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BBC, mentiras e pedofilia
12 de Novembro de 2012, 22:00 - sem comentários ainda![]() |
| Fachada do prédio da BBC, em Londres. Foto: Justin Tallis / AFP |
Publicado na Carta Capital
De fato, por nove décadas essa instituição conhecida por reportagens bem apuradas, e sempre a escutar as versões opostas, era reconhecida pela sua honestidade.Até agora.
O campo no qual se meteu não poderia ser mais minado. O abuso de menores. Sim, porque esse é um tema a afetar a opinião pública como poucos.
No sábado, o diretor-geral da BBC, George Entwistle, de 50 anos, renunciou ao cargo. Os motivos foram dois, ambos a envolver o programa de tevê Newsnight.
Primeiro, o famoso – até agora crível programa – resolveu não levar ao ar uma investigação de que Jimmy Savile, ex-apresentador vedete da emissora que teria abusado sexualmente cerca de 300 crianças e jovens durante pelo menos quatro décadas de sua carreira. Os atos de Savile, um carismático solteirão falecido no final do ano passado aos 84 anos, eram cometidos nos vestiários da BBC e nos hospitais aos quais doava enormes somas.
Segundo motivo pela renúncia de Entwistle, e esse é o mais recente caso: no dia 2 de novembro o Newsnightimplicou um ex-tesoureiro da conservadora Margaret Thatcher em um caso de pedofilia em um hospital para menores no Principado de Gales.
A rede de tevê não deu o nome do predador, mas as redes sociais, unânimes, identificaram o Lorde McAlpine. Detalhe: Lorde McAlpine é inocente. Para piorar o quadro para a BBC, a vítima retratou suas declarações. Ela se enganou.
Causa estranheza o fato de a BBC ter levado ao ar um programa baseado nas asserções de apenas uma vítima. E, raios, por que o Lorde McAlpine não foi ouvido?
O que está acontecendo com a BBC?
Eis que entra em campo Chris Patten, presidente da Fundação da BBC (BBC Trust). Entrevistado pelo jornalista Andrew Marr na manhã de domingo em um programa da BBC, Patten concordou: “A BBC precisa de uma reforma total, estrutural e radical”.
Entwistle, considerado por Patten um homem “bom”, ficou apenas 54 dias no posto. Patten garantiu, porém, que o escândalo não representa o fim do programa Newsnight. E muito menos da BBC.
O presidente do BBC Trust disse, ainda, que duas investigações internas têm como objetivo descortinar a cultura da época em que Savile trabalhava; a outra busca o motivo pelo qual o programa Newsnight desistiu de levar ao ar a reportagem sobre Savile.
No entanto, até os paralelepípedos de Downing Street, o endereço do premier britânico, estavam a par dos rumores de que Savile era pedófilo.
O povo quer saber, ainda, se havia cúmplices na BBC e nos hospitais. E se sim, por que os colegas de Savile se calaram por tanto tempo?
Segundo o diário The Guardian, pelo menos três médicos de um hospital ajudavam Savile a ter contato com menores.
E Entwistle não sabia nada sobre o programa Newsnight a abordar os casos de pedofilia de Savile? Seu antecessor, Mark Thompson, que deixou o cargo em setembro após oito anos como diretor-geral da BBC, alega não saber nada sobre o que fazia Savile. Atualmente chefe-executivo do The New York Times Company, Thompson disse, porém, que está disponível para responder perguntas de comissões parlamentares no Reino Unido.
O quadro é no mínimo vago.
Um repórter da BBC, que pede anonimato, disse a CartaCapital que o problema é a falta de liderança na BBC. Diretores recebem salários astronômicos, e o próprio Entwistle levou um pacote considerável ao pedir demissão (apenas, vale lembrar, após ter exercido 54 dias no cargo).
O pacote, é lógico, criou grande polêmica entre os súditos do reinado.
Enquanto isso, os britânicos se indagam se precisam de uma rede de tevê, rádio e Internet com orçamento de 16 bilhões de dólares anuais e a empregar 23 mil funcionários. Os britânicos pagam uma “licença” (leia imposto) de 230 libras anuais pela existência da BBC.
Diante do último escândalo, a pergunta dos britânicos é válida.
Criador do 'domínio de fato', jurista alemão avisa que partes do porco podem ser porco ou feijoada. Tem que provar
12 de Novembro de 2012, 22:00 - sem comentários ainda Por Antônio MelloO jurista alemão Claus Roxin ficou louco quando soube que aqui no Brasil, no julgamento do tal mensalão, STF decide que, se tem rabo, orelha e pé de porco, é porco. Mesmo que seja feijoada.
Pela nova jurisprudência do STF, sacada do bolso agora nesta ação específica contra o PT, se há indícios (não precisa nem da presença, apenas indícios, o cheirinho, a fumaça, a gordura boiando) de pé de porco, rabo de porco, orelha de porco, lombo, joelho, costela de porco, trata-se de um porco. Mesmo que seja feijoada.
É o que fica claro numa entrevista do jurista à Folha há mais de 15 dias e que, no entanto, só foi publicada, discretamente, agora:
[Roxin] aprimorou a teoria do domínio do fato, segundo a qual autor não é só quem executa o crime, mas quem tem o poder de decidir sua realização e faz o planejamento estratégico para que ele aconteça.
[Mas, ele destaca] "Quem ocupa posição de comando tem que ter, de fato, emitido a ordem. E isso deve ser provado", diz Roxin.
Essa posição fica clara na resposta à pergunta das repórteres Cristina Grillo e Denise Menchen:
- É possível usar a teoria para fundamentar a condenação de um acusado supondo sua participação apenas pelo fato de sua posição hierárquica?
ROXIN- Não, em absoluto. A pessoa que ocupa a posição no topo de uma organização tem também que ter comandado esse fato, emitido uma ordem. Isso seria um mau uso.
Racismo: uma História - documentário da BBC
11 de Novembro de 2012, 22:00 - sem comentários ainda
O documentário sobre racismo a seguir, realizado pela BBC, é de 2007 e dividido em três partes. Mas está sendo publicado neste blogue porque é absolutamente imperdível. Conta a trajetória da escravidão e do racismo, desde o início até os dias atuais.
Racism: A History - Part 1: The Colour of Money
Sinopse:
Este episódio examinará as atitudes que têm imperado em diversos períodos para conseguir marcar uma diferença entre humanos. Começaremos por estudar os escritos de alguns dos mais importantes filósofos e historiadores do Iluminismo. Além disso, avaliaremos as implicações das palavras do Antigo Testamento, incluindo a importância de "A maldição de Canaã" para o desenvolvimento do conceito de raça na Europa. Analisaremos, da mesma forma, o desenvolvimento do racismo como justificação para o comércio transatlântico de escravos e outras manifestações de contração racial ao longo dos séculos como a conquista espanhola das Américas e a consequente destruição das civilizações no "Novo Mundo".
Racism: A History - Part 2: Fatal Impacts
Sinopse:
Neste capítulo será feita a análise da forma como, no século XIX, se apoiava o significado do racismo com ideias científicas, com o intuito de lhe outorgar credibilidade. Durante esta época, a cultura intelectual europeia abastecia os novos territórios com colonialistas e imperialistas para assim reclamar o seu poder sobre eles, ao mesmo tempo que esmagavam a resistência e impunham as suas regras. E para isso, a ciência ficava a seu favor ao oferecer justificações teóricas da superioridade de uma determinada raça. Esta pseudo-ciência não fazia mais senão preparar o terreno para o princípio da "higiene racial", um dos conceitos que serviriam para justificar os genocídios do século XX, como o Holocausto.
Racism: A History - Part 3: A Savage Legacy
Sinopse:
Analisando a evolução do racismo até à atualidade, este episódio mostrará como alguns dos genocídios do século XX (inclusive o massacre do Congo Belga) representavam uma nova fase do extermínio racial. Examinaremos as formas institucionalizadas de racismo como o Apartheid sul-africano e também viajaremos até aos Estados Unidos, onde o sistema tem reforçado a segregação racial nas escolas e na sociedade. Depois de considerar a ressurreição do conceito de raça com o controverso livro "The Bell Curve" - que gerou polêmica ao afirmar que os brancos eram mais inteligentes que os negros -, este programa encerra refletindo sobre os padrões da desigualdade que permanecem.
(Agradecimento ao blog DocsPrimus)
“Foi um teatro montado para entregar o Maracanã” diz manifestante
10 de Novembro de 2012, 22:00 - sem comentários aindaPublicado no blog Copa Pública
O Copa Pública pediu ao membro do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas Gustavo Mehl, que participou da audiência pública, contar o que de fato aconteceu por lá. Leia:
“Logo no início da audiência de ontem, a gente pediu a fala. Era uma estratégia que estava combinada entre pais da Escola Municipal Friedenreich, alguns atletas, o pessoal da Aldeia Maracanã e o Comitê Popular. Eu li uma carta dizendo que a audiência não era válida porque um debate anterior deveria ter sido feito, sobre qual o tipo de gestão que o Maracanã deve ter, se pública ou privada e dizendo que a gente não iria participar desta farsa. Havia mais de 500 pessoas no lugar e todas estavam revoltadas, aplaudindo e gritando de forma unânime contra o teatro que estava montado para a entrega do Maracanã.
A partir daí foram duas horas de protestos, não houve audiência. Nós temos acompanhado várias audiências públicas do Estado do Rio de Janeiro e a verdade é que inverteram a lógica do que deveria ser uma conquista histórica de participação popular. São apresentados projetos, abre-se para algumas interferências e independente do que é falado, eles tocam o barco da maneira como querem. As audiências públicas são uma obrigação legal, mas estão funcionando como um rito formal para legitimar processos arbitrários.
Nós chegamos à audiência ontem conscientes de que esse circo iria ser armado novamente. Foram duas horas de vaias, apitaços, os ânimos estavam exaltados mas não houve violência em momento algum. De fato um indígena jogou uma sacola com fezes em direção à mesa, mas foi uma coisa dele, nós não sabíamos de nada. Alguns parlamentares concordaram que seria melhor cancelar a audiência pública e ainda assim o secretário estadual da Casa Civil, Régis Fichtner, como a gente esperava, seguiu com uma atitude extremamente patética, dizendo que “não era um pequeno grupo que iria fazer com que ele acabasse com a audiência”. E isso revoltou o pessoal ainda mais porque não era um “grupinho”, eram mais de 500 pessoas! Não existiu audiência pública. O que aconteceu foi uma grande confusão, falas da mesa ao microfone sendo abafadas pelas vaias e pelo clamor das pessoas.
Ainda assim, eles foram levando do jeito que dava e no fim o secretário declarou que seria uma derrota para a democracia se ele encerrasse a audiência. Mas que demoracia é essa? Nós estamos justamente criticando este processo tão arbitrário, quando o governo demoliu o Maracanã que tinha acabado de passar por duas reformas de mais de 400 milhões de dinheiro público. Era ali que deveria ter acontecido o debate. Desde o ano passado, quando o governo começou de forma mais concreta a afirmar para a imprensa que o Maracanã iria ser privatizado. Agora eles “destombam” o Julio Delamare às vésperas da minuta do edital, divulgam a nota do edital sem ter consultado a população ou os grupos afetados, fazem essa audiência pública mas na mesma semana o próprio secretário, o Sérgio Cabral e a secretária de esportes e lazer vão à imprensa para dizer que já está tudo fechado, que o modelo de privatização é esse, que a demolição da escola vai acontecer, que os equipamentos esportivos vão ser demolidos, que o Museu do Índio vai ao chão. De que adianta uma audiência Pública se as cartas já estão marcadas? Foi um escândalo, um escárnio e um grande símbolo de como a gente vive um momento muito delicado, não só no Rio de Janeiro mas em todo o país, de crise dos processos democráticos.
A demolição do Maracanã, a privatização e a intenção de elitizar o uso do estádio é um dos maiores crimes da história do Rio de Janeiro e da história do Brasil. Estão ignorando a nossa relação com o estádio e a vontade dos verdadeiros donos do Maracanã, as pessoas que usam, se relacionam, os torcedores brasileiros. O Maraca é nosso, não é a toa que os torcedores cantam isso. Se houve algum sentido nessa audiência pública de ontem, foi o de mostrar claramente o que a sociedade civil está dizendo sobre este processo. Não nos representa, não reconhecemos, não aceitamos e manifestamos repúdio absoluto à prepotência e autoritarismo do governo que imagina que vai tocar projetos contrários à vontade da população de forma impune.
Temos registros suficientes para provar que essa audiência não aconteceu. E vamos acionar os mecanismos competentes para questionar judicialmente a legitimidade dessa audiência. Não é possível que a demoracria brasileira aceite tamanho autoritarismo. Algum dia vão analisar o processo de destruição, reconstrução e venda do Maracanã, como um evento histórico emblemático da falta da participação popular e atentado à democracia”.
Popout
*Agradecimentos especiais ao fotógrafo André Mantelli que também estava lá e nos cedeu estas belas imagens
O blog Copa Pública é uma experiência de jornalismo cidadão que mostra como a população brasileira tem sido afetada pelos preparativos para a Copa de 2014 – e como está se organizando para não ficar de fora.
De volta à origem
8 de Novembro de 2012, 22:00 - sem comentários ainda Como na saga Guerra nas Estrelas, a história dos “mensalões” nacionais foi contada, até agora, de trás para frente. Assim como no clássico de George Lucas, a TV Justiça, no caso do “mensalão do PT”, apresentou ao público o enredo final de um psicodrama político sem antes informar o contexto da tragédia providencialmente encenada antes do segundo turno das recentes eleições municipais. A origem do épico mensaleiro espera, contudo, a hora de entrar em cartaz, assim que acabar o dilema da dosimetria dos 25 condenados do escândalo petista. Teremos, finalmente, caso a série realmente chegue ao final, a explicação sobre como Marcos Valério de Souza foi essencial no derrame de 100 milhões de reais no caixa 2 do PSDB com o apoio de empresas estatais mineiras comandadas pelo então governador do estado, o atual deputado federal Eduardo Azeredo.Escrito por Leandro Fortes e publicado na Carta CapitalVem aí (vem?) o “mensalão tucano”, a origem de tudo. Chamado de “mensalão mineiro” por setores condescendentes da mídia, foi formalmente classificado como “tucanoduto” e “valerioduto tucano” pelos agentes federais que o investigaram. Para quem assistiu ao julgamento do caso do PT no Supremo Tribunal Federal, ninho de inovadoras teses de domínio de fato e a condenações baseadas em percepções sensoriais, o “mensalão tucano” será ainda mais surpreendente por ter em abundância aquilo que muita falta fez no caso de agora: provas contundentes.
A certidão de nascimento do milionário esquema de lavagem de dinheiro montado por Marcos Valério em Minas e depois exportado ao PT é uma lista de pagamentos elaborada por Cláudio Mourão, tesoureiro da campanha de Azeredo, em 1998. Revelada em 2007, a lista trata de um total de repasses equivalente a 10,8 milhões de reais a parlamentares de 11 partidos, inclusive do PT, mas onde reinam soberanos o PSDB e o PFL, atual DEM. Mourão tentou negar a veracidade da lista, mas foi obrigado a reconhecer sua assinatura no papel depois de ser desmentido por uma perícia da Polícia Federal.
*Leia matéria completa na Edição 723 de CartaCapital, já nas bancas












