados a mobilizar-se para defendê-los daqui até 2018 e além.
O futuro da República e da Nação será definido por esse embate.
E é o conjunto de erros e circunstâncias que vivemos até agora, e o que faremos a partir de agora, que poderá levar, ou não, para o Palácio do Planalto e o Parlamento, um governo fascista e autoritário em 2019.
Os opositores do PT tiveram com o processo de afastamento de Dilma, iniciado ainda em 2013, à época da Copa do Mundo, uma vitória de Pirro.
A judicialização da política, a ascensão da Antipolítica e de uma plutocracia que acredita, piamente, que não precisa de votos, nem de maior legitimação do que sua condição de concursada para "consertar" o país e punir vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores, Presidentes da República, em defesa de "homens de bem" que desfilam com as cores da bandeira e com uniformes negros de inspiração nazista, ajudará a sepultar, no lugar de aperfeiçoar, o regime presidencialista anteriormente vigente, e introduzirá um novo elemento, ilegítimo e espúrio, no universo político brasileiro, transformando-se em permanente ameaça para o funcionamento e a essência da Democracia.
Infelizmente, para o país e para a República, a permanência de Dilma no poder tornou-se, devido à irresponsabilidade da mídia e da oposição - vide as pautas bomba do ano passado - ao sucesso da estratégia de fabricação do consentimento levada a cabo pela direita e à incompetência política do Partido dos Trabalhadores - de tal forma insustentável, que, se ela voltasse, caminharíamos para uma situação de confronto em que o fascismo - como ocorreu em 1964, no Brasil, e, mais tarde, no Chile e na Argentina - ficaria - como já está ficando, de fato - com todas as armas, e a esquerda, com todas as vítimas.
Nações e pessoas precisam aprender que, às vezes, é preciso saber dar um passo para trás para depois tentar avançar de novo.
É preciso resistir, mas com um projeto claro para o país.
A corajosa defesa do governo Dilma por parte de grandes lideranças da agricultura e da indústria brasileira, como os senadores Kátia Abreu, ex-Presidente da Confederação Nacional da Agricultura, e Armando Monteiro, ex-Presidente da Confederação Nacional da Indústria, mostram que não é impossível sonhar com uma aliança que una empresários e trabalhadores nacionalistas em torno de um projeto vigoroso e coordenado de desenvolvimento, que possa promover o fortalecimento do país, do ponto de vista econômico, militar e geopolítico - é preciso preservar e concluir os programas concebidos e iniciados nos últimos anos, como o dos caças Gripen NG BR, o do submarino atômico nacional, o do cargueiro multipropósito KC-390, o dos tanques leves Guarani, o projeto de enriquecimento de urânio da Marinha - e evitar, ao mesmo tempo, a abjeta entrega de nossas riquezas, como os principais poços do pré-sal, já descobertos, desenvolvidos e produzindo, aos estrangeiros (até mesmo a estatais estrangeiras, como estão defendendo, em absurda contradição, parte de nossos privatistas de plantão).
A costura de uma aliança que evite a subordinação e o caos e a transformação do país em uma nação fascista, na prática, em pouco mais de dois anos, deveria ser, daqui pra frente, a primeira missão de todo cidadão brasileiro - ou ao menos daqueles que tenham um mínimo de consciência e de informação - neste país assolado pelo ódio e pela mentira, a hipocrisia e a ignorância.
A divisão da Nação, a crescente radicalização e o isolamento antidemocrático das forças de esquerda - que devem combater esse isolamento também internamente e rapidamente se organizar sob outras legendas e outras condições - a fratura da sociedade nacional; a desqualificação da política e da democracia; só interessam àqueles que pretendem consolidar seu domínio sobre o nosso país, evitando que o Brasil fortaleça sua soberania e a sua sociedade, em todos os aspectos, e que venha a ocupar o lugar que lhe cabe no mundo, como quinta maior nação do planeta em população e território.
