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Blog Comunica Tudo

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir. Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

Superfaturamento no spread é sinal de que juro precisa cair mais

29 de Outubro de 2012, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda
O problema dos juros dos bancos privados continua a ser o mesmo: eles ainda estão ganhando demasiado com os títulos públicos. Por isso, seu desinteresse em rebaixar os spreads para emprestarem mais dinheiro a mais gente ou mais empresas. Portanto, é evidente que os juros básicos não chegaram a um limite mínimo. Pelo contrário, ainda estão altos, muito acima do patamar internacional, que se mantém negativo (-0,4%).



Bancos privados cobram taxa de spread extorsiva

Matéria publicada no jornal A Hora do Povo

 Segundo o Banco Central publicou no último dia 17, os juros que os bancos cobram das empresas por operações de financiamento estão, na média, em 23,1% ao ano (a.a.), enquanto os juros extorquidos (não há outro verbo) dos consumidores estão, também na média ao ano, em 35,6%.

 Isto significa que a taxa de juro real (o ganho do banco, descontada a inflação) está em tremendos 17%, no caso das empresas, e colossais 28,8% a.a., no caso das pessoas físicas, considerando uma inflação projetada de 5,24% até o fim de 2012, medida pelo IPCA.

 Esses números são médias não somente entre os vários bancos, mas entre as diversas operações: é importante ressaltar que, por exemplo, a taxa de juros para que uma empresa desconte duplicatas está, na média, em 34,36% - e a taxa do cheque especial para pessoas físicas está em 148,64%.

 Todos esses números são referentes ao mês de agosto. Podem parecer, ao leitor, algo remotos, mas são os últimos que foram divulgados.

 Resumidamente: quase toda a queda de juros que houve no país até agora, desde agosto de 2011, deve-se à baixa nos juros básicos. É desprezível, para essa queda, a contribuição da baixa nos spreads (a diferença entre a taxa que o banco paga para captar dinheiro e aquela que recebe ao emprestar esse mesmo dinheiro), cobrados pelos bancos privados no Brasil, que continuam os maiores do mundo.

A presidente Dilma tem, portanto, toda razão ao insistir tanto na queda dos juros básicos, pelo BC, quanto na queda dos spreads, pelos bancos privados. Os primeiros, em termos reais, nesse período (agosto de 2011/agosto de 2012) caíram de 6,8% para 1,7% - essa queda de 5,1 pontos percentuais significa uma redução de 75%.

No entanto, enquanto isso, os spreads dos bancos caíram em média apenas 19%. Parece uma redução significativa, mas, para que os números não nos iludam, essa queda significa que, em agosto último, sua média estava em 22,5% - e, no caso das pessoas físicas, em 27,7%! Mesmo no caso dos empréstimos a empresas, a redução foi de apenas 3,3 pontos percentuais e está agora em 15,7%.

 Notemos que essas taxas estúpidas, predatórias do conjunto da economia, são cobradas, pelos bancos, de empresas e consumidores numa conjuntura de baixo crescimento, em especial da indústria. É verdade que o governo, em resposta, baixou os juros dos bancos públicos – hoje, mais de 45% do dinheiro emprestado no Brasil, o foi por bancos públicos. Porém, isso quer dizer que um pouco menos de 55% do estoque de crédito do país está nas mãos de bancos privados que cobram juros extorsivos numa situação em que o país necessita urgentemente alavancar seu crescimento.

O principal componente do spread é o lucro do banco. No último  Relatório de Economia Bancária e Crédito (REBC) publicado pelo BC, referente a 2010, a “margem bruta” dos bancos constituía 57,03% do spread dos bancos privados e a “margem líquida” era 34,15% (cf. REBC, 2010, pág. 20).

Há, portanto, ao contrário do que dizem os porta-vozes da banca, uma relação direta entre os lucros astronômicos, e predatórios, dos bancos (no primeiro semestre de 2012 – Itaú/Unibanco: R$ 6,73 bilhões; Bradesco: R$ 5,63 bilhões; Santander: R$ 3,23 bilhões) e seus altíssimos  spreads.

Da mesma forma, são risíveis aqueles supostos noticiários de TV onde alguma besta fala nos “maus pagadores” que são responsáveis pelos juros altos – a inadimplência nos empréstimos, em agosto, foi apenas 5,9%.

