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Veja, Lula e Gilmar Mendes - a indignação protelada
29 de Maio de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
O nebuloso episódio que tem como protagonistas centrais o ex-presidente Lula da Silva e o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes – e como única testemunha o ex-ministro e ex-presidente do STF Nelson Jobim – acrescenta à história recente do país um daqueles episódios que começam em crise e terminam em anedota.
Para melhor entender a questão, os historiadores de amanhã precisarão acrescentar ao enredo meia dúzia de outros personagens, que no momento do entrevero se encontram reunidos em São Paulo no 5º Congresso Brasileiro da Indústria da Comunicação. São eles os diretores das principais empresas brasileiras de jornalismo.
Um resumo do caso diz que o ex-ministro Jobim promoveu em seu escritório de Brasília um encontro entre o ex-presidente da República e o ministro Gilmar Mendes. Mendes saiu se queixando de ter sofrido “pressões” para adiar o julgamento dos 38 acusados no chamado caso “mensalão” e chegou a insinuar uma tentativa de chantagem por parte de Lula da Silva. Mas não levou o caso à Procuradoria Geral da República nem fez uma comunicação oficial aos seus pares da Suprema Corte: foi se queixar à imprensa, mais precisamente à revista Veja, que funciona há sete anos como uma espécie de comitê central da imprensa brasileira para assuntos políticos.
Eleições municipais
Por que razão o ministro Gilmar Mendes preferiu o caminho do escândalo ao da Justiça? Porque sabe que a imprensa lhe daria todo apoio, ainda que ele não pudesse provar sequer que o ex-presidente da República lhe tivesse dado bom-dia. E a partir do barulho da imprensa, se o caso vier a ocupar o plenário do STF, a pressão da mídia funcionaria a seu favor.
O ministro sabe que, radicalizando-se o debate público sobre o processo contra o senador Demóstenes Torres e seu sócio, o bicheiro Carlos Cachoeira, qualquer notícia de relacionamento com esses dois personagens será capaz de manchar reputações cuidadosamente elaboradas. Trata, portanto, de antecipar publicamente que tinha relações com o senador acusado, qualificando-as de meramente protocolares.
Do episódio em si e suas possíveis interpretações, vale tomar emprestada a opinião do jornalista Janio de Freitas, colunista da Folha de S. Paulo, publicada na terça-feira (29/5). Ele pondera que “será sempre por mera preferência pessoal, ainda que de fundo político, a escolha que se faça entre as versões conflitantes de Gilmar Mendes e de Nelson Jobim” para a conversa em questão.
Também é válida a estranheza do articulista para o fato de o ministro do Supremo ter esperado um mês, depois do relatado encontro, para se tomar de indignação e procurar a revista Veja e fazer a denúncia.
A honra do ministro esperou até surgirem especulações sobre a viagem que fez da Alemanha para o Brasil em companhia de Demóstenes Torres. Se sua motivação, como insinua o jornalista, pode ter sido influenciar nas eleições municipais deste ano, o tiro pode dar na água, a julgar pela pouca relevância que o público parece dar ao acontecimento, apesar do grande esforço que faz a imprensa para torná-lo importante.
Cada um escolhe um lado
Porém, se há – como costuma haver – uma motivação política por trás de todo esse barulho, o objetivo do escândalo não pode ser simplesmente reduzir a influência do ex-presidente da República nas eleições municipais.
As manifestações de parlamentares oposicionistas e de colunistas que não dissimulam suas vinculações partidárias indicam que o alvo da campanha é mais ambicioso: promover a inelegibilidade do próprio Lula para o caso de ele decidir concorrer de novo à Presidência da República, em 2014.
Um processo iniciado agora e misturado ao caso “mensalão” poderia ganhar tamanha complexidade daqui a dois anos que tal hipótese deixaria o campo do absurdo.
Especulações à parte, na terça-feira (29) os jornais registram uma versão mais amena da conversa: segundo o ministro Gilmar Mendes, aquilo que era uma pressão pelo adiamento do julgamento do “mensalão” em troca de suposta imunidade na CPI Demóstenes-Cachoeira se transformou em mera “insinuação”.
Mais um pouco e as partes estarão convencionando que tudo não passou de um mal-entendido.
Lula e Gilmar Mendes ainda poderão ser vistos novamente, no futuro próximo, em cenas públicas como os mais recentes amigos de infância, mas a imprensa nacional terá dado um passo a mais em seu esforço por desgastar a própria reputação.
Fenaj cobra explicações da Veja
29 de Maio de 2012, 21:00 - sem comentários aindaA CPI realizada pelo Congresso Nacional que tenta investigar a influência do bicheiro Carlinhos Cachoeira sobre o poder público acabou suscitando um debate tão inesperado quanto necessário no país: a relação da mídia com as esferas de poder, sejam elas políticas ou econômicas.
A Polícia Federal identificou cerca de 200 conversas telefônicas entre o diretor da sucursal da revista Veja em Brasília, Policarpo Júnior, e o contraventor. A divulgação dessas escutas mostra que Cachoeira pautava a publicação da editora Abril, que se deixava levar pelos interesses políticos de um empresário fortemente ligado ao senador Demóstenes Torres (ex-DEM).
Diante desse cenário, alguns parlamentares têm defendido a convocação de Policarpo para depor na CPI, mesmo que o relator Odair Cunha (PT-MG) já tenha rejeitado pedido de informações a respeito. Para o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder, a revista precisa explicar o que guiou sua prática jornalística nesse episódio. “A Veja tem que dar explicações ao Brasil. É preciso explicar como ela exerce a atividade jornalística com essas veleidades, com descompromisso e irresponsabilidade em relação a princípios éticos e técnicos consagrados pelo jornalismo”, entende.
Nesta entrevista ao Sul21, Schröder avalia a conduta da revista nesse e em outros episódios e defende a necessidade de um marco regulatório para a comunicação no país.
O que a CPI do Cachoeira pode nos dizer sobre a mídia brasileira?
A CPI está nos mostrando que a mídia é uma instituição como qualquer outra e precisa estar submetida a princípios públicos, na medida em que a matéria-prima do seu trabalho é pública: a informação. Quanto menos pública essa instituição for e mais submetida aos interesses privados dos seus gestores ela estiver, mais comprometida ficará a natureza do jornalismo. Como qualquer instituição, a mídia não está acima do bem e do mal, dos preceitos republicanos do Estado de Direito e do interesse público. Do ponto de vista político, a Veja confundiu o público com o privado. Do ponto de vista jornalístico, comete um pecado inaceitável: estabelecer uma relação promíscua entre o jornalista e a fonte.
Não é só um repórter, mas é a organização, a chefia da empresa, que conduz e encaminha uma atividade tecnicamente reprovável e eticamente inaceitável. Todo jornalista sabe, desde o primeiro semestre da faculdade, que a fonte é um elemento constituidor da notícia na medida em que ela for tratada como fonte. A fonte tem interesses e, para que eles não contaminem a natureza da informação, precisam ser filtrados pelo mediador, que é o jornalista. A fonte, ao mesmo tempo em que dá credibilidade e constitui elemento de pluralidade na matéria, por outro lado, se não for mediada e relativizada pelo jornalista, pode contaminar o conteúdo.
Em que pontos a relação entre Policarpo Júnior e Cachoeira extrapolaram uma relação saudável entre repórter e fonte?
Ele não tratou o Cachoeira como fonte. O problema é um jornalista ou uma empresa jornalística atribuir a alguém uma dimensão de fonte única, negociando com ela o conteúdo e a dimensão da matéria e, principalmente, conduzindo a Veja para uma atuação de partido político. Esse é um pecado que a Veja vem cometendo há algum tempo. A oposição no Brasil é muito frágil. Por não existir uma oposição forte, a imprensa assume esse papel, o que é uma distorção absoluta. A imprensa não tem que assumir essa função, a sociedade não atribui a ela uma dimensão político-partidária, como a Veja se propõe.
A Veja acaba de nos produzir um dos piores momentos do jornalismo. Quando houve o episódio da tentativa de invasão do apartamento do ex-ministro José Dirceu (PT) por um repórter da Veja, eu escrevi um artigo dizendo que, assim como Watergate tinha sido o grande momento do jornalismo no mundo, a atuação da Veja no quarto de Dirceu foi um anti-Watergate. Mal sabia eu que teríamos um momento ainda pior. Não foi a ação individual de um repórter sem capacidade de avaliação. Foi uma ação premeditada e sistêmica de uma empresa de comunicação, de um chefe que conduzia seu repórter para uma ação imoral, tangenciando perigosamente a ilegalidade.
O mesmo pode ser dito para o episódio recente entre Policarpo Júnior e Cachoeira?
Neste momento, isso se consolida. É uma revista que coloca em jogo a matéria-prima básica da sua existência: a credibilidade. Parece-me um suicídio, inclusive do ponto de vista de um negócio jornalístico. A não ser que a Veja esteja contando com um outro tipo de financiamento, ou já esteja sendo subsidiada por outro mecanismo que não seja decorrente da credibilidade e da inserção no público. Não temos dados concretos sobre isso, mas tudo leva a crer que, nesse momento, o financiamento da Veja esteja se dando por outro caminho. O comprometimento e o alinhamento inescrupuloso da revista a uma determinada visão de mundo conduz à ideia de que a Veja possa ter aberto mão de ser um veículo de comunicação para ser um instrumento político com financiamento deste campo.
Mas a revista já passou por períodos em que era mais comprometida com o jornalismo. Como ocorreu essa mudança?
Não é de agora que a Veja vem dando indícios de que abre mão de um papel de referência jornalística. A Veja foi fundamental para a redemocratização do país, foi referência para jornalistas de várias gerações e teve em sua direção homens como Mino Carta. Depois de um certo tempo, a revista começa a alinhar-se a um determinado grupo social brasileiro. É claro que os editores da revista têm opiniões e cumprem um papel conservador no país. Tudo bem que isso aconteça nas dimensões editoriais. Agora, que se reserve ao jornalismo informativo um espaço de discussão com contrapontos. Princípios elementares do jornalismo foram sendo abandonados e essa revista, que foi importante para a democracia e para o jornalismo, passa a ser um exemplo ruim que precisa ser enfrentado.
Como o senhor vê a possibilidade de Policarpo Júnior ser convocado para depor na CPI?
Tenho visto declarações de alguns políticos, como da senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS), que diz que o envolvimento do Policarpo nisso representa um ataque à imprensa. Os jornalistas não estão acima da lei e não podem estar acima dos princípios republicanos. Se ele for convocado pela CPI, tem o direito de não ir. Se ele for, tem o direito de exercer a prerrogativa do sigilo de fonte. Mas a convocação não representa uma ameaça. A Veja tem que dar explicações ao Brasil. É preciso explicar como ela exerce a atividade jornalística com essas veleidades, com descompromisso e irresponsabilidade em relação a princípios éticos e técnicos consagrados pelo jornalismo. Questionar isso é fundamental. Os jornalistas e a academia têm obrigação de fazer esse questionamento.
Nesse sentido, não seria válido também convocar o presidente do Grupo Abril, Roberto Civita?
Parece que seria deslocar o problema. Na CPI, a Veja é um dos pontos. O problema é a corrupção entre o Cachoeira e o Parlamento brasileiro. Um depoimento do Civita geraria um debate que desviaria os trabalhos da CPI. Não há dúvida de que a Veja praticou um mau jornalismo e deve prestar contas. A CPI tem gravações de integrantes da revista com o bicheiro. Que eles sejam convocados, então. Não é pouca coisa trazer o chefe da sucursal da Veja em Brasília para depor.
As críticas à Veja costumam ser rebatidas com argumentos que valorizam o trabalho supostamente investigativo feito pela revista, com diversas denúncias de corrupção. Entretanto, as gravações entre Policarpo e Cachoeira revelam como funcionava a engenharia que movia algumas dessas denúncias.
Há uma certa sensação de que estamos vivendo um momento de corrupção absoluta no país. E isso está longe de ser verdade. Basta olhar a história e ver que agora temos instituições democráticas funcionando. A imprensa cumpre um papel democrático e fiscalizador importante com a denúncia. O problema é que alguns setores, ao fazerem denúncias, atribuem um papel absoluto à ideia da corrupção. No caso da Veja, o pior de tudo é que a própria revista estava envolvida. Não é só um mau jornalismo sendo praticado. Há indícios perigosos de uma locupletação – que não precisa ser necessariamente financeira. Pode ser uma troca de favores, onde o que a Veja ganhou foi a constituição de argumentos para uma atuação política, não jornalística. Como se fosse o partido político que a oposição não consegue ser.
Se a imprensa se propõe a esse tipo de coisa, volta a um patamar de atuação do século XVIII. Se é para ser assim, que a revista mude de nome e assuma o alinhamento a determinado partido. Agora, ao se apresentar como um espaço informativo, a Veja precisa refletir a complexidade do espaço político brasileiro. Se ela não faz isso, está comprometendo o jornalismo e tangenciando uma possibilidade de ilegalidade que, se houver, precisa ser esclarecida. A Fenaj não vai proteger jornalistas criminosos.
A revelação desse modus-operandi da Veja está gerando uma discussão quase inédita no país: a mídia está debatendo a mídia. A revista Carta Capital tem dedicado diversas capas ao tema e a Record já fez uma reportagem sobre o assunto. É um fenômeno comum em outros países, mas até então não ocorria no Brasil.
Nos anos 1980, quando a Fenaj propôs uma linha para a democratização da comunicação, partimos da compreensão de que a democratização do país não havia conseguido chegar à mídia. O sistema midiático brasileiro, ao contrário de todas as outras instituições, não havia sido democratizado. Temos cinco artigos da Constituição nessa área que não estão regulamentados. Durante 30 anos tivemos diversas iniciativas de tentar construir esse debate. A lógica da regulamentação existe em todos os países do mundo. Mas, no Brasil, isso enfrenta resistências de uma mídia poderosa, que fez os dois primeiros presidentes da República após a democratização.
Sarney e Collor são dois políticos que saíram dos quadros da Rede Globo. Na presidência do Congresso tivemos outros afilhados da Rede Globo, como Antonio Carlos Magalhães, que também foi ministro das Comunicações. A mídia não só está concentrada, no sentido de ter monopólios, como está desprovida de qualquer controle público. Está absolutamente entregue à ideia de que a liberdade de expressão é a liberdade de expressão dos donos da mídia. Enquanto que o preceito constitucional diz que a liberdade de expressão é do povo, e o papel da mídia é assegurar isso.
Quanto se conseguiu avançar nesse debate desde então?
Estamos há 30 anos pautando esse debate até chegarmos a Confecom (Conferência Nacional de Comunicação, realizada em dezembro de 2009). A Fenaj consegue constituir a ideia de que esse debate precisa ser público, já que ele é omitido pela mídia, que atribui à essa discussão uma tentativa de censura. A Confecom, no início, teve a anuência das empresas. Eu fui junto com os representantes da RBS e da Globo aos ministros Helio Costa (Comunicações), Tarso Genro (Justiça) e Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência) propor a conferência. As empresas compreendiam que, naquele momento, a telefonia estava chegando e ameaçava um modelo de negócios. Mas, durante a Confecom, a Rede Globo e todos os seus aliados se retiraram, tentando sabotar mais uma vez o debate.
O espírito conservador está no DNA da Rede Globo. Ela acostumou-se à ideia de que para o seu negócio não deve existir nenhuma regra. Acostumou-se a impor seus interesses ao país e, portanto, é ontológicamente contra qualquer regra. Naquele momento em que a Globo se retirou da Confecom ficou claro que não é possível contar com esses empresários para qualquer tipo de tentativa de atribuir à comunicação no Brasil uma dimensão pública, humana e nacional, regida por princípios culturais, democráticos e educacionais, não simplesmente pelo lucro fácil e rápido.
O editorial do jornal O Globo defendendo a revista Veja é um indício de que há um corporativismo muito grande entre os donos da mídia tradicional?
O princípio que os une é aquele verbalizado pela Sociedade Interamericana de Imprensa: Lei melhor é lei nenhuma. As empresas alinhadas à ideia de que não podem estar submetidas à lei protegem-se. Abrigadas no manto de uma liberdade de expressão apropriada por elas, protegem seus interesses e seus negócios, atuando de uma maneira corporativa e antipública. O jornalismo é fruto de uma atividade profissional, não é fruto de um negócio. Jornalismo não é venda de anúncios. Jornalismo é, essencialmente, o resultado do trabalho dos jornalistas. Portanto, a obrigação dos jornalistas é denunciar sempre que o jornalismo for maculado, como ocorreu com a Veja. Seria, também, uma obrigação das empresas jornalísticas, na medida em que elas não estejam envolvidas com esse tipo de prática. Ao tornarem-se cúmplice e acobertarem esse tipo de prática, as empresas aliam-se a elas. Essas empresas disputam o mercado, mas protegem-se no que consideram essencial, no sentido de inviabilizar a ideia de que exercem uma atividade submetida aos interesses públicos, como qualquer outra.
Você lembra quem é Gilmar Mendes?
29 de Maio de 2012, 21:00 - sem comentários aindaGilmar foi Advogado-Geral da União do Governo Fernando Henrique Cardoso. No último ano de seu mandato, FHC o indicou para ministro do Supremo Tribunal Federal. Naquele momento, o professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo Dalmo de Abreu Dallari teve um artigo publicado na Folha de São Paulo em que declarou o seguinte sobre tal indicação:
Se essa indicação (de Gilmar Mendes) vier a ser aprovada pelo Senado, não há exagero em afirmar que estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional. (…) o nome indicado está longe de preencher os requisitos necessários para que alguém seja membro da mais alta corte do país.
Gilmar tentou processar criminalmente o jurista Dallari por esse artigo, mas a Justiça recusou a instauração da ação penal que o agora ministro do STF pretendia mover. Dizia a sentença: “A crítica, como expressão de opinião, é a servidão que há de suportar (…) quem se encontrar catalogado no rol das figuras importantes”
A previsão de Dallari se faria sentir cerca de seis anos após a nomeação de Gilmar. Em 2008, o magistrado concedeu habeas-corpus ao banqueiro Daniel Dantas. No mesmo dia, 42 procuradores da República, 134 juízes federais e a Associação de Delegados da Polícia Federal (ADPF) divulgaram documentos manifestando indignação com a soltura do banqueiro.
Alguns Procuradores Regionais da República estudaram até fazer um abaixo-assinado solicitando o impeachment de Gilmar. O senador Demóstenes Torres, então, já exibia suas relações com ele: classificou esse movimento dos Procuradores Regionais da República como “ridículo”.
Esses são apenas alguns fatos que deveriam ser considerados antes de pessoas subdotadas intelectualmente ou moralmente comprarem a acusação de Gilmar a Lula sem o menor questionamento, mas não são o cerne da questão. Servem apenas para lembrar quem é o sujeito que acusa o presidente mais querido da história do Brasil.
O cerne da questão é que os oito anos de mandato de Lula provam que ele jamais interferiu na Justiça com nenhum fim, muito menos para impedir o progresso do inquérito do mensalão. Venho dizendo isso desde 2010, quando publiquei um post contendo informação que desmonta completamente a tese de Gilmar sobre o ex-presidente.
Lula nomeou três procuradores-gerais da República enquanto que FHC manteve o mesmo, Geraldo Brindeiro, de 1995 a 2002, contrariando o Ministério Público Federal por oito anos seguidos.
Claudio Fonteles, que hoje integra a Comissão da Verdade, foi indicado por Lula em 2003 e ficou no cargo até 2005, quando o nome indicado pelo MP foi acatado por Lula novamente. Antonio Fernando de Souza denunciou o mensalão e foi reconduzido por Lula ao cargo. Ficou até 2009, quando Roberto Gurgel, o novo escolhido pelo MP, foi nomeado. O mesmo Gurgel que recentemente difamou o partido do ex-presidente na tevê.
Lula tinha o poder. Se não interferiu nem no Judiciário nem no Ministério Público naquela época, se não há uma só denúncia de outro ministro do STF de que tenha sofrido qualquer pressão do ex-presidente, por que ele escolheria começar a fazê-lo justo com Gilmar Mendes, que tantas vezes se mostrou um adversário político?
A história não se sustentaria só por isso, mas há mais. Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo e ministro da Defesa de Lula e Dilma, saiu do governo dela descontente porque foi demitido por declarar publicamente que votou em seu adversário José Serra em 2010. Esse mesmo Jobim desmentiu a acusação de Gilmar a Lula.
É desolador o volume de desonestidade ou burrice que vêm sendo espargidas com ímpeto tão infatigável. Tudo isso produz uma reflexão: será possível que tanta canalhice venha a vingar? Até quando o Brasil será esbofeteado dessa forma? Em que tipo de país mentiras tão grosseiras ganham tal dimensão?
Fonte: Blog da Cidadania. Escrito por Eduardo Guimarães.
A velha mídia em pele de cordeiro
28 de Maio de 2012, 21:00 - sem comentários aindaImagem meramente ilustrativa |
A matéria é assinada por Anderson Scardoelli, que é repórter do Portal Comunique-se, mas possui um asterisco em seu nome. O tal asterisco, ao fim da matéria, nos traz uma estranha informação do Portal que emprega o repórter:
*O texto não representa necessariamente a opinião do Grupo Comunique-se. Todo o conteúdo publicado é de responsabilidade do autor.
Por si só, este caso parece ser um inédito em matéria de liberdade de imprensa, o que também seria válido, não fossem por alguns recursos pífios de argumentação. Um dos recursos pífios é a última imagem utilizada na matéria, que visa a dizer ao leitor que tanto a Record, a Carta Capital e os 'blogs sujos', não possuem nenhuma prova e nem propriedade sobre o que falam do Policarpo, o jornalista com relações muito estreitas com um bicheiro (que insistem em chamar de empresário), o Cachoeira.
A imagem mostra Policarpo dizendo Alô e Cachoeira mudo. Na legenda da imagem, o "sem provas" fica por conta de Anderson, o jornalista que trabalha para o Portal Comunique-se mas é livre para emitir sua própria opinião.
Aproximadamente no meio do texto, Anderson faz a ligação que a mídia toda insiste em fazer: chamar as 200 ligações entre Policarpo e Cachoeira de farsa e culpar uma provável tentativa de esconder o "escândalo do mensalão". Anderson, que é contratado pelo Portal Comunique-se para expor livremente a sua opinião, diz que a mídia "AntiVeja" é quem tenta desqualificar o pobre e vitimado Policarpo, que nas palavras de Reinaldo Azevedo: "Policarpo é foda".
Se Anderson ainda faz jornalismo ou se ultimamente mantém seu contrato empregatício com o Portal Comunique-se apenas para manter sua opinião publicada pelo Portal, sinceramente não sei. O texto de Anderson traz algum fato jornalístico? Nenhum, a não ser pelo fato de Policarpo realmente se chamar Policarpo, pela Record realmente se chamar Record e assim por diante com os demais citados. Relevância jornalística? Não vi nenhuma, mas gostaria de me colocar disponível ao Portal Comunique-se, pois gostaria muito que me contratassem para publicar no Portal as minhas opiniões. Ainda que elas não expressem necessariamente a opinião da empresa (e isto é certo), e para fazer o equilíbrio argumentativo com Anderson Scardoelli, será um prazer trabalhar num Portal de Comunicação que propicia tanta liberdade e autonomia aos seus colaboradores (funcionários).
Leia a matéria toda publicada no Portal Comunique-se:
Policarpo e o suicídio da imprensa brasileira
“Cachoeira trocou mais de 200 ligações com redator-chefe da Veja”. Assim começava, em 26 de março, a saga de setores da imprensa contra o jornalista Policarpo Junior, que há mais de duas décadas cobre os bastidores de Brasília. A suposta informação estimulou sites, blogs e outros veículos a clamarem por seu depoimento à CPMI, como estratégia de atingir o alvo desejado: a revista Veja.
Parte da mídia – com os chamados “blogs sujos” e participações da TV Record e da revista Carta Capital - mostra nos últimos dois meses enorme apetite para insinuar que o jornalista e o veículo para o qual trabalha protegiam e prestavam favores ao “bicheiro”. Parecem famintos pela degradação ética de Policarpo, o que acertaria em cheio a revista na qual ele é chefe da sucursal em Brasília.
Dois meses depois do início da campanha contra o jornalista, as denúncias não se sustentaram. As 200 ligações viraram duas e o delegado da Polícia Federal, responsável pela operação que investigou o contraventor, afirmou à CPMI que a relação de Policarpo com Cachoeira não passou de mero protoloco: um profissional com a sua fonte de informação. Mas os ataques continuam insistentes, a despeito das impropriedades. Desde 25 de março, o nome do jornalista esteve relacionado ao “bicheiro” em mais de 36 mil conteúdos publicados na internet.
Nessa onda, nem mesmo a promoção conquistada por Policarpo no início do ano a redator-chefe foi poupada. Alguns raivosos preferiram associá-la a uma troca de favores por “serviços prestados de forma ilícita”. Nada provado, inclusive nos áudios que integram o inquérito.
Nessa onda, nem mesmo a promoção conquistada por Policarpo no início do ano a redator-chefe foi poupada. Alguns raivosos preferiram associá-la a uma troca de favores por “serviços prestados de forma ilícita”. Nada provado, inclusive nos áudios que integram o inquérito.
Sem fundamento, o que parece existir é a tentativa de desqualificar um dos jornalistas que deu início às denúncias do Mensalão, escândalo que, curiosamente, é abordado pela mídia antiVeja com extrema displicência, quando não inteiramente ignorado ou tratado como “delírio dos grandes grupos controladores da mídia brasileira”.
Na Veja (onde está há cerca de 20 anos) ou no Correio Braziliense, Policarpo sempre trouxe relevância em suas reportagens investigativas, algumas delas relacionadas ao “presidente interrompido” (Fernando Collor) ou ao “senador encarcerado” (Luiz Estevão). Não é só isso: em 1995, Policarpo foi ameaçado de agressão e mantido em cárcere privado pelo empreiteiro Cecílio do Rego Almeida. À época, ele apurava a denúncia de instalação de escutas ilegais no gabinete do governador do Paraná, o atual senador tucano Álvaro Dias. Ao buscar a versão do empreiteiro, em vez de respostas, o que encontrou foi a prisão no apartamento do empresário, em Curitiba. Seu currículo traz ainda registros históricos em denúncias sobre os “Anões do orçamento” e o caso Cacciola.
Além de ir a campo, produzir e editar, Policarpo investe naqueles que seguem na mesma estrada. Sob sua indicação, Veja foi buscar no Estadão o jornalista Rodrigo Rangel, primeiro a assinar uma matéria que mostrava as estreitas relações entre o senador Demóstenes Torres e o contraventor Cachoeira. Rangel é o mesmo profissional agredido por um lobista em atuação no Ministério da Agricultura.
O desejo deste setor da mídia em manchar e desclassificar Policarpo talvez fizesse algum sentido se, ao menos, amparassem o que postulam naquilo que consideram critério inegociável quando o lado que defendem é acusado: a exigência da prova. No entanto, neste vale-tudo que expõe a imprensa como parte mais frágil da manipulação política brasileira, vão se os dedos e os anéis.
Até que se prove o contrário, respeitar o trabalho e a história de Policarpo significa respeitar o jornalismo. Não se trata aqui de defender este ou aquele veículo; este ou aquele profissional. Trata-se de defender a responsabilidade e defender a imprensa de estratagemas comprometidos com fins pouco saudáveis para a sociedade.
*O texto não representa necessariamente a opinião do Grupo Comunique-se. Todo o conteúdo publicado é de responsabilidade do autor.
Blog que compartilhava livros de graça é retirado do ar e gera polêmica
28 de Maio de 2012, 21:00 - sem comentários aindaBlog que compartilhava livros de graça é retirado do ar e gera polêmica
A polêmica começou com a retirada do ar, no dia 17, do blog Livros de Humanas, no qual eram disponibilizados links para versões em PDF (formato de leitura digital) de livros das áreas de filosoria, sociologia, literatura, entre outros. O blog, criação de um aluno da USP, estava no ar desde 2009 e já havia passado por outras interdições. A justiça de São Paulo acatou uma representação da Associação Brasileira dos Direitos Reprográficos (ABDR), que se referia a dois livros em especial, cujos direitos autorais ainda pertenciam às editoras Forense e Contexto.
- A ABDR tem um trabalho de identificação dos principais sites que disponibilizam obras intelectuais para download na rede sem autorização e os monitora através de notificações. Porém, quando se percebe uma demanda muito alta de conteúdo e de acessos, a saída é buscar o poder judiciário para cessar os prejuízos suportados pelas editoras - afirma o advogado da instituição, Dalizio Barros.
A interdição levantou uma onda de protestos nas redes sociais de escritores e professores - muitos também autores que colocaram seus livros à disposição na internet, como um gesto simbólico de apoio. O criador do site já declarou em entrevista à Folha de S.Paulo que, dentre os 2,3 mil livros disponíveis no site, havia obras em domínio público.
- A ABDR tem o direito de pedir a retirada do que está coberto por lei, mas a iniciativa tirou o site inteiro do ar, atingindo livros sobre os quais ela não comprovou direitos representativos - opina Ronaldo Lemos, do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas.
Alguns exemplos de escritores que liberaram cópias em PDF de seus livros são os poetas Eduardo Sterzi e Angélica Freitas e a escritora Verônica Stigger. Mesmo editoras, como a Azougue Editorial e Cultura e Barbárie, declararam seu apoio ao site _ as manifestações estão no site www.direitodeacesso.net.br.
O episódio reaviva uma discussão recorrente: a oposição entre compartilhamento de informações e conhecimento e pirataria, e que tipo de alterações são necessárias na legislação de direitos autorais para fazer frente à realidade dos novos meios de comunicação.
Tranca os livros
- Já de saída, a iniciativa de compartilhar livros para download pela rede tem sido considerada ilegal de acordo com o ordenamento jurídico em vigor no Brasil.
- Já de saída, a iniciativa de compartilhar livros para download pela rede tem sido considerada ilegal de acordo com o ordenamento jurídico em vigor no Brasil.
- Para os críticos de iniciativas de compartilhamento, disponibilizar livros sem autorização do autor e da editora viola direitos autorais e causa prejuízos porque o leitor não virá a comprar um livro que já leu de graça.
- Entidades como editoras e a ABDR argumentam que investir na publicação de livros custa dinheiro - e o compartilhamento gratuito lesa o setor, podendo ser ruim para os próprios autores no futuro.
Libera os livros
- Os defensores do Livros de Humanas argumentam que seu público, universitários e docentes, seria o que compraria os livros mesmo depois de baixá-los.
- O grupo defende a flexibilização da lei nacional de direitos nacionais, uma das mais restritivas do mundo.
- A polêmica chegou ao conhecimento do autor inglês Neil Gaiman (de Sandman), que postou mensagem de apoio em seu twitter.
- O brasileiro mais vendido no mundo, Paulo Coelho, permite download de seus livros, e já declarou que isso ajuda nas vendas.