É preciso costurar uma ampla aliança nacional, que parta, primeiramente, do centro nacionalista - se não existir, é preciso criar-se um - suprapartidária, politicamente includente, equilibrada e conciliatória, que una militares nacionalistas da reserva - e eles existem, vide o Almirante Othon, por exemplo - empresários como Armando Monteiro e Kátia Abreu, técnicos e engenheiros desenvolvimentistas, grandes empresas de capital majoritariamente nacional e os trabalhadores, começando pelos de grandes estatais como a Petrobras, em torno de um projeto que possa evitar a descaracterização e a destruição da Democracia, o estupro das liberdades democráticas e dos direitos individuais, o pandemônio político e institucional e a "fascistização" do país, com a entrega de nossas riquezas e de nosso futuro aos ditames internacionais.
Vamos fazê-lo?
Ó, só pra desenhar pra quem ainda não compreendeu
16 de Setembro de 2016, 21:54Orgulhosamente copyleftado de uma postagem de Luiz Skora
O ataque dos procuradores da repooblica de Cu-ritiba contra Lula, não é um ataque ao sujeito Lula é sim, um ataque vil e sórdido contra o que Lula representa para o Brasil ou seja, um ataque aos anseios de soberania nacional, independência, protagonismo geopolítico, diminuição das desigualdades sociais e autoafirmação do povo brasileiro.
Os procuradores da repooblica de cu-ritiba, bem como o núcleo duro da lava-jato são agentes fundamentais do golpe em curso, agentes a serviço dos entreguistas neoliberais, dos especuladores do capital e, principalmente, dos interesses de dominação dos estadunidenses no cone sul.
Para eles, puco importa se Lula cometeu ou não algum crime, o objetivo é destruir o símbolo e, com o símbolo, destruir os ideais progressista que ainda restam no Brasil.
Sacou?
Operação 'Apresentação de Dallagnol' é para acabar com Lava-Jato e botar a culpa no Lula por isso
15 de Setembro de 2016, 23:04 - sem comentários aindaEmbora pareça um grande mico, a coletiva de imprensa do procurador (?) Deltan Dallagnol nada mais é que uma grande e bem armada ação da direita brasileira para acabar com as investigações da Lava-Jato e colocar a culpa por isso em Lula e no PT.
Foi tudo bem armado.
Vejamos.
Dallagnol apresenta suas convicções e acusa Lula.
A imprensa patronal faz disso o mais novo e maior escândalo nacional.
Os falso-moralistas e incautos se convencem mais uma vez de que esses petralhas são mesmo o mal maior da nação e que é preciso eliminá-los. Fisicamente, se possível.
Paira no ar a possibilidade de prisão de Lula.
Os petistas e simpatizantes se articulam para defender o ex-presidente da república e ex-líder sindical metalúrgico.
Nem PT, nem Lula podem ficar calados diante de tal barbaridade.
Entram com processos contra Dallagnol e os procuradores de Curitiba no Conselho Nacional do Ministério Público, no Conselho Nacional de Justiça, no STF e os cambau.
Os magistrados, empenhadíssimos em defender a corporação, queimam Dallagnol e seus comparsas na fogueira da Santa Inquisição Capitalista, acusando-os de terem extrapolado os limites da lei, de suas competências e declaram nulas todas suas declarações. Depois, empenham-se mais um pouco e descobrem que toda uma série de sérios de erros processuais foram cometidos durante as investigações da Lava-Jato. Devido a eles cancelam a operação, livrando a cara de toda a corja golpista PMSDBista denunciada várias vezes na Lava-Jato, que tomou o governo federal de assalto.
No dia seguinte os jornalecos do calibre de Globo, Folha, Estadão, revistinhas como a Época, Veja e Istoé e noticiosos televisivos como o Jornal Nacional estampam manchetes:
"Lula e PT entram com processo contra Dallagnol e justiça determina o fim da Lava Jato"
Fecham-se se as cortinas e o povo vai dormir crente e feliz em saber que a culpa de todas as mazelas do Brasil é do Lula, que aprontou mais uma e acabou com a investigação que livraria o Brasil da Corrupção.
Enquanto o povo dorme distraidamente, Cunha segue livre, leve e solto, o congresso nacional debate aprova leis que destróem os direitos trabalhistas e sociais e a quadrilha instalada no Planalto doa o patrimônio do povo brasileiro às multinacionais estrangeiras.
Masoléu de Lula
15 de Setembro de 2016, 9:20 - sem comentários aindaQuando temas como privatização e retirada de direitos trabalhistas não parecem despertar o interesse dos leitores e artigos com títulos sensacionalistas sobre a prisão de Lula fazem sucesso, é indicativo de que estamos perdendo o senso do essencial, do prioritário.
Observando a audiência de publicações recentes sobre os temas privatização, retirada de direitos trabalhistas e prisão de Lula, percebi que a audiência alcançada pelo último é no mínimo 10 vezes superior a dos demais.
Causa-me estranheza que temas tão importantes para a vida de todos os brasileiros tenham repercursão tão distinta. Ora, se a prisão de Lula é uma ameaça à Democracia, as privatizações e a retirada de direitos trabalhistas também o são e suas consequências atingirão os 200 milhões de brasileiros, transformados de uma hora para outra em escravos da nova era, que se acham livres.
Parece que estamos perdendo a noção do essencial, dispostos a fazer qualquer coisa para salvar a liberdade do companheiro ex-presidente da república e ex-líder sindical metalúrgico. Não haveria outra coisa mais importante a fazer no momento que mantê-lo em liberdade, mesmo que uma liberdade limitada pelo golpe de classes imposto pela Casagrande e sua justiça, seu parlamento e sua imprensa.
Por algum motivo, me vem a cabeça a história do Masoléu de Lênin, na Praça Vermelha, bem em frente ao Kremlin de Moscou.
Desde o fim da URSS, em dezembro de 1991, o Masoléu de Lênin é um tema recorrente nos debates daquele país.
O KPRF - Partido Comunista liderado por Guenadii Ziuganov, teoricamente herdeiro do PCUS (Partido Comunista da União Soviética), é o maior defensor da manutenção do Masoléu. Já os neoliberais defendem a sua retirada imediata, enquanto a nomenklatura que domina o Kremlin é mais pragmática: mantém o masoléu como moeda de troca.
Toda vez que Putin quer aprovar algum projeto na Duma (parlamento russo) e o KPRF se posiciona contra, o establishment russo ameaça retirar o Masoléu e enterrar a múmia de Lênin. Os "comunistas" russos esperneiam, protestam, mas acabam aprovando o que Putin queria ao "conquistar" a manutenção do Masoléu na Praça Vermelha.
Longe de querer tirar conclusões precipitadas, fico com a impressão de que a nossa galera caminha para o mesmo destino, ou seja, não importa o que aconteça ao país e à Classe Trabalhadora, nossa maior tarefa seria manter Lula fora da cadeia. Lula seria o nosso Masoléu de Lênin, pelo preservação do qual estaríamos dispostos a lutar, mesmo que isso custe a venda de todas as empresas estatais e a retirada de todos os nossos direitos trabalhistas.
Claro que precisamos lutar para manter livre não só Lula, mas todos as pessoas que lutam contra o governo Temer, fruto de um golpe de estado de classes. Mas é preciso também lutar contra as privatizações e a retirada dos direitos trabalhistas, pautas eleitorais derrotas 4 vezes consecutivas nas urnas (2002, 2006, 2010 e 2014) e que volta agora com força total com o golpe neoliberal.
A prisão de Lula, sem dúvida nenhuma, escancara o caráter do golpe anti-trabalhadores. Porém, precisamos lutar não só pela liberdade de Lula, mas contra as privatizações e a favor de nossos direitos trabalhistas e sociais.
Se perdemos isso de vista, acabaremos como o KPRF de Ziuganov, brigando para manter o Masoléu de Lula, pois já não teremos nem empresas estatais, nem direitos sociais a defender.