O problema dos juros dos bancos privados continua a ser o mesmo: eles ainda estão ganhando demasiado com os títulos públicos. Por isso, seu desinteresse em rebaixar os spreads para emprestarem mais dinheiro a mais gente ou mais empresas.

 Portanto, é evidente que os juros básicos não chegaram a um limite mínimo. Pelo contrário, ainda estão altos, muito acima do patamar internacional, que se mantém negativo (-0,4%).




Guarani Kaiowá - À Sombra de um Delírio Verde

28 de Outubro de 2012, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Na região Sul do Mato Grosso do Sul, fronteira com Paraguai, o povo indígena com a maior população no Brasil trava, quase silenciosamente, uma luta desigual pela reconquista de seu território.
Expulsos pelo contínuo processo de colonização, mais de 40 mil Guarani Kaiowá vivem hoje em menos de 1% de seu território original. Sobre suas terras encontram-se milhares de hectares de cana-de-açúcar plantados por multinacionais que, juntamente com governantes, apresentam o etanol para o mundo como o combustível “limpo” e ecologicamente correto.
Sem terra e sem floresta, os Guarani Kaiowá convivem há anos com uma epidemia de desnutrição que atinge suas crianças. Sem alternativas de subsistência, adultos e adolescentes são explorados nos canaviais em exaustivas jornadas de trabalho. Na linha de produção do combustível limpo são constantes as autuações feitas pelo Ministério Público do Trabalho que encontram nas usinas trabalho infantil e trabalho escravo.
Em meio ao delírio da febre do ouro verde (como é chamada a cana-de-açúcar), as lideranças indígenas que enfrentam o poder que se impõe muitas vezes encontram como destino a morte encomendada por fazendeiros.

À Sombra de um Delírio Verde from Midiateca Copyleft on Vimeo.

À Sombra de um Delírio Verde


Tempo: 29 min
Países: Argentina, Bélgica e Brasil
Narração: Fabiana Cozza
Direção: An Baccaert, Cristiano Navarro, Nicola Mu
thedarksideofgreen-themovie.com




Mensalão e PT: a retórica do ódio na mídia

28 de Outubro de 2012, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda
Por Jaime Amparo Alves

Os brasileiros no exterior que acompanham o noticiário brasileiro pela internet têm uma impressão de que o país nunca esteve tão mal. Explodem os casos de corrupção, a crise ronda a economia, a inflação está de volta e o país vive imerso no caos moral. Isso é o que querem nos fazer crer as redações jornalísticas do eixo Rio-São Paulo. Com seus gatekeepers escolhidos a dedo, Folha de S.Paulo,Estado de S.Paulo,Veja e O Globo investem pesadamente no caos com duas intenções: inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e destruir a imagem pública do ex-presidente Lula da Silva. Até aí, nada novo. Tanto Lula quanto Dilma sabem que a mídia não lhes dará trégua, embora não tenham – nem terão – a coragem de uma Cristina Kirchner de levar a cabo uma nova legislação que democratize os meios de comunicação e redistribua as verbas governamentais para o setor. Pelo contrário, a Polícia Federal segue perseguindo as rádios comunitárias e os conglomerados de mídia Globo e Abril celebram os recordes de cotas de publicidade governamentais. O PT sofre da síndrome de Estocolmo (aquela em que o sequestrado se apaixona pelo sequestrador) e o exemplo mais emblemático disso é a posição de Marta Suplicy como colunista de um jornal cuja marca tem sido o linchamento e a inviabilização política das duas administrações petistas em São Paulo.

O que chama a atenção na nova onda conservadora é o time de intelectuais e artistas com uma retórica que amedronta. Que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso use a gramática sociológica para confundir os menos atentos já era de se esperar, como é o caso das análises de Demétrio Magnoli, especialista sênior da imprensa em todas as áreas do conhecimento. Nunca alguém assumiu com tanta maestria e com tanta desenvoltura papel tão medíocre quanto Magnoli: especialista em políticas públicas, cotas raciais, sindicalismo, movimentos sociais, comunicação, direitos humanos, política internacional… Demétrio Magnoli é o porta-voz maior do que a direita brasileira tem de pior, ainda que seus artigos não resistam a uma análise crítica.

Jornalismo lombrosiano

Agora, a nova cruzada moral recebe, além dos já conhecidos defensores dos “valores civilizatórios”, nomes como Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro. A raiva com que escrevem poderia ser canalizada para causas bem mais nobres se ambos não se deixassem cativar pelo canto da sereia. Eles assumiram a construção midiática do escândalo, e do que chamam de degenerescência moral, como fato. E, porque estão convencidos de que o país está em perigo, de que o ex-presidente Lula é a encarnação do mal, e de que o PT deve ser extinto para que o país sobreviva, reproduzem a retórica dos conglomerados de mídia com uma ingenuidade inconcebível para quem tanto nos inspirou com sua imaginação literária.

Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro fazem parte agora daquela intelligentsia nacional que dá legitimidade científica a uma insidiosa prática jornalística que tem na Veja sua maior expressão. Para além das divergências ideológicas com o projeto político do PT – as quais eu também tenho –, o discurso político que emana dos colunistas dos jornalões paulistanos/cariocas impressiona pela brutalidade. Os mais sofisticados sugerem que, a exemplo de Getúlio Vargas, o ex-presidente Lula se suicide; os menos cínicos celebraram o “câncer” como a única forma de imobilizá-lo. Os leitores de tais jornais, claro, celebram seus argumentos com comentários irreproduzíveis aqui.

Quais os limites da retórica de ódio contra o ex-presidente metalúrgico? Seria o ódio contra o seu papel político, a sua condição nordestina, o lugar que ocupa no imaginário das elites? Como figuras públicas tão preparadas para a leitura social do mundo se juntam ao coro de um discurso tão cruel e tão covarde já fartamente reproduzido pelos colunistas de sempre? Se a morte biológica do inimigo político já é celebrada abertamente – e a morte simbólica ritualizada cotidianamente nos discursos desumanizadores – estaríamos inaugurando uma nova etapa no jornalismo lombrosiano?

O espetáculo da punição

Para além da nossa condenação aos crimes cometidos por dirigentes dos partidos políticos na era Lula, os textos de Demétrio Magnoli, Marco Antonio Villa, Ricardo Noblat, Merval Pereira, Dora Kramer, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Eliane Cantanhêde, além dos que agora se somam a eles, são fontes preciosas para as futuras gerações de jornalistas e estudiosos da comunicação entenderem o que Perseu Abramo chamou apropriadamente de “padrões de manipulação” na mídia brasileira. Seus textos serão utilizados nas disciplinas de deontologia jornalística não apenas como exemplos concretos da falência ética do jornalismo tal qual entendíamos até aqui, mas também como sintoma dos novos desafios para uma profissão cada vez mais dominada por uma economia da moralidade que confere legitimidade a práticas corporativas inquisitoriais vendidas como de interesse público.

O chamado “mensalão” tem recebido a projeção de uma bomba de Hiroshima não porque os barões da mídia e os seus gatekeepers estejam ultrajados em sua sensibilidade humana. Bobagem. Tamanha diligência não se viu em relação à série de assaltos à nação empreendida no governo do presidente sociólogo. A verdade é que o “mensalão” surge como a oportunidade histórica para que se faça o que a oposição – que nas palavras de um dos colunistas da Veja “se recusa a fazer o seu papel” – não conseguiu até aqui: destruir a biografia do presidente metalúrgico, inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e reconduzir o projeto da elite “sudestina” ao Palácio do Planalto.

Minha esperança ingênua e utópica é que o Partido dos Trabalhadores aprenda a lição e leve adiante as propostas de refundação do país abandonadas como acordo tácito para uma trégua da mídia. Não haverá trégua, ainda que a nova ministra da Cultura se sinta tentada a corroborar com o lobby da Folha de S.Paulo pela lei dos direitos autorais, ou que o governo Dilma continue derramando milhões de reais nos cofres das organizações Globo e Abril via publicidade oficial. Não é o PT, o Congresso Nacional ou o governo federal que estão nas mãos da mídia. Somos todos reféns da meia dúzia de jornais que definem o que é notícia, as práticas de corrupção que merecem ser condenadas e, incrivelmente, quais e como devem ser julgadas pela mais alta corte de Justiça do país. Na última sessão do julgamento da Ação Penal 470, por exemplo, um furioso ministro-relator exigia a distribuição antecipada do voto do ministro-revisor para agilizar o trabalho da imprensa (!). O STF se transformou na nova arena midiática onde o enredo jornalístico do espetáculo da punição exemplar vai sendo sancionado.

Coragem de enfrentar o monstro

Depois de cinco anos morando fora do país, estou menos convencido por que diabos tenho um diploma de jornalismo em minhas mãos. Por outro lado, estou mais convencido de que estou melhor informado sobre o Brasil assistindo à imprensa internacional. Foi pelas agências de notícias internacionais que informei aos meus amigos no Brasil de que a política externa do ex-presidente metalúrgico se transformou em tema padrão na cobertura jornalística por aqui. Informei-os que o protagonismo político do Brasil na mediação de um acordo nuclear entre Irã e Turquia recebeu atenção muito mais generosa da mídia estadunidense, ainda que boicotado na mídia nacional. Informei-os que acompanhei daqui o presidente analfabeto receber o título de doutor honoris causa em instituições europeias e avisei-os que por causa da política soberana do governo do presidente metalúrgico, ser brasileiro no exterior passou a ter uma outra conotação. O Brasil finalmente recebeu um status de respeitabilidade e o presidente nordestino projetou para o mundo nossa estratégia de uma América Latina soberana.

Meus amigos no Brasil são privados do direito à informação e continuarão a ser porque nem o governo federal nem o Congresso Nacional estão dispostos a pagar o preço por uma “reforma” em área tão estratégica e tão fundamental para o exercício da cidadania. Com 70% de aprovação popular e com os movimentos sociais nas ruas, Lula da Silva não teve coragem de enfrentar o monstro e agora paga caro por sua covardia. Terá Dilma coragem com aprovação semelhante, ou nossa meia dúzia de Murdochs seguirão intocáveis sob o manto da liberdade de e(i)mpre(n)sa?

(*) Jaime Amparo Alves é jornalista e doutor em Antropologia Social, Universidade do Texas, Austin. Matéria reproduzida do Observatório da Imprensa.




Bastidores da tragédia Kaiowá-Guarani: multinacionais, partidos, justiça…

25 de Outubro de 2012, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Bastidores da tragédia Kaiowá-Guarani: Multinacionais, partidos, Justiça…
Por Bob Fernandes, no Terra Magazine

Antropólogo e jornalista, Spensy Pimentel deixou, em 2007, o trabalho como repórter especial em Brasília, na Agência Brasil, para se dedicar à pesquisa de doutorado na USP, sobre a vida política dos Guarani-Kaiowá, atualmente em fase de conclusão.

Spensy já tinha defendido o mestrado, também na USP, sobre a epidemia de suicídios verificada entre esses indígenas desde os anos 80. Realizou pesquisa no Mato Grosso do Sul exatamente no periodo em que os conflitos entre índios e fazendeiros se acirraram, desde 2009.

Em 2011, Spensy Pimentel lançou, junto com parceiros, o vídeo “Mbaraká – A Palavra que age”, sobre o envolvimento dos xamãs Guarani-Kaiowá com a luta pela terra em MS.

Nesta conversa com Terra Magazine, o antropólogo Spensy Pimentel elenca alguns dos atores presentes nos bastidores dessa tragédia:

- (…) O movimento de recuperação das terras, que organiza as grandes assembleias (Aty Guasu), é uma reação a esse confinamento que o Estado brasileiro impôs aos Kaiowá e Guarani.

Diz ainda Spensy Pimentel:

- Esse confinamento foi realizado para viabilizar a instalação do agronegócio ali: cana, soja, gado, milho produzidos para exportação, em parceria (insumos, apoio tecnológico e, muitas vezes, financiamento) de multinacionais como Bunge, Cargill, ADM, Monsanto…

Confira abaixo a íntegra da entrevista:

Terra Magazine: Quando fui ao Mato Grosso do Sul, em 1999, encontrei dados que davam conta de 308 suicídios entre 1986 e 1999. Recentemente, a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) divulgou que, de 2000 a 2011, foram mais 555 casos. Como os indígenas percebem o fenômeno?
Spensy Pimentel: Há uma série de dificuldades para acessar o que os Kaiowá e Guarani entendem sobre essas mortes. Em primeiro lugar, pode-se compreender que, para qualquer família em que acontece uma morte desse tipo, há, muitas vezes, certa reserva, certo receio de falar a respeito. As informações que pude obter se baseavam, em geral, na conversa com pessoas que conviviam com as famílias onde os casos ocorreram. A partir daí, é possível obter dados sobre as motivações das pessoas – boa parte, jovens – e sobre a forma como os familiares reagem. Em geral, posso dizer que, ao contrário do que já avaliaram algumas pessoas, essas mortes são, sim, um grande incômodo para as famílias Kaiowá e Guarani.

Por que isso está acontecendo?
Não é por acaso que essas mortes começaram a acontecer em maior número desde os anos 80. Os Kaiowá e Guarani mais antigos não se lembram de ter visto mais que um ou dois casos de enforcamentos antes desse período. Esse tipo de morte existia, mas era raro. Nos anos 80, no fim do regime militar, completa-se o processo de expulsão desses indígenas das áreas que eles ocupavam, em geral, nas beiras de rios e córregos, por todo o sul de Mato Grosso do Sul. Dezenas de grupos são literalmente despejados dentro das antigas reservas demarcadas pelo Serviço de Proteção ao Índio entre 1915 e 1928 para liberar a região para o agronegócio. É o que alguns chamam de “confinamento”, pois as antigas áreas, somadas, não passavam de 18 mil hectares. O processo não ocorreu sem reação por parte dos indígenas. Se você olhar os arquivos, vai ver notícias sobre grupos que resistiam aos despejos já em 1978, 1979.

O confinamento tem relação direta com essa tragédia dos suicídios, então?
Essa ação – movida em plena ditadura, é sempre bom lembrar – gerou uma mistura muito grande de famílias vindas de lugares diferentes, sem laços construídos historicamente, disputando recursos em áreas extremamente limitadas. Essas pessoas ficaram submetidas a alguns grupos recrutados pela Funai, como antes pelo SPI, em torno de um “capitão”, que era um indígena empoderado pelo Estado para, em alguns lugares, ser uma espécie de microditador ali do local. Essas figuras recebiam apoio da ditadura para reprimir os demais indígenas que tentassem voltar para seus lugares de origem, como eles fazem até hoje, em casos como o de Pyelito. Foi nesse ambiente autoritário, opressor e miserável que os suicídios se multiplicaram. Só muito recentemente a Funai deixou de empoderar esses capitães.

As pessoas têm uma enorme ansiedade de voltar para seus lugares de origem, que chamam de “tekoha” (lugar onde se pode viver do nosso jeito). Elas querem escapar das reservas porque, ali, sentem que vivem mal. O ambiente nesses lugares é, hoje, tão precário que os jovens estão fazendo rap, eles se identificam com os problemas que grupos como o Racionais MC’s expõem em suas músicas, em relação às favelas de São Paulo: violência, racismo… Em suma, o Brasil impôs um projeto para os Kaiowá e Guarani que eles não aceitam.

Os acampamentos como o de Pyelito, do pessoal que escreveu a famosa carta-testamento há duas semanas, são, então, formados por gente que quer fugir dessa realidade?
Exatamente. Existem, hoje, mais de 30 acampamentos Kaiowá e Guarani espalhados por beiras de estrada, ou dentro de fazendas, em áreas que eles ocuparam. A isso se somam mais de 20 áreas que foram recuperadas e regularizadas, depois da dura pressão dos indígenas, com mortes de lideranças, etc. Só que essas áreas são quase todas muito pequenas, algumas têm apenas 500 hectares. O Panambizinho, que você visitou em 1999, tem 1,2 mil hectares e foi a única área homologada no governo Lula que não foi embargada pelo STF. Então, essas novas áreas não deram conta de resolver a situação, foram só uma forma de empurrar com a barriga o problema. Sem falar que muitas terras, mesmo as demarcadas, não podem ser ocupadas por conta de intermináveis disputas na Justiça.

Quais as perspectivas de resolver o conflito, de se colocar um fim a essa tragédia?
A atual mobilização que surgiu na internet é muito importante, sobretudo porque a maior arma dos que querem impedir as demarcações é a ignorância das pessoas sobre o que se passa em Mato Grosso do Sul. Quem sabe agora o governo federal e o Supremo Tribunal Federal ajam (há ações esperando há anos para serem julgadas ali). Não é só a Funai que tem responsabilidade nessa história. Alguns processos já estão no Ministério da Justiça ou no Palácio do Planalto, esperando providências. Outros estão no STF ou no TRF da 3ª Região, em São Paulo.

O movimento de recuperação das terras, que organiza as grandes assembleias (Aty Guasu), é uma reação a esse confinamento que o Estado brasileiro impôs aos Kaiowá e Guarani. Esse confinamento foi realizado para viabilizar a instalação do agronegócio ali: cana, soja, gado, milho produzidos para exportação, em parceria (insumos, apoio tecnológico e, muitas vezes, financiamento) de multinacionais como Bunge, Cargill, ADM, Monsanto…

Pesos pesados…
Sim, e não apenas estes. A disputa é desigual porque os indígenas lutam na Justiça por anos com fazendeiros que contratam advogados com o dinheiro que estão extraindo daquelas terras. Não é justo, as empresas que compram essa produção têm de ser responsabilizadas, esse movimento já está começando. Algumas empresas recentemente anunciaram que deixariam de comprar cana produzida em terras disputadas, mas isso ainda é muito restrito. Não se tem notícia de providência semelhante por parte da Petrobras, por exemplo. E o BNDES, apesar de ser provocado há anos pelos movimentos sociais e o MPF, ainda não adotou uma política de frear financiamentos que afetem essas terras. Há muito interesse político em jogo, o estado é governado desde 2007 pelo PMDB, “sócio” do governo federal, como se sabe.

Qual o estágio desse aspecto da questão, hoje?
Muitos dos envolvidos no debate, hoje, não negam a possibilidade de pagar indenizações aos fazendeiros que realmente tenham adquirido as terras de boa fé. Sabemos que muitos deles foram levados ali por incentivo do governo federal ou do Estado. Mas é fato também que muitos deles não têm agido “de boa fé” quando contratam homens armados para atacar os índios ou quando tentam obstruir os trabalhos da Funai na Justiça, na arena política em Brasília, ou até mesmo ameaçando antropólogos, como já aconteceu recentemente. De boa fé seria, neste momento, tentar ajudar a resolver essa crise humanitária por que passam os Kaiowá e Guarani e não tentar lavar as mãos, como alguns vêm fazendo.

Os Kaiowá ficaram conhecidos nos últimos anos como “índios suicidas”, alguns dizem que isso “faz parte da cultura deles”. Que lhe parece isso?
Essa ideia da “cultura” tem sido, sistematicamente, usada contra eles. Dizem que se matam para ir à Terra sem Males. Isso é um equívoco, por vezes, uma perversidade, porque dá a ideia de que os brancos no Estado de MS – e do resto do Brasil, que compram o que é produzido lá – não são responsáveis pelo que está acontecendo com os indígenas. São responsáveis, sim. O destino post mortem de alguém que se enforca não é bom, as pessoas não são incentivadas socialmente a se matar, isso não existe. São incentivadas a lutar por suas terras, a serem guerreiros, isto sim.

O que existe é um sentimento muito grande de revolta dos jovens, com a situação que eles vivem, que se transforma em uma violência contra si mesmos e suas famílias. Mas quem é que gerou essa situação que causa a revolta? Não foram os indígenas, foram os brancos, com o confinamento. Os acampamentos, repito, são uma reação ao confinamento. Ali, como diz a carta do pessoal de Pyelito, eles vivem coletivamente e morrem coletivamente, estão buscando um estilo de vida que rompe com o que é oferecido nas reservas, o individualismo das cidades, o trabalho degradante nas usinas de cana…

Aí os “suicídios”…
Há suicídios nos acampamentos? Sim, alguns, porque a situação, em alguns momentos, se torna desesperadora. Ainda assim, os Guarani-Kaiowá persistem, porque o único caminho que percebem para fugir à miséria e à fome é a luta pela terra.




Desnacionalização já atinge 247 empresas em setembro de 2012

25 de Outubro de 2012, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda
Baixar juro é pouco. Não dá para o Brasil crescer sem parar esta sangria

 Entre janeiro e setembro deste ano foram desnacionalizadas 247 empresas, superando a quantidade de empresas adquiridas pelo capital estrangeiro em todo o ano de 2011. No ano passado, 208 empresas nacionais passaram para controle externo. Um número expressivo de empresas nacionais foi comprado por multinacionais norte-americanas. Só no terceiro trimestre, de um total de 80 empresas desnacionalizadas, quase metade (37) passou para as mãos de monopólios dos EUA.





Múltis dos EUA compram 37 de 80 empresas desnacionalizadas somente no terceiro trimestre deste ano


Na edição anterior, abordamos o número recorde de empresas desnacionalizadas (247) entre janeiro e setembro deste ano, superando a quantidade de empresas adquiridas por capital estrangeiro em todo o ano de 2011, quando foram desnacionalizadas 208 empresas – e também nos demais anos, desde 2004, quando a consultoria KPMG começou a fazer a “Pesquisa de Fusões e Aquisições” no Brasil.

Agora, acrescentamos mais um dado essencial: um número expressivo de empresas nacionais foi adquirido por multinacionais norte-americanas. Somente no terceiro trimestre, de um total de 80 empresas desnacionalizadas, quase metade (37) passou ao controle de monopólios dos EUA, superando de longe as que foram adquiridas por conglomerados originários da Inglaterra (8), França (6), Alemanha (5), Espanha (5), entre outros.

Após a explosão da crise em setembro de 2008, os EUA inundaram o mundo com as superemissões de dólares (Quantitative Easing 1 e 2). Apenas com o QE2, em 2010, foram emitidos US$ 600 bilhões, transferidos aos monopólios, não apenas para especular, mas também para aquisição de empresas. E o FED já prepara nova inundação de dólares no planeta, o Quantitative Easing 3, conforme a ata da reunião de agosto.

Segundo Patrice Etlin, sócio para a América Latina da Advent International, empresa norte-americana de private equity, “há hoje, caçando transações no Brasil, cerca de US$ 11 bilhões”. Certamente, é um valor subestimado – somente no caso da Amil, açambarcada pela norte-americana UnitedHealth Group, foram envolvidos cerca de US$ 5 bilhões -, mas que não anula o seu significado: o apetite voraz sobre as nossas empresas.

A primeira implicação dessa desnacionalização da economia é a desindustrialização e, consequentemente, a estagnação econômica - não há desenvolvimento sustentado, para usar uma palavra tão ao gosto da equipe econômica, se não for baseado na indústria.
 Na medida em que setores são dominados pelas multinacionais, a cadeia produtiva, isto é, a indústria de componentes e bens intermediários, vai sendo dizimada. Então, o que antes era fabricado no país pela indústria nacional passa a ser importado.

Um entusiasta do comércio do Brasil com os Estados Unidos, Welber Barral, que vem a ser o presidente da Coalizão de Indústrias Brasileiras, declarou recentemente: “Precisamos estimular as exportações para os EUA promovendo investimentos americanos aqui. Hoje, 40% do comércio é intrafirmas”. Por “comércio intrafirmas”, leia-se comércio entre a matriz das multinacionais e as filiais instaladas no Brasil. É o que o Banco Central registra como empréstimos intercompanhias, como uma das modalidades de ingresso de investimentos estrangeiros diretos (IED).

E assim, a desindustrialização resultante da desnacionalização fez despencar para 14,6% a participação da indústria na formação do Produto Interno Bruto (PIB), uma regressão ao patamar de 1950, ou melhor, inferior àquele período (19,3%).

Outra decorrência da desnacionalização, além do crescimento das importações, há um crescimento vertiginoso das remessas de lucros, principalmente em períodos de crise, como acontece desde 2008 nos Estados Unidos, mas que se estende pela Europa e Japão.

Não é à toa o rombo das contas externas, chamada de transações correntes (balança comercial, serviços e rendas e transferências unilaterais). O problema é que com o deserto de ideias vigente no Ministério da Fazenda, a política usada é a de suar o ingresso de IED para cobrir o déficit nas contas externas, o que significa querer apagar o fogo com gasolina: mais entrada de IED resulta em mais desnacionalização. Portanto, mais importação, mais remessa de lucro e mais rombo nas transações correntes, num círculo vicioso sem fim.

Transferir para o exterior as decisões sobre os rumos da nossa economia implica em abrir mão de qualquer projeto de desenvolvimento nacional. A presidente Dilma tem se esforçado para a redução das taxas de juros, que vem ocorrendo desde agosto de 2011. Contudo, a economia continua patinando por conta da desnacionalização e da desindustrialização. Sem uma política industrial digna do nome, o governo tem se limitado a desonerações, o que não resolve o problema do crescimento e até o ministro Mantega já admite que o PIB este ano não chega a 2%, inferior ao do ano passado.

 POR VALDO ALBUQUERQUE