Durante toda a nossa história (desde o Império) tivemos motins “espontâneos” por causa de aumentos de preços e, mesmo assim, até hoje nossa sociedade não aprendeu a conviver com protestos. As cenas da violência policial de ontem comprovam isso. A fotografia de um policial espancando uma menina repugna. O lançamento de uma bomba contra um idoso em seu carro (prontamente ajudado pelos manifestantes) é digno de um fascista.
Nas Manifestações do Movimento do Passe Livre várias pessoas foram detidas “por formação de quadrilha”. A Ditadura Militar não precisava de tais expedientes “legais”, mas a “democracia” precisa. Pessoas que se reúnem para lutar por objetivos políticos têm toda a liberdade de fazê-lo, desde que o façam na calçada, com um cordão de isolamento de policiais e sem ofendê-los, é claro, pois como declarou um deles recentemente, “tive que me segurar para não atirar”.
Depois dos elogios do prefeito à Polícia, seguidos de um recuo; depois do Ministro da Injustiça prometer auxílio e “monitoramento” da Polícia Federal à ameaça terrível que um movimento social representa à ordem; depois que o PT criticou os “vândalos”, há algo que se rompeu definitivamente entre tais “petistas” e a história do PT.
O partido já foi chamado de quadrilha por embalar protestos desde os anos 1980. É verdade que agora é chamado assim por outros motivos. Recentemente, Lula declarou que existem dois PT. Eles deveriam prestar atenção nisto e interpretar a ideia enigmática do líder da melhor forma possível.
O leitor decerto se lembra de que o PT foi o defensor desta mesma pauta (tarifa zero) no governo Luiza Erundina. Mas isto faz tempo, é verdade. No entanto, na última mobilização importante do MPL durante a gestão Kassab estavam entre os manifestantes dois conhecidos vereadores do PT com apoio do Diretório Municipal do partido.
Não é incoerência. A Direção do PT aprendeu a fazer aquilo que criticava: movimentos sociais só servem como correias de transmissão da política eleitoral do partido. Se não são “centralizados” (como diz o prefeito), dirigidos ou tutelados eles de nada servem. São uma quadrilha. Que saudades do PT quando ele era aquela quadrilha…
Escrito por Lincoln Secco, professor da História Contemporânea da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